terça-feira, 8 de dezembro de 2015

OCDE vê sinais de estabilização na China e no Brasil


EXAME.com
Dilma Rousseff durante viagem à Finlândia em outubro de 2015
Dilma Rousseff: indicador mensal da OCDE apontou amplamente para estabilização das taxas de crescimento
 
Da REUTERS


Paris - A economia dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha parecem estar perdendo fôlego, enquanto a da China está mostrando alguns sinais de estabilização após um período de fraqueza, informou a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nesta terça-feira.

O indicador mensal da OCDE, que captura os pontos de virada na economia, apontou amplamente para estabilização das taxas de crescimento, notavelmente na zona do euro, onde a França se destacou com mais sinais de fortalecimento em seu crescimento.

Nas leituras do índice, onde 100 é a média de longo prazo, a última leitura para a zona do euro ficou estável em 100,6.

A leitura dos EUA caiu para 99,1, ante 99,2, e a da Grã-Bretanha foi a 99,3, ante 99,5. A leitura do Japão recuou para 99,8, contra 99,9.
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"Entre as principais economias emergentes, sinais preliminares de estabilização estão crescendo na China e também no Brasil, enquanto crescimento mais firme é antecipado na Índia", informou a OCDE.

"Na Rússia, a perspectiva continua sendo de fraco ritmo de crescimento." O índice para a China subiu a 98,4, de 98,3. Para o Brasil, ele cresceu para 99,3, ante 99,1. Para a Índia, foi a 100,3 sobre 100,1 e, para a Rússia, caiu a 99,2 contra 99,3.

Disparada dos preços reduz o padrão de vida dos brasileiros


AndreyPopov/Thinkstock
Caixa conta moedas
Inflação: os brasileiros ficaram mais pobres este ano, tanto pelo aumento da inflação como pela retração da atividade
 
Bianca Pinto Lima e Márcia De Chiara, do Estadão Conteúdo


São Paulo - A economia brasileira enfrenta neste ano uma combinação nefasta: inflação de dois dígitos com recessão. Até dezembro, a expectativa é que a atividade dê marcha à ré e caia mais de 3%, com a inflação ultrapassando os 10%.

É um salto de quatro pontos em relação ao aumento do custo de vida registrado no ano passado (6,41%). 

A última vez que a inflação bateu dois dígitos foi em 2002, mas nesse ano não houve recessão.

A disparada dos preços - puxada por choque tarifário, desvalorização do real e escalada dos serviços - provoca um desconforto no padrão de vida das pessoas.

"Os brasileiros ficaram mais pobres este ano, tanto pelo aumento da inflação como pela retração da atividade", afirma o economista Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo e um dos maiores especialistas em inflação.
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Ele observa que a inflação combinada com recessão tem um efeito devastador: faz com que as pessoas se sintam mais desconfortáveis, afeta a confiança de consumidores e tem reflexos políticos.

Esse desconforto já apareceu no carrinho do supermercado. Pela primeira vez nos últimos dez anos, as vendas do setor devem fechar no vermelho, segundo a Associação Brasileira de Supermercados. De janeiro a outubro, o recuo foi de 1,02%.

A freada no consumo é nítida no resultado de uma pesquisa da consultoria Kantar Worldpanel, que visita semanalmente 11,3 mil domicílios para aferir o volume de compras de uma cesta com 96 categorias - como alimentos, bebidas e itens de higiene e limpeza.

No primeiro semestre deste ano, o volume consumido dessa cesta caiu 7,5% em relação ao mesmo período do ano passado e voltou para o patamar de cinco anos atrás. O desembolso, por sua vez, cresceu 0,5% no período, por causa da inflação.

"O brasileiro está gastando mais no supermercado e levando menos produto para casa", afirma a diretora da consultoria e responsável pela pesquisa, Christine Pereira.

Ela observa que o desempenho negativo de três variáveis importantes para o cidadão - inflação, renda e emprego - está levando a uma racionalização generalizada do consumo de todas as classes sociais.

De acordo com pesquisa da consultoria, 71% das famílias acreditam que seus gastos aumentaram em 2015 e 97% delas buscam alternativas para reduzir as despesas.

