sábado, 14 de setembro de 2013

Bancos vetam compra em real no exterior Publicidade

 
SHEILA D'AMORIM
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA


  Em meio ao sobe e desce da cotação do real em relação ao dólar nos últimos meses e diante da expectativa de que a volatilidade continue, os bancos decidiram suspender o pagamento de compras no exterior com cartão de crédito diretamente em reais. 

A alternativa, que serve para o consumidor tentar congelar uma determinada cotação no ato da compra em vez de esperar a conversão que é feita pelos bancos no fechamento da fatura do cartão, está sendo sustada este mês. 

Pelo menos três dos cinco maiores bancos de varejo do país (Bradesco, Itaú e Santander) aderiram à orientação da Abecs, entidade que representa o segmento de cartões. 

Oficialmente, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica ainda avaliam se seguirão o os principais concorrentes. 

O BB quer discutir a decisão com órgãos de defesa do consumidor no país. Mas, segundo a Folha apurou, a tendência é apoiar a Abecs. 

Em carta a clientes, o Itaú alega que "muitas vezes o estabelecimento [fora] deixa de informar que a compra continua sendo uma transação internacional e será lançada na fatura em dólares, com incidência do IOF de 6,38% e possibilidade de variação entre a cotação do estabelecimento e a cotação da data de fechamento da sua fatura". 

A mensagem do Bradesco diz que, a partir de setembro, "transações realizadas no exterior diretamente em real não serão mais aprovadas". 

A mudança não afetará compras nos free shops localizados em aeroportos brasileiros porque toda a transação acontece dentro do país. 


CONFUSÃO

 
Segundo Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs, as operações no exterior em reais provocavam reclamações dos clientes, que achavam a cobrança indevida. 

Um problema é o IOF (Imposto sobre operações financeiras) -muitos clientes alegam que não devem pagar o imposto porque a compra foi convertida para reais. 

Pela regra brasileira, porém, toda compra com cartão de crédito fora do país é sujeita à cobrança de 6,38% de IOF, mesmo que o valor de conversão da moeda seja fixado no momento da compra.
Outro porém é que essas transações embutem uma taxa de administração cobrada pelas empresas que processam a operação fora do país. 

Numa situação hipotética, uma pessoa que comprou um sapato de US$ 100 no exterior e optou por pagar no cartão de crédito uma quantia equivalente a R$ 250 na hora da compra, por exemplo, não sabe que esse total incluiu uma taxa de administração. Com isso, o valor efetivo do sapato em dólar foi de US$ 103.
A confusão aumenta com a cobrança do IOF. Segundo os bancos, muitos clientes dizem não reconhecer o valor e se recusam a pagá-lo.

Vieira afirma que o problema cresceu com a instabilidade cambial e, sobretudo, com o crescimento das compras pela internet em sites no exterior, muitos dos quais oferecem transação em reais.

Governo tenta entender 'vazio' de leilão

 
VALDO CRUZ
DIMMI AMORA
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA




Aposta do governo Dilma para recuperar a confiança da economia brasileira e garantir a retomada do crescimento, o Programa de Investimento em Logística falhou logo no seu primeiro teste. 

Dos dois leilões de concessão de rodovias escolhidos para inaugurar o programa, um deles, o trecho da BR-262 (MG-ES), não atraiu investidor. Deu "vazio", no jargão. 

O outro trecho, da BR-050 (MG-GO), registrou oito concorrentes interessados.

O número é o mesmo de interessados do último leilão realizado, em 2012. O governo dizia contar com no mínimo cinco participantes, mas esperava que houvesse mais de dez interessados.
O vencedor será conhecido na próxima quarta-feira. 


IRRITAÇÃO

 
O fracasso parcial irritou a presidente Dilma Rousseff, que cobrou explicações de sua equipe. Um assessor presidencial afirmou à Folha que até ontem o governo não tinha "nenhum indicativo" de que o resultado negativo pudesse ocorrer. 

O ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que foi a falta de interessados foi uma "surpresa". "Você tem oito propostas para uma rodovia e nenhuma para a outra. Então, deve ter tido algum problema que ainda não detectamos." Segundo ele, pode ter havido algum problema de "natureza política", que o governo ainda tem de avaliar. 

