Atuação:
Consultoria multidisciplinar, onde desenvolvemos trabalhos nas seguintes áreas: fusão e aquisição e internacionalização de empresas, tributária, linhas de crédito nacionais e internacionais, inclusive para as áreas culturais e políticas públicas.
A
gestora Rio Bravo entrou com ação judicial para pedido de despejo da
WeWork, após a empresa deixar de pagar aluguéis de imóvel de um fundo do
grupo, o Fundo de Investimento Imobiliário Rio Bravo Renda Corporativa,
no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. O fundo detém 34,81% do
prédio. Procurada, a WeWork não se manifestou sobre o caso.
Em
fato relevante, a Rio Bravo afirma que a WeWork está inadimplente do
aluguel de maio, que venceu em 15 de junho, e continuou assim nos outros
dois vencimentos, 15 de julho e 15 de agosto. Curiosamente, a WeWork
continua pagando o condomínio e o IPTU.
No
início de agosto, a gestão do fundo da Rio Bravo se reuniu com a
Alvarez & Marsal, contratada pela WeWork para ajudar a reestruturar
sua dívida, para tentar renegociações com os proprietários dos imóveis
locados. “Contudo, a proposta apresentada pela representante da
locatária foi muito aquém da qualidade do ativo, sendo rejeitada pelo
fundo e os demais proprietários do imóvel.”
Na renegociação do
contrato, a WeWork propôs, além de reduzir o valor do aluguel,
desmembrar o contrato de locação, que hoje é único, para um contrato
para cada bloco do imóvel. Segundo a Rio Bravo, havia uma redução
“substancial” do aluguel e as propostas.
Sem
acordo nas negociações, o fundo e os demais proprietários do imóvel
contrataram uma assessor legal e entraram com duas ações judiciais, uma
de despejo e outra cobrando os aluguéis atrasados.
Crise mundial
Em dificuldade financeira ao redor do mundo, o Estadão/Broadcast
noticiou no início de julho que a WeWork no Brasil não escapou dos
problemas financeiros, que fez a matriz entrar com pedido de recuperação
judicial nos Estados Unidos, com dívidas de US$ 18 bilhões.
Ao
menos cinco fundos imobiliários relataram a ausência do pagamento pela
WeWork no Brasil: Rio Bravo Renda Corporativa (RCRB11), que foi o que
entrou com a ação de despejo; Santander Renda de Aluguéis (SARE11);
Torre Norte (TRNT11); Valora Renda Imobiliária (VGRI11) e Vinci Offices
(VINO11). Juntos, esses fundos têm mais de 200 mil cotistas.
A
Rio Bravo ressalta que o imóvel locado pela WeWork na Vila Madalena
possui “altíssima liquidez e já foi ocupado por grandes empresas de
tecnologia que fazem questão de estar em localizações valorizadas pelos
seus colaboradores”. Atualmente, a ocupação do Imóvel é de cerca de 80%.
Onze municípios correspondem por quase um quarto do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, segundo os dados mais atuais do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2021. Os
primeiros lugares podem parecer mais óbvios: São Paulo, que tem 9,20% de
participação na economia nacional, Rio de Janeiro, na vice-liderança,
com 3,99%, Brasília, em terceiro, com 3,18%, seguidos de Belo Horizonte,
Manaus e Curitiba, com pouco mais de 1% de participação cada.
Na
sétima posição, vem Osasco, na Grande São Paulo, que subiu de 16ª para
7º lugar em menos de dez anos, enquanto passou a atrair a sede de
grandes empresas do setor de tecnologia, como Mercado Livre e Uber. O
movimento da oitava posição, no entanto, foi mais gritante. Maricá
entrou na lista como a oitava maior economia do país, tendo ocupado o
26º lugar em 2020 e, em 2002, o 354°.
Marica (RJ) foi o município com maior ganho de participação no PIB do país em 2021, alta de 0,5 ponto percentual (p.p.).