Em entrevistas qualitativas feitas pela consultoria nos domicílios pesquisados, Christine conta que foi constatado que as famílias reduziram despesas com comunicação e optaram por planos de celular 
pré-pagos.

O lazer fora de casa também encolheu. Segundo a consultora, mais de um milhão de pessoas deixaram de fazer as refeições fora do lar. As viagens de carro igualmente começam a perder força, afetadas pela alta do preço da gasolina.
 

Vida de cão


Uma revelação surpreendente da Kantar Worldpanel foi que rações industrializadas para cães perderam importância na cesta de compras e os animais passaram a comer comida caseira.

"Até o cão foi afetado. É a primeira vez que as pessoas estão racionalizando o uso de ração", afirma a diretora. Ela explica que o consumidor continua oferecendo ração industrializada para o animal, mas intercala as refeições com comida caseira para economizar.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Impeachment da Dilma: qual a chance jurídica de prosperar?


Publicado por Luiz Flávio Gomes 

 
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Como tramita o impeachment?

 
 
Um dos máximos escroques da corrupção no país, Eduardo Cunha, anunciou que deferiu a tramitação de um dos pedidos de impeachment de Dilma. A lei 1.079/50 (que regulamenta o assunto) prevê 65 infrações administrativas contra o (a) Presidente (a). É ela que deve ser seguida rigorosamente (conforme decisão recente do STF).
Impeachment da Dilma qual a chance jurdica de prosperar


O parecer de Eduardo Cunha (que ele diz ser “técnico”) deve ser publicado no Diário Oficial. Em seguida, deve ser lido no Plenário da Câmara dos Deputados. Ele não tem poder para decidir sobre a abertura ou não do processo de impeachment. Isso compete a uma Comissão Especial.

Logo após essa leitura é preciso então constituir uma Comissão Especial formada por deputados federais, respeitando-se a proporcionalidade do tamanho das bancadas na Casa. Essa Comissão decidirá sobre a pertinência ou impertinência do pedido. Se impertinente ele é arquivado de plano. Se pertinente, começa o direito de defesa.

Colhidas as provas e exercido o direito de defesa plena, compete a essa Comissão emitir um parecer (pela procedência ou improcedência do pedido).

Esse parecer final da Comissão será votado pelo Plenário. A aprovação da acusação formal contra a Presidente (a) necessita de 342 votos (2/3 da Casa) para ser aprovada. Havendo deliberação positiva, automaticamente a Presidente (a) fica afastada das suas funções, por 180 dias.

A acusação formal será enviada ao Senado, a quem compete, sob a presidência do Presidente do STF, a decisão final do impeachment. Também no Senado são necessários os votos de 2/3 (54 senadores) para a condenação.

As penas que podem ser impostas são a de perda do mandato e inabilitação política por 8 anos. Nesse caso assume o governo o vice-presidente, para cumprir o restante do mandato. Não há que se falar, nessa situação, em novas eleições gerais.

Se o vice-presidente também ficar impedido para o exercício da presidência aí temos o seguinte: (a) se isso ocorrer nos 2 primeiros anos do mandato, teremos novas eleições gerais diretas; (b) se isso ocorrer nos últimos 2 anos, cabe ao Congresso escolher o novo Presidente da República. O presidente da Câmara assume interinamente para promover essa eleição “tampão”.

O presidente da República jamais pode ser preso enquanto não for condenado criminalmente pelo STF em sentença com trânsito em julgado. Por crimes estranhos a suas funções, o presidente não pode responder durante o mandato.

 

Por qual motivo Cunha admitiu a tramitação do impeachment?


O presidente da Câmara “disse que, apesar de haver dúvidas sobre esse ponto entre juristas, ele manteve o entendimento de que não seria possível abrir um processo de impeachment com base em fatos do primeiro mandato da presidente (2011-2014)”.

Sua decisão foi então baseada “nos decretos presidenciais deste ano que autorizaram um aumento de gastos do governo apesar de já haver a previsão de que a meta de superávit (economia para pagar juros da dívida) poderia não ser atingida”. São as famosas “pedaladas fiscais”.