Em primeira análise, a equipe acredita que não se trata de uma falha generalizada do programa, mas de um caso "específico e localizado", já que o leilão da BR-050 foi bem-sucedido despertou interesse. Este trecho é considerado pelos empresários como um "filé". 

O problema é que a BR-262 também era apontada pelo governo como outro "filé" e havia sido colocada em leilão exatamente para garantir sucesso pleno já na largada. 

Agora, a ordem dentro do governo é "parar e entender as especificidades" da BR-262 para evitar que isso contamine as próximas rodadas. O governo planejava leiloar neste ano, além dos dois trechos de ontem, mais sete rodovias. 

Dentro do Palácio do Planalto, a avaliação é que uma das causas do fracasso do leilão da BR-262 seria insegurança jurídica, provocada por ameaça de políticos do Espírito Santo de entrar na Justiça contra o leilão, por causa do valor dos pedágios, considerado muito elevado. 

Outro ponto levantado por investidores seria o risco de o Dnit não cumprir a sua parte na duplicação do trecho e isso não ser compensado pelo governo no contrato. 

Para o governo, porém, essa argumentação não faz sentido, porque, desde o início das discussões com o setor privado, a participação do Dnit já estava prevista e nenhuma empresa questionou. 

O ministro César Borges (Transportes) disse que o governo tem a opção agora de reabrir o leilão da BR-262 com os mesmos estudos ou refazê-los para iniciar uma nova concorrência. 

Há também a opção de retirar a rodovia do programa de concessões.
Borges afirmou que os outros seis leilões previstos para este ano estão mantidos.
"Não fico frustrado. Saímos empatados. Vamos para frente agora porque queremos ser vitoriosos e o programa é importante para país."

Ministro Celso de Mello deve apoiar novo julgamento, dizem colegas


VALDO CRUZ
SEVERINO MOTTA
DE BRASÍLIA


O ministro mais antigo do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, deve votar na uarta-feira a favor do recurso que garante um novo julgamento para 12 dos 25 condenados pelo mensalão. A avaliação foi feita por ministros da corte ouvidos pela Folha

Em conversas reservadas, eles lembram que na primeira sessão do julgamento do caso, em agosto de 2012, Mello fez uma defesa clara da admissibilidade do recurso conhecido como embargos infringentes. Por isso, seria difícil para ele tomar outra posição nesta fase do processo. 


Alan Marques/Folhapress
O ministro Celso de Mallo, o mais antigo do STF, é dono da palavra final sobre novo julgamento do mensalão
O ministro Celso de Mallo, o mais antigo do STF, é dono da palavra final sobre novo julgamento do mensalão

Na avaliação dos ministros, Mello teria condições de mudar de opinião se a discussão fosse sobre outra ação. Como a defesa dos embargos foi feita na abertura do próprio julgamento do mensalão, o ministro não teria espaço para mudar de ideia. 

Editoria de Arte/Folhapress
Um colega de Celso de Mello lembra que o ministro apontou a existência dos embargos infringentes como argumento para rejeitar um dos primeiros pedidos feitos pelos réus, que queriam o desmembramento do processo para que os acusados fossem julgados na primeira instância e tivessem a opção de recorrer ao Supremo depois. 

Para explicar a situação de Celso de Mello, um dos seus colegas usou uma metáfora, dizendo que apertaram tanto o parafuso que ele ficou espanado -uma referência aos duros votos dos ministros Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes na última quinta-feira. 

Em sua avaliação, se Mello mudasse de opinião, poderia ficar a impressão de que o fez por pressão dos colegas. 

Na última sessão, ao citar a possibilidade de aceitação dos embargos infringentes, Gilmar Mendes disse que a realização de um novo julgamento significaria afirmar que o Supremo seria um "tribunal juvenil, de irresponsáveis que não sabem votar". 

Com o sentimento de que o jogo já foi jogado, ministros que foram contrários à possibilidade de realização de um novo julgamento já dizem que a sessão da última quinta-feira pelo menos permitiu que se delimitasse o alcance dos embargos infringentes. 

De acordo com o regimento interno do Supremo, é necessária uma condenação apertada, com pelo menos quatro votos favoráveis ao réu, para que embargos infringentes sejam apresentados. 

