Diariamente 10 caminhões carregando 200 mil litros de água mineral deixam a fábrica da Ouro Fino, em Bateias, na região metropolitana de Curitiba, com destino a Mariana, em Minas Gerais. Eles levam alívio para a população atingida pela queda da barreira da mineradora Samarco, o maior desastre ambiental da história brasileira. Mas também levam a marca centenária da fonte paranaense para outros destinos e aceleram o plano estratégico de recuperação financeira da empresa, abalada por problemas de gestão há dois anos.
No cargo há um ano e meio com a missão de reerguer a companhia, o diretor-presidente Edson Ravaglio (foto) conta que o contrato de fornecimento assinado com a Vale em novembro – e agora em fase de renovação com a Samarco – fez da Ouro Fino a maior fornecedora de água para a emergência mineira e acabou compensando os efeitos da crise econômica sobre os planos de recuperação e crescimento da envasadora. 
A empresa fechou 2015 com um faturamento de R$ 53 milhões, valor 20% maior do que em 2014. Só em dezembro, o crescimento foi de 50% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Ainda assim, os números representam apenas a recuperação do desempenho histórico, interrompido em 2011. Em 2012, lembra Ravaglio, os resultados foram maiores – R$ 72 milhões – mas não tinham sustentabilidade. Naquele ano, a empresa acabou com R$ 4 milhões em títulos protestados, hoje reduzidos a R$ 800 mil, que serão liquidados até o fim do verão.
A meta de faturamento para este ano é de R$ 67 milhões, um salto de 26% que deve resistir à turbulência econômica, impulsionado pela forte ajuda do consumo de Mariana. Para atender essa demanda, a Ouro Fino precisou ser ágil. Passou a trabalhar a plena capacidade, envasando 500 mil litros por dia, mais do que o dobro de sua média anterior. Com 300 empregados, contratou mais 12 pessoas. Buscou novos fornecedores de embalagem e de logística. E nisso foi auxiliada pela ociosidade que a crise provocou na operação dos parceiros. Mas a produção ainda tem fôlego para crescer. Hoje há uma fonte em funcionamento, capaz de gerar 1,2 milhão de litros de água por dia, e a empresa tem outras fontes prospectadas que podem ser acionadas com baixo investimento.
Voos mais altos – como buscar financiamento para produzir as próprias embalagens e resolver um de seus gargalos mais importantes – ficam reservados para o fim da crise brasileira, antecipa Ravaglio, contando que a recuperação não tarde mais do que três anos. “Queremos voltar a ser a maior fonte de água mineral do Brasil, mantendo nosso padrão de qualidade amplamente reconhecido, e estando presente nos maiores mercados”, prevê. 
No próximo verão, a marca deve relançar as águas saborizadas, cujo consumo cresce entre o público jovem interessado em saúde. Também pretende voltar a fornecer o sistema de bebedouro com tecnologia argentina, única no país, que impede o contato da água do garrafão com o meio externo, até chegar ao copo. “Estamos muito entusiasmados com o momento da empresa. A marca tem mais de 100 anos. Algumas famílias de funcionários trabalham há quatro gerações na empresa. Vamos reenergizar a equipe comercial e ganhar mercado”, promete Ravaglio.