domingo, 17 de março de 2024

Vendas de eletroeletrônicos registram alta de 15% em 2023, mas setor está longe de retomada

 


É o primeiro resultado positivo registrado pelo setor nos últimos 3 anos

 

Cenário para o setor é de alívio moderado - Crédito: Freepik/@ macrovector

 

As vendas de eletroeletrônicos registraram crescimento de 15% em 2023, segundo os indicadores compilados pela Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos) e obtidos pela ISTOÉ DINHEIRO.

Trata-se do primeiro resultado positivo registrado pelo setor nos últimos 3 anos, o que representou um alívio principalmente para o segmento de eletroportáteis (fritadeiras, panelas elétricas, ventiladores e aspiradores de pó), além de ar-condicionado.

“O ano de 2023 foi um ano de recomposição para o setor eletroeletrônico, no entanto, ainda estamos longe da retomada tão almejada pelas nossas indústrias“, explica o presidente executivo da Eletros, Jorge Nascimento.

Segundo Nascimento, o setor está longe da retomada, portanto não há nada para comemorar, apenas houve um alívio moderado.

“Viemos de um retrospecto econômico negativo e precisamos que haja uma redução nos juros de forma mais acelerada para que a economia cresça mais rápida em 2024. Ainda não está claro se teremos este cenário.”

Linha Branca e ar-condicionado

Os produtos da chamada Linha Branca, sobretudo os refrigeradores, fogões máquinas de lavar, apresentaram em 2022 o pior ano da década em termos de volume, com uma queda de 16% com relação ao ano anterior. Mesmo com o crescimento de 6% em 2023, o setorial amarga relevante déficit quanto ao volume de unidades vendidas.

“As vendas destes produtos encolheram de forma expressiva nos últimos anos, em especial por conta dos juros elevados e pressão inflacionária. Quem mais é afetado acaba sendo o consumidor de baixa renda.”

Mostra disso é o mercado de refrigeradores. As vendas de produtos destinados às classes C e D respondiam por mais de 30% do volume comercializado e atualmente não passa de 11%. Isso ajuda a explicar a redução superior a 40% no volume de refrigeradores vendidos nos últimos dez anos.

A comercialização de aparelhos de ar-condicionado, por sua vez, saltaram 17% em 2023, com relação ao desempenho apresentado em 2022, que registrou queda de 18%. De acordo com a Eletros, o Brasil é o segundo maior polo produtor do mundo.

“Mesmo com as impressionantes ondas de calor registradas ao longo do ano passado, a indústria de ar-condicionado teve volume de vendas inferior ao ano de 2021.”

Televisores e portáteis

As vendas da Linha Marrom, setorial que inclui televisores, aumentaram 7% no ano passado. O desempenho foi bem acima do registrado no ano anterior, apesar da Copa do Mundo de 2022 – quando as vendas destes produtos tradicionalmente crescem acima da média, em comparação aos anos em que o evento não acontece.

No entanto, com queda nas vendas de 4% e 14% em 2020 e 2021, sucessivamente, o setorial de Linha Marrom amarga uma retração de 11%.

“É muito provável que levemos ainda mais 2 ou 3 anos para uma total recuperação.”

Segundo a Eletros, as TVs Smart e as de tela de até 43 polegadas detém maior participação de mercado, respondendo por 98% e 45%, respectivamente.

Para os eletroportáteis, apesar das sucessivas quedas entre 2020 e 2022, no ano passado o setor cresceu 19%. Esse aumento não foi suficiente para recuperar o saldo negativo.

‘Por representar produtos com ticket médio inferior aos outros setoriais, no geral, os eletroportáteis dependem menos de crédito e, consequentemente, sentem menos os impactos dos juros, o que pode ter motivado uma recomposição dos estoques com relação ao que vinha sendo mantido pelo mercado.”

 

 https://istoedinheiro.com.br/vendas-de-eletroeletronicos-registram-alta-de-15-em-2023-mas-setor-esta-longe-de-retomada/

Lava Jato destruiu 4,44 milhões de empregos, aponta estudo

 


Ato em apoio à Lava Jato em frente ao edifício da PGR em Brasília

 

A operação que prometia combater a corrupção no setor de petróleo e gás custou caro à economia e deixa o desafio da reconstrução de setores . A Lava Jato resultou na destruição de 4,44 milhões de empregos entre 2014 e 2017 e reduziu o Produto Interno Bruto (PIB) em 3,6% no mesmo período. De 2015 a 2018, as maiores construtoras brasileiras perderam 85% da receita.

As conclusões constam de dois estudos que analisaram o impacto econômico da Lava Jato, que completa 10 anos. O primeiro, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), rastreou os efeitos de 2014 a 2017 dos setores afetados diretamente e indiretamente pela operação. O segundo, das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), mensurou as consequências sobre as construtoras e a indústria pesada.

