sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Brasil vive pior crise desde 1980, diz FMI


REUTERS/Ueslei Marcelino
Um retrato do Brasil em 2015
FMI sobre o Brasil: o país enfrenta em 2015/2016 uma contração da atividade somente vista na época da crise da dívida externa da América Latina, em 1981/1983
 
Altamiro Silva Junior, do Estadão Conteúdo
correspondente, do Estadão Conteúdo


Nova York - A resolução da incerteza no cenário político e econômico é essencial para que o Brasil eventualmente retorne ao crescimento positivo, afirmou nesta sexta-feira, 22 o diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, em um artigo enviado à imprensa.

O Brasil enfrenta em 2015/2016 uma contração da atividade somente vista na época da crise da dívida externa da América Latina, em 1981/1983.

"Uma combinação de fragilidades macroeconômicas decorrentes do lento ajuste interno, um escândalo de grande alcance envolvendo funcionários do governo e de empresas, e problemas políticos têm paralisado investimentos e dominado as perspectivas econômicas", afirma em um artigo. No começo da semana, o FMI rebaixou a previsão de crescimento do Brasil para 2016 e 2017.

Este ano, a previsão é de contração de 3,5%, a maior entre os principais países do mundo, e no ano que vem, o PIB deve ficar estagnado, com expansão zero.

Werner ressalta no artigo que a inflação está em dois dígitos e o desemprego tem aumentado de forma clara. "A turbulência política continua a atrasar a adoção de uma estratégia fiscal confiável para manter a dívida pública em uma trajetória sustentável", disse ele, destacando que o Brasil foi alvo recentemente de três rebaixamentos de rating soberano.

A piora da classificação de risco aumentou o custo de financiamento para o país e para as empresas brasileiras, diz o diretor do FMI. Um dos poucos pontos positivos é que as exportações começam a mostrar sinais de força, graças principalmente à forte desvalorização do real.

Brasil, Argentina, Equador e Venezuela devem ser os responsáveis pelo crescimento negativo da América Latina este ano, destaca Werner. Uma combinação de problemas externos, como a queda dos preços das commodities, e desequilíbrios domésticas, têm levado a piora do investimento privado nestes países.
 

Ativos


Werner afirmou que uma piora adicional da situação no Brasil pode levar a uma repentina reprecificação dos ativos da América Latina e reduzir a demanda por exportações dos parceiros do país no Mercosul.

Ele avaliou que a América Latina enfrenta riscos externos, como a elevação de juros dos Estados Unidos e, sobretudo, a desaceleração da economia da China, mas também tem um risco próximo, a economia brasileira. "Mais perto de casa, uma maior deterioração da situação no Brasil poderia levar a uma reprecificação repentina de ativos regionais, bem como à redução da demanda por exportações entre parceiros comerciais no Mercosul", disse o diretor do FMI.

"O começo de 2016 está sendo difícil, como pode ser visto pelas recentes crises de volatilidade financeira, decorrente de incertezas relacionadas com a desaceleração na China, os preços mais baixos das commodities, e a política monetária divergentes nas economias avançadas", afirmou Werner, desta vez em entrevista à imprensa concedida nesta sexta-feira.

O diretor do FMI ressalta que a recuperação da economia global continua "lutando para ganhar" força, mas problemas em alguns países emergentes têm pesado nas perspectivas de crescimento. Esta semana, o FMI rebaixou as projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do mundo em 2016 e 2017 e alertou ainda para o aumento de riscos.

Nesse ambiente, a América Latina deve ter o segundo ano de crescimento negativo e pode ficar com crescimento baixo por um longo período. Mas Werner ressalta que a situação na região é bem heterogênea.

"Enquanto países com fortes arcabouços de política econômica têm se ajustado de forma suave aos choques externos, países com fracos fundamentos domésticos estão experimentando contrações significativas", afirmou o diretor do FMI.

A previsão do FMI é que a região encolha 0,3% em 2016, mesmo porcentual de 2015. A Argentina deve encolher 1%, a Venezuela ter retração de 8% e o Brasil, de 3,5%. Já entre os destaques de crescimento estão México (+2,6%), Peru (+3,3) e Colômbia (+2,7%).

"A perspectiva regional só vai começar a ser mais promissora quando os desafios internos dos países que enfrentam contratação da economia forem resolvidos", diz ele. Na coletiva, Werner disse que a Argentina têm tomado medidas corretas nas últimas semanas.
 

Exportações


A queda dos preços das commodities fez as receitas com exportações de sete países da América Latina, entre eles Brasil, Peru e Colômbia, cair US$ 200 bilhões, estima o diretor do FMI. Enquanto a América do Sul pode sofrer ainda mais com a queda das commodities, o México e países do Caribe tendem a se beneficiar com a melhora da economia dos Estados Unidos.
 

Juros nos EUA


O ajuste na divergência de expectativas do mercado financeiro e do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sobre a trajetória dos juros naquele país em 2016 pode trazer volatilidade adicional aos preços dos ativos, avalia o diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner, em uma entrevista aos jornalistas.

Werner ressalta que o Fed sinalizou na última reunião de política monetária que espera quatro altas de juros este ano, de acordo com as previsões dos dirigentes mostradas no gráfico de pontos. Os investidores, porém, estão prevendo duas altas e, alguns deles, apenas uma.

"A forma como esta diferença se resolve tem potencial para gerar volatilidade adicional", disse ele.

Para o diretor do FMI, havia muito temor dos efeitos da primeira alta de juros pelo Fed, que ocorreu em dezembro e acabou não provocando maior estresse, sinalizando que o movimento estava em grande medida já embutido nos preços dos ativos.

Neste começo de ano, o foco tem sido mais a China, ressaltou.

"A América Latina permanece particularmente vulnerável a uma desaceleração mais forte do que o previsto da China", opinou.

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