Comparar os presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro, como costumam
fazer seus áulicos seguidores, é uma bobagem imensa. Os dois só se
aproximam nas barbaridades retóricas. Mas o primeiro tem evidentemente
mais resultados a entregar e tino empresarial na busca por eficiência.
No momento, os EUA estão diminuindo de maneira consistente a taxa de
desemprego. A inflação cai a níveis insignificantes. A economia cresce
no galope acelerado. O Brasil de Bolsonaro experimenta a cadência
justamente inversa. O desemprego aumentou desde que ele assumiu. Já
supera a casa de 13,4 milhões, sem cessar.
A economia está fechando um trimestre negativo logo na largada da
gestão e o País promete cravar a segunda década perdida em 40 anos, numa
maldição que assombra investidores, projetos de expansão, oferta e
consumo, com a indústria descendo sua produtividade a índices
assustadores. Mesmo a carestia ensaia uma retomada, com números maiores
que os estimados, após a barbeiragem da política de tarifas dos
combustíveis e os reflexos nas demais commodities. No grande arco de
diferenças de Trump e Bolsonaro, tem-se de um lado o empreendedor,
curtido nas nuances do mercado e da iniciativa privada. Do outro, o
militar aposentado de visão obtusa sobre o liberalismo, que sonha meter o
bedelho em qualquer preço.
Bolsonaro, que sustenta todo o sucesso da gestão na
aguardada reforma da Previdência não quer, nunca quis, levá-la adiante e
o faz a contragosto. Ele também não quer, nunca quis, privatizar
estatais. Prefere arbitrar as decisões que envolvem seus projetos. O
Banco do Brasil e a Petrobras já sentiram o peso letal de sua
interferência. No plano do Governo, poucos membros da equipe salvam o
conjunto. Entre os demais, a marca da atividade é a ideologização do
“nós contra eles”. No mundo, a imagem do presidente Bolsonaro se apaga
dia a dia. Expulso do Museu, rejeitado por um dos restaurantes
requintados da Big Apple, teve de recuar de uma homenagem em solo
americano.
Humilhado após o desembarque de várias empresas que iriam patrocinar o
evento e atacado pelo prefeito e senadores locais. Organizações globais
se mobilizam contra seus ditames no campo da diversidade de gêneros, da
sustentabilidade ambiental e de outros temas caros à sociedade moderna.
Bolsonaro ainda teve de engolir a quebra de acordo informal que fez com
Trump oferecendo os benefícios do Brasil na OMC em troca do apoio
americano a uma candidatura brasileira na OCDE. Trump não cumpriu sua
parte do acerto e Bolsonaro ficou a ver navios. Hoje ele queima
cartuchos políticos na velocidade da luz.
Os números exuberantes dos EUA são uma quimera por aqui. Somente a
indústria teve uma taxa de queda de 1,3% em março em relação a fevereiro
e de 6,1% comparativamente ao mesmo mês do ano passado. É a primeira
vez desde 2016 que o crescimento da indústria volta ao vermelho. Ou
seja: o País de fato piorou e muito no quadrante econômico sob a batuta
de Bolsonaro. O capitão reformado segue preocupado com a higiene íntima
masculina, a influência de matérias humanas no currículo universitário e
os apupos da oposição. Idolatra um guru que mora na Virgínia e dispara
agressões sórdidas contra militares. E esquece que, para ser Trump, é
preciso muito mais que meras esquisitices.
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