O estudo da UFRJ e da Uerj estimou em R$ 142 bilhões as perdas nos setores de construção civil, indústria naval, engenharia pesada e indústria metalmecânica. Os efeitos, no entanto, vão além dos segmentos diretamente investigados pela operação e que tiveram de fechar delações premiadas e acordos de leniência.

Segundo o Dieese, dos 4,44 milhões de postos de trabalho perdidos, 2,05 milhões ocorreram nos setores e nas cadeias produtivas diretamente afetadas pela Lava Jato. Os 2,39 milhões de empregos restantes foram destruídos em setores prejudicados pela queda da renda e do consumo, como comércio, transporte e alimentação.

Menos emprego e renda se traduzem em investimentos menores. O estudo do Dieese estima que a Lava Jato reduziu os investimentos públicos e privados em R$ 172,2 milhões entre 2014 e 2017. O segmento mais atingido foi a construção civil, com perda de R$ 35,9 bilhões, seguido por comércio (R$ 30,9 bilhões); extração de petróleo e gás, inclusive setores de apoio (R$ 29,2 bilhões); atividades imobiliárias (R$ 22 bilhões); e intermediação financeira, seguros e previdência complementar (R$ 17,5 bilhões).

“Nosso estudo abordou o impacto em cadeia, porque os setores da economia são interligados e perdas em um segmento podem transbordar para toda a economia”, explica o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior. A entidade usou a técnica de matriz insumo-produção, que registra os fluxos de bens e serviços e demonstra as relações intersetoriais dentro do sistema econômico de um país.

Impostos

Com a destruição de postos de trabalho, a massa salarial caiu R$ 85,4 bilhões de 2014 a 2017. Uma economia que emprega, investe e produz menos paga menos impostos. No período analisado, o governo deixou de arrecadar R$ 47,4 bilhões em tributos e R$ 20,3 bilhões em contribuições para a Previdência Social e o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

O diretor do Dieese acrescenta que os efeitos da Lava Jato não se manifestaram apenas no encadeamento dos setores, mas com a desestruturação de tecnologias na cadeia produtiva de petróleo e gás e na construção civil que fariam a economia brasileira evoluir no médio e no longo prazo.

“No meio de tudo isso, a gente perdeu também o que chamamos de inteligência de engenharia. Os engenheiros não desapareceram, estão aí, mas as grandes equipes foram desmontadas. Mesmo com o investimento chegando, levará um tempo para reconstituir essas equipes. Talvez algumas nem sequer consigam ser remontadas porque a Lava Jato deixou um legado de desorganização da nossa indústria de infraestrutura”, diz.

Reconstrução

No décimo aniversário da Lava Jato, a reestruturação dos segmentos afetados pela operação representa o maior desafio. Mesmo com a recuperação da economia brasileira e com as promessas de investimento e de diversificação de atividades na Petrobras, a falta de investimentos nos últimos anos prejudicou a estatal.

“Por causa da Lava Jato, a Petrobras, a partir do governo [do ex-presidente] Michel Temer, concentrou-se na atividade primária, a extração de petróleo e gás, deixando de lado investimentos no refino e em tecnologia para privilegiar a maximização de lucro por acionista. A empresa passou a se orientar por uma perspectiva de gerar lucros no curto  prazo e distribuir para os acionistas”, explica o professor Luiz Fernando de Paula.

Segundo o professor da UFRJ e da Uerj, a Petrobras ainda tem chances de recuperar o planejamento de longo prazo, ao investir na transição ecológica enquanto busca retomar a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cujas obras foram interrompidas em 2015 por causa da Lava Jato.

“Uma coisa não impede a outra. A Petrobras pode modernizar o refino de combustível fóssil e pensar na transição para a energia limpa. A Petrobras está numa mudança, na forma de gestão, não acredito que vai haver um retorno ao modelo do primeiro governo Dilma [Rousseff], que nacionalizou as compras. Mas acho que dá para a empresa buscar um protagonismo maior dentro de uma perspectiva administrativa, na diversificação das suas atividades. Aí, tem um fator novo, importante”, diz.

Em relação à construção civil, o diretor do Dieese diz que o desmantelamento das maiores empreiteiras do país provocou danos permanentes para o setor. “É importante lembrar que os prejuízos para as empreiteiras não decorreram apenas de acordos de leniência e de bloqueios de bens, mas houve dano de imagem para todo um setor. A Odebrecht, por exemplo, quase faliu e mudou de nome”, ressalta.

A recente suspensão de acordos de leniência da Odebrecht, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), abre brecha para um processo de reerguimento da construção civil pesada, mas Fausto adverte que a reconstrução do setor levará décadas. “Esses acordos de leniência, em alguns casos, representaram uma pá de cal sobre várias dessas empresas. A suspensão de parte desses possibilita agora um processo de reconstrução, mas não é uma reconstrução simples”, avalia.

