quinta-feira, 23 de maio de 2019

Com Avon, Natura se torna ainda mais forte fora do Brasil


Com a aquisição, a empresa dependerá muito menos de seu país natal e cerca de 68,3% das vendas virão de fora

 


A Natura, conhecida por sua inspiração brasileira e por ingredientes vindos da Amazônia, é cada vez maior fora de seu país de origem. Com a compra da Avon, a companhia dá um salto em sua presença pelo mundo.

Não apenas as duas gigantes de cosméticos terão faturamento conjunto de mais de 10,9 bilhões de dólares, como estarão presentes em 100 países com mais de 6,3 milhões de consultoras ou representantes. Será o quarto maior grupo de beleza do mundo, atrás da L’Oréal, Estée Lauder e Shiseido.

Até então, cerca de 45,4% das receitas líquidas da Natura & Co vinham do Brasil. Com a aquisição, a empresa dependerá muito menos de seu país natal: cerca de 68,3% das vendas virão de fora. A empresa passa a ser uma das empresas brasileiras mais internacionalizadas.

Considerando apenas as receitas, Natura se torna a 7ª brasileira mais internacionalizada. A análise é feita com base na pesquisa anual da Fundação Dom Cabral, que acompanha as trajetórias internacionais das companhias brasileiras.

Segundo a pesquisa, entre as empresas com maior porcentagem de receita fora do Brasil, Odebrecht, CZM e Fitesa ocupam as três primeiras posições do ranking, com 84,2%, 82,3% e 77,5% das receitas vindas de fora. 

O ranking analisa quantos ativos e funcionários as companhias têm no exterior em comparação ao total e qual a participação das operações internacionais em suas receitas. A edição de 2018 contou com 69 companhias brasileiras, incluindo aquelas que operam por meio de franquias.

A fabricante de não-tecidos Fitesa, Odebrecht e a InterCement, do grupo Camargo Corrêa, são as empresas com o maior índice de internacionalização, segundo a pesquisa, considerando também o número de ativos e funcionários estrangeiros.

  
Histórico


Apesar do salto gigantesco que a Natura dá com a compra da Avon, sua internacionalização começou nos anos 1990, com a expansão para a América Latina. Em 2013, se tornou uma empresa multimarca, com a compra da australiana Aesop, de produtos mais premium, que hoje tem mais de 300 lojas pelo mundo.

Há dois anos, a brasileira enfrentou seu maior desafio até então, com a compra da inglesa The Body Shop, com 3 mil lojas pelo mundo. “Agora, com a Avon, damos mais um passo na internacionalização, em uma escala muito maior”, afirmou o presidente executivo do conselho de administração da Natura, Roberto de Oliveira Marques, em teleconferência sobre o negócio.

De acordo com o banco BTG Pactual, as duas terão 47% do mercado de vendas diretas no Brasil. A maior parte da operação se concentra na América Latina, responsável por 25,6% dos negócios excluindo o Brasil. Também é a região que mais deverá ser beneficiada pelas sinergias da companhia.

“Dada a expertise significativa da Natura em grande parte das operações da Avon na América Latina, se a Natura focar nessa operação e em suas sinergias, a transação se torna mais atraente”, afirmou o Itaú BBA em um relatório de março, quando surgiram os primeiros boatos sobre conversas entre as duas companhias. 

Para o banco, as sinergias entre as duas companhias podem ser ainda maiores, ao considerar a capacidade logística da Natura, que pode ser usada para distribuir também os produtos Avon.

Afinal, é comum que revendedoras atuem com mais de uma empresa, seja Natura, Boticário, Avon, Tupperware ou outras marcas de venda direta. De todas as 4,15 milhões de revendedoras da nova companhia que atuam na América Latina, cerca de 482 milhões já atua, com as duas marcas e esse número só tende a aumentar.

Para Marcos Gouvêa, fundador e diretor geral do Grupo GS&Gouvêa de Souza, as duas companhias têm grandes chances de crescimento em países emergentes, regiões já atendidas por elas. “Vendas diretas, o core das duas empresas, são muito mais relevantes nesses mercados, em comparação com países mais desenvolvidos”, afirma.