Veja os municípios com maior participação no PIB
1º – São Paulo (R$ 828,9 bilhões)
2º – Rio de Janeiro (359,6 bilhões)
3º – Brasília (286,9 bilhões)
4º – Belo Horizonte (105,8 bilhões)
5º – Manaus (103,2 bilhões)
6º – Curitiba (98 bilhões)
7º – Osasco (86,1 bilhões)
8º – Maricá (85,1 bilhões)
9º – Porto Alegre (81,5 bilhões)
10º – Guarulhos (77,3 bilhões)
O
bom desempenho de Maricá (RJ) se deve à extração de petróleo e gás. Em
2021, ano que o estudo usa como referência para o ranking, a cidade de
Maricá recebeu R$ 1,33 bilhão em royalties, além de R$ 1,55 bilhão
devido à participação especial devida pelas concessionárias pela
exploração do petróleo e gás natural.
A
compensação financeira é realizada à União, aos estados, ao Distrito
Federal e aos municípios beneficiados pelas empresas que produzem pela
exploração desses recursos não renováveis.
Municípios perdem espaço
Por outro lado, alguns municípios perderam participação no PIB.
É
o caso de Curitiba (PR), que foi de 5º para 6º lugar no ranking e Porto
Alegre (RS), que foi de 6º para 9º. São Paulo, Rio, Brasília, Belo
Horizonte também perderam participação, apesar de terem mantido o lugar
no ranking.
Luiz
Antonio de Sá, analista de Contas Regionais do IBGE, explica que os
cinco municípios que tiveram sua participação reduzida foram
influenciados pela categoria de serviços.
“As atividades
financeiras de seguros e serviços relacionados em São Paulo e Porto
Alegre, administração pública em Brasília e Belo Horizonte, e atividades
profissionais, científicas e técnicas, administrativas e serviços
relacionados no Rio de Janeiro”, ressalta de Sá.
Entre as 185
concentrações urbanas do país, 132 perderam e 53 aumentaram sua
participação no PIB nacional entre 2020 e 2021, confirmando a tendência
de desconcentração.
“Os resultados expressam uma recuperação
econômica das capitais e outras agregações com maior participação no PIB
brasileiro que, por terem como atividade principal os serviços
presenciais, foram fortemente afetadas pela pandemia de Covid-19. No
entanto, apesar do aumento nominal desse grupo de municípios em 2021, a
participação deles no PIB ainda está aquém do patamar de 2019”, explica
de Sá.
Em
meio às incertezas do setor, Vestas investe R$ 130 milhões para
desenvolver nova turbina e firma acordo de R$ 2,5 bilhões com Santander;
Engie Brasil injeta R$ 13,6 bilhões em renováveis
A energia produzida pelos ventos é abundante no Brasil, além de ser a
mais barata e a que gera maior retorno financeiro para a economia do
país (Crédito: Philippe Turpin)
Editora Trêsi
Se
na última década, sobretudo a partir de 2012, quando a energia eólica
no Brasil cresceu exponencialmente com novos parques, demanda em leilões
e o interesse de indústrias em uma nova fonte renovável e competitiva,
desde 2022 o setor vem desacelerando com a redução significativa na
demanda por energia.
Com
a crise no ar, a Vestas, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo,
e a Engie Brasil, empresa líder em energia renovável no país, sopram a
favor do fortalecimento da fonte.
Entre as medidas
• a
Vestas vai investir R$ 130 milhões para fabricar novos modelos de
turbinas, além de ter firmado um acordo com o banco Santander, que
garante R$ 1 bilhão em financiamento para fornecedores. • Já a Engie
vai desembolsar R$ 13,6 bilhões em geração de energia renovável entre
2024 e 2025, contemplando projetos eólicos e solares.
As
medidas prometem turbinar novamente a maior fonte de energia renovável
para a matriz elétrica nacional e acelerar a transição energética.
Na
última sexta-feira, 9, a Vestas detalhou seu pacote de iniciativas para
desenvolver a modalidade no Brasil, com aporte da ordem de R$ 130
milhões. Com isso, a companhia dinamarquesa passará a produzir uma
turbina de última geração, a V163-4,5, em sua fábrica em Aquiraz, no
Ceará.
Mais
de 80% dos materiais devem ser produzidos no Brasil, com o objetivo de
assegurar o desenvolvimento de tecnologias nacionalmente.