Os dois especialistas concordam que o grande problema da Lava Jato consistiu em não separar a punição de executivos das atividades das empresas investigadas. “A grande lição da Lava Jato é que não se pode expor pessoas e empresas midiaticamente da forma como aconteceu. Estamos falando de um processo jurídico, em que se devem guardar as devidas proporções porque as empresas foram muito mais punidas que as pessoas físicas, com as companhias tendo os nomes e as marcas jogadas no lixo”, critica Fausto.

“Na época da operação, não se dava a devida atenção para os efeitos econômicos, mas esses dados hoje estão bastante consolidados. As pessoas não se atentavam para os efeitos econômicos e sociais da Operação Lava Jato. A gente que tem de achar um jeito de punir os executivos, as pessoas, mas não castigar as empresas nem destruir empregos”, avalia Luiz Fernando, da UFRJ e da Uerj.

“As empresas que seguirão fortes são as que praticam capitalismo consciente”, diz Rony Meisler, da Reserva


Para o empresário que construiu um ecossistema de marcas cultuadas no segmento de vestuário no Brasil, os negócios que prosperam mesmo sem grande investimento em marketing são focados no bem-estar do consumidor, da sociedade e do planeta ­— e não apenas no interesse do acionista

 

 

Rony Meisler: negócio com filosofia e paixão (Crédito:Divulgação)

Bem antes de empreender no mundo da moda com a criação da grife Reserva, em 2010, o carioca Rony Meisler já havia colocado em prática seu peculiar tino comercial. Nascido em Botafogo e torcedor do Vasco, ele tinha 12 anos quando abriu uma banquinha na calçada do prédio onde morava para vender livros e quadrinhos usados. A ideia de economia circular já estava presente também em sua segunda aposta no varejo: uma plataforma de troca de produtos, que não prosperou. Os aprendizados e os percalços dessas experiências ajudaram a formar a visão de negócio que tem norteado a construção de um ecossistema de marcas de roupa sólido e que não para de crescer — especialmente nos últimos três anos, desde que a Reserva passou a fazer parte da Arezzo, com Meisler na posição de CEO da divisão AR&Co. Além de buscar inspiração em referências que vão muito além do setor de vestuário, como afirmou nesta entrevista à DINHEIRO, o empresário que na terça-feira (19) inaugura em São Paulo a Casa Reserva segue à risca uma filosofia corporativa: “Eu acredito no capitalismo consciente. As empresas que estarão vivas daqui a 200, 300 ou 400 anos são as que pregam o capitalismo de stakeholder e não de shareholder”, disse, usando as expressões em inglês que definem, respectivamente, as partes afetadas pela atuação da empresa e o acionista. “Essa é a paixão da minha vida.”

DINHEIRO — Qual o conceito da Casa Reserva?

 
Rony Meisler Ela segue uma lógica de estratégia de marca muito adotada no mercado europeu e nos Estados Unidos que é a expansão através da extensão de linhas. Nós começamos como Reserva, depois veio a Reserva Mini, Reversa, Reserva Go, Reserva Lifestyle, Oficina Reserva… Cada uma dessas linhas de produto foi se expandindo com canais próprios ao longo do tempo. Dentro da linha principal, a masculina, que foi onde a gente começou, ela era categorizada basicamente em três tipos de produtos: praia, jeans e workware. Sempre tivemos o sonho de em algum momento juntar essas linhas em flagships, com uma ou no máximo duas lojas em corredores comerciais importantes de cada cidade e que pudessem representar não apenas o posicionamento dessas linhas como oferecer todos os serviços do ecossistema que hoje ou estão na internet ou n uma extensão de marca.

Se o sonho era antigo, por que só agora?

 
Porque faltava encontrar o ponto de venda com a visibilidade necessária para a importância desse modelo de flagship que é a Casa Reserva. Por maior que fosse a nossa certeza de que ele iria aparecer, isso depende de fatores externos e não apenas da nossa vontade. Ao longo de três anos buscamos o lugar perfeito, até que surgiu essa oportunidade no Shopping Morumbi, em São Paulo. Assim que o espaço apareceu, a gente montou o projeto criativo, pensando em como seriam os serviços. Foram mais ou menos uns dois meses de trabalho intelectual e mais quatro meses e pouco de reforma. Já havia uma loja Reserva no mesmo shopping, exatamente embaixo dessa nova. Até cogitamos a hipótese de manter as duas e fazer dois andares, mas decidimos que ela será uma Oficina Reserva.

“Na Casa Reserva é possível criar experiências que o cliente jamais teria on-line ou numa loja convencional. Há desde um bar de drinques e cafeteria até área para customização de roupas” 

Qual a importância de oferecer serviços dentro de uma loja de roupa?

 
A gente entende que dessa forma é possível criar experiências que o cliente jamais teria em uma compra on-line ou mesmo em uma loja convencional. Dentro dessa a loja há um bar de drinques com uma carta bem extensa, cervejas especiais, uma cafeteria e uma área central para customização de roupas. O cliente consegue customizar todos os itens básicos da marca, como tags, ilhoses, aviamentos, botões, estamparia. Criamos um book de aviamentos gigante, em couro, supersofisticado, que permite escolher tudo que pode ser feito de alteração nas roupas. Além disso, há um provador exclusivo para personal stylists que são parceiros da marca. E também uma consultoria gratuita de estilo com agendamento prévio.

