Simone Cyrineu, CEO e fundadora da thanks for sharing (Foto: divulgação)
Relações. Absolutamente tudo em nossa volta trata-se de relações.
Você pode categorizar essas relações de alguma forma como a maioria o
faz, ou com outros recortes que você bem entender, e claro, se assim o
quiser.
Tenho frequentado o Clube do Livro da @luanycardoso_ e em nossa
última leitura houve um livro que em sua nova edição, teve longas
páginas iniciais tentando esclarecer e reverter o “mau uso” das ideias
apresentadas pela autora cunhada de Radical Candor aqui traduzidas como
Empatia Assertiva, que, bem-intencionada, causou impactos negativos no
modus operandis de gestores.
Relações são radicais por essência, por jogar luz àquilo que sobra ou
que falta. Assertivo me parece ter um quê de sorte, de acertou em
cheio! Sinceridade e empatia são sempre importantes.
Acontece que um dos efeitos positivos de uma relação, é a própria
evolução de algo, e essa evolução pode se dar por meio de uma simples
constatação, tangibilização de que aquilo existe e pode ser sentido, ou
ainda a sua transformação de fato, por já ter sido identificado antes.
Neste sentido, é preciso ter consciência que todas as relações se
transformam, pois nessa troca, eu e você nos transformamos a partir do
que somos hoje. É assim também nas startups e empresas, a diferença
parece ser que líderes não estão embasados e seguros de si mesmos para
assumirem conversas difíceis com seus times.
Mas e que conversas difíceis são essas? Por quê difíceis? Por quê não
apenas conversas? Por que não simplesmente falar aquilo que se está a
viver com a sinceridade que cada momento de vida nos pede? Além do que o
crachá me pede?
Nenhum negócio nasce grande. E grande aqui não entenda por pura e
simplesmente um aporte financeiro. Ser grande é muito mais do que apenas
dinheiro em caixa, é uma construção conjunta de áreas que são, podem ou
deveriam ser as fundações dos pilares que sustentam uma boa empresa.
Tirando casos pontuais, no geral, a única pessoa ou as únicas pessoas
que podem, conseguem ou deveriam ter uma visão mais ampla e completa do
negócio são as que o fundaram. Em teoria, elas estão ali desde quando
esse negócio era apenas um esboço em um pedaço de papel, portanto são
essas pessoas que vivem, afetam e são afetadas por todas as ondas de
crescimento desse negócio.
E há ondas e ondas. De diferentes jeitos, alturas, intensidades e ritmos.
Voltemos às relações. Se você, como founder, tem noção das ondas de
crescimento do seu negócio, você de igual maneira deveria ter ciência de
que nem sempre os recursos dos quais você precisa para atravessar a
arrebentação de cada onda serão os mesmos. E aqui entenda recurso de
várias maneiras, de ser algo que você domina ou não, de ser a primeira
vez que está fazendo isso ou tendo contato de maneira mais amadora ou
profissional desse algo, de ferramentas e sistemas, de tempo e de
pessoas.
Seria sabido também entender, que de igual maneira, existem perfis de
pessoas que preferem, gostam e buscam trabalhar em certas ondas
específicas dos crescimentos das empresas. Há quem tenha as manhas de
inaugurar um departamento inteiro do zero, há quem não. Independente da
sua idade ou como o mercado gosta, nível de senioridade.
Essas relações precisam estar estabelecidas, para ambas as partes. E a
pior coisa que você pode fazer como líder é camuflar essa relação em
algo que ela não é, seja no papel ou na prática. Papel - leia-se
contratos - e prática precisam andar juntos.
Não necessariamente você embalou essa relação lá atrás com más
intenções, mas às vezes combinamos algo em algum momento na trajetória
de crescimento, que logo ali mais na frente, para de fazer sentido para
uma parte ou outra da relação. Faz parte da maré. E é papel da
liderança, que tem uma visão mais macro desse contexto, puxar essa
conversa para o update das relações e o que se espera dali em diante.
Há quem goste de construir sua carreira em startups e pequenos
negócios, é outro ritmo, outra liberdade, fora o gosto e satisfação de
ver diretamente o resultado do seu trabalho ganhando forma e gerando
impacto. Há quem prefira entrar em alguma empresa altamente
estabelecida, com a regra do jogo muito clara e já definida e muitas
vezes sem espaço para updates pela complexidade de mexer em tudo que
está funcionando. Há ainda quem receba a missão justamente de dar um
reset e refresh nessas regras já estabelecidas, que em certo momento
podem não estar acompanhando o ritmo do tempo de mercado.
E onde ficam as conversas difíceis? Justamente em ter consciência
dessas devidas transformações e mudanças de necessidades e interesses
das relações previamente estabelecidas.
Líderes, para fazerem jus a esse título, precisam encarar essa
responsabilidade sem medo, desenvolver sua maturidade interna para
trazer à tona todos os prós e contras dos combinados, ou ainda de rever
algum combinado previamente estabelecido. É sobre falar o que realmente
se sente, como era, como é e como se planeja que seja. E assim, com
todas as relações devidamente e sinceramente alinhadas, é bem provável
que o que se planeja, vire uma concretude calcada em relações maduras
saudáveis. Merecemos isso.
https://revistalide.com.br/revista-lide/opiniao/lideres-encarem-conversas-dificeis