Carrefour. (Crédito: Divulgação)
O Carrefour França afirmou, em nota divulgada nesta quinta-feira, 21, que o veto à carne do Mercosul se aplica “apenas às lojas na França” e que a medida de deve “somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”.
“O Carrefour França informa que a medida anunciada ontem, 20/11, se aplica apenas às lojas na França. Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise”, diz a nota da companhia.
“Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças”, completa a empresa, em seu comunicado.
Esse pronunciamento ocorre após o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, publicar na rede social X (antigo Twitter) um comunicado que dizia que a varejista se comprometia a não vender carnes do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Isso, independentemente dos “preços e quantidades de carne” que esses países possam oferecer. Veja a postagem do CEO aqui.
Entenda o caso
A carta assinada por Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, foi endereçada ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA), Arnaud Rousseau.
Segundo o executivo, a decisão de vetar a carne do Mercosul foi tomada após ouvir o “desânimo e a raiva” de agricultores franceses – que protestam contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Em suma, o Carrefour atendeu aos pedidos de agricultores do seu país de origem, que não querem competir com os exportadores de carne do Mercosul, que inclui o Brasil.
Entidades reagem negativamente à decisão do Carrefour
Entidades brasileiras têm reagido negativamente à decisão do Carrefour de vetar carne brasileira em suas lojas na França.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) se pronunciou lamentando a decisão.
Segundo a associação, “tal posicionamento vai contra os princípios do livre mercado e é contraditório, vindo de uma empresa que opera cerca de 1.200 lojas no Brasil, abastecidas majoritariamente com carnes brasileiras, reconhecidas mundialmente por qualidade e segurança”.
“Ao adotar um discurso protecionista em defesa dos produtores franceses, o Carrefour fragiliza seu próprio negócio e expõe o mercado europeu a riscos de abastecimento, já que a produção local não supre a demanda interna”, continuou a Abiec.
A entidade frisou que o Brasil é líder global em exportação de carne bovina, “com o maior rebanho comercial do mundo, produção sustentável e rigorosos controles sanitários que garantem qualidade para mais de 160 países”.
“Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, reduzindo a área de pastagem em 16%, demonstrando compromisso com eficiência e sustentabilidade”.
Governo brasileiro chama de ‘ação orquestrada’
Ainda na quarta-feira, 20, o Governo Federal também tomou posição com relação à decisão da varejista francesa.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que a atitude do grupo “parece uma ação orquestrada” de companhias francesas contra o país, dizendo estar “indignado” com o veto.
Ele citou a declaração dada pelo diretor financeiro da Danone, Jurgen Esser, veiculada pela agência de noticias Reuters, de que a empresa parou de comprar soja do Brasil e agora adquire o produto de países da Ásia como antecipação à lei antidesmatamento da União Europeia.
Diante desse episódio recente, o ministro afirmou que “não faz sentido achar que é coincidência”.
Na avaliação do ministro, a declaração do CEO do Carrefour aponta “de forma inverídica” as condições de produção brasileira.
“De forma a ferir a soberania brasileira, desrespeitando nossa produção, que é sustentável. Me parece que é querendo arrumar o pretexto para que a França não assine e continue com a posição contra a finalização do acordo Mercosul União Europeia”, disse o ministro da Agricultura.
Em sua visão, era mais “bonito e legítimo” só manter a posição contra o acordo.
Ministério da Agricultura alega ‘protecionismo’
Além das declarações de Fávaro, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) enquanto entidade também rechaçou, em nota, a posição de Alexandre Bompard.
“O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros. Mais uma vez, o Mapa reitera o compromisso da agropecuária brasileira com a qualidade, sanidade e sustentabilidade dos alimentos produzidos no Brasil para contribuir com a segurança alimentar e nutricional de todo o mundo”, defendeu o ministério.
A pasta ainda frisou o rigor do sistema de defesa agropecuária nacional e o Código Florestal Brasileiro.
“O que garante ao País o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, mantendo relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia que compra e atesta, por meio de suas autoridades sanitárias, a qualidade e sanidade das carnes produzidas no Brasil há mais de 40 anos”, disse, após o veto do Carrefour.