Passados cinco anos do início da deterioração econômica
brasileira – o trimestre entre abril e junho de 2014 foi o primeiro da
recessão -, nenhum setor produtivo voltou ao patamar pré-crise. Na mais
lenta retomada da história do País, a construção civil ainda está 27%
aquém do registrado no começo de 2014 e a indústria, 16,7%. Um pouco
menos atingidos, serviço e varejo também sofrem para se recuperar e
estão em níveis 11,7% e 5,8% inferiores ao de 2014, respectivamente.
O processo é tão vagaroso, com frustrações de expectativa de
crescimento trimestre após trimestre, que economistas têm tido
dificuldade para explicar o que ocorre no País. “Há uma diversidade de
diagnósticos. Quando se tem isso, é porque ninguém está entendendo
direito o que está acontecendo – o que é raro de se ver”, diz o
economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.
Um dos mais recentes diagnósticos para a situação brasileira é do
ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. Para o economista,
o País está em depressão, pois o PIB per capita cresceu de forma
insignificante nos últimos dois anos (0,3% em cada ano) e deve terminar
2019 no mesmo nível de 2018. Isso significa que, em dezembro deste ano, o
indicador estará 8% abaixo do registrado antes da recessão.
“O conceito que estou usando (para definir depressão) é o de PIB per
capita, que mostra que a população empobreceu e continua pobre. As
perspectivas de crescimento deste ano indicam que isso não vai mudar”,
diz.
Se o PIB voltar a crescer a uma taxa de 2% no próximo ano, o PIB per
capita atingirá o nível anterior à recessão em 2026, ou 13 anos após o
início dela. Na crise de 1988, essa recuperação levou nove anos.
Decepções
O fato de a recessão ter sido a mais profunda da história e ter
gerado uma grande ociosidade na indústria, o que torna investimentos
quase desnecessários, é apontado como um dos motivos para a retomada ser
tão lenta.
“Havia a ideia de que a mudança do ciclo político (com a chegada de
Michel Temer à Presidência, em 2016) daria um choque de confiança e
melhoraria a situação. Mas houve uma frustração, porque a ociosidade era
tão grande que mesmo os mais otimistas não investiram”, diz Padovani.
Em 2016, o economista previa que o PIB levaria dois anos para voltar
ao patamar do fim de 2014; a lentidão da recuperação, porém, empurrou a
projeção para 2021.
Instabilidade política
Além da ociosidade, surgiram neste ano novos ingredientes que têm
retardado a recuperação ainda mais. O economista Claudio Considera, do
Ibre/FGV, coloca a instabilidade política como uma das responsáveis pela
frustração das expectativas em 2019.
A falta de coordenação do governo, afirma ele, assusta o investidor
estrangeiro – um dos poucos agentes econômicos que poderiam injetar
capital na infraestrutura brasileira e movimentar a atividade, dado o
elevado nível de endividamento do governo e o fato de grandes
empreiteiras ainda sofrerem os impactos da Lava Jato.
“A agenda de costumes do governo Bolsonaro não traz avanço para a
economia. Só produz barulho desnecessário. Decisões desfeitas também.
Essas trazem insegurança jurídica. O presidente não pode falar de
tsunami”, diz Considera.
A instabilidade política impede, ainda, o avanço da reforma
previdenciária, vista como essencial para organizar as contas públicas.
“A economia não cresce porque há incerteza em relação à trajetória
fiscal, e isso passa pela reforma”, afirma o economista-chefe do BNP
Paribas para a América Latina, José Carlos Faria.
Outros fatores
Sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro cita ainda como
freio à economia em 2019 a desaceleração global, a tragédia de
Brumadinho, que reduzirá a produção nacional de minério de ferro em 6,5%
neste ano, segundo estimativa da própria economista, e à crise na
Argentina, que reduziu suas importações do Brasil.
Construção civil
Setor mais distante do nível pré-crise, a construção civil pena
devido à falta de investimentos em outras aéreas da economia, diz
Eduardo Zaidan, vice-presidente do sindicato da construção do Estado de
São Paulo (SindusCon-SP). “Quando se tem uma recessão, a primeira coisa
que some é o investimento. Mais da metade dos investimentos costuma
passar pela construção”, destaca.
Zaidan esperava que o setor crescesse 2% em 2019, mas vai rever o
número para baixo. Na indústria, que também está entre os setores mais
atingidos, as importações dificultam a recuperação.
“Se o real tivesse valorizado, o impacto seria ainda maior”, diz
Flávio Castelo Branco, gerente da Confederação Nacional da Indústria
(CNI).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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