A avaliação do grupo que deve sair derrotado é que alguns ministros planejavam avançar e apoiar teses de advogados que atuam na defesa dos réus -alguns acham que não seria preciso ter quatro votos a favor para ter direito a um novo julgamento, o que poderia aumentar o número de réus beneficiados. 

Essa possibilidade, segundo os ministros, está afastada. Há a expectativa de que Celso de Mello, em seu voto, seja específico a respeito deste tema, limitando os embargos infringentes aos casos em que os réus obtiveram no mínimo quatro votos a favor. 

Apesar de constarem no regimento interno, uma lei de 1990 que regulou os processos no Supremo e no Superior Tribunal de Justiça não prevê os embargos infringentes. Na quinta-feira, a discussão sobre o tema acabou empatada no STF, com cinco ministros a favor e cinco contra. 

Se os recursos forem aceitos, ex-integrantes da cúpula do PT como o ex-ministro José Dirceu e os operadores condenados em 2012 por organizar o esquema do mensalão terão novo julgamento. 

Dirceu, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e os deputados petistas José Genoino (SP) e João Paulo Cunha (SP) poderão ser absolvidos de um dos crimes pelos quais foram condenados, ou ter penas reduzidas.

Cristina Kirchner diz que os argentinos vivem melhor agora do que há dez anos

do que há dez anos


 
LÍGIA MESQUITA
DE BUENOS AIRES


Em sua primeira entrevista depois de quatro anos, Cristina Kirchner disse que sua grande arma política são seus "feitos" e que os argentinos vivem melhor agora do que há dez anos. 

"O que aconteceu em 2003 [ano em que Néstor Kirchner foi eleito] que você não podia consumir ou comprar um carro? Você era a mesma pessoa, com as mesmas capacidades. O que mudou foi o país", afirmou. E completou: "Alguns querem retomar a Argentina do passado porque a mão de obra era mais barata." 

A presidente argentina escolheu falar para o canal governista TV Pública, em um programa dividido em duas partes. Os primeiros 30 minutos da conversa dela com o jornalista Hernán Brienza foram exibidos na tarde deste sábado (14). 

Cristina também analisou o movimento político chamado kirchnerismo, termo que ela não gosta de usar, como algo "difícil de explicar". "Resisto em dizer que se passaram dez anos de kirchnerismo. Foram dez anos de governo", disse. "É um fenômeno que tem a ver com a aparição de uma Argentina que deu uma volta, que bebe do peronismo, mas também incorporou outros setores." 


Pablo Porciuncula - 12.jul.2013/AFP 
A presidente da Argentina Cristina Kirchner durante a Cúpula do Mercosul no Uruguai, em julho deste ano
Cristina Kirchner, presidente da Argentina, durante a Cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai, em julho deste ano

A entrevista de Cristina é vista como mais uma estratégia da mandatária para recuperar os votos que sua aliança, a Frente para a Vitória, perdeu nas primárias para o Legislativo do país, em agosto. 

Muitos analistas e políticos de oposição dizem que se a derrota se confirmar no pleito de 27 de outubro, será o fim de um ciclo do kirchnerismo. "Todos têm o direito de questionar. Não me preocupa que questionem minha liderança em um contexto democrático", disse. "A realidade é a melhor defesa do nosso projeto." 

A chefe de Estado também voltou criticar a mídia, sem citar nomes, a quem acusa de uma tentativa de golpe --o governo briga na Justiça com o grupo Clarín por causa da nova Lei de Meios do país. 

"Há uma construção midiática de que o poder é o poder político, do governo da vez, e que o presidente é quem tem mais poder. Na verdade, o poder político é o que menos poder de fato tem, porque precisa de validação e legitimação nas eleições", afirmou. "Há todo um mundo construído pela mídia, não é que as pessoas sejam tontas, é que existem monopólios midiáticos." 

Assim que a primeira parte da entrevista acabou, o canal transmitiu ao vivo a inauguração de uma obra em Río Gallegos, cidade dos Kirchner, com a presença de Cristina. A segunda parte da conversa com a presidente será exibida no próximo sábado, 21.