Com a aquisição, a Natura leva seus produtos ingredientes brasileiros para cada vez mais longe.


https://exame.abril.com.br/negocios/com-avon-natura-se-torna-ainda-mais-forte-fora-do-brasil/

Senado aprova MP que autoriza atuação de aéreas estrangeiras no Brasil





O Plenário do Senado aprovou o Projeto de Lei de Conversão 12/2019, oriundo da MP 863/2018, que autoriza a participação de até 100% de capital estrangeiro em companhias aéreas brasileiras. O texto foi aprovado nesta quarta-feira (22/5), o último dia antes que a MP perdesse a força de lei. Como foi modificada no Congresso, a medida agora vai para sanção presidencial.


A MP revoga trechos do Código Brasileiro de Aeronáutica para concessão de serviços aéreos públicos. Entre eles, destacam-se a exigência que 80% do capital com direito a voto seja pertencente a brasileiros. Agora, a participação de estrangeiros no controle da empresa pode ser de até 100%.

Além disso, não é mais necessário que a direção da empresa seja confiada exclusivamente a brasileiros, nem que as ações com direito a voto sejam nominativas na hipótese em que a empresa for constituída sob a forma de sociedade anônima.

O texto também inclui emenda garantindo ao passageiro o direito de despachar uma mala de até 23 kg em viagens aéreas. Na prática, a decisão revoga a resolução nº 400, da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que autorizava a cobrança pela bagagem despachada.




Alterações


O Senado manteve as alterações feitas pela Câmara no relatório apresentado pelo senador Roberto Rocha (PSDB-MA), autor do parecer da comissão mista que analisou a MP, editada no final do governo Michel Temer. Os deputados retiraram duas emendas apresentadas pelo relator.

No caso do controle das aéreas pelo capital internacional, ficou de fora da MP a proposta de condicionar esse controle à operação, por um mínimo de dois anos, de 5% dos voos em rotas regionais. Os deputados também rejeitaram emenda que previa a operação de voos internacionais por tripulantes brasileiros, ressalvada a possibilidade de no máximo 1/3 de comissários estrangeiros.

O teor das emendas rejeitadas deverá ser incorporado ao Projeto de Lei (PL) 2.724/2015, aprovado no mês passado na Câmara, que permite ao capital estrangeiro controlar empresas aéreas com sede no País e reformula regulamentos do setor de turismo. A proposta aguarda votação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, onde tramita como PL 1.829/2019, sob a relatoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).  Com informações da Agência Senado.




Revista Consultor Jurídico


  https://www.conjur.com.br/2019-mai-22/senado-aprova-mp-autoriza-aereas-estrangeiras-brasil

segunda-feira, 20 de maio de 2019

PqTec renova contrato de gestão de projeto setorial da Apex-Brasil



PqTec renova contrato de gestão de projeto setorial da Apex-Brasil Representantes de empresas e do Cluster Aeroespacial participam da Farnborough Internacional Air Show, em 2018, em missão subsidiada pelo projeto setorial


O Parque Tecnológico São José dos Campos assinou no dia 3 de maio o contrato de gestão do projeto setorial “Aerospace Brazil”, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O contrato tem vigência de dois anos, de 2019 a 2021.

Os Projetos Setoriais fazem parte das ações da Apex-Brasil que visam a promoção da indústria brasileira no mercado internacional. Pela quinta vez consecutiva, o PqTec, por meio de seu Cluster Aeroespacial Brasileiro, assume a execução deste projeto.

O Parque está em uma localização estratégica para o mercado aeroespacial brasileiro: o setor é formado por cerca de 400 empresas, com uma concentração expressiva da cadeia na região do Vale do Paraíba paulista, atraídas pela sede da Embraer, em São José dos Campos.

“Como o Parque é gestor do Cluster Aeroespacial Brasileiro e tem relação direta com a cadeia desse mercado, faz todo sentido ser o ponto de articulação para atrair recursos, capacitar empresas e contribuir para torná-las competitivas internacionalmente”, explica Rodrigo Mendes, coordenador de internacionalização do PqTec.