Nenhum outro motivo, neste processo, pode mais ser discutido. A polêmica jurídica vai girar em torno desse pedido (desse ponto). Qualquer outro motivo para o impeachment deve ser objeto de outros pedidos.

Ao mesmo tempo em que Cunha anunciava a tramitação do impeachment, o Congresso Nacional aprovava o projeto de lei que autoriza o governo a fechar o ano com déficit no Orçamento. Com base nessa nova lei é possível que o PT vá ao STF para aniquilar a tramitação do impeachment no seu nascedouro. Leia-se: o governo Dilma, agora, está autorizado a fechar o ano com déficit. O excesso de gastos do governo virou “déficit autorizado” pelo Congresso. Lei favorável, retroage. Eventuais irregularidades nos gastos podem ter sido “anistiadas” (do ponto de vista da responsabilidade fiscal). A polêmica jurídica está apenas começando.

Pelas razões que acabam de ser ventiladas, não há como deixar de concluir que, do ponto de vista jurídico, o fundamento do pedido de impeachment é discutível (eu particularmente lamento muito, porque gostaria de ver o governo do PT fora do poder). O ideal seria que houvesse um fundamento jurídico com indiscutível consistência e, ademais, que a tramitação não tivesse sido autorizada por um dos maiores mentirosos e corruptos da República Velhaca (1985-2015).

Do ponto de vista político pode ser que aconteçam manifestações populares. Precisam ser robustas para levar a Presidente (a) à renúncia (algo que o povo da Guatemala conseguiu faz pouco tempo em relação ao seu presidente acusado de corrupção).

 

Necessidade de uma faxina geral


O Brasil, no quarto governo lulopetista, virou um caos. Está à beira de um colapso, que é a antessala do abismo. O baixíssimo índice de popularidade de Dilma e a situação econômica do País sinalizam que temos que nos livrar desse governo o quanto antes, mas não estou conseguindo ver, com o PMDB no poder, luz no fim do túnel. Ele (com Cunha, Lobão, Renan etc.) faz páreo duro ao lulopetismo em termos de desavergonhada corrupção. Tampouco os atuais partidos de oposição (PSDB, DEM etc.) possuem um plano sustentável de governo.

Os políticos “mafiosamente profissionais” da República Velhaca (1985-2015) não nos passam confiança. A crise econômica tende a atingir seu ápice em 2016. Sem uma faxina geral na escória governante e dominante (política, empresarial, bancária e administrativa), o Brasil nunca será passado a limpo (correndo o risco de ser um país do futuro daqui a 50 anos). Nós, brasileiros, somos também responsáveis pela nação. Não podemos ficar inertes. Precisamos descobrir o que há de novo em alguns pouquíssimos políticos antigos (faxinando o restante) e tomar muito cuidado com o que há de antigo inclusive em políticos novos.

Para relembrar: O que é impeachment?


Professor
Jurista e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). 

 http://professorlfg.jusbrasil.com.br/artigos/263297612/impeachment-da-dilma-qual-a-chance-juridica-de-prosperar?utm_campaign=newsletter-daily_20151203_2406&utm_medium=email&utm_source=newsletter

STF recebe primeiro mandado de segurança contra impeachment


Lula Marques/ Agência PT/Fotos Públicas
Dilma Rousseff durante cerimônia de sanção da Lei que dispõe sobre a atividade do Lotérico no Palácio do Planalto
Dilma Rousseff: deputado alega que a presidente não foi notificada previamente do recebimento da denúncia-crime
 
Michèlle Canes, da AGÊNCIA BRASIL


Brasília - O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu, no início da tarde de hoje (3), o primeiro mandado de segurança, com pedido de medida liminar, contra o ato do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que autorizou a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.

O mandado é de autoria do deputado Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA) e terá como relator no STF o ministro Celso de Mello.

O parlamentar alega que a presidente não foi notificada previamente do recebimento da denúncia-crime entregue ao presidente da Câmara para que oferecesse resposta.