A omissão do Banco Central diante das denúncias de falcatruas bancárias


O Banco Central, na gestão de Alexandre Tombini, foi omisso diante das denúncias de falcatruas em liquidações bancárias

FELIPE PATURY, COM REPORTAGEM DE MARCELO SPERANDIO E TERESA PEROSA
13/09/2013 21h33 - Atualizado em 14/09/2013 13h57
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SEM CIÊNCIA O presidente do BC, Alexandre Tombini. Ele tem controle sobre os subordinados? (Foto: Sergio Lima/Folhapress)


As autoridades costumam reagir a escândalos como se estivessem brincando de batata quente: tentam livrar-se do problema e passá-lo à mão alheia. Foi o que fez o Banco Central quando foram descobertos desvios na intervenção do Banco Cruzeiro do Sul. O caso enxovalhou o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que se orgulhava de ter boa reputação no mercado financeiro. Criado pelos bancos em 1995, para evitar prejuízos a correntistas de instituições quebradas, o FGC adquiriu outras funções com o passar do tempo. Agora, quando um banco balança, ele entra em campo para emprestar dinheiro. Se não é suficiente, trata de arranjar um comprador. Poderes tão amplos lhe conferiram credenciais para assumir a gestão de bancos falidos. A primeira vez em que isso aconteceu foi junho do ano passado, quando o Banco Cruzeiro do Sul entrou em colapso. O BC interveio e nomeou o FGC como administrador. Celso Antunes, então diretor executivo do FGC, cargo equivalente ao presidente, assumiu o comando. Uma vez no Cruzeiro do Sul, Antunes contratou uma microempresa de um antigo sócio seu para prestar serviços multimilionários à massa falida. O negócio, revelado por ÉPOCA em agosto, resultou na demissão de Antunes e de outro diretor do FGC, José Lattaro.

>> Banco Central responde a reportagem de ÉPOCA

Quando o escândalo estourou, o BC se disse surpreso, afastou os envolvidos e abriu uma investigação. Caso encerrado? Não. Aparecem agora provas de que a cúpula do BC conhecia há pelo menos 17 meses e em detalhes o esquema montado pelos diretores do FGC nas liquidações bancárias. Subordinados diretos do presidente do BC, Alexandre Tombini, os diretores de Organização do Sistema Financeiro, Sidnei Marques, e de Fiscalização, Anthero Meirelles, foram informados oficialmente e por duas vezes das atividades de Antunes e Lattaro. Uma correspondência da cúpula do FGC enviada à dupla relatou o curso das negociações para contratação da empresa vinculada a Antunes. Outra carta enviada à área de liquidações do BC detalha as gestões de Antunes e Lattaro e aponta a possibilidade de essas operações serem enquadradas na Lei de Crime do Colarinho Branco, como gestão temerária, e de incorrerem em violação de sigilo bancário.



Toda a cadeia de comando da área de liquidações do BC acompanhou as negociações conduzidas por Antunes e Lattaro. Pior: a troca de cartas ocorreu três meses antes de o BC decretar a intervenção no Cruzeiro do Sul e de nomear Antunes como administrador. Se o BC sabia das intenções de Antunes e de seus colegas, por que o nomeou para essa função? Se não enxergou conflito de interesses no fato de Antunes gerir um banco em nome do fundo e de contratar um ex-sócio sem qualificação para fazer um negocião, por que ele foi desligado depois? Se sabia do caso em março de 2012, por que só tomou providências em maio deste ano? Dois diretores do BC esconderam as denúncias de Tombini ou ele as ignorou? “O presidente não tinha conhecimento. O presidente e os diretores têm alçadas diferentes”, afirma o procurador-geral do BC, Isaac Ferreira. 


PARA A GAVETA Os diretores Sidnei Marques (à esq.) e Anthero Meirelles(à dir.). Eles não tomaram providências sobre as denúncias (Foto: Valter Campanato/ABR e Andre Dusek/Estadão Conteúdo)