A proposta do projeto “Aerospace Brazil” é a de receber empresas do setor em todo país para fomentar a internacionalização e exportação de produtos e serviços. Entre os objetivos, estão: aumentar o número de empresas exportadoras do setor aeroespacial, por meio de ações de promoção de vendas e inteligência comercial; aumentar a exposição e reforçar a imagem das empresas, ao promover missões empresariais, participação em feiras internacionais e rodadas de negócios com empresas estrangeiras; desenvolver estratégias para o acesso a mercados externos, com a promoção da internacionalização de empresas brasileiras, e a formação de redes colaborativas entre empresas participantes, para que possam oferecer os pacotes de serviços estruturados e integrados e posicionar-se em um nível superior na cadeia de fornecimento.

“O setor aeroespacial é estratégico para o Brasil, é um gerador de tecnologias de alto valor agregado e de receitas importantes para o PIB nacional. A parceria com a Apex-Brasil é importante para fomentar o setor em um momento ímpar do mercado, a partir da joint venture entre Boeing e Embraer”, diz Marcelo Nunes, coordenador do Cluster Aeroespacial Brasileiro.

Ações inéditas

 

Este projeto conta com iniciativas que não ocorreram em contratos anteriores. Uma delas são ações para atração de investimento estrangeiro direto (IED), a fim de desenvolver um trabalho de promoção do setor brasileiro em mercados maduros para atração de empresas estrangeiras. Outro destaque são as ações de capacitação para qualificação e certificação das empresas vinculadas, com consultoria subsidiada pelo projeto – o acesso a informações precisas reduz o custo das empresas para se adequar aos requisitos dos selos exigidos pelas grandes fabricantes ao escolher seus fornecedores.

O programa ainda prevê estudos de inteligência de mercados estratégicos, como o norte-americano e o europeu. Esses dados vão alimentar análises técnicas e softwares de market forecast (análise de tendências e demandas de mercado), aos quais os participantes terão acesso.

Paris Air Show

A primeira ação deste projeto é a participação de 15 empresas na Paris Air Show 2019, a maior feira do setor aeroespacial do mundo que ocorre de 17 a 23 de junho em Le Bourget, na França.

As empresas participantes terão benefícios como um estande compartilhado de 132 m2, divulgação da marca e apoio do Cluster e da Apex-Brasil para agendamento de reuniões. As empresas já confirmadas na missão do projeto são: AGS Holding, Akaer, Ambra Solutions, Avionics, Comutensili, Cruzeiro do Sul Aviação, Delphos, Itakar, Latecoere, MacJee, Recominte, Thyssenkrupp e Vectra Technology.

Entre as ações comerciais, o projeto também prevê subsídios para a participação em outros grandes eventos, como a Convenção e Feira da NBAA (associação de aviação executiva dos EUA), em 2019, e o Farnborough Internacional Air Show, em 2020. Também apoiará e subsidiará missões comerciais para França e Holanda e para o Aerospace and Defense Supplier Summit 2020, em Seattle (EUA), onde fica a sede industrial da Boeing.

Sobre o Cluster

  

Gerido pelo Parque Tecnológico São José dos Campos, o Cluster Aeroespacial Brasileiro é um programa centrado no fortalecimento da cadeia aeroespacial nacional, que congrega 101 empresas associadas e tem por objetivo gerar diferencial competitivo para as empresas do setor. Isso ocorre por meio de ações que visam aperfeiçoamento de processos, desenvolvimento de produtos, soluções e serviços diversos, boa logística e canais eficazes de distribuição. O Cluster é o executor do projeto setorial “Aerospace Brazil” em parceria com a Apex-Brasil

Nestlé inicia processo de venda de sua divisão dermatológica


Segundo comunicado da Nestlé, as tratativas já se iniciaram, e deve se concretizar na segunda metade de 2019

 

Nestlé inicia processo de venda de sua divisão dermatológica

Continuando suas ações para diminuir seu portfólio de empresas e focar na venda de alimentos, a Nestlé iniciou processo para vender sua divisão de produtos dermatológicos, a Nestlé Skin Health, antes chamada de Galderma. A divisão terá como compradores a empresa de capital de risco sueco EQT, e o fundo soberano de Abu Dhabi ADIA  por um valor em torno de 9 bilhões de euros.