Será também um local de criação de conteúdo, certo?

 
A gente pensou emum conjunto de eventos dentro da loja. No meio do ano vamos lançar nosso canal do YouTube que vai se chamar Vem em Casa. Eu vou convidar uma pessoa por mês para ir até a Casa Reserva e bater um papo comigo ali no sofá, tomando um drinque, e vai ter público presente na gravação, em uma espécie de anfiteatro. Também uma vez por mês vamos receber um artista brasileiro convidado para fazer a customização, dando a cara dele para as roupas da marca.

Você entende que esse tipo de ação é que faz da Reserva uma marca forte?

 
Nosso investimento em marketing e comunicação gira em torno de 1,5% a 2% do faturamento. A gente sabe que normalmente uma marca investe entre 5% e 6% da receita em marketing. Como investimos menos da metade, só me resta uma explicação para termos consolidado uma marca forte: serviço. É claro que isso se reflete também no tripé formado pela qualidade, sustentabilidade e funcionalidade do produto. Mas isso é obrigação. Ninguém volta para comprar uma marca que não tenha esses atributos. Nosso cliente volta numa frequência estupidamente maior do que a média de mercado porque nós o conhecemos muito bem. Ao longo do tempo, o que fizemos de diferente foi oferecer um serviço capaz de encantar. E eu não estou falando apenas da customização ou de servir cerveja na loja. Cada canal de venda tem a sua devida conjectura. Na internet é tempo de entrega. De cinco anos para cá a gente reduziu esse prazo de seis dias e meio para dois dias e meio. Isso exigiu revisão de processos e parcerias estratégicas importantes, com integrações de sistemas relevantíssimas. A gente foi entregando serviço para o cliente num nível que a marca começou a se fazer presente na vida dele.

Ter percorrido todo esse caminho no Brasil faz com que você pense em levar a marca para fora?

 
Quando você vê que o seu produto está melhorando e que a sua marca está ficando mais forte, por consequência começa a ficar pronto para se colocar no ambiente mais competitivo que é o mercado externo. A gente ainda tem um longo crescimento para fazer no Brasil. Há cinco anos eu diria que a marca ainda não estava pronta em termos de produto. Agora eu acho que a gente está pronto. Temos marca, time, infraestrutura, e podemos começar a pensar nisso para os próximos anos. Há uma probabilidade bastante alta de a Reserva botar um pezinho lá fora em 2025, mas não está nada desenhado ainda.

Você imagina que a Reserva possa ter uma aceitação internacional como Havaianas, por exemplo?

 
Uma operação internacional não depende só de um produto bom e de uma marca forte localmente.Precisa de um propósito muito forte, causar o menor dano possível ao meio ambiente, enfim, ser um produto herói. No nosso ambiente de negócio existe um ícone representativo dos Estados Unidos que é um cavalo [Polo], uma marca iconográfica da França que é um crocodilo [Lacoste]. Temos a oportunidade de ser ícone do Brasil [a logomarca da Reserva é um pica-pau].

“A gente decidiu ter fornecedores no Brasil quando todo o setor estava indo para a Ásia. Foi uma decisão de vida e não apenas de negócio. Foi idealista, mas sabendo que daria certo’’

A competição com os importados afeta?

 
Tomamos a decisão de prioritariamente ter fornecedores no Brasil. Isso foi uma decisão de vida e não apenas de negócio.

 Queríamos crescer gerando emprego aqui e desenvolver a cadeia no Brasil quando toda a matriz do setor estava indo para a Ásia. A gente investiu idealisticamente, mas sabendo que daria certo. Quase 100% da produção é feita no Brasil. A gente tem condições de competir globalmente em malharia, jeans. E oferecemos soluções para quem quer empreender com nossa marca. A Reserva Ink é uma plataforma de estamparia que reúne 60 mil colaboradores. Gera renda para essa turma. Tem gente que tira R$ 80 mil por mês, todo mês.

Isso não existia no Brasil. Onde vocês buscaram inspiração?

 
Todos os dias buscamos aprender com bons exemplos de fora e daqui. Se ficar preguiçoso a gente morre. As referências não vêm só do mundo da moda. O Richard Branson, com a Virgin [que vende de refrigerantes a música e viagens espaciais], sempre foi inspiração do ponto de vista da rebeldia da marca, que tem a ver com nossa história. Da Patagonia extraímos lições ligadas à sustentabilidade na cadeia do vestuário. E da Starbucks trouxemos a noção de que o cliente pode ser surpreendido se tiver à disposição um serviço além do trivial. Ele entra na loja para comprar roupa e faz a barba, toma uma cerveja e cria networking. A ideia do programa 1P=5P [que faz repasse de recursos sobre a venda de produtos para ONGs que atuam no combate à fome] veio de uma marca de tênis que faz doações a cada par vendido.