A liquidação de um pequeno banco carioca, o Morada, pode trazer esclarecimentos tão valiosos quanto os de Ferreira. Se não explica as razões que levaram o BC a fechar os olhos para as intenções dos diretores do FGC, ao menos mostra como isso ocorreu. Dedicado à exploração de crédito consignado, o Morada entrou em crise no início de 2011. Para se manter vivo, recorria a empréstimos do FGC. Em 28 de abril, abriu no vermelho. O BC interveio e nomeou como gestor Sidney Ferreira, que atuara nas crises do Banco Nacional e do Banerj. Cinco meses depois, Sidney passou a ser assediado pelos diretores do FGC. Lattaro levou a Sidney dois empresários interessados em prestar serviços ao Morada. José Marcelo Brandão tinha uma empresa chamada M7 Cobranças Ltda. Carlos Cesarini apresentou-se como proprietário de uma certa Interbank Soluções Tecnologia e Serviços. Por que eles eram ciceroneados pelo FGC? “A M7 foi contratada pelo FGC para prestar serviços de gestão das carteiras (do Morada) logo após a liquidação”, diz o presidente do Conselho de Administração do FGC, Antonio Carlos Bueno. A resposta de Cesarini envolve o BC: “No Banco Morada, a pedido do Banco Central, o FGC faria uma gestão no resto da carteira que tinha lá”.




No primeiro encontro, Brandão e Cesarini sugeriram ao liquidante Sidney que os contratasse para administrar os créditos consignados do Morada. Esse encontro e os subsequentes foram todos registrados por Sidney. Em outubro, os empresários tiveram mais dois encontros com ele. Depois, a conversa de Lattaro, Brandão e Cesarini mudou de rumo. Em vez de prestar serviços ao Morada, eles queriam que o FGC comprasse os ativos do banco e, depois, os contratasse para administrá-los. Uma proposta chegou a ser enviada formalmente a Sidney por e-mail em 19 de outubro de 2011. Uma semana depois, o FGC informou, também por e-mail, ter desistido da compra.

Em meio a idas e vindas, o FGC e os empresários voltaram a falar em prestação de serviços. Sidney recebeu, então, um contrato que ele deveria firmar com o FGC. Em 19 de dezembro, Lattaro, Brandão e Cesarini finalmente explicitaram seus planos: o Morada cederia os ativos ao FGC, que contrataria Brandão para fazer as cobranças e Cesarini para processar dados. Seriam remunerados com 3,5% do valor das prestações pagas mensalmente pelos devedores dos créditos consignados. Seguiu-se uma discussão de valores. Sidney alegou que os 3,5% eram mais do que o lucro que o Morada tinha com as operações. Por isso, o rombo do banco aumentaria, em vez de encolher. O trio reclamou que ele não entendera os termos da operação. Sidney impôs outros obstáculos. Entre eles, exigiu um portfólio da M7 Cobranças e da Interbank, provando que elas tinham experiência nesse tipo de trabalho. 



Como Sidney relutava em assinar o contrato, os diretores do FGC levaram o caso a Brasília. Em 3 de fevereiro, Antunes enviou um e-mail ao chefe do Departamento de Liquidações do BC, Dawilson Sacramento. Nele, pede a Sacramento que “oriente” o liquidante a “permitir o início dos trabalhos (...); liberar o acesso irrestrito às informações; prestar todas as informações necessárias”. Dias depois, Antunes reuniu-se com Sidney para lhe dar um ultimato. Teria uma semana para assinar o contrato. Caso contrário, o FGC desistiria do negócio. A semana se passou, e Sidney nada fez, apesar de cobrado pelo adjunto de Sacramento.

Em vez de assinar o papel, Sidney mandou ao FGC uma carta de seis páginas, em que relata em detalhes suas reuniões com os empresários e representantes do FGC. Elas foram acompanhadas por autoridades do Departamento de Liquidações, enviadas de Brasília, ou pelos chefes dessa área no Rio de Janeiro. A carta de Sidney vai além. Diz que o contrato não encontra respaldo no estatuto do FGC, que Antunes e Lattaro não tinham alçada para assinar esse tipo de documento e que a transferência de dados dos créditos consignados para a M7 Cobranças nos termos exigidos por Antunes e pelo atual diretor executivo do FGC, Fabio Mentone, configuraria quebra de sigilo bancário. Sidney passa, então, a apontar irregularidades graves. 