O plano do consórcio formado pelos fundos EQT VIII  e Luxinva, filial da ADIA é de resgatar o nome Galderma e de manter a operação atual de 5 mil empregados em 40 países do negócio que faturou de 2,5 bilhões de euros em 2018. Segundo comunicado da Nestlé, as tratativas já se iniciaram, e deve se concretizar na segunda metade deste ano após aval das autoridades e dos empregados.

Desde que a Nestlé começou a diminuir seu portfólio de empresas focando naquelas de maior rentabilidade, havia a especulação de que a L’Oreal iria comprar a divisão de dermatologia da empresa suíça, que tem participação na companhia francesa.

Superintendência Geral do Cade aprova aquisição da Onofre sem restrições, diz RD


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A RD (Raia Drogasil) informa que a Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou sem restrições a aquisição do capital da Drogaria Onofre. O processo está sujeito a eventual recurso ou avocação pelo Tribunal do órgão no prazo de 15 dias.

A conclusão da operação está prevista para 1º de julho, passado esse prazo, com o trânsito em julgado da decisão e cumpridas demais condições, de modo que os resultados da Onofre passarão a ser consolidados pela Raia Drogasil nessa data.





https://www.istoedinheiro.com.br/superintendencia-geral-do-cade-aprova-aquisicao-da-onofre-sem-restricoes-diz-rd/

“Sem exportação, a indústria automotiva no Brasil não tem futuro”


Há 42 meses na liderança entre as montadoras no Brasil, a GM quase se viu obrigada a fechar dia das três fábricas que mantém no País. Mudou de estratégia e irá investir R$ 10 bilhões por aqui. Entenda a estratégia e os desafios da empresa, segundo o homem que a comanda

Crédito: Marco Ankosqui
Carlos Zarlenga, presidente da GM América do Sul (Crédito: Marco Ankosqui)



Formado em Economia pela Universidade de Belgrano, em Buenos Aires, pai de gêmeas de 8 anos, o executivo Carlos Zarlenga, 45, tem uma história de sucesso inquestionável. Sob seu comando, a GM conquistou, no final de 2015, a liderança no Brasil – posição que ainda mantém. “Hoje, temos uma cultura para ganhar, de excelência, inovar, pensar diferente, com mais incentivo para a percepção de oportunidades”, afirma Zarlenga. Nesta entrevista à DINHEIRO, ele expõe o delicado momento do setor, fala dos planos para o futuro e alerta para a urgência de uma reforma tributária.

DINHEIRO A GM anunciou que irá investir R$ 10 bilhões no Brasil até 2024. Como pretende alocar esses recursos?
CARLOS ZARLENGA Nossa prioridade é modernizar as duas fábricas de São Paulo.
A GM vai lançar vinte novos produtos até 2023. Desses lançamentos, 11 serão ainda este ano. E estamos muito empolgados em continuar à frente do mercado no Brasil, que já lideramos há 4 anos. O nosso compromisso com a indústria da América do Sul e do Brasil é importante. Somos muito fortes na região. Ocorre que, desde 2013, estamos vivendo um momento muito difícil no Brasil e na América do Sul. As vendas do setor automobilístico caíram de 4,5 milhões para os atuais 3,5 milhões. É um impacto negativo muito forte e que gerou, obviamente, uma queda enorme na rentabilidade. Ao mesmo tempo, a indústria automotiva no Brasil está muito exposta ao câmbio. Só no ano passado, o real teve uma desvalorização de quase 30%.

