sexta-feira, 4 de outubro de 2013

A disputa já começou


O embate entre empresas rivais nunca foi tão grande quanto nesta edição da Copa do Mundo — e a experiência mostra que nem sempre é óbvio definir de largada quem serão as vencedoras

Michael Regan/Getty Images
Jogo da Copa em julho
Jogo da Copa em julho: quatro empresas fecharam contrato com a seleção neste ano

São Paulo - Nove meses antes que as 32 seleções cheguem ao Brasil para a Copa do Mundo de 2014, a disputa já começou no campo dos patrocínios ligados ao evento. O número de concorrentes diretos entre patrocinadores da Fifa e da seleção local será recorde em comparação com outras edições recentes da competição.

Num universo de 20 patrocinadores da Fifa e 13 da Confederação Brasileira de Futebol, até agora há nove embates nos mesmos setores. Na Alemanha, em 2006, foram cinco. Na África do Sul, onde o futebol não está entre os esportes mais populares, foram apenas dois. Quatro desses duelos começaram neste ano. Um dos casos é o da Sadia, da fabricante de alimentos BRF, que fechou um contrato com a seleção em junho.

A marca entrou no lugar da concorrente Seara, que manteve o acordo com a Fifa. O acerto foi tão rápido que nos treinos para a Copa das Confederações, em julho, o time foi a campo com uma tarja branca na camisa para cobrir a marca Seara. “A corrida se justifica: nenhum evento esportivo reúne tanta atenção no Brasil”, diz Fernando Trevisan, diretor da consultoria Trevisan Gestão do Esporte.

Os patrocinadores da Fifa pagam cerca de sete vezes mais do que os da seleção. As edições anteriores mostram, porém, que nem sempre há uma relação automática entre o valor investido e o reconhecimento do público. Um exemplo clássico disso aconteceu na Copa do Mundo de 2010, em Johannesburgo.

Na ocasião, uma tática da fabricante de artigos esportivos Nike, patrocinadora das seleções do Brasil, da Holanda e de Portugal, fez com que a marca superasse a visibilidade da concorrente Adidas, patrocinadora da Fifa.

Sem direito a estampar a marca dentro das arenas, a companhia instalou um painel de 44 metros no quarto prédio mais alto da capital da África do Sul com imagens de jogadores como Cristiano Ronaldo e Neymar — que podia ser visto de boa parte do centro da cidade. De acordo com a empresa de pesquisa Nielsen, a Nike foi mencionada em 30% dos comentários nas redes sociais. A Adidas, em apenas 14%. 

Fazer valer cada centavo investido exige uma dose de engenhosidade para fugir do óbvio. A seguradora Liberty, patrocinadora da Fifa desde 2011, tentou encontrar novos caminhos para chamar a atenção neste ano. Em três jogos da Copa das Confederações, em julho, colocou 12 carros elétricos com seu logotipo estampado para levar 7 000 espectadores das redondezas até a entrada do estádio.

No ano que vem, pretende multiplicar a experiência em todas as cidades-sede da Copa. “Desde que fechamos o contrato, em 2011, triplicamos nosso reconhecimento da marca no país”, afirma Adriana Gomes, diretora de marketing da Liberty. O contra-ataque da concorrência veio em junho deste ano, quando a Unimed Seguros comprou a cota de patrocínio da seleção.

Camex recria grupo que definirá retaliação aos EUA em caso de algodão


Por Lucas Marchesini e Tarso Veloso | Valor
 

BRASÍLIA  -  A Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a recriação do grupo de trabalho que vai recalcular o valor e definir produtos para eventual retaliação do Brasil aos Estados Unidos, conforme antecipou o Valor. O motivo da iniciativa foi a suspensão, pelos americanos, do pagamento da compensação mensal aos produtores brasileiros de algodão. O grupo deve entregar os resultados até o dia 30 de novembro, conforme o ministro da Agricultura, Antônio Andrade.

A disputa começou devido à suspensão da compensação mensal que Washington se comprometeu a pagar aos produtores brasileiros de algodão, depois de perder disputa com o Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre os subsídios concedidos aos cotonicultores americanos.

A criação do grupo de trabalho é considerada pelo governo como uma forma de mostrar que o Brasil pode levar adiante a disputa e ganhar tempo enquanto a "Farm Bill" — uma nova legislação agrícola — é discutida nos Estados Unidos. O ministro da Agricultura confirmou que o Brasil vai aguardar um desfecho. “Nem mesmo se eles quisessem pagar teriam dinheiro para pagar", disse Andrade na saída da reunião da Camex.

Ao mesmo tempo, grandes empresas americanas estão alertando os membros do Congresso que a decisão do governo de Barack Obama pode levar à perda de exportações e de empregos pelo risco de retaliação brasileira.