Ele relata que a M7 Cobranças é uma microempresa com R$ 1.000 de capital. Funciona na casa do próprio dono, que não tem empregados, telefone nem cartão de visita. Sidney diz que, se a contratasse, incorreria em crime de gestão temerária, descrito na Lei do Colarinho Branco. A situação da Interbank não é melhor. Cesarini, que se apresentava como dono, não aparecia como sócio no registro da empresa na Junta Comercial. Em lugar dele, estavam seu filho e, surpreendentemente, Antunes, do FGC. A empresa que estava registrada em nome de Cesarini era a Interbank Consultoria em Informática, considerada inapta pela Junta Comercial. Esse tipo de punição ocorre quando não há declaração de Imposto de Renda. Com as seis páginas da correspondência, Sidney enviou também um pequeno dossiê embasando suas afirmações.

A carta foi respondida no dia seguinte, 1º de março. A réplica não foi assinada por Antunes, mas pelo chefe dele, Antonio Carlos Bueno. Por que Bueno responde a denúncias feitas contra Antunes? Não está claro. O destinatário também não é Sidney. Em vez dele, aparecem os diretores do BC Sidnei Marques e Anthero Meirelles. Bueno deixa claro que anexou a denúncia de Sidney às três páginas que escreveu à dupla do BC. Por que os dois diretores? “Para deixá-los cientes das dificuldades que vínhamos encontrando, decorrentes da quebra do Morada, e de seus efeitos sobre o sistema financeiro”, diz Bueno, por meio de sua assessoria. No texto, Bueno espinafra Sidney, responde às denúncias, defende Antunes e afirma: “Não mais daremos continuidade junto àquele Banco ao trabalho idealizado”. Trata-se de uma ameaça? “O FGC nunca fez nem faria ameaças a ninguém”, afirma Bueno.
 
DOIS EM UM O presidente do conselho do FGC, Antonio Carlos Bueno (à esq.). Ele defendeu a empresa que pertencia ao ex-diretor Celso Antunes (à dir.) (Foto: José Patrício/Estadão Conteúdo)

O lance seguinte foi dado por Sidney. Em 6 de março do ano passado, ele enviou uma tréplica à Gerência de Liquidações do Rio de Janeiro. Os diretores do BC Sidnei Marques e Anthero Meirelles são mencionados mais uma vez no texto. Cinco dias depois de enviar esse documento, ele foi demitido. No ato de sua exoneração, assinado pelo diretor Sidnei Marques, consta que foi “dispensado, a pedido”. Questionado, Marques deu outra explicação: “O Departamento de Liquidações me comunicou várias razões para a substituição”, diz. Em e-mail a ÉPOCA, ele as enumera: “Retenção de recursos de terceiros, falta de providências para entrega das carteiras cedidas antes da liquidação, falta de formação do quadro de credores”. Já que não foi a pedido, a demissão de Sidney tem relação com as denúncias que ele fez? O BC afirma que não. E que providências os diretores Marques e Meirelles tomaram a respeito dos alertas? Nada. “Tendo sido comunicado pelo FGC de que aquela entidade não mais conduziria qualquer trabalho de gestão das carteiras de crédito, nada haveria (sic) de providência a ser tomada”, afirma Marques. “Não havia providências a ser tomadas pela Diretoria de Fiscalização”, disse Meirelles.

Outro funcionário aposentado do BC foi designado para a liquidação do Morada, no lugar de Sidney Ferreira. Para assumir o cargo, Osmar Brasil teve de deixar a liquidação de uma administradora de consórcio carioca, a Libra, onde teve uma experiência pouco usual. Os sócios da Libra apresentaram à Polícia Federal uma queixa-crime contra ele. Nela, Brasil é acusado de peculato, adulteração de documentos e formação de quadrilha. É comum que os liquidados se revoltem contra os liquidantes. Curiosa foi a reação de Brasil: ele também apresentou uma queixa-crime. Só que, na dele, os delitos são atribuídos a seus subordinados na Libra.

Na gestão de Brasil, Cesarini e Brandão finalmente assumiram os serviços de processamento de dados e cobrança do Morada. Não foram contratados diretamente pelo banco. Recorreram a uma triangulação. Seus serviços foram pagos pelos bancos que tinham negócios com a IMS Tecnologia e Serviços, sucessora da M7 Cobranças. De acordo com um funcionário recrutado para trabalhar na liquidação do Morada, a IMS recebeu R$ 25 milhões pelos serviços prestados. Cesarini não confirma o valor. A mesma IMS recebeu R$ 70 milhões pelos serviços prestados no Banco Cruzeiro do Sul. É um resultado espetacular, para uma empresa que, um ano e meio antes, tinha R$ 1.000 de capital. O BC informou que esse contrato já foi encerrado. Agora liquidante do Banco Rural, Brasil não atendeu os telefonemas para comentar o assunto nem respondeu aos e-mails com questões referentes ao Morada e ao Libra.