O novo
modelo, considerado mais eficiente para velocidades de vento médias a
baixas, será produzido paralelamente às turbinas V150, já desenvolvidas
pela empresa no país.
“Vemos
um potencial riquíssimo e estamos confiantes com a transição energética
no Brasil. Precisamos investir e assegurar uma indústria nacional
forte”, disse Eduardo Ricotta, CEO da Vestas para a América Latina,
durante o evento de anúncio do pacote.
Além disso, a companhia
fechou um acordo com o Banco Santander, firmado inicialmente em R$ 1
bilhão, mas que pode ser ampliado para até R$ 2,5 bilhões, para
disponibilizar condições competitivas de liquidez aos fornecedores do
setor eólico.
O programa busca aumentar as estratégias financeiras
para a cadeia de suprimentos do setor de atuação da Vestas, com a
possibilidade de antecipar recebíveis com vantagens progressivas. O
critério estipulado é a performance ESG de cada empresa.
A Vestas
também anunciou a assinatura de um Protocolo de Intenções com o Governo
do Ceará para incentivar o desenvolvimento de novos projetos de geração
de energia eólica no estado.
“Vemos
um potencial riquíssimo e estamos confiantes com a transição energética
no Brasil. Precisamos assegurar uma indústria nacional forte e aumentar
a segurança energética.” Eduardo Ricotta, CEO da Vestas para América Latina
Já
a Engie Brasil, que atua em geração, transmissão e comercialização de
energia elétrica, transporte de gás e soluções energéticas, vai investir
R$ 13,6 bilhões em geração de energia renovável no Brasil entre 2024 e
2025.
• Na geração, foi concluído o comissionamento dos 70
aerogeradores do Conjunto Eólico Santo Agostinho (RN), totalizando 100%
da capacidade instalada (434 MW), sendo que, destas, 69 já estão em
operação comercial e uma em teste. • Além disso, entraram
antecipadamente em operação comercial 15 unidades geradoras do Conjunto
Eólico Serra do Assuruá (BA). O projeto, com conclusão prevista até o
final de 2025, terá 846 MW de capacidade instalada. • Também foram
registrados avanços nas obras do Conjunto Fotovoltaico Assú Sol (BA),
que totalizará 752 MWac (895 MWp) após seu término, estimado para 2025.
O
Conjunto Eólico Serra do Assuruá, na Bahia, está operando
comercialmente desde 6 de agosto, após autorização da Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel). Esta primeira ativação comercial representa
8% da capacidade instalada total. Ele será composto por 24 parques
eólicos, com 188 aerogeradores e capacidade instalada total de 846 MW.
O
projeto recebeu investimentos de R$ 6 bilhões e vai gerar 3 mil
empregos diretos e indiretos. “O início antecipado da operação comercial
de Serra do Assuruá é um marco na implantação de um dos maiores
projetos de energia eólica já construídos em fase única pelo Grupo Engie
no Brasil e no mundo, com conclusão prevista até o final de 2025”,
afirmou o presidente da companhia, Eduardo Sattamini.
Em
consonância com sua estratégia de crescimento, a Engie Brasil finalizou o
primeiro semestre de 2024 com volume recorde de investimentos em
geração renovável. Com R$ 2,1 bilhões alocados no trimestre, a companhia
já soma R$ 5,6 bilhões investidos nos primeiros seis meses do ano,
sendo R$ 3,1 bilhões para novos projetos, R$ 2,4 bilhões para a
aquisição de conjuntos fotovoltaicos operacionais, além de investimentos
complementares na modernização de usinas hidrelétricas e na manutenção e
revitalização do parque gerador.
Setor
Durante o anúncio
da Vestas, o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira disse que “o
Brasil aposta na compatibilidade da sua pluralidade energética para
crescer” e que serão feitos mais investimentos na busca pela transição
energética. A matriz elétrica brasileira está em ritmo de crescimento em
2024.
Em julho, a expansão obtida no ano chegou aos 6,5 gigawatts
(GW), com a entrada em operação de 183 usinas, segundo os dados
divulgados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) no dia 8 de
agosto. Somente em julho, a ampliação da oferta foi de 0,87 GW, diante
do início da operação de 10 centrais solares fotovoltaicas (0,49 GW) e
de 17 usinas eólicas (0,38 GW). As usinas que passaram a operar em 2024
estão instaladas em 15 estados nas cinco regiões do país.
