Nova York - A resolução da incerteza no cenário político e econômico é
essencial para que o Brasil eventualmente retorne ao crescimento
positivo, afirmou nesta sexta-feira, 22 o diretor do Departamento para o
Hemisfério Ocidental do
Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, em um artigo enviado à imprensa.
O Brasil enfrenta em 2015/2016 uma contração da atividade somente vista
na época da crise da dívida externa da América Latina, em 1981/1983.
"Uma combinação de fragilidades macroeconômicas decorrentes do lento
ajuste interno, um escândalo de grande alcance envolvendo funcionários
do governo e de empresas, e problemas políticos têm paralisado
investimentos e dominado as perspectivas econômicas", afirma em um
artigo. No começo da semana, o FMI rebaixou a previsão de crescimento do
Brasil para 2016 e 2017.
Este ano, a previsão é de contração de 3,5%, a maior entre os principais países do mundo, e no ano que vem, o
PIB deve ficar estagnado, com expansão zero.
Werner ressalta no artigo que a inflação está em dois dígitos e o
desemprego tem aumentado de forma clara. "A turbulência política
continua a atrasar a adoção de uma estratégia fiscal confiável para
manter a dívida pública em uma trajetória sustentável", disse ele,
destacando que o Brasil foi alvo recentemente de três rebaixamentos de
rating soberano.
A piora da classificação de risco aumentou o custo de financiamento para
o país e para as empresas brasileiras, diz o diretor do FMI. Um dos
poucos pontos positivos é que as exportações começam a mostrar sinais de
força, graças principalmente à forte desvalorização do real.
Brasil, Argentina, Equador e Venezuela devem ser os responsáveis pelo
crescimento negativo da América Latina este ano, destaca Werner. Uma
combinação de problemas externos, como a queda dos preços das
commodities, e desequilíbrios domésticas, têm levado a piora do
investimento privado nestes países.
Ativos
Werner afirmou que uma piora adicional da situação no Brasil pode levar a
uma repentina reprecificação dos ativos da América Latina e reduzir a
demanda por exportações dos parceiros do país no Mercosul.
Ele avaliou que a América Latina enfrenta riscos externos, como a
elevação de juros dos Estados Unidos e, sobretudo, a desaceleração da
economia da China, mas também tem um risco próximo, a economia
brasileira. "Mais perto de casa, uma maior deterioração da situação no
Brasil poderia levar a uma reprecificação repentina de ativos regionais,
bem como à redução da demanda por exportações entre parceiros
comerciais no Mercosul", disse o diretor do FMI.
"O começo de 2016 está sendo difícil, como pode ser visto pelas recentes
crises de volatilidade financeira, decorrente de incertezas
relacionadas com a desaceleração na China, os preços mais baixos das
commodities, e a política monetária divergentes nas economias
avançadas", afirmou Werner, desta vez em entrevista à imprensa concedida
nesta sexta-feira.
O diretor do FMI ressalta que a recuperação da economia global continua
"lutando para ganhar" força, mas problemas em alguns países emergentes
têm pesado nas perspectivas de crescimento. Esta semana, o FMI rebaixou
as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo em
2016 e 2017 e alertou ainda para o aumento de riscos.
Nesse ambiente, a América Latina deve ter o segundo ano de crescimento
negativo e pode ficar com crescimento baixo por um longo período. Mas
Werner ressalta que a situação na região é bem heterogênea.
"Enquanto países com fortes arcabouços de política econômica têm se
ajustado de forma suave aos choques externos, países com fracos
fundamentos domésticos estão experimentando contrações significativas",
afirmou o diretor do FMI.
A previsão do FMI é que a região encolha 0,3% em 2016, mesmo porcentual
de 2015. A Argentina deve encolher 1%, a Venezuela ter retração de 8% e o
Brasil, de 3,5%. Já entre os destaques de crescimento estão México
(+2,6%), Peru (+3,3) e Colômbia (+2,7%).
"A perspectiva regional só vai começar a ser mais promissora quando os
desafios internos dos países que enfrentam contratação da economia forem
resolvidos", diz ele. Na coletiva, Werner disse que a Argentina têm
tomado medidas corretas nas últimas semanas.
Exportações
A queda dos preços das commodities fez as receitas com exportações de
sete países da América Latina, entre eles Brasil, Peru e Colômbia, cair
US$ 200 bilhões, estima o diretor do FMI. Enquanto a América do Sul pode
sofrer ainda mais com a queda das commodities, o México e países do
Caribe tendem a se beneficiar com a melhora da economia dos Estados
Unidos.
Juros nos EUA
O ajuste na divergência de expectativas do mercado financeiro e do
Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos)
sobre a trajetória dos juros naquele país em 2016 pode trazer
volatilidade adicional aos preços dos ativos, avalia o diretor do
Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário
Internacional (FMI), Alejandro Werner, em uma entrevista aos
jornalistas.
Werner ressalta que o Fed sinalizou na última reunião de política
monetária que espera quatro altas de juros este ano, de acordo com as
previsões dos dirigentes mostradas no gráfico de pontos. Os
investidores, porém, estão prevendo duas altas e, alguns deles, apenas
uma.
"A forma como esta diferença se resolve tem potencial para gerar volatilidade adicional", disse ele.
Para o diretor do FMI, havia muito temor dos efeitos da primeira alta de
juros pelo Fed, que ocorreu em dezembro e acabou não provocando maior
estresse, sinalizando que o movimento estava em grande medida já
embutido nos preços dos ativos.
Neste começo de ano, o foco tem sido mais a China, ressaltou.
"A América Latina permanece particularmente vulnerável a uma desaceleração mais forte do que o previsto da China", opinou.