Integrantes da equipe que participou da liquidação do Morada relataram que as gestões do FGC para a contratação da M7 Cobranças e da Interbank foram acompanhadas por toda a cadeia de comando do Departamento de Liquidações do BC. Os nomes dos funcionários subalternos que não constam das correspondências foram preservados nesta reportagem. O mesmo benefício não se pôde dar aos diretores Sidnei Marques, Anthero Meirelles – ou ao presidente Alexandre Tombini. A carta enviada por Bueno a Marques e Meirelles, com a denúncia de Sidney anexada, exige explicações. O mesmo ocorre com as explicações dadas em carta por Sidney a seus chefes. Esses dois documentos provam que o BC mentiu ao afirmar, há um mês, que desconhecia irregularidades envolvendo a IMS. Por quê? Funcionários públicos como os do BC são obrigados a tomar providências quando informados de irregularidades. Nada fizeram. O BC diz que Tombini não sabia de nada e que não tinha razão funcional para fazê-lo. É crível que, numa diretoria de oito membros, dois tenham sido informados de irregularidades que poderiam constituir crime e, em vez de dar ciência ao chefe, tenham silenciado? Não há uma boa saída para a direção do Banco Central.
 
Calendário do escândalo (Foto: ÉPOCA)

O mundo ainda não fez tudo para evitar que se repita o drama do Lehman Brothers



 
 O aperto das regras do sistema avança muito devagar NICHOLAS ROBERTS/AFP

 José Manuel da Rocha
 

Faz amanhã cinco anos que o banco norte-americano abriu falência, mas as intenções de mudar as regras são limitadas.

O mundo mudou muito desde que, há cinco anos, o banco norte-americano Lehman Brothers foi condenado à insolvência. As ondas de choque que se seguiram geraram uma depressão de que muitas economias ainda não recuperaram totalmente (a dos Estados Unidos, inclusive). Mas será que a lição do Lehman serviu para criar um ambiente regulatório que evite situações semelhantes no futuro? Aí, os avanços são ainda muito marginais.

As recentes perdas em operações de alto risco declaradas pelo banco JP Morgan, no caso que ficou conhecido como "a baleia de Londres", mostram que, apesar das boas intenções de muitos responsáveis políticos, a força do sistema financeiro continua a bloquear a entrada em vigor de muitos instrumentos legislativos que foram prometidos para evitar que houvesse bancos "demasiado grandes para cair", com o consequente risco para a totalidade do sistema.

Como dizia, esta semana, o editor de Economia da BBC, Robert Peston, o que foi feito foi mais "uma higienização do sistema existente e não uma mudança estrutural".

No seguimento da falência do Lehman Brothers, faz amanhã cinco anos, os contribuintes norte-americanos foram chamados a contribuir com 700 mil milhões de dólares para evitar o colapso do sistema bancário. Seguiu-se um gesto idêntico no Reino Unido para acudir a instituições financeiras que também se julgava intocáveis. Até em Portugal, os casos BPN e BPP vieram revelar as fragilidades de supervisão que acabaram por reverter em perdas para o erário público.

Passados cinco anos, há alguns avanços na criação de condições para que o passado não se repita, mas numa escala que é, ainda, muito limitada. Nos Estados Unidos, onde rebentou a crise, o plano legislativo elaborado pelos congressistas Barney Frank e Cristopher Dodd ainda só foi passado a lei numa parte ínfima do conjunto de propostas apresentadas - precisamente as que têm consequências mais brandas para os bancos.
É certo que os bancos norte-americanos têm, agora, níveis de capital muito mais exigentes, que os deixa mais protegidos face a situações de risco, mas um dos pontos centrais do plano Dodd-Frank, de separação de águas entre a banca de retalho e a banca de investimento - para impedir que o dinheiro dos depositantes seja aplicado em operações de risco -, ainda não foi por diante.