Vantagem
Elbia
Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica
(Abeeólica), afirmou à DINHEIRO estar confiante no crescimento da fonte
para os próximos anos, por ser a mais abundante e mais barata. “É a
fonte que mais cresceu nos últimos 10 anos, e que mais vai crescer nos
próximos 15”, disse.
Além disso, há ainda o fator econômico.
Segundo a executiva, o Brasil produz 80% dos materiais utilizados nas
unidades geradoras. “Para cada R$ 1 investido, é devolvido R$ 2,9 ao
PIB, gerando emprego e renda no Brasil, diferente da Solar, que gera
empregos na China”, completou.
Também há uma expectativa pela
aprovação, pelo Senado, do PL que regulamenta as Eólicas Offshore (no
mar). Atualmente, as usinas eólicas no Brasil são todas no continente
(onshore), e têm uma capacidade instalada de 32,4 GW, e 55,2 GW de
capacidade total. “As offshore já somam mais de 200 GW de pedidos de
licenças para o IBAMA.
As petroleiras serão as grandes
investidoras nessas unidades geradoras, diante da necessidade de
transição energética, o que também fará o Brasil ser o maior produtor do
mundo de hidrogênio verde. Além disso, essas usinas no mar têm
potencial para ser instaladas ao longo de toda a costa brasileira, não
somente no Nordeste”, completou.
Roberto Padovani, economista-chefe do BV (Crédito: Divulgação/BV)
Matheus Almeidai
O
Brasil vive um bom momento, porém as medidas do governo para aquecer a
economia estão pressionando a inflação e os juros. Por conta das
finanças pressionadas, o dólar deve ir muito abaixo de R$ 5,30 e o Banco
Central deve subir os juros.
A avaliação é do economista-chefe do BV, Roberto Padovani, que em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro,
apontou os fatores que devem levar o Comitê de Política Monetária
(Copom) a elevar a taxa básica de juros já a partir da próxima reunião,
em 17 e 18 de setembro.
O
BV estima que o BC irá elevar a Selic em 1 ponto percentual, para
11,5%, até janeiro de 2024. Também projeta um corte de juros nos EUA
ainda neste semestre. Juntas, as duas medidas devem levar a inflação
brasileira a um patamar mais próximo do centro da meta, de 3%. Em julho,
o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado de 12
meses encostou em 4,5%, o teto da meta.
Padovani
considera, porém, o atual patamar de câmbio excessivo. Nesta
quinta-feira, 21, o dólar fechou em alta de 1,96%, cotado a R$ 5,589. A
visão do economista é de que acontecerá uma correção nos próximos meses,
para um patamar ao redor de R$ 5,30.
Confira os principais trechos da entrevista
As máximas históricas atingidas pela bolsa brasileira são um sinal de que a economia brasileira vive um bom momento?
Eu
acho que sim, mas não é a principal explicação. O bom desempenho que a
gente tem visto no mercado nas últimas semanas tem muito a ver com uma
redução da tensão financeira global, a leitura de que o banco central
norte-americano vai começar a cortar taxa de juros, e a gente já vê esse
corte na Europa.
A
economia brasileira tem mostrado um crescimento mais forte, mais
resiliente, em virtude de reformas que foram feitas, do setor exportador
muito pujante, mercado de trabalho aquecido. Isso torna o país mais
estável e reforça a atratividade aos capitais. Então acho que é uma
explicação dupla, mas eu colocaria mais peso no elemento externo.
Caso o corte de juros nos EUA neste segundo semestre se concretize, qual será o impacto na economia brasileira?
O
cenário global afeta a economia brasileira hoje por meio de dois
canais. O primeiro é que existe uma desaceleração em curso na Ásia, na
Europa e nos Estados Unidos. Essa desaceleração faz com que os preços de
matérias-primas tenham uma tendência de queda. Isso poderia em tese
afetar a economia brasileira, porque somos exportadores de
matérias-primas. Mas o Brasil tem se mostrado muito mais resistente ao
choque no setor exportador. Então isso acaba afetando menos.