“Ao fazê-lo sem notificar previamente a presidente para que oferecesse resposta, [Cunha] violou os princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, além do parágrafo único do Artigo 85 da Constituição Federal, o Artigo 38 da Lei nº 1079/50 e o caput do Artigo 514 do Código de Processo Penal”, diz o texto.
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Em entrevista na Câmara dos Deputados, o autor do mandado reafirmou o conteúdo do material entregue ao STF.

“Tinha de ser dada essa oportunidade antes de o Cunha avaliar a justa causa. O funcionário público tem direito a apresentar essa defesa prévia. Entendemos que a defesa que ela [Dilma] terá na comissão especial não será prévia, mas com toda uma carga política por trás dela”, disse Pereira, ao enfatizar que a Constituição de 1988 garante esse direito.

“A defesa prévia tem de feita ser antes de qualquer avaliação de mérito, mas essa oportunidade não foi dada a Dilma.”

No mandado, Pereira afirma que a instalação de um processo de impeachment pode ter grande impacto na sociedade. Para o deputado, é difícil avaliar a magnitude do impacto político-econômico-social de um processo como esse.

"Sabe-se apenas, com segurança, que ele é enorme. O país precisará de meses, senão anos, para recompor-se, independentemente do desfecho do processo. Cabe a esta Suprema Corte, diante da ilegalidade que configura o recebimento da denúncia sem prévio contraditório, atuar de maneira célere para restaurar parcela da estabilidade político-social no país.”


O ponto fraco de Dilma

Presidente Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, em Brasília


por Míriam Leitão

O argumento que Cunha usou é tecnicamente sólido, mas as motivações que o fizeram agir são as mais questionáveis. A presidente não poderia ter editado decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso. E foi o que ela fez no ano passado e repetiu este ano. O que levou Eduardo Cunha a agir foi o risco de perder a guerra para salvar seu mandato.

Cunha fez um movimento calculado. Disse que recebeu 34 pedidos de impeachment. Recusou todos, exceto um, no qual viu consistência jurídica. Vários outros se referiam ao que a presidente fez durante o ano de 2014, mas o ano passado é outro mandato. As pedaladas, por exemplo, aconteceram em 2014. Cunha, então, pegou nos questionamentos do TCU o que trata dos decretos de crédito suplementar editados sem autorização prévia do Congresso. E isso ela praticou este ano também, portanto, no atual mandato. Esse é o ponto fraco.

A lei determina que a presidente não pode editar decretos de aumento de gastos sem prévia aprovação do Congresso. Ela tem apenas uma autorização condicionada. Se estiver cumprindo a meta, e houver uma arrecadação acima do previsto, o governante pode baixar decretos de aumentos de gastos sem autorização do Congresso. No caso, a presidente Dilma não estava cumprindo a meta, e a arrecadação estava caindo. 

Mesmo assim, em junho, ela baixou seis decretos autorizando gastos de mais R$ 2,5 bilhões. Tudo o mais que ela fez, esses mesmos decretos no ano passado, as pedaladas em que os bancos emprestaram ao governo, nada disso poderia ser usado como argumento. E o motivo é bizarro: o fato de que aconteceu no último mandato. Isso faz da reeleição uma anistia ampla e geral. O problema da presidente foi ter repetido o mesmo ato este ano, invadindo o novo mandato com a velha atitude.

O andamento do processo contra Dilma é incerto, o ritual é longo, e ela pode se livrar dele. O que aconteceu até agora é estarrecedor. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, diante do risco de perder no Conselho de Ética, sacou primeiro e disparou contra a presidente da República como ele havia dito que faria. Ele fez chantagem sobre o governo, que estava cedendo, mas acabou perdendo o controle dos seus próprios deputados. Esse não é motivo respeitável para iniciar um processo que, independentemente da evolução, provoca turbulências políticas e econômicas.

Em Nova York, a notícia da abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma foi o suficiente para fazer disparar as ações brasileiras, principalmente as da Petrobras. A administração Dilma na economia é muito mal vista por investidores, principalmente na gestão da petrolífera. Por isso, houve esse começo de comemoração, mas a tendência é haver muita volatilidade porque o movimento de Cunha aumenta o grau de incerteza da economia e da política do Brasil.