Um outro dado positivo resulta do facto de muitas instituições se terem desfeito de activos que não constituíam o seu objecto central de negócio.

Este movimento acabou por gerar uma completa reviravolta no top 10da banca mundial, com a China a assumir um maior protagonismo. Antes da crise, o HSBC liderava a lista, com um nível de capital de cem mil milhões de dólares e nos "dez mais" havia apenas duas instituições chinesas. Hoje, há quatro bancos da China neste ranking e a liderança também pertence à maior potência, a Ásia.

O escândalo dos bónus milionários dos banqueiros e dos seus traders (corretores) foi atenuado nos primeiros anos após a crise, mas no início do ano o The Wall Street Journal fez contas e titulou que, a este nível, se regressou ao business as usual. Mais grave ainda, os prémios de desempenho continuam a ser calculados na banca de investimento, todos os trimestres, o que pressiona os responsáveis a apostarem em resultados de curto prazo, que envolve mais riscos.

Do lado europeu, a crise teve um lado positivo, ao obrigar os bancos a reforçarem os seus níveis de capital e ao procederem a uma limpeza dos livros com base em novas regras, mais prudentes, de condução dos negócios.

A Comissão Europeia também decidiu avançar com a designada união bancária, que visa generalizar mecanismos únicos para exercer a função regulatória e de supervisão do sector. Mas, também aqui, acertar posições tem sido uma tarefa difícil, porque há países, nomeadamente a Alemanha, que não querem ver os seus bancos perderem a protecção nacional.

Ainda neste campo, recentemente, levantaram-se novos obstáculos à criação da chamada "taxa Tobin", uma colecta sobre as transacções financeiras que serviria para o sistema pagar parte das ajudas públicas que os Estados canalizaram na sequência da crise económica e financeira que eclodiu em 2008.

Esta semana, o Nobel da Economia Paul Krugman lembrava que as sequelas da crise aberta pela falência do Lehman Brothers mostraram respostas distintas nos Estados Unidos e na Europa. Na maior potência económica do mundo, e mesmo que tenha sido insuficiente, o plano de estímulo económico de Barack Obama "deteve a aterragem forçada da economia em 2009". Já a experiência europeia de contra-estímulos - as duras reduções de gasto impostas às nações devedoras - "provocou uma grave contracção económica", lembra Krugman.

Capacitação de portuários brasileiros se dará através de acordo com a Bélgica



 
O Ministro dos Portos, Leônidas Cristino, assinou, na embaixada da Bélgica, o Acordo de Cooperação Técnica entre a Secretaria de Portos (SEP) e o Centro de Treinamento do Porto de Antuérpia (APEC) com o objetivo de capacitar os trabalhadores portuários brasileiros, incluindo funcionários de escritório e trabalhadores portuários avulsos, com o oferecimento de cursos nas áreas de gestão, infraestrutura e obras portuárias, além do uso e manuseio de equipamentos portuários. 

Em uma primeira fase, o treinamento será destinado aos funcionários portuários de escritório dos órgãos públicos envolvidos com a matéria (SEP, ANTAQ, Docas e demais órgãos intervenientes), além das empresas privadas arrendatárias dos terminais portuários brasileiros. Esse treinamento será feito por professores Belgas da APEC que virão ao Brasil para disseminar, de maneira mais ampla em todo o País, as melhores práticas do setor portuário mundial.   

O treinamento destinado aos funcionários de escritório será organizado por intermédio de seminários de curto prazo, com previsão de 05 dias úteis, com início previsto para as 9h até, aproximadamente, 17h. Os cursos serão conduzidos em inglês. 

A segunda fase do programa incluirá o treinamento de professores brasileiros, a serem escolhidos pela SEP, nas instalações do Centro de Capacitação do Porto da Antuérpia - APEC, naquela Cidade Belga. Tais professores, quando de seu retorno, treinarão os trabalhadores portuários avulsos, principalmente com o uso de simuladores para movimentação de contêineres (transteineres e porteineres).   

O Acordo a ser assinado terá grande importância para o setor, na medida em que possibilitará maior interface entre os setores público e privado e permitirá o cumprimento de um dos artigos da nova Lei dos Portos que determina o treinamento, qualificação e certificação profissional dos trabalhadores portuários.