Quando Abilio Diniz e Jorge Paulo Lemann, dois empresários brasileiros acostumados a fechar negócios bilionários, compraram, em agosto do ano passado, a Benjamin Abrahão,
uma pequena rede de padarias paulistana, ninguém entendeu direito o que
estava por trás desse investimento.
Agora, a estratégia ficou mais
clara. E não contradiz o estilo ambicioso da dupla. Os homens que
construíram o Pão de Açúcar e a Ambev querem criar a primeira grande
cadeia de padarias de alcance nacional.
Há cinco meses, os fundos de investimento Innova Capital, de Lemann, e
Península, de Diniz, anunciaram a compra da Benjamin Abrahão, que tinha
duas unidades em bairros nobres da cidade e seis em universidades da
capital. Quem apresentou o negócio aos empresários, no fim de 2014, foi a
portuguesa Rita de Cássia Sousa Coutinho, que também é sócia da
empresa, por meio da Ocean, e vai presidir a rede. Sob nova
administração, o negócio - rebatizado Benjamin - deve dobrar de tamanho
ainda em 2016. Para pavimentar o caminho rumo ao objetivo, Rita
acreditava que era preciso garantir ao projeto uma habilidade que nenhum
dos três possuía: a capacidade de produzir pães e bolos de qualidade.
Por isso, decidiram comprar um negócio já em funcionamento. A escolhida,
após uma análise de mercado, foi a Benjamin Abrahão, cujo fundador
começou vendendo doces e salgados em feiras de rua de São Paulo nos anos
1940. Agora, a produção é tocada por um de seus netos, Felipe.
A compra, efetivada por valor não revelado (o mercado estima R$ 20
milhões), foi só o primeiro passo da estratégia. Depois de passar os
últimos meses reorganizando a casa - com foco no controle de
matéria-prima, treinamento de pessoal e informatização -, a rede vai
ganhar uma nova cara. O layout terá sua estreia em duas unidades: uma
dos Jardins, já inaugurada, e outra no Shopping Eldorado, que será
aberta neste mês. As duas lojas servirão de teste para o modelo que vai
dar escala ao negócio. O período de férias escolares vai ser tomado
pelas reformas de seis unidades da Benjamin Abrahão localizadas dentro
de escolas e universidades de São Paulo. As lojas de maior porte, em
Higienópolis e na rua José Maria Lisboa, nos Jardins, serão
revitalizadas aos poucos, sem fechar as portas.
Embora seja reticente sobre a expansão da rede, a executiva diz que,
"dentro de uma expectativa realista", será possível dobrar o número de
unidades da rede até o fim do ano. As lojas da Benjamin Abrahão serão
compactas, de até 120 m², e vão se dedicar à venda de pães, doces e
salgados e a refeições rápidas. Para o longo prazo, as metas são
ambiciosas e a rede deve ir além do mercado paulistano. "O Brasil é
grande como um continente, é preciso flexibilidade", diz Rita.
Inicialmente, a Benjamin crescerá com lojas próprias, mas um modelo de
franquias não está descartado.
Na nova Benjamin Abrahão - que vai perder o "sobrenome" e se tornar
apenas Padaria Benjamin -, quem colocará a mão na massa é Felipe
Abrahão, neto do fundador que desde os 15 anos comanda os fornos do
negócio. Segundo apurou o jornal O Estado de S. Paulo, a família manterá
uma pequena participação na nova padaria, enquanto Innova, Península e
Ocean concentrarão cerca de 30% cada uma. Rita será a presidente. A
executiva tem experiência no varejo de proximidade. Trabalhou no Grupo
Pão de Açúcar, onde ajudou a implantar as redes Minuto Pão de Açúcar e
Minimercado Extra. E também passou pelo setor de padarias. Ela foi uma
das idealizadoras da Padaria Portuguesa, rede que já tem 30 lojas no
país europeu.
Ao desembarcar no Brasil, a executiva queria implantar um projeto de
padaria em larga escala. A ideia inicial era trazer a Padaria Portuguesa
para o País. Como o projeto não foi adiante, ela passou a buscar
alternativas - e acabou chegando à parceria com Abilio e Lemann. Segundo
especialistas no setor de alimentos, a Benjamin tem condições de
tornar-se líder do segmento de panificação em pouco tempo.
Porte
O Brasil tem hoje mais de 63 mil padarias, que movimentam R$ 80 bilhões
por ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria da Panificação
(Abip). De 2009 a 2013, o setor de pães e doces cresceu acima de 10% ao
ano. Predominam os negócios familiares. Com seis unidades, uma rede de
padarias já é considerada de grande porte - caso da paulistana Dona
Deôla. As poucas empresas que tentaram ir além de suas cidades, como as
franquias Uni & Due e Pão & Companhia, não tiveram fôlego para
ir muito longe. Segundo fontes do setor, ambas estão revendo seus
projetos de expansão.
Procuradas, as empresas não responderam os
contatos da reportagem. Redes estrangeiras - como a francesa Au Bon Pain
- também não obtiveram sucesso.
"Ainda não tivemos uma experiência bem sucedida no Brasil, apesar de
várias tentativas", diz o presidente da Abip, José Batista de Oliveira.
Segundo o consultor Sérgio Molinari, da Food Consulting, o negócio de
padarias é o menos profissionalizado entre os segmentos de alimentação
no país. "Temos diversas redes de fast-food e de restaurantes com
atuação nacional, mas não há um movimento organizado em padarias", diz.
Para o consultor, a companhia que conseguir se estabelecer no segmento
terá nas mãos um terreno fértil para trabalhar: "O faturamento médio de
uma lanchonete no Brasil é de R$ 30 mil. O de uma padaria é de R$ 100
mil. É um nicho rentável em busca de um líder."
As informações são do
jornal O Estado de S. Paulo.
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