Mais
de um terço das mulheres no Brasil já enfrentou assédio sexual no
ambiente de trabalho, aponta a pesquisa “Trabalho Sem Assédio 2025”,
conduzida pela Think Eva em parceria com o LinkedIn, através de um
questionário online realizado entre abril e maio desse ano. Apesar de
uma redução em relação a 2020, quando o índice chegava a 47%, apenas 10%
das vítimas recorreram a canais formais de denúncia, e uma em cada seis
profissionais ainda opta por deixar o emprego diante da violência
vivida.
Os dados revelam que
o assédio sexual não é apenas um comportamento individual, mas um
exercício de poder, que atinge com mais frequência mulheres em cargos
intermediários pleno ou sênior (45%) e assistentes (29%), com renda de
até cinco salários mínimos. Entre mulheres de alta renda ou posições de
liderança, o assédio também ocorre, mas de forma menos recorrente: as
diretoras e executivas representam 14% da amostra e as mulheres com
remuneração superior a 15 mil, 10%.
A
percepção sobre o que constitui assédio evoluiu. Atualmente, 91% das
entrevistadas sabem reconhecer os atos, e quase metade afirma conversar
regularmente sobre o tema. Contato físico não solicitado, mensagens de
cunho sexual e pedidos de favores sexuais são considerados assédio por
70% a 80% das mulheres, enquanto olhares lascivos, piadas e comentários
sobre a aparência são identificados por 50% a 70%.
Frequência dos casos
Outro
dado analisado foi a frequência dessa violência: 57,3% dos
entrevistados, entre homens e mulheres, já presenciaram ou sofreram
assédio sexual no trabalho. Para 75,3% dessas pessoas, os episódios
ocorrem pelo menos uma vez ao mês. Em 16,3% dos casos, a violência é
testemunhada diariamente, sobretudo por pessoas pretas e pardas, que
representam 59,2% desse grupo.
As
consequências do assédio são profundas e podem suscitar diversas
reações. As entrevistadas relataram sentir vergonha, medo, insegurança,
raiva, nojo, ansiedade e vulnerabilidade, entre outros. Conforme a renda
diminui, o sentimento de insegurança se intensifica.
Além
do impacto emocional, como desânimo, sintomas de ansiedade e depressão,
esses comportamentos promovem efeitos concretos na vida dessas
profissionais. Elas relatam aumento do isolamento, mudança de
expectativas de carreira e pior desempenho no trabalho.
Barreiras à denúncia
Após
um episódio de assédio, a reação mais comum entre as mulheres ainda
recai sobre recursos particulares, sem envolver diretamente as
estruturas institucionais das empresas. Muitas optam por compartilhar a
situação com pessoas próximas, enquanto apenas um terço recorre a canais
internos de apoio. Entre elas, apenas 36,6% buscaram ajuda dentro da
própria organização.
O dado
revela uma desconfiança em relação à instituição em que trabalham, que
se refletem em medo da impunidade, receio de exposição e descrença na
efetividade das respostas corporativas. Não por acaso, uma em cada cinco
mulheres não toma nenhuma atitude diante da violência, e uma em cada
seis acaba pedindo demissão.
A
pesquisa mostra que, apesar da existência da Lei Emprega+Mulheres desde
2021, que prevê prevenção e combate ao assédio no trabalho, 83% dos
entrevistados nunca ouviram falar dela. Nas empresas, apenas metade das
pessoas percebe ações de enfrentamento do assédio sexual, enquanto um
número semelhante identifica iniciativas contra o assédio moral. Quando
existem, as medidas mais citadas são comunicação, palestras de
sensibilização, códigos de ética, canais de denúncia e treinamento de
líderes.