O
segundo canal é um canal financeiro. Nesse cenário de menor demanda,
menor pressão em custos e queda da inflação no mundo, os bancos centrais
sentem-se à vontade para cortar juros.
Cortar
juros favorece fluxos de capitais. O Brasil se torna mais atrativo.
Isso equilibra a taxa de câmbio e, junto com preços das commodities em
queda, reduz a pressão de custo nas empresas. Então o cenário global
hoje favorece o Brasil na medida em que reduz a pressão de custos e,
portanto, ajuda a gente ter uma inflação um pouco mais confortável.
Que fatores estão mantendo o câmbio no patamar em que ele está hoje?
São
25 anos que a gente opera com regime de câmbio flutuante no Brasil,
então a gente conseguiu já aprender muita coisa. Ao colocar as
informações no nosso modelo, o aprendizado é que o câmbio deveria estar
oscilando ao redor de R$ 5,30.
Ano passado, a gente tinha uma
visão muito parecida com a que a gente tem hoje. O câmbio operava em R$
4,90. A gente tinha uma leitura naquele momento de que havia muito
otimismo.
A partir do segundo trimestre de 2024, o mercado
internacional mostrou mais instabilidade, mais turbulências. Isso foi um
gatilho para correção desse otimismo. Só que os movimentos nos mercados
financeiros nunca são lineares. Nos anos 1980, os economistas chamaram
de overshoot: você corrige o câmbio, mas exagera nessa correção.
A
gente está vendo uma correção do câmbio refletindo os fundamentos. Só
que não é uma correção linear, tranquila. Ela é muito instável, mas faz
parte do mundo financeiro. Então, a gente deve caminhar para uma maior
estabilidade na casa de R$ 5,30 a partir de agora.
Em julho, o IPCA encostou na meta de 4,5% no acumulado de 12 meses. Podemos esperar novas altas da Selic este ano?
No
mundo desinflacionário, a nossa inflação está num patamar elevado
basicamente porque o governo vem estimulando muito a economia com gasto
público. O gasto público afeta a economia por meio de dois canais: um é
estímulo de demanda, mas tem um canal financeiro.
Como
esse aumento de gasto público está acontecendo por meio de dívida, isso
gera pressão nos mercados. Por isso o dólar, na nossa opinião, não tem
como ir abaixo de R$ 5,30.
Quando
você tem esse dólar que não recua também, você não traz alívio para o
curso das empresas. Ele está recuando em relação aos R$ 5,70, aos
exageros, mas a gente não acha que o canal cambial vai ser um fator
importante para desinflamar a economia, porque você tem a situação
fiscal.
Portanto, o que o BC vai tentar fazer é adequar esse ritmo
de demanda, subindo o juros, encarecendo o crédito, tentando esfriar o
consumo.
Neste cenário, dá para ter crescimento econômico com combate à inflação?
Eu
acho que sim. Porque a função do BC é suavizar os ciclos. É uma questão
teórica o que você falou. Será que o governo está estimulando
excessivamente a economia? Como é que a gente consegue avaliar isso? A
gente não sabe.
Aparentemente
a economia brasileira vem mostrando bons sinais e crescimento, mas o
que a gente ao final do dia faz é olhar o comportamento dos preços. É
isso que vai dizer se a economia está muito aquecida ou não. E essa
dificuldade de levar a inflação para a meta é um sinal de que está
excessivamente aquecida.
O que o BC
faz é regular ciclos de curto prazo. O que vai explicar crescimento para
valer no Brasil não tem muito a ver com o BC. Tem a ver com as
condições de produção da economia. Para que o país cresça mais ele tem
que ter oferta de mão de obra qualificada, oferta de energia elétrica,
infraestrutura.
O crescimento do Brasil depende de variáveis que
não estão no controle do BC. Para te dar um exemplo muito prático, uma
coisa que pode favorecer o crescimento no Brasil é a reforma tributária
que está sendo negociada agora no Congresso.
Em que patamar você enxerga a Selic no final deste ano ou do próximo?