Você ainda consegue pensar em moda ou seu tempo é todo voltado para a gestão?

 
O nosso negócio é moda. Enquanto estamos aqui conversando, 18h47, eu não tenho a menor ideia de como o mercado fechou, mas sei o quanto a gente está vendendo hoje. Como empresário, mantenho o foco no cliente, em como antecipar os desejos dele. E gosto muito de falar sobre um assunto que acabou virando uma filosofia de vida para mim. Eu acredito no capitalismo consciente, que é um movimento global. Eu tive a honra de presidir o Instituto Capitalismo Consciente Brasil. Ele prega que o propósito de uma empresa deve ser muito mais do que simplesmente gerar lucro e que seus líderes são responsáveis por criar valor para todos os stakeholders [partes interessadas]. As empresas que vão estar vivas e fortes daqui a 200, 300 ou 400 anos são as empresas que pregam o capitalismo de stakeholder, que fazem sentido para os seus colaboradores, consumidores, fornecedores e para a sociedade. Se a gente tiver entregando valor para esses quatro holders, o shareholder [acionista] também vai estar feliz, por consequência.

Não pode ser só business?

 
O dia que eu estiver aqui para olhar apenas o resultado financeiro eu não verei mais sentido no negócio, aí eu não vou estar mais aqui. Porque esse negócio, que construímos com essa filosofia, é a paixão da minha vida.

A Reforma Tributária pode ter algum impacto no setor de vestuário?

 
Uma das razões para a reforma é que o Brasil tenha um planejamento tributário mais simplificado. Consequentemente, isso abre as portas do País para a entrada de novos players. Só que adquirir o conhecimento de mercado necessário para ter uma atuação forte no Brasil exige tempo. Isso é uma barreira de entrada importante para grupos de fora.

 

 https://istoedinheiro.com.br/as-empresas-que-seguirao-fortes-sao-as-que-praticam-capitalismo-consciente-diz-rony-meisler-da-reserva/

sábado, 16 de março de 2024

Brasileiros criam estação de tratamento de água portátil usada em 20 países em crise, como Ucrânia

 Tecnologia brasileira de tratamento de água é levada para a ...


Uma startup brasileira desenvolveu um purificador de água portátil que vem sendo usado para ajuda humanitária em 20 países, desde zonas de guerra até regiões remotas sem acesso à água potável. O equipamento, na prática, funciona como uma espécie de estação de tratamento de água e usa dialisadores hospitalares para filtrar partículas muito pequenas de sujeira.

Os dialisadores são usados em hospitais para filtrar resíduos no sangue de pacientes e funcionam como última barreira do purificador para evitar a contaminação da água por vírus e bactérias.

O equipamento, produzido pela startup paulistana PWTech, permite que comunidades tornem potáveis fontes de água alternativas, como poços, rios ou água de chuva. Ele pesa cerca de 20 quilos e tem o tamanho um pouco maior do que uma mala de viagem – um metro de largura e 43 centímetros de altura. O aparelho tem autonomia para filtrar até 10 mil litros de água por dia e custa cerca de R$ 15 mil.

“O equipamento estava fornecendo um litro de água por pessoa a cada dia no Haiti. Já na Ucrânia, cerca de dez litros. Depende da necessidade e da condição de cada lugar”, diz Fernando Marcos Silva, CEO e um dos fundadores da startup. “No Haiti, o equipamento estava processando seis mil litros de água por dia, portanto, impactando seis mil pessoas”.

A portabilidade fez com que os purificadores fossem utilizados pelo governo brasileiro para prestar assistência em regiões remotas, como terras indígenas Yanomami ou para auxílio humanitário no exterior, em locais como Haiti, Ucrânia e na Faixa de Gaza.

Ele pode ser ligado diretamente à rede elétrica, por meio de geradores ou placas solares. É comum, inclusive, que o equipamento seja enviado para essas regiões junto de painéis fotovoltaicos. “A inovação está na portabilidade do equipamento”, afirma Silva.

Empresa busca expandir operações com vendas para empresas

A PWTech foi fundada em 2018 e possui atualmente 20 funcionários. A startup registrou um faturamento de R$ 7,8 milhões no ano passado e busca mais do que duplicar esses números em 2024, com previsão de arrecadar R$ 20 milhões. Para isso, a companhia quer vender cada vez mais para empresas privadas, expandindo sua atuação para além da venda para órgãos governamentais.

A mineradora Vale e a empreiteira Andrade Gutierrez, por exemplo, são alguns dos clientes da startup. Elas utilizam os aparelhos em regiões com pouco ou nenhum acesso à água potável, para distribuição a seus funcionários. Além de diminuir os custos com a compra de galões de água e contratação de caminhões pipa, as companhias vêm vantagens em termos de sustentabilidade, já que há diminuição nas emissões de carbono com o processo.

