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São Paulo - Em países como Suazilândia, Georgia e Colômbia, o patrimônio
de um único bilionário local seria capaz de erradicar a pobreza entre seus habitantes.
Nas Filipinas e no Brasil, uma transferência do tipo levaria a pobreza
para um quarto do patamar atual (considerando uma renda mínima de US$
1,90 por dia por pessoa em dólares de paridade de poder de compra).
É esta a tese provocativa defendida pelos pesquisadores Laurence Chandy, Lorenz Noe and Christine Zhang em um post recente no site da organização Brookings Institution.
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O que eles fizeram foi pegar o bilionário mais rico de cada país e supor que ele concordasse em doar metade da sua fortuna para seus conterrâneos.
O dinheiro seria distribuído ao longo de 15 anos (seguindo a Giving Pledge de Bill Gates)
e teria como único objetivo financiar transferências diretas e garantir
renda suficiente para que seus beneficiários pudessem escapar sozinhos
da pobreza até 2030.
O impacto de um bilionário seria suficiente para eliminar a pobreza em
alguns países, enquanto em outros seria necessário juntar mais de um. Em
outros países, o impacto seria bem mais modesto.
Veja na tabela:
País | Custo por ano | Maior bilionário | Patrimônio | Pobreza pré-transferência | Pobreza pós-transferência |
---|---|---|---|---|---|
Nigeria | $12,070 m | A. Dangote | $14,700 m | 45% | 43% |
Suazilândia | $85 m | N. Kirsh | $3,900 m | 41% | 0% |
Tanzânia | $1,645 m | M. Dewji | $1,250 m | 40% | 39% |
Uganda | $1,035 m | S. Ruparelia | $1,100 m | 33% | 32% |
Angola | $1,277 m | I. dos Santos | $3,300 m | 28% | 25% |
África do Sul | $1,068 m | J. Rupert | $7,400 m | 18% | 14% |
Filipinas | $648 m | H. Sy | $14,200 m | 12% | 3% |
Nepal | $144 m | B. Chaudhary | $1,300 m | 12% | 8% |
India | $5,839 m | M. Ambani | $21,000 m | 12% | 10% |
Guatemala | $215 m | M. Lopez Estrada | $1,000 m | 12% | 10% |
Venezuela | $870 m | G. Cisneros | $3,600 m | 11% | 9% |
Georgia | $40 m | B. Ivanishvili | $5,200 m | 10% | 0% |
Indonesia | $845 m | R. Budi Hartono | $9,000 m | 9% | 6% |
Colombia | $444 m | L. C. Sarmiento | $13,400 m | 7% | 0% |
Brasil | $1,223 m | J. P. Lemann | $25,000 m | 4% | 1% |
Peru | $95 m | C. Rodriguez-Pastor | $2,100 m | 3% | 1% |
China | $3,072 m | W. Jianlin | $24,200 m | 3% | 2% |
O exercício estatístico é interessante porque demonstra, em primeiro
lugar, como o mundo já ficou mais próximo de resolver o problema da
pobreza extrema.
A meta da Organização das Nações Unidas de cortar pela metade a pobreza
no mundo em desenvolvimento entre 1980 e 2015 foi atingida quase
duplamente, e o contingente de pobres que resta está cada vez mais
próximo da fronteira.
Em 1980, a renda diária mediana daqueles vivendo abaixo da linha de
pobreza era US$ 1,09. Em 2012, já havia subido 25 centavos para US$ 1,34
(usando dólares de paridade de poder de compra em 2011).
Isso significa que o custo de colocar todo mundo acima da linha de
pobreza, pelo menos em teoria, caiu de US$ 300 bilhões em 1980 para US$
80 bilhões em 2015 (considerando dólares de mercado em 2015).
Em 2006, os fluxos de ajuda externa superaram pela primeira vez este
valor. No entanto, o grosso desse dinheiro vai para financiar bens
públicos, como infraestrutura e instituições, básicos para a própria
estabilidade dos países.
Apenas 2% são destinados para transferência direta e sua administração,
funções assumidas pelos governos locais (como no caso do Bolsa Família
no Brasil) ou por organizações não governamentais (como a Give Directly).
O que o trio do Brookings está sugerindo é que pelo menos do ponto de
vista numérico, a solução da pobreza não está tão distante - ainda que
US$ 1,90 não seja exatamente um padrão de vida digno, e que mesmo para
chegar a isso existam muitas barreiras.
Elas são logísticas (localizar e cadastrar os pobres), administrativas
(transferir o que seria, em alguns casos, poucos centavos) e até
psicológicas (como mostram pesquisas sobre o tema).
"Além disso, está aberto para debate se transferências são a forma com
melhor custo-benefício para acabar com a pobreza de forma sustentável, o
quanto elas devem ser focadas, a eficácia de construir programas de
transferência privada de riqueza conjuntamente com redes de proteção
social, e se transferências de renda são a forma mais apropriada de uso
da filantropia de bilionários", diz o texto.
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