Como
a gente não está trabalhando com um cenário de alta inflacionária, é
muito mais uma discussão sobre convergência para o centro da meta. A
gente imagina que vtenha um ciclo moderado. Um cálculo estatístico de
referência é que talvez subindo um ponto percentual seja suficiente.
Como
existe uma imprecisão no cálculo, uma regra de bolso dos bancos
centrais do mundo é que, quando você não tem uma inflação clara, você se
move lentamente.
A gente acha que um ritmo de 0,25 ponto
porcentual é compatível com isso. Então o cenário que a gente montou no
banco é de ciclo de um ponto percentual com quatro altas de 0,25 p.p.,
três altas das reuniões que restam nesse ano e uma última alta em
janeiro de 2025, já com o novo presidente do BC.
O
diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo,
manteve nesta quinta-feira, 22, a ênfase das suas últimas falas, fez
algumas correções nas interpretações de seu discurso feitas pelo mercado
financeiro, mas deixou claro que “esse BC não hesitará em subir a taxa
de juro, se for preciso”.
Galípolo participou nesta
quinta-feira do 32º Congresso e Expo Fenabrave, onde falou por quase uma
hora e aproveitou para desconstruir, ponto por ponto, os tópicos das
suas falas que o mercado teria interpretado erroneamente.
Na
questão da assimetria dos balanços de riscos, que não só ele falou, mas
que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) também tratou, o
diretor disse ser equivocada a interpretação que a associa com um
guidance.
“Não há nenhuma relação de percepção de balanço
de risco assimétrico com um guidance. Dizer que balanço de risco está
assimétrico não quer dizer que estabelecemos um guidance”, disse
Galípolo para uma plateia repleta de pessoas ligadas ao setor
automotivo, sempre deixando claro que não muda nada nas suas falas dos
últimos dias.
“Reafirmo
todas as minhas falas dos últimos dias. Não há nenhuma modulação nas
minhas falas”, reiterou o diretor de Política Monetária do BC, para quem
um possível aumento da taxa de juro continua sobre a mesa e que isso
não deixa nenhum diretor da autarquia desconfortável.
O que deixa o BC desconfortável, nas palavras do diretor, é a possibilidade de a inflação ficar acima do centro da meta.
Galípolo
repetiu a analogia que sempre faz do BC com “aquela pessoa chata que no
melhor da festa pede para baixar o som e corta as bebidas” para
enfatizar que a disposição de o BC aumentar juro, se preciso for, será
guiada por critérios técnicos.
Ele disse que o BC não está
endossando a abertura da curva de juros, mas passou a mensagem de que a
projeção do BC de inflação a 3,2% no horizonte de 18 meses está sim
acima da meta e que o crescimento da economia tem surpreendido.
“Não
estamos torcendo para economia parar de crescer, mas esperamos que
desacelere. O crescimento tem nos surpreendido e o BC é o chato da festa
que baixa o som e corta a bebida”, afirmou o diretor, lembrando que as
comunicações da autarquia tem indicado também que o Copom está e
continuará na dependência da dados para tomar suas decisões. “Queremos
absorver todos os dados para chegarmos ao Copom com informações, até
para elevar juro. O BC tem que fazer como música de Paulinho da Viola;
no nevoeiro o marinheiro leva o barco devagar”, disse ao se referir ao
samba ‘Argumento’, do cantor e compositor Paulinho da Viola.
Outro
ponto que Galípolo fez questão de reforçar é que a posição do BC em
aguardar dados não quer dizer a mesma coisa que se esperar um dado
específico. Neste caso ele avalia que é um equívoco traçar uma relação
mecânica entre o nível da taxa de câmbio com o nível da taxa de juro.
Por
fim, o diretor disse que algumas dúvidas decorrem do fato de ser a
primeira vez que todos estão convivendo com o Banco Central
[formalmemte] autônomo. E num BC autônomo, de acordo com ele, é natural
que todos os diretores falem e as pessoas os queiram ouvir. “Num BC
autônomo, isso é natural”, disse.
Os
órgãos reguladores chineses provavelmente vão impor uma suspensão de
negócios, por seis meses, a grande parte da unidade de auditoria da
PricewaterhouseCoopers na China continental, como penalidade por seu
trabalho na incorporadora imobiliária Evergrande, de acordo com cinco
fontes com conhecimento do assunto.