“O desafio para nós é criarmos o mercado. Os competidores virão depois”, diz Silva, mencionando os esforços da companhia para a venda dos equipamentos para outras empresas. “O galão de 20 litros e o caminhão pipa são nossos maiores concorrentes”, afirma.

Para o consultor de negócios da WIV Gestão Financeira, Vitor Moura, não há problema específico no fornecimento de equipamentos para o governo, mas a concentração das vendas com poucos clientes pode representar um risco para qualquer companhia.

“A estratégia da pequena empresa sempre tem que focar na diversificação de sua carteira de clientes para não correr riscos”, afirma Moura. “Fornecer para o governo não é um risco necessariamente, se você tiver uma diversidade de carteira dentro das compras governamentais”, pontua.

Equipamento levou seis meses para ser desenvolvido

O purificador da PWTech foi desenvolvido pelos engenheiros químicos Fernando Marcos Silva e Maria Helena Azevedo, fundadores da companhia, com ajuda de professores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), por meio de um acordo operacional.

Silva, que já trabalhava com a construção de sistema de tratamento de resíduos para shopping centers, havia mapeado soluções usadas no exterior para o tratamento de água com sistemas móveis. Ele buscava, porém, soluções mais portáteis e de baixo custo. Os equipamentos identificados por ele eram muito grandes ou com custo de instalação e manutenção elevados.

O purificador da marca usa elementos como cloro de piscina, filtros limpáveis e dialisadores hospitalares para fazer o tratamento da água. A autonomia antes da necessidade de troca dos filtros é de 150 mil litros. O custo para manutenção é de cerca de R$ 800.

Um dos primeiros equipamentos foi testado em uma comunidade na ilha do Bororé, localizada na represa Billings, zona Sul de São Paulo. Com o sucesso dos testes, a companhia percebeu a possibilidade de expandir e oferecer os equipamentos para o governo e empresas em uma escala maior.

Atualmente as estações de tratamento portáteis da PWTech são reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um projeto para ajuda humanitária. Além disso, a companhia é considerada Empresa Estratégica de Defesa pelo Ministério da Defesa, o que permite uma melhor interlocução para a venda dos dispositivos para as Forças Armadas.

Bancos ‘incham’ no crédito imobiliário, e taxa não cai tão cedo, dizem analistas

 


Fintechs podem ser alternativa para captação de crédito imobiliário, aponta Creditú

O Bradesco BBI publicou na segunda-feira, 12, um relatório mostrando que os bancos estão “inchados” em suas carteiras de crédito imobiliário e que as consequências serão: pressão de baixa no volume de novos empréstimos (especialmente para aquisição de imóveis usados e para construção de novos empreendimentos) e pouca probabilidade de corte nas taxas de juros no curto prazo.

Apesar disso, o cenário não aponta para uma falta de crédito, afirmaram os analistas Bruno Mendonça, Gustavo Schroden, Pedro Lobato e Eric Ito, que assinaram um profundo relatório do banco sobre o setor.

O estudo se debruçou sobre a carteira de crédito baseada em recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que tradicionalmente é usada para financiar imóveis de médio e alto padrão. Não entraram aqui os financiamentos para imóveis populares, dentro do Minha Casa Minha Vida, que são abastecidos pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Os analistas diagnosticaram que a carteira de crédito imobiliário dos cinco principais bancos do setor (Caixa Econômica Federal, Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil) no fim de 2023 era composta, em média, por 27% de recursos com origem fora das cadernetas, o que implica em um custo maior para as transações e menor capacidade de tomada de crédito pelos consumidores e pelas empresas.

O nome técnico para esse “inchaço” é “sobreaplicação” ou “sobrealoção”. Independente do nome, trata-se de um crescimento relevante em relação a 2022, quando este foi de 18%. O patamar de 2023 quase alcançou o pico histórico de 28%, registrado em 2015, quando o País estava em recessão, com juros subindo, e os financiamentos para habitação tiveram uma das maiores secas da história.

Vale lembrar que funciona assim: as regras do Banco Central determinam que 65% dos depósitos das cadernetas sejam destinados ao crédito imobiliário. A regulação visa dar liquidez à compra e à venda de imóveis no País, com oferta de recursos para empréstimos a custos mais baixos de captação. Hoje, a poupança tem remuneração de TR + 6%.

Os bancos não são impedidos de emprestar mais que o equivalente a 65% dos depósitos da poupança. Nesses casos, porém, precisam buscar recursos em fontes de mercado, cujo custo é maior. São os casos de letras de crédito ou certificados de recebíveis, geralmente atrelados ao CDI – que foi de 13% em 2023, mais que o dobro da caderneta.

Em termos relativos, o Banco do Brasil é o mais sobrealocado, com 41% da sua carteira de crédito imobiliário excedendo os seus depósitos da poupança, ou seja, baseada em taxas mais altas, de mercado. Em seguida vêm Santander (39%), Caixa (33%) e Bradesco (25%). O menos sobrealocado é o Itaú, com 8%.