DINHEIRO Essa depreciação do real gerou prejuízos para o setor automotivo?
ZARLENGA No ano passado, as matrizes de todas as montadoras que atuam no Brasil aportaram, juntas, cerca de R$ 50 bilhões no País, apenas para manter suas operações aqui. Nesse cenário, tínhamos de decidir o que iríamos fazer com os investimentos futuros. Com esse novo acordo com o governo de São Paulo, decidimos ficar. É bom destacar que, entre 2014 e 2019, a GM investiu no Brasil R$ 14 bilhões. Com os R$ 10 bi que anunciamos agora, teremos, ao todo, um investimento no País de R$ 24 bilhões, de 2014 a 2024. É o maior investimento que já fizemos.
“A nossa fábrica de Gravataí (RS) é a mais eficiente do mundo. Somos número 1 do mercado. A questão
é tributária: 53% de imposto é um absurdo” (Crédito:Divulgação)
DINHEIRO Antes de comunicar esse novo investimento, o senhor considerou fechar duas fábricas (em São Caetano do Sul e em São José dos Campos). Como foi comunicar esse risco ao mercado e aos funcionários?
ZARLENGA Foi muito complicado. Mas qual seria a outra opção? Mentir? Eu sempre achei que a transparência é o melhor caminho numa situação de grande crise. Quanto mais transparência, mais chances se tem de consertar um problema. E foi justamente o que nós fizemos. Estou muito contente que tudo tenha sido solucionado.

DINHEIRO Como o senhor recebeu as críticas ao anúncio de que a GM poderia fechar as fábricas no Brasil?
ZARLENGA Alguns não acreditaram. Achavam que era apenas uma ameaça. Quem pensou isso estava seriamente mal informado. O Brasil representa apenas 2,5% da indústria automotiva global. É uma fatia importante, mas ainda pequena. Os EUA ocupam 20% do mercado. Para quem não acreditava que a GM poderia sair do Brasil, eu quero lembrar que nós fechamos nossas fábricas na Europa, na Rússia, na Índia, na Austrália, na África do Sul. E foi a melhor coisa que já fizemos. A questão é que o negócio precisa ser rentável. Sabe qual é o custo para a GM sair do Brasil? US$ 1 bilhão. O que é melhor? Gastar US$ 1 bilhão para fechar tudo ou colocar mais US$ 3 bilhões para seguir trabalhando e tentando fazer o negócio dar certo?

DINHEIRO Quais as dificuldades da GM para ser rentável no Brasil, uma vez que é a lider?
ZARLENGA Temos duas fábricas nas quais o produto que fazemos agora deixará de ser fabricado em 2021. Para lançar novos produtos, temos de fazer investimentos em novos modelos e novas tecnologias. Para isso, precisamos de US$ 3 bilhões.
O incentivo de ICMS ajuda. Mas se esse incentivo acaba, a situação fica insustentável. Se nós fecharmos duas fábricas, demito 10 mil funcionários diretos, consigo ficar só com a unidade de Gravataí (RS), fazendo o Onix, que é líder de vendas no País. Isso pode dar certo. Mas também pode dar errado. A taxação tributária brasileira é insuportável. O fato é que a nossa operação no Brasil está em risco. Precisamos fazer algo para consertar isso.

DINHEIRO Mas a economia está em situação delicada em todo o mundo.
ZARLENGA Exato. A economia dos EUA está crescendo há mais de 10 anos. Em algum momento, vai começar a cair. Nada cresce para sempre. A mesma coisa acontece na China, onde a GM também é líder. Pela primeira vez na história, a China registrou queda na venda de automóveis. Ano passado, foi 5% abaixo do que em 2017. E para este ano, a estimativa é de uma queda em torno de 7%. Há riscos nos Estados Unidos e na China, as duas maiores potências do mundo. O problema é global. No Brasil, é ainda pior, por causa da tributação altíssima. Os impostos que pagamos aqui são tão exorbitantes que fica mais barato fabricar um carro na Coreia do Sul e vender em São Paulo do que fazer esse mesmo carro em São Paulo e vender no próprio estado. Outro grave problema é a questão cambial. Ninguém sabe para onde vai o real. Só no ano passado, a moeda perdeu cerca de 30% do seu valor frente ao dólar. Daí, eu chego na sede mundial da GM e digo: “Mary (Mary Barra, presidente mundial da montadora), me dá US$ 3 bilhões para eu investir no Brasil”. E ela me pergunta quando esse investimento vai nos dar retorno. E eu respondo: “Não sei. Depende do real”. Ninguém sabe até onde a moeda pode se desvalorizar. Só Deus sabe.

