Em algum momento o tema terá de ser colocado na ordem do dia, enquanto estratégia de desenvolvimento do país
Há 40 anos a China e o Brasil
caminham em sentido inverso no tocante à indústria: ela investindo,
crescendo e modernizando de maneira acelerada, e aqui a participação do
setor no PIB caindo de maneira acentuada (de 24,8% em 1999, para 11,8%
em 2018, segundo o IBGE). Em sua análise sobre a situação, Paulo César
Morceiro e Joaquim José Martins Guilhoto, autores do estudo “Desindustrialização setorial do Brasil”, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial,
lançado em abril de 2019, alertam que “(...) não houve tendência de
desindustrialização da economia mundial e dos Estados Unidos (...), pois
o mundo e os Estados Unidos aumentaram o grau de industrialização,
respectivamente, em 10% e 2%, entre 1980 e 2015.” Consideram ainda que
“(...) a desindustrialização brasileira é muito anormal, já que a
parcela do VAB da manufatura no PIB do “Mundo sem China”, a preços
constantes, teve uma redução de apenas 1% e a do Brasil diminuiu 42%,
entre 1980 e 2015.”
Em março, o IEDI lançou o alentado
trabalho (622 páginas) “A Indústria do Futuro no Brasil e no Mundo”, no
qual destaca logo no início (parte dois) o fortalecimento das políticas
industriais, de ciência e de tecnologia no mundo, em cinco itens:
estratégia industrial é regra e não exceção no mundo, segundo a Unctad;
um conjunto de ações para se adequar à era digital; as recomendações de
políticas do Banco Mundial para a Indústria 4.0; as tendências recentes
das políticas de ciência, tecnologia e inovação segundo a OCDE; e as
políticas fiscais na promoção de inovação e do crescimento, na visão do
FMI.
Quem
acompanha o que está acontecendo no mundo, a partir da execução do
plano “Made in China 2025”, de desenvolvimento tecnológico da indústria
chinesa, e do “One Belt, one Road”, o plano de conectividade terrestre e
marítima mundial realizado pela China, dificilmente não sentirá muita
angústia ao ler esses estudos. A conclusão a que se chega após a leitura
é que o Brasil está na contramão do desenvolvimento chinês da
indústria, da ciência, da tecnologia e da inovação. Enquanto a China
definiu, em 1979, sua estratégia nacional de desenvolvimento, que
resultou, no período 1990/2009, em uma participação média da indústria
no PIB chinês de 46% (no mesmo período, a indústria no mundo apresentou
média de 29%, segundo o Banco Mundial), no Brasil a indústria perdeu
importância relativa na formação do PIB e em geração de empregos.
Evidentemente,
não temos mais a menor possibilidade de “chegar perto” do
desenvolvimento chinês, mas o que não podemos mais também é continuar
nos afastando tanto dele. Em algum momento a reindustrialização do
Brasil terá de ser colocada na ordem do dia, enquanto estratégia de
desenvolvimento do país, com tudo a que temos direito, a começar pela
duplicação da malha ferroviária e a reativação da indústria naval. Dessa
vez de preferência com a expansão industrial priorizando o interior do
Brasil, a exemplo do que fizeram os chineses em 1953, em seu primeiro
Plano Quinquenal. Será a reindustrialização do Brasil revitalizando o
interior dos estados com acentuado esvaziamento, envelhecimento e
empobrecimento de suas populações.
http://www.amanha.com.br/posts/view/7490/industria-no-brasil-e-na-china-tome-um-calmante-e-leia
Nenhum comentário:
Postar um comentário