Num movimento que pegou o mercado de surpresa, Nelson Kaufman anunciou na sexta-feira à noite sua volta ao comando da Vivara, após 13 anos fora do dia a dia da rede de joalheiras.
Diferentemente
de outras companhias, em que o fundador volta para consertar a rota, o
retorno de Kaufman acontece num momento em que a Vivara cresce a taxas
de dois dígitos, com rentabilidade – na contramão de anos desafiadores
para o varejo, especialmente com a ressaca do consumo no pós-pandemia.
“A Vivara vai
continuar a mesma, com mais velocidade”, disse Kaufman em entrevista
exclusiva em INSIGHT. “Uma coisa é uma empresa que está navegando bem a
20 km por hora. Outra é uma empresa que acelera até atingir uma
velocidade de 50 por hora. Com o meu conhecimento, consigo apressar esse
crescimento.”
Sua estratégia
é colocar a Vivara num plano de expansão internacional – uma agenda
que não constava nos planos da empresa sob o comando do sobrinho Paulo
Kruglensky, que assumiu como CEO em fevereiro de 2021, no lugar do filho
do fundador Marcio Kaufman.
“Eu sou um
homem que respira joia. Quando vejo uma mulher, a primeira coisa que eu
olho é o brinco, o anel”, afirma. “E quando parei de trabalhar, passei a
estudar muito processo de joalheira e acho que tem tecnologias
inovadoras e produtores inovadores que podem fazer com que a Vivara se
torne um player internacional relevante.”
De acordo com
Nelson, ainda não há um plano concreto de internacionalização, que deve
ser desenhado daqui para a frente. “Acho que a nossa empresa hoje está
apta pra nos próximos três, quatro anos a virar um player internacional
de qualidade – não vai ser uma coisa rápida. É isso que motivou a minha
volta”.
Segundo ele,
não houve atrito com o sobrinho e a troca no comando foi feita de forma
acordada. “Paulo é muito competente”, afirma.
“Foi uma
transição que aconteceu pouquinho antes, bem pouco. Foi um processo em
que eu senti que era bom para a empresa inteira eu voltar para acelerar
esses processos de novas invenções de joias”, respondeu, quando
questionado se a mudança pegou o conselho que se reuniu na sexta-feira
de surpresa.
A aprovação do novo CEO dividiu o board,
formado em sua maioria por membros independentes: duas conselheiras,
Tarsila Ursini e Anna Chaia, votaram contra a recondução, apurou o
INSIGHT. O chairman João Cox e Fabio Coelho, presidente do Google,
votaram a favor, bem como a filha de Kaufman, Marina.
O retorno de
Kaufman surpreendeu os investidores, em boa parte porque eles celebravam
os resultados entregues por Kruglensky, mas também porque Kaufman nunca
teve cargos na companhia. Hoje, os papéis caem 9%.
Desde a
abertura de capital, o fundador, hoje com 71 anos, não teve posição nem
no board, deixando sempre o comando a cargo de membros da família e a
membros independentes.
Segundo
Nelson, no entanto, apesar de longe do dia a dia da empresa, ele nunca
tirou o olho do negócio. “Sempre estava em contato, olhando muito o rumo
da empresa, seja via telefone ou meios eletrônicos mesmo quando estava
longe”, afirmou.
Da Galeria Florença – agora para o mundo
Foi nas suas
viagens ao longo dos últimos anos que ele viu a possibilidade de
internacionalizar a marca que nasceu como uma lojinha de ourives no
centro de São Paulo, fundada por seu pai, um imigrante romeno que chegou
ao Brasil em 1928.
“Meu pai era
um joalheiro muito talentoso, mas com pouco tino para o negócio. Com
isso, eu tive uma infância bastante instável: numa hora morava numa casa
de 500 metros quadrados na frente do clube Hebraica [nos Jardins, área
nobre de São Paulo] e em outra, vivia num apartamento de zelador”,
relembra.
Depois de
formado em engenharia e de ter passado por uma construtora, ele assumiu
uma das duas lojas do pai na Galeria Florença – o patriarca ficou com a
unidade de pouco mais de 20 metros quadrados, enquanto Nelson assumiu a
menor, uma portinha de 3 metros por 2 metros quadrados.
Foi a semente
da Vivara, que no ano passado chegou a 352 lojas, entre as marcas Vivara
e a Life, de joias mais acessíveis. “Só consegui prosperar mesmo depois
do falecimento do meu pai, é como se eu não pudesse ultrapassá-lo nos
negócios”, confidencia.
Ele ainda não tem um roadmap dos países que pretende atacar. Mas dá pistas. “Quero
começar humilde, com países menores, para depois, na medida que a nossa
tecnologia for implantada nos próximos 1, 2, 3 anos, a gente tenha
condições de entrar em mercados mais difíceis, mais competitivos.”
Ele diz, sem citar nomes específicos, que há países na Europa que não tem uma ‘joalheira condizente’ com o mercado.
Questionado
sobre o fato de se tornar CEO de uma empresa de capital aberto após anos
longe do comando, ele diz que se sente preparado.
“Eu nunca tive
esse contato, mas tenho pessoas que me assessoram. Eu tenho muita
confiança e não vejo dificuldade. Sou uma pessoa que não gosta de
mentir, gosto sempre de ser verdadeiro”, diz.
https://exame.com/insight/kaufman-sobre-a-volta-ao-comando-a-vivara-vai-continuar-a-mesma-com-mais-velocidade/p