DINHEIRO Se a matriz concordou em fazer o investimento, deve haver uma perspectiva de lucro no longo prazo.
ZARLENGA No Brasil, a única solução para as montadoras é exportar. Da fábrica para dentro, nossa produtividade é excelente. A nossa fábrica de Gravataí (RS) é a mais eficiente do mundo, entre todas as montadoras. Somos número 1 do mercado, em todos os segmentos. Temos o carro mais vendido, que é o Onix. Nossa estrutura é excelente. A receita da GM dividida pelo número de carros vendidos é a mais alta do mundo. Se o problema da operação da GM no Brasil fosse gerencial, eles me demitiam e estava tudo resolvido. A questão é tributária: 53% de imposto é um absurdo. É asfixiante. Felizmente, o governador de São Paulo, João Doria, entendeu isso e propôs um acordo que, acredito, será bom para todos os interessados: a GM, o Brasil, os trabalhadores e os consumidores.
DINHEIRO E o que vem agora?
ZARLENGA Agora, vem o futuro. E o futuro depende de uma questão importantíssima: a exposição cambial continua sendo fundamental na nossa indústria. Isso precisa ser consertado. Sem exportação, a indústria automotiva no Brasil não tem futuro.

DINHEIRO O governo prevê reduzir a alíquota média de importação para até 10%, em quatro anos. Qual será o impacto no setor?
ZARLENGA Se a proposta do governo federal é “vamos abrir, mas não vamos fazer o ajuste fiscal”, nós, as multinacionais, vamos produzir onde for mais eficiente e vender onde for melhor. Se for assim, nós fabricamos no México e vendemos no Brasil. O carro custaria menos aqui do que custa hoje. O Equinoxx e o Trakker, por exemplo, são fabricados no México e vendemos aqui.

DINHEIRO Nesse caso, além da GM, outras montadoras fechariam suas fábricas aqui?
ZARLENGA Esse é o ponto. O governo brasileiro precisa pensar em como aproveitar a grande força de produção que temos hoje no País, para fazer disso uma força exportadora. Isso só vai acontecer se o governo atacar a carga tributária já. Com isso, o governo mostraria à indústria que é confiável. Isso gera credibilidade e leva as montadoras a continuar investindo no País. Outra coisa fundamental: 90% da indústria automotiva do Brasil estão nas mãos de multinacionais. As decisões de investimentos são tomadas na Alemanha, nos Estados Unidos, no Japão, na Coreia. Para o Brasil ganhar investimentos, precisa se tornar competitivo. Fazer reforma tributária e sinalizar abertura para o mundo é sensacional e vai fazer uma diferença enorme a favor do Brasil.

DINHEIRO Por quê?
ZARLENGA A questão tributária é urgente. Precisa mudar já, para que a indústria possa exportar. Temos uma grande oportunidade de toda a América do Sul comprar do Brasil. Isso representaria mais de 1 milhão de unidades por ano. Hoje, vendemos nesses outros países pouco mais de 200 mil carros. No Brasil, vendemos 500 mil. Mas o que a GM vende na América do Sul é produzido, principalmente, no México e na Coreia do Sul. Ainda temos muito espaço para crescer.
“Somos reconhecidos como a marca mais conectada do Brasil. E o sistema OnStar fez grande diferença nisso. Vamos lançar, ainda este ano, o carro com wifi” (Crédito:Divulgação)
DINHEIRO Além de menos impostos, o que é necessário para o setor recuperar as vendas no Brasil e competir globalmente?
ZARLENGA A gente não precisa de absolutamente nada mais do que uma carga tributária razoável. O nosso processo de produção no Brasil não é diferente do que fazemos no resto do mundo. Já somos muito competitivos. Vamos tomar como exemplo o Chevrolet Cruze. No Brasil, esse carro é vendido na casa dos US$ 30 mil. Nos EUA, ele custa US$ 25 mil. Se tirarmos os impostos, ele custaria US$ 16 mil (46% a menos) no Brasil e US$ 18 mil (redução de 28%) nos EUA. O grande problema é o imposto. Sem o ajuste fiscal, nada funciona.