As fontes afirmaram que a PwC
Zhong Tian — entidade de contabilidade registrada e principal braço
onshore da PwC na China — será atingida pela proibição em seus negócios
relacionados a valores mobiliários, afetando seu trabalho com clientes,
incluindo empresas listadas, companhias com IPO em andamento e fundos de
investimento na China continental, disseram as fontes.
A
expectativa das fontes é de que a empresa também seja condenada a pagar
uma multa de pelo menos 400 milhões de iuans (56 milhões de dólares).
Combinada com a suspensão dos negócios, essa seria a penalidade mais
severa já recebida por uma das quatro grandes firmas de contabilidade na
China, acrescentaram as fontes.
No caso mais recente, a filial da
Deloitte em Pequim foi multada em 211,9 milhões de iuans em março do
ano passado e suas operações foram suspensas por três meses, após terem
sido encontradas sérias deficiências em sua auditoria na China Huarong
Asset Management.
As
penalidades da PwC, que estão sendo tratadas principalmente pelo
Ministério das Finanças da China (MOF), o principal órgão regulador das
empresas de contabilidade no país, ainda não foram finalizadas, disse
uma das fontes.
“Como essa é uma questão regulatória em andamento,
não seria apropriado comentar”, disse um porta-voz da PwC. O MOF não
respondeu imediatamente a pedidos de comentários.
A
China Evergrande Group foi acusada, em março, de uma fraude de 78
bilhões de dólares. A PwC auditou a Evergrande por quase 14 anos, até o
início de 2023.
As fontes afirmaram que os reguladores chineses devem anunciar as penalidades contra a PwC nas próximas semanas.
As
iminentes penalidades da PwC levaram a um êxodo da clientela e
provocaram cortes de custos e demissões em massa na empresa nos últimos
meses, segundo fontes.
Como parte das penalidades, a PwC será
impedida de assinar certos documentos importantes para clientes na China
continental, tais como resultados trimestrais e pedidos de IPO, bem
como de realizar outros serviços relacionados a emissões de títulos,
disseram as fontes.
A suspensão dos negócios também poderia afetar
a PwC Zhong Tian, como um todo, impedindo a empresa de aceitar novos
clientes estatais ou listados internamente nos próximos três anos, de
acordo com as regulamentações chinesas.
No ano passado, os órgãos
reguladores nacionais reiteraram que as empresas estatais e as empresas
listadas na China continental deveriam ser “extremamente cautelosas”
quanto à contratação de auditores que tenham recebido multas ou outras
penalidades nos últimos três anos.
Nos últimos meses, pelo menos
50 empresas chinesas, muitas das quais são estatais ou instituições
financeiras, deixaram de contratar a PwC como auditor ou cancelaram
planos de contratar a companhia, de acordo com dados analisados pela
Reuters.
O maior cliente de auditoria listado na China continental
da PwC, o Bank of China, disse na segunda-feira que planeja contratar a
EY para sua auditoria anual de 2024. Em junho, o banco declarou que seu
contrato de serviços com a PwC seria apenas para a revisão do relatório
intermediário.
A PwC também era a aditoria responsável por analisar os balanços da Americanas antes do escândalo da fraude contábil no Brasil.
Funcionário
verifica carros importados da China na chegada ao porto de San Antonio,
em Valparaíso, Chile, em 13 de agosto de 2024 - AFP
AFPi
Com
algumas dúvidas, Claudio Pérez comprou o seu primeiro carro familiar de
origem chinesa. Dois anos depois, o caminhoneiro chileno não se
arrepende da compra e afirma que seu próximo veículo também será
fabricado na China.
“A marca chinesa é estigmatizada, mas o
caminhonete é impecável, não tive problemas”, diz Pérez, 47 anos, que
trocou os carros coreanos por um modelo chinês da marca Jetour.
Ele
não se convenceu a princípio devido à má reputação dos primeiros
modelos chineses, mas precisava comprar um carro com urgência. Recebeu a
indicação da marca e não se arrepende.