O país continua se afundando na incerteza neste ano em que não há um dia calmo. Ontem, o governo estava se preparando para comemorar uma vitória com a aprovação da nova meta, permitindo que o ano fiscal termine num vasto mar vermelho que pode chegar a R$ 120 bilhões. Com isso, o governo pode liquidar as pedaladas de 2014 e ficar em dia com a lei orçamentária deste ano, por ter alterado o compromisso fiscal. Agora ela pode, se quiser, baixar decretos de crédito suplementar, porque já tem a nova meta aprovada. 

Mas a aprovação de ontem não retroage. O que ela fez em junho não poderia ter feito, e é nisso que Cunha se pegou.

A reação da presidente Dilma não foi de discutir o ponto técnico e fiscal no qual ele pegou, mas comparar-se ao deputado que a ataca. Lembrou que não existem questionamentos sobre ela, que não tem conta no exterior, que não ocultou bens pessoais. Desta forma, ela quis mostrar que é bem diferente do seu adversário nesta guerra para derrubar mandatos.

A crise política se agravou ontem fortemente e se houver pressão popular sobre os parlamentares pode-se formar uma maioria contra Dilma no Congresso. Este é o pior ambiente para um presidente enfrentar qualquer questionamento sobre o seu mandato, porque o desconforto econômico chegou ao auge com a recessão profunda, a inflação em dois dígitos e o desemprego crescendo.


Nós vamos invadir a sua praia


Os bastidores do negócio, os planos já desenhados e a fome de mercado. Saiba por que a J&F pagou R$ 2,67 bilhões e atropelou fundos internacionais para ficar com a Alpargatas


Cow Parade: obra do publicitário Marcello Serpa e Joesley Batista da JBS
Cow Parade: obra do publicitário Marcello Serpa e Joesley Batista da JBS ( foto: Divulgação)

Pergunte ao empresário Joesley Batista, presidente da holding de investimentos J&F e do conselho de administração do frigorífico JBS, o que ele faz nas suas horas vagas. “Eu trabalho”, diz ele, invariavelmente, ao interlocutor. “No fim do expediente, as pessoas perguntam se estou cansado e digo que não, pois trabalhei o dia inteiro.” E arremata: “Estaria cansado se tivesse jogado uma partida de futebol.” Ao contrário do que pode parecer não se trata de uma brincadeira de Joesley, como ele é chamado.

Esse estilo “workaholic” foi demonstrado na compra do controle da Alpargatas, dona das famosas sandálias Havaianas, anunciada na segunda-feira 23, por R$ 2,67 bilhões. Em apenas cinco dias, o time comandado pelo empresário conseguiu fechar a aquisição, superando tradicionais fundos de investimentos, como KKR, Carlyle, Pátria, Tarpon e Península – este último do empresário brasileiro Abilio Diniz. “Eles foram muito ágeis”, diz uma fonte, que conhece detalhes da negociação.

Segundo DINHEIRO apurou, a Camargo Corrêa contratou os bancos de investimento Bradesco BBI e o Goldman Sachs para vender sua fatia de 44% na centenária fabricante de calçados e vestuário paulista. Durante cerca de três meses, a empresa foi oferecida para uma série de investidores, inclusive a J&F. Quando os fundos de private equity ainda checavam detalhes do negócio para fazer a oferta, o time de Joesley, liderado pelo executivo espanhol Vicente Trius, que foi presidente da rede varejista Walmart no Brasil de 1997 a 2007, atropelou a todos.

Trius fez uma oferta em dinheiro vivo e negociou o que foi chamado por algumas pessoas com quem DINHEIRO conversou como “um contrato simples”. “Eles pularam etapas”, diz outra fonte. “Conheciam bem o setor e sabiam o potencial de valorização de todas as marcas.” A oferta em dinheiro, dizem as fontes, ajudou a acelerar a venda. A Camargo Corrêa, uma das construtoras envolvidas no escândalo da Lava Jato, conta com uma dívida líquida de R$ 24 bilhões e está colocando à venda uma série de ativos para fazer caixa (leia reportagem aqui).