DINHEIRO E qual sua expectativa quanto à reforma da Previdência?
ZARLENGA Penso que há três pontos importantes. O primeiro é que há um consenso muito forte para que a reforma seja aprovada. Todos sabem que precisa passar. Acredito que nenhum deputado quer ficar marcado como o cara que impediu a reforma. Em segundo lugar, o governo tem muita dificuldade de operação política.
O terceiro ponto é que a reforma da Previdência é uma pequena parte das reformas de que o Brasil precisa. Se, mesmo sendo tão importante — e apenas uma pequena parte — já está sendo tão difícil para o governo aprovar a reforma da Previdência, como fica a reforma Tributária, que é muito mais complexa?

DINHEIRO É correta a ideia de que os jovens de hoje, os millennials, não querem ter carro?
ZARLENGA Não é bem assim. Um dado muito interessante: o maior crescimento de venda de automóveis é justamente no público entre 18 e 25 anos, em termos globais. Eles precisam e querem ter carro. Todo mundo fala da geração dos millennials, que é bacana, que eles gostam de compartilhar. A verdade é um pouquinho diferente. Os millennials são a geração mais pobre dos últimos 60 anos. Ou seja, não é que eles não querem comprar um carro. Eles querem. Só não têm dinheiro. Além disso, a relação com o veículo ainda é muito passional. Vai ver a cara do sujeito na hora em que ele pega o carro novo na loja.

DINHEIRO – O setor está passando por sua maior transformação da história. Como a GM se posiciona em questões como segurança, conectividade e eficiência energética?
ZARLENGA A GM tem a missão global de zero congestionamento, zero acidentes e zero emissão (de carbono). Estamos falando de um futuro autônomo e elétrico. É uma mudança inexorável. Vai acontecer. E aí, há vários pontos. Um deles é a infraestrutura para carros elétricos. Vai ser um ciclo onde vão aparecer os veículos elétricos e, em seguida, vem a infraestrutura. O Bolt, por exemplo, tem autonomia de quase 400 km. Dá para usar a semana toda e só recarregar no final de semana. Posso recarregar o carro no escritório ou em casa. Em 3 horas, a bateria está carregada. Na semana passada, anunciamos a primeira picape elétrica. Chegará ao mercado em breve. Em relação aos carros autônomos, também estamos bem adiantados. Vai ser um movimento interessante e rápido.

DINHEIRO A GM foi a primeira montadora do Brasil a oferecer um serviço
de assistência pessoal ao motorista (OnStar). É possível estimar o retorno sobre esse investimento?
ZARLENGA Somos reconhecidos como a marca mais conectada do Brasil, mesmo considerando as marcas de luxo. E o sistema OnStar fez grande diferença nisso. Fomos a primeira montadora a conectar a tela do carro ao celular. Temos mais de 200 mil clientes conectados e satisfeitos. Ainda este ano, vamos lançar o carro com wifi, de linha. Isso é um passo a mais na conectividade. É um serviço que nos ajuda a desenvolver outro tipo de relação com o cliente. A fidelidade cresce. Nossos modelos terão internet 4G dentro do carro. Para quem tem criança, como eu, que tenho gêmeas de 8 anos, ter wifi é fundamental. Depois que você tiver um carro com wifi, jamais vai querer um carro sem. Esse novo sistema estará em todos os nossos modelos.

DINHEIRO E o preço? Quanto o cliente da GM vai pagar a mais para ter o carro com wifi?
ZARLENGA Não vou falar de preço agora. Mas posso garantir que as pessoas ficarão chocadas com o baixo custo desse produto.

DINHEIRO A GM já tem previsão de quando ele chegará ao mercado?
ZARLENGA Sim. Tem.

Cinco anos após o início da recessão, nenhum setor voltou ao nível pré-crise


Cinco anos após o início da recessão, nenhum setor voltou ao nível pré-crise
Passados cinco anos do início da deterioração econômica brasileira – o trimestre entre abril e junho de 2014 foi o primeiro da recessão -, nenhum setor produtivo voltou ao patamar pré-crise. Na mais lenta retomada da história do País, a construção civil ainda está 27% aquém do registrado no começo de 2014 e a indústria, 16,7%. Um pouco menos atingidos, serviço e varejo também sofrem para se recuperar e estão em níveis 11,7% e 5,8% inferiores ao de 2014, respectivamente.