Em termos nominais, a Caixa é a mais sobreaplicada, com R$ 101 bilhões além dos seus depósitos em poupança, justamente pela sua posição de liderança em volumes. Depois vêm Bradesco (R$ 29 bilhões), Santander (R$ 24 bilhões), Itaú (R$ 10 bilhões) e Banco do Brasil (R$ 9 bilhões).

“Vemos a sobrealocação de 27% dos bancos próxima dos níveis de 2015 e 2016, quando tivemos a pior seca de financiamentos da história do SBPE”, descreveram os analistas do Bradesco BBI. “A principal diferença é que vemos a Selic caindo em 2024, o que é oposto ao cenário daquela época, o que dá um certo alívio”, ponderaram.

Quais os problemas desse ‘inchaço’

Embora os bancos possam ficar mais seletivos na concessão de crédito para habitação, os analistas do Bradesco BBI reiteraram diversas vezes no relatório que não esperam rupturas na cadeia ou falta de crédito. Na avaliação, o que existe é uma tendência de maior “seletividade” das instituições financeiras, pressionando para baixo o volume de financiamentos daqui para frente, mas esses ajustes devem acontecer de modo suave.

Pelas contas dos analistas, os bancos teriam capacidade de financiar em torno de R$ 100 bilhões por ano, contando só com a poupança. Já a projeção oficial da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) é de R$ 153 bilhões em 2024, patamar estável perante 2023.

A conclusão dos analistas é que, para chegar ao volume projetado pela Abecip, os bancos terão, necessariamente, que recorrer a recursos atrelados ao CDI, ou seja, mais caros. Caso contrário, vão enxugar os volumes.

Consequentemente, o cenário de maior exposição das carteiras ao CDI diminui consideravelmente as chances para as taxas de juros dos financiamentos caírem em 2024, mesmo que a Selic continue a ser reduzida. Atualmente, os bancos cobram em torno de 11% a 12% + TR nos financiamentos imobiliários.

Imóveis novos e usados

O time do Bradesco BBI alertou para a grande quantidade de condomínios, cujas obras estão ficando prontas e serão entregues ao longo do ano (é na entrega das chaves que os compradores de imóveis buscam o financiamento no banco).

Se os bancos seguirem mais seletivos na concessão de crédito para aquisição de imóvel pelos consumidores, isso pode forçar as construtoras a dar algum desconto sobre o valor do apartamento na hora da entrega, o que poderia prejudicar as suas margens. Ainda assim, o impacto seria muito mais suave do que se a venda fosse cancelada e a unidade fosse devolvida ao estoque da construtora, ponderaram os analistas.

O segmento mais impactado deve ser o de compra e venda de imóveis usados, na visão dos analistas. Isso porque os bancos tradicionalmente priorizam o financiamento das moradias novas, recém-entregues pelas construtoras. Estas, por sua vez, usam o dinheiro da venda dos imóveis para pagar o banco pelo financiamento da obra, em um ciclo que se alimenta.

Com tudo isso em vista, os bancos tendem a fechar um pouco mais da torneira do crédito para as construtoras erguem novos empreendimentos daqui para frente. “À medida em que vemos os bancos priorizando o crédito aos consumidores que estão comprando imóveis novos, o crédito empresarial para construtoras apoiado pelo SBPE também se tornará mais restritivo, o que a nosso ver já está acontecendo”, afirmou o time do Bradesco BBI.

As construtoras maiores, com relações comerciais mais profundas com os bancos, devem ficar com o bolo de crédito mais barato, via SBPE. As demais devem ter que recorrer a linhas atreladas ao CDI, mais caras.


Teles deixam de pagar quase R$ 12 bi para fundo setorial em disputa com União

Um processo judicial que se arrasta desde o começo da pandemia gerou um desfalque de R$ 11,689 bilhões aos cofres públicos. O valor se refere ao que as operadoras de celular deixaram de pagar para o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) entre 2020 e 2024.

Criado pela lei 5.070, de 1966, o Fistel tem por objetivo cobrir as despesas com a fiscalização dos serviços de telecomunicações. Os recursos recolhidos vão para o Tesouro Nacional, que repassa uma parte para compor o orçamento da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Em abril de 2020, para minimizar os impactos da crise de covid, o governo de Jair Bolsonaro editou a Medida Provisória (MP) 952, que autorizou as teles a postergarem o recolhimento do fundo setorial. Mesmo após a MP expirar, as empresas não voltaram a pagar.

As teles apelaram argumentando que o valor arrecadado pelo Fistel é muitas vezes superior ao que é, de fato, utilizado na fiscalização do setor, e, portanto, defenderam o corte definitivo da cobrança. “Tem um excesso de arrecadação que não faz sentido a título de cumprimento da política pública”, disse uma representante das operadoras, que preferiu não se identificar. “O resto vinha sendo usado para tentar fazer um superávit”, emendou.

Entre 2020 e 2024, a União repassou R$ 3 bilhões para compor o orçamento da Anatel (valor nominal consolidado no período, sem considerar a inflação). Isso representa uma fatia de cerca de 25% do total que teria sido arrecadado pelo Fistel.