Com isso, no domingo 22, o acordo foi assinado no escritório de advocacia especializado em fusões e aquisições Mattos Filho, na região da Avenida Paulista, por volta das 20 horas. Estavam presentes Joesley, o presidente da Alpargatas, Márcio Utsch, e membros da família que controla a Camargo Corrêa. Um champanhe francês Veuve Clicquot foi aberto para brindar o negócio, que foi comunicado ao mercado na manhã seguinte.

“Acreditamos que nossa experiência acumulada em operações globais e no desenvolvimento de marcas fortes irá impulsionar ainda mais a bem-sucedida trajetória da Alpargatas”, disse Joesley, em um comunicado – procurado, ele não concedeu entrevista. O negócio ainda precisa de aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o que deve acontecer em até 60 dias. O executivo Márcio Utsch deve permanecer à frente da Alpargatas, pelo menos até a transição para o novo controlador.

Se Utsch não ficar, um candidato a assumir o cargo é Trius, que tem experiência internacional e de varejo. A J&F também terá de fazer uma oferta aos acionistas minoritários (tag along) de até 80% do preço pago pela ação da Alpargatas. Com essa operação, o valor do negócio pode crescer mais de R$ 800 milhões, caso todos os acionistas concordem em vender seus papéis para a holding da família Batista. O maior deles é o investidor Silvio Tini de Araújo e sua holding Bonsucex, que detém 25% das ações ordinárias da dona das Havaianas.

BOI DE CHINELO O grupo J&F é a holding de investimento da família Batista. A estrela mais reluzente deste rebanho empresarial é a JBS, que começou em 1953 como uma pequena casa de carne em Anápolis, em Goiás. Hoje, ninguém abate mais bois e frangos no mundo do que a empresa fundada pelo patriarca José Batista Sobrinho. Com uma receita líquida de R$ 120 bilhões, ela tornou-se a maior empresa privada do Brasil, com uma agressiva estratégia de aquisições. Desde 2005, os Batista adquiriram mais de uma dúzia de empresas ao redor do globo, como as americanas Swift, em 2007, e a Pilgrim´s Pride, em 2009.

Nos últimos anos, os irmãos Joesley, à frente da J&F, e Wesley, que comanda a JBS, diversificaram os ramos de atuação. Atualmente, eles são donos de empresas no setores de celulose (Eldorado Brasil), lácteos (Vigor), higiene e limpeza (Flora), financeira (Banco Original), mídia (Canal Rural), confinamento de gado nos EUA (Oklahoma) e a criação de gado (Floresta Agropecuária). A estratégia dos irmãos Batista para escolher os seus alvos é simples. Em geral, eles buscam empresas que enfrentam problemas financeiros, para que possam recuperá-la.

“O que temos feito, ao longo dos anos, é comprar empresas nas quais acreditamos que somos capazes de produzir melhores resultados através da melhoria do gerenciamento, dos controles, dos processos e do fortalecimento da equipe”, disse Joesley à DINHEIRO, em uma entrevista em novembro de 2013. Um exemplo recente é a Seara, comprada do Marfrig, por quase R$ 6 bilhões há dois anos. Mas pode-se citar também a americana Pilgrim´s Pride, da área de frangos, que estava à beira da falência e, em 2014, lucrou US$ 711,6 milhões.

A compra da Alpargatas marca uma inflexão nesse estilo. Explica-se: a empresa está saudável, tem lucro e marcas fortes e reconhecidas internacionalmente. Mais: a companhia é líder do setor de calçados no Brasil, com uma fatia de 17,1%, segundo a consultoria Euromonitor. A segunda colocada, a Grendene, detém metade da parcela da Alpargatas (confira gráfico na pág. 45). “As Havaianas se beneficiam do fato de ser uma das marcas símbolo do País”, diz um relatório da Euromonitor. Mas isso não parece ser suficiente para a J&F.

“A Alpargatas gera caixa e conta com um endividamento baixo”, afirma uma fonte, que conhece os planos do novo controlador. “Mas dá para extrair mais valor.” A estratégia, segundo apurou DINHEIRO, será semelhante ao que a JBS fez na área de bois, setor em que se transformou líder mundial. O plano é avançar ainda mais a internacionalização das sandálias Havaianas, que até a década de 1990 não passavam de um chinelo de dedo feio e sem graça.