O processo é tão vagaroso, com frustrações de expectativa de crescimento trimestre após trimestre, que economistas têm tido dificuldade para explicar o que ocorre no País. “Há uma diversidade de diagnósticos. Quando se tem isso, é porque ninguém está entendendo direito o que está acontecendo – o que é raro de se ver”, diz o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.

Um dos mais recentes diagnósticos para a situação brasileira é do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Para o economista, o País está em depressão, pois o PIB per capita cresceu de forma insignificante nos últimos dois anos (0,3% em cada ano) e deve terminar 2019 no mesmo nível de 2018. Isso significa que, em dezembro deste ano, o indicador estará 8% abaixo do registrado antes da recessão.

“O conceito que estou usando (para definir depressão) é o de PIB per capita, que mostra que a população empobreceu e continua pobre. As perspectivas de crescimento deste ano indicam que isso não vai mudar”, diz.

Se o PIB voltar a crescer a uma taxa de 2% no próximo ano, o PIB per capita atingirá o nível anterior à recessão em 2026, ou 13 anos após o início dela. Na crise de 1988, essa recuperação levou nove anos.
Decepções


O fato de a recessão ter sido a mais profunda da história e ter gerado uma grande ociosidade na indústria, o que torna investimentos quase desnecessários, é apontado como um dos motivos para a retomada ser tão lenta.

“Havia a ideia de que a mudança do ciclo político (com a chegada de Michel Temer à Presidência, em 2016) daria um choque de confiança e melhoraria a situação. Mas houve uma frustração, porque a ociosidade era tão grande que mesmo os mais otimistas não investiram”, diz Padovani.

Em 2016, o economista previa que o PIB levaria dois anos para voltar ao patamar do fim de 2014; a lentidão da recuperação, porém, empurrou a projeção para 2021.


Instabilidade política
Além da ociosidade, surgiram neste ano novos ingredientes que têm retardado a recuperação ainda mais. O economista Claudio Considera, do Ibre/FGV, coloca a instabilidade política como uma das responsáveis pela frustração das expectativas em 2019.

A falta de coordenação do governo, afirma ele, assusta o investidor estrangeiro – um dos poucos agentes econômicos que poderiam injetar capital na infraestrutura brasileira e movimentar a atividade, dado o elevado nível de endividamento do governo e o fato de grandes empreiteiras ainda sofrerem os impactos da Lava Jato.

“A agenda de costumes do governo Bolsonaro não traz avanço para a economia. Só produz barulho desnecessário. Decisões desfeitas também. Essas trazem insegurança jurídica. O presidente não pode falar de tsunami”, diz Considera.

A instabilidade política impede, ainda, o avanço da reforma previdenciária, vista como essencial para organizar as contas públicas. “A economia não cresce porque há incerteza em relação à trajetória fiscal, e isso passa pela reforma”, afirma o economista-chefe do BNP Paribas para a América Latina, José Carlos Faria.


Outros fatores


Sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro cita ainda como freio à economia em 2019 a desaceleração global, a tragédia de Brumadinho, que reduzirá a produção nacional de minério de ferro em 6,5% neste ano, segundo estimativa da própria economista, e à crise na Argentina, que reduziu suas importações do Brasil.


Construção civil


Setor mais distante do nível pré-crise, a construção civil pena devido à falta de investimentos em outras aéreas da economia, diz Eduardo Zaidan, vice-presidente do sindicato da construção do Estado de São Paulo (SindusCon-SP). “Quando se tem uma recessão, a primeira coisa que some é o investimento. Mais da metade dos investimentos costuma passar pela construção”, destaca.

Zaidan esperava que o setor crescesse 2% em 2019, mas vai rever o número para baixo. Na indústria, que também está entre os setores mais atingidos, as importações dificultam a recuperação.

“Se o real tivesse valorizado, o impacto seria ainda maior”, diz Flávio Castelo Branco, gerente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). 


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.