Por Pedro Pereira
Depois de um 2012 em que a previsão de crescimento do PIB se reduzia a cada semana, 2013 começa um pouco mais animador.
Mas para Armando Castelar (foto), coordenador de economia aplicada do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV),
mesmo que a previsão de 3,5% de crescimento seja confirmada no final do
ano, a indústria brasileira pode não conseguir surfar nessa onda por
muito tempo. “A melhora da indústria pode ser difícil de sustentar se
não forem resolvidos os problemas de infraestrutura e mão-de-obra”,
alerta.
Segundo
ele, o sucesso das concessões públicas em infra-estruturaserá
fundamental para mover o investimento, mas para isso o governo precisará
recuperar a confiança dos investidores. “Há um cenário de melhora, mas
os riscos são muito mais evidentes que os aspectos positivos”, acredita.
Entre
os maiores entraves para a indústria do país, Castelar destaca a
própria infraestrutura e os custos ocultos que a precariedade logística
acarreta, como desgaste de caminhões e o tempo parado a caminho dos
portos. Além, é claro, da carga tributária – que deveria perder 10
pontos percentuais do peso que representa no PIB, hoje em 37%. E sem
esquecer, ainda, o ambiente de negócios desfavorável, em função da
burocracia . Armando Castelar lamenta que a implementação de uma agenda
positiva, uma solução possível, seja um processo lento e gradual e, por
isso, não esteja entre as prioridades das autoridades, simplesmente
porque não os governos não podem pode colher frutos já no período
eleitoral seguinte.
Sobre um possível – e necessário – aumento de
competitividade, Castelar acredita em “uma caminhada para indústrias
diferentes”. Ou seja, capacitar o país para fabricar e exportar produtos
de maior valor agregado, mesmo que isso exija mão de obra mais
qualificada.
Ele lembra o exemplo da americana Apple, que não
produz seus equipamentos, mas exporta software. “Aqui temos a Embraer, a
Natura, entre outras. E o Brasil também exporta software. Se você
analisar o brasileiro por faixa de idade, verá que os mais novos têm
mais capital humano. Então [o aumento da competitividade] não é
inviável, mas é imprescindível atacar gargalos como os da
infraestrutura”, reforça.
Política econômicaSamuel
Pessôa, pesquisador-associado do Instituto Brasileiro de Economia
(Ibre-FGV), salienta o perfil desenvolvimentista da atual equipe
econômica do governo federal e alerta para os riscos que esta postura
pode representar. Ele observa que o ciclo promovido pelo governo militar
há cerca de três décadas parece ser reproduzido, hoje, por políticos da
esquerda.
Pessôa cita o período “Malocci”, quando o Ministério
da Fazenda foi ocupado, respectivamente, por Pedro Malan e Antônio
Palocci, como um tempo marcado pela liberalização econômica,
privatização de setores que não tinham motivos para serem estatais,
câmbio flutuante e lei das concessões, entre outras medidas. “Tudo isso
gerou resultados e acelerou o crescimento no período Lula. A grande
produtividade permitiu que a economia crescesse mesmo que seus insumos
não tivessem crescido, pois conseguiu extrair mais”, explica.
Mas, a exemplo do que aconteceu com o governo de Geisel, que veio a reboque do
desenvolvimentismo praticado por Castelo Branco e Médici, a intervenção
do governo hoje começa a crescer para compensar os problemas econômicos
causados pela mudança de postura desde a entrada de Guido Mantega na
Fazenda.
Armando Castelar e Samuel Pessôa palestraram no 4º
Meeting de Economia, realizado pela Federação das Indústrias do Rio
Grande do Sul (Fiergs), nesta sexta-feira, em Porto Alegre.