“A Alpargatas conseguiu fazer uma internacionalização com marca”, afirma Paulo Furquim, coordenador do Centro de Pesquisas e Estratégias do Insper. “Quem compra no exterior sabe e identifica a Havaianas como um produto brasileiro.” Atualmente, da receita líquida de R$ 3,7 bilhões, de 2014, pouco mais de 30% vem do exterior. “Há um grande potencial de explorar a Havaianas fora do Brasil”, diz a fonte. A marca de moda Osklen, que foi comprada do médico Oskar Metsavaht em 2012, deve seguir caminho semelhante.

No caso da Mizuno, cujos tênis de corrida chegam a custar R$ 1.000, o plano é ganhar mercado na América Latina – a Alpargatas tem um contrato de licenciamento para produzir e distribuir a marca japonesa no Brasil por 26 anos. A J&F deve dar sequência a estratégia de expandir a marca Havaianas, que está deixando de ser apenas uma sandália. Há pelo menos três anos, a Alpargatas começou a levar a marca para outros produtos. Elas primeiro viraram tênis. Mas, atualmente, pode-se encontrar desde bolsas, chaveiros, toalhas e meias com o símbolo da grife.

Em setembro deste ano, por exemplo, a empresa fechou parceria com a italiana Safilo, que fabrica óculos Premium, para produzir o acessório a partir do segundo semestre de 2016. Há também 669 lojas, no Brasil e no exterior, que vendem exclusivamente produtos da marca Havaianas. “A J&F comprou marcas icônicas e com âmbito global”, diz uma fonte. Assim como a família Batista se transformou líder global no abate de bois, que ninguém duvide que a ambição com a Havaianas é nada menos do que invadir o mercado global com sandálias.

Crime de responsabilidade: ministro do TCU afirma que Dilma continua “pedalando” em 2015





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Durante entrevista à Rádio Jornal, em Recife (PE), nesta quinta-feira (3), Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e relator no processo das “pedaladas fiscais”, declarou que as práticas consideradas irregulares estão sendo repetidas pela presidente Dilma Rousseff no corrente ano.

De acordo com o relator, o pedido de impeachment, aceito na quarta-feira pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, está embasado, principalmente, em práticas consideradas irregulares que se repetiram em 2015.

“Há seis novos decretos que foram feitos este ano, repetindo o mesmo que foi feito em 2014, para que a presidente abra crédito sem autorização da Lei Orçamentária”, afirmou Nardes. O ministro está no Recife para palestrar no XXVIII Congresso de Tribunais de Contas do Brasil.

Conforme o ministro do TCU, a abertura de créditos, em 2015, pode servir de base para a validação do pedido de impeachment feito pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal.

“É um desrespeito ao Congresso, um descumprimento da Lei da Responsabilidade Fiscal. A constituição é muito clara. A presidente não pode descumprir a Lei Orçamentária e é baseado nisto que Cunha está propondo o impeachment”, completou.

A “pedalada fiscal” é o nome dado às fraudes contábeis que a administração Dilma cometeu para cumprir as metas fiscais, obrigando o Tesouro Nacional a atrasar repasses às instituições financeiras públicas e privadas que financiariam despesas do governo, entre os quais benefícios sociais e previdenciários, como o Bolsa Família, o abono e seguro-desemprego, e os subsídios agrícolas.

Os beneficiários receberam os pagamentos em dia, pois os bancos assumiram, com recursos próprios, os pagamentos dos programas sociais. Com isso, o governo registrou, mesmo que temporariamente, um alívio no orçamento. No contraponto, a dívida do governo com os bancos cresceu.

O TCU afirmou que cerca de R$ 40 bilhões estiveram envolvidos nessas manobras entre 2012 e 2014. Agora, em 2015, o ministro Augusto Nardes confirmou que as “pedaladas” existiram.

Conforme os técnicos do TCU, o governo contraiu operações de crédito junto a bancos estatais para fazer esses pagamentos. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), porém, proíbe a prática.