As montadoras chinesas
pisaram no acelerador e, com alternativas que aliam preço e qualidade,
conseguiram conquistar o mercado da América Latina, superando Estados
Unidos e Brasil.
Nos
últimos cinco anos, a China quadruplicou as vendas para a região. Se em
2019 vendeu automóveis por 2,18 bilhões de dólares (8,78 bilhões de
reais na cotação da época), em 2023 atingiu 8,56 bilhões de dólares
(41,43 bilhões de reais na cotação da época), 20% do total medido em
dinheiro, para se tornar o principal fornecedor da América Latina,
segundo o International Trade Center (ITC, em inglês).
Os
Estados Unidos, que ocupavam o primeiro lugar até 2021, chegaram a 17%,
enquanto os carros fabricados no Brasil caíram de 14% para 11% no ano
passado.
No
mercado emergente de veículos elétricos, o domínio é maior: 51% das
vendas na região correspondem a carros do gigante asiático, enquanto
praticamente todos os ônibus elétricos são chineses.
“O
crescimento dos fabricantes de automóveis chineses nos últimos anos tem
sido exponencial, graças a melhorias significativas na qualidade,
tecnologia e design”, disse à AFP Andrés Polverigiani, gerente de
inteligência de marketing automotivo da consultoria Nyvus.
Competir de igual para igual
Nenhum
outro mercado fora da Ásia tem uma participação tão alta de automóveis
desta origem, prova da importância da China, segundo parceiro comercial
da região, nas economias latino-americanas, segundo o ITC.
Na
União Europeia e nos Estados Unidos, dois mercados com uma forte
indústria automotiva, a imposição de tarifas a impediu de avançar com
maior força.
Embora pequeno, o mercado chileno é considerado um
dos mais competitivos do mundo. Praticamente livres de tarifas devido a
uma ampla gama de acordos comerciais, 80 marcas de 28 origens oferecem
mais de 600 modelos de veículos.
O desembarque de carros chineses nos portos do país parece incessante.
“Um
carro chinês aqui compete com as mesmas características de um americano
ou europeu. As tarifas mais baixas também levaram a preços muito
competitivos”, destaca o presidente da Associação Nacional Automotiva do
Chile, Diego Mendoza.
No ano passado, os carros chineses representaram quase 30% das vendas no país.
Assim
como no Chile, Equador, Peru e Colômbia, a aposta da China é dominar o
mercado, enquanto no Brasil e no México, os grandes fabricantes
regionais, a China busca vender e também produzir.
A gigante BYD
está construindo a maior fábrica de carros elétricos fora da Ásia em
Camaçari, na Bahia, com capacidade para produzir 150 mil veículos por
ano. A GWM também comprou uma fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis
(leste de São Paulo) para produzir 100 mil unidades elétricas por ano.
“O
Brasil é um país com grande volume de vendas, ainda com baixa presença
de veículos elétricos e baixa presença de chineses. Se eu fosse
executivo de uma empresa automotiva chinesa, também veria o mercado
brasileiro com muito interesse”, comenta à AFP Cassio Pagliarini,
especialista da Bright Consulting.
Mais pelo mesmo preço
A
China conseguiu atrair consumidores após se associar a grandes
fabricantes, em alianças que permitiram baixar processos de produção e
melhorar tecnologias.
“As pessoas os testavam e os adotavam de
acordo com suas preferências”, diz Rubén Méndez, gerente de marketing da
Movicenter, onde carros são vendidos no Chile.
Em relação aos
preços, José Carlos De Mier, representante da Nyvus no México e em Porto
Rico, explica que “em alguns países da América Latina, as marcas de
origem chinesa oferecem mais pelo mesmo preço”.
Na América Latina,
os automóveis chineses permitiram o acesso ao primeiro veículo a
segmentos da população de média ou baixa renda e a expansão de
tecnologias mais limpas em cidades poluídas como Santiago, Bogotá ou
Cidade do México, explica Sebastián Herreros, economista da Comissão
Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).
“Todos os
nossos países têm que avançar rapidamente para a eletromobilidade devido
a um desafio quase de sobrevivência e a China é um parceiro ideal: tem a
escala de produção e a capacidade de vender a preços convenientes”,
acrescenta Herreros.