O argumento das teles foi aceito temporariamente pela Justiça, e a cobrança do Fistel foi suspensa por meio de liminar até que haja uma decisão sobre o mérito da questão. O processo corre no Tribunal Regional Federal (TRF), onde dois desembargadores já votaram, sendo um a favor e outro contra a manutenção da cobrança. Não há prazo para conclusão. O próximo pagamento de Fistel deveria ocorrer no fim de março.

Entre as empresas, o maior valor em aberto é da Telefônica Brasil (dona da Vivo), com R$ 4,3 bilhões. Em seguida vêm: TIM (R$ 3,0 bilhões), Claro (R$ 2,8 bilhões), Oi (R$ 1,3 bilhão), Algar (R$ 124 milhões) e Sercomtel (R$ 3 milhões).

“A utilidade do Fistel já perdeu a natureza do que era usado”, afirmou o presidente de Telefônica, Christian Gebara, em entrevista coletiva semana passada. “Não pagamos durante a pandemia. Depois, ela perdeu a função. Por isso, a gente questiona a necessidade de fazer o pagamento”, emendou.

Recursos sob risco

O caso agora está sob avaliação da Advocacia Geral da União (AGU) e, enquanto isso, o funcionamento da Anatel tem sido mantido por outras fontes que compõe o Orçamento Geral da União.

Na visão do presidente da Anatel, Carlos Baigorri, o maior problema dessa disputa é o rombo na arrecadação pública. “Já fiz o que tinha que fazer, falei com desembargadores e apresentei nossos argumentos. Quem tem que estar preocupado é o (Fernando) Haddad (ministro da Fazenda). Liga para ele e pergunta o que ele acha de ter quase R$ 12 bilhões faltando no orçamento”, disse Baigorri, ao ser perguntando pela imprensa se está preocupado com o impacto da suspensão do Fistel para o funcionamento da agência reguladora.

Baigorri alertou para o fato de os valores em discussão não terem sido depositados em juízo pelas empresas, o que levanta dúvidas sobre sua capacidade de pagamento lá na frente em caso de uma decisão favorável à União. “Estamos numa discussão judicial. Os caras não querem pagar, e vamos brigar. O que me traz preocupação é que não estão depositando em juízo. Estão acumulando dívida se um dia perderem”, disse.

Empresas

A reportagem procurou as empresas para esclarecer porque os valores em discussão não foram depositados em juízo e qual sua política de provisionamento. Vivo, Claro, TIM e Oi não quiseram responder as perguntas e direcionaram a reportagem para a Conexis, associação que representa as empresas. Esta, por sua vez, também não deu mais detalhes: “A Conexis informa que as operadoras aguardam a decisão do julgamento do recurso de apelação”, informou em nota.

Indústria volta a buscar galpões logísticos no Nordeste, aponta consultoria Binswanger

 Galpões Multipavimentos - Arquitetura Japi


O maior volume de investimentos da indústria no Nordeste tem reaquecido a demanda deste setor por galpões logísticos, segundo levantamento da consultoria imobiliária Binswanger Brasil. O movimento é reflexo dos mais recentes investimentos de montadoras, empresas de energia e startups de tecnologia na região.

A chegada da BYD – montadora chinesa investida pela Berkshire Hathaway, de Warren Buffett – à Camaçari (BA), no terreno onde funcionou a fábrica da Ford, contribuirá para o crescimento da procura por fornecedores da indústria automotiva por galpões, apontou a Binswanger.

Outro caso é da montadora Stellantis, que tem investimentos em curso em Pernambuco. No setor de petróleo e gás, a Petrobras retomará as obras da Refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, e a Noxis Energy terá refinaria no Ceará.

O perfil dos inquilinos nos galpões logísticos na região Nordeste passou por uma transformação nos últimos anos. O setor industrial perdeu participação para as empresas de transporte e logística – acompanhando o avanço do comércio eletrônico, uma mudança vista no Brasil todo.

Em 2016, indústrias de bens de consumo eram as principais ocupantes dos galpões no Nordeste. Já em 2023, os empreendimentos se destinavam, principalmente, a transporte e logística. O crescimento do comércio eletrônico, impulsionado pela pandemia de covid-19, explica parte da mudança observada desde 2020, mas pesou também a queda da participação da indústria na economia da região.

O levantamento da Binswanger apontou que empresas de alimentos, bebidas e fumo lideravam o ranking de setores ocupantes de galpões, no Nordeste, em 2016, com 38.951 metros quadrados contratados. Em seguida, vinha o segmento de transportes e logística, com 15.606 metros quadrados, e o de varejo, com 11.104 metros quadrados.

No ano passado, a composição era bem diferente, com transportes e logística na primeira colocação, com 757.787 metros quadrados. Em segundo lugar, ficou o varejo, com 483.374 metros quadrados e, em terceiro, empresas que atuam na internet, com 365.949 metros quadrados.