Uma coalizão de grandes empresas americanas enviou carta a todos os membros do Congresso dos EUA alertando que uma retaliação por parte do Brasil no caso do algodão poderá custar mais de US$ 2 bilhões em exportações e perda de 14 mil empregos americanos.

O "Brazil Trade Action Coalition", conhecido pela sigla Braztac, inclui empresas que defendem uma solução definitiva para a disputa do algodão e não querem pagar o custo de retaliação por causa de subsídios aos cotonicultores. Entre elas, estão Boeing, Alcoa, Bank of America, Visa, Cargill, Caterpillar, Lilly, FedEx, IBM e Oracle.

Na carta, datada de 23 de setembro, quando os americanos já tinham reduzido em 60% a compensação acertada com o Brasil, a coalizão insiste que é hora de o Congresso aprovar uma nova lei agrícola, a "Farm Bill", que deveria incluir medidas específicas para atender às queixas do Brasil sobre subsídios.

A Braztac apoiou o acordo entre EUA e Brasil, pelo qual os americanos pagavam compensação anual de US$ 147 milhões aos cotonicultores brasileiros. A entidade estima que isso evitou US$ 2,5 bilhões em retaliações brasileiras contra produtos americanos e direitos de propriedade intelectual, durante os últimos três anos.

(Lucas Marchesini e Tarso Veloso | Valor)

FMI e Tesouro dos EUA alertam contra calote "catastrófico"


Por Sergio Lamucci | De Washington
 
Andrew Harrer/Bloomberg / Andrew Harrer/BloombergChristine Lagarde, diretora-gerente do FMI: a economia global está passando por uma transição "em escala épica"
 
 
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Tesouro americano alertaram ontem para os graves riscos que os EUA e o mundo terão de encarar se o Congresso não aumentar o teto da dívida americana. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que a interrupção parcial das atividades do governo "já é ruim o suficiente", mas que um fracasso em elevar o nível do endividamento "seria muito pior", podendo afetar seriamente não apenas a economia dos EUA, mas toda a economia global. Evitar esse desfecho, segundo ela, é uma missão urgente. Em estudo divulgado ontem, o Tesouro diz que um eventual calote dos EUA pode provocar uma crise financeira que "ecoaria" os eventos de 2008, quando o Lehman Brothers quebrou, ou até algo pior.

Num tom dramático, o documento do governo dos EUA lembra que o país nunca deu um calote em suas obrigações, e que o dólar e os títulos do Tesouro estão no centro do sistema financeiro internacional. "Um calote seria inédito e tem o potencial para ser catastrófico: os mercados de crédito poderiam ficar congelados, o valor do dólar poderia mergulhar, os juros poderiam disparar e impactos negativos poderiam reverberar pelo mundo", afirma o relatório, que coloca mais pressão sobre a oposição republicana na Câmara dos Deputados, cuja intransigência levou à suspensão parcial de alguns serviços públicos a partir da terça-feira, o chamado "shutdown".

O Tesouro americano diz que a mera discussão política que crie a perspectiva de um calote pode ser perturbadora para os mercados financeiros e as famílias e empresas americanas. Como exemplo, cita o impasse em torno da dívida ocorrido em 2011, "quando a confiança de consumidores e empresários caiu com força, os mercados financeiros tiveram momentos de estresse e o crescimento do emprego se desacelerou". Naquele momento, a dívida americana foi rebaixada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), o mercado de ações despencou, medidas de volatilidade deram um salto e spreads de risco de crédito tiveram grande aumento. "Esses efeitos nos mercados financeiros continuaram por meses", afirma o Tesouro, destacando que as dúvidas sobre se os EUA pagariam ou não as suas obrigações afetaram o crescimento da economia.

Uma questão adicional a ser considerada no atual cenário, segundo o Tesouro, é que algumas atividades do governo estão paradas. Se o "shutdown" se prolongar, a economia pode se enfraquecer, tornando a situação ainda mais adversa aos efeitos do impasse sobre o teto da dívida do que antes da suspensão de alguns serviços públicos, diz o relatório.

Em discurso na Universidade George Washington, Lagarde disse que os EUA são a economia avançada em que há sinais mais claros de recuperação. "Famílias estão em melhor forma, o setor imobiliário parece melhor e o motor do setor privado está ganhando força outra vez", afirmou Lagarde, notando, contudo, que o crescimento neste ano ainda vai ser "muito baixo", inferior a 2%, justamente devido ao ajuste fiscal exagerado. Para ela, "isso deve ser aliviado em 2014, quando o crescimento deve ser 1 ponto percentual maior." Na semana que vem, o FMI atualizará as suas estimativas para a economia global. Em julho, o FMI projetava expansão para os EUA de 1,7% neste ano e de 2,7% no ano que vem.

Lagarde disse que, na questão fiscal, os Estados Unidos precisam ao mesmo tempo "desacelerar e se apressar", o que significa menos ajuste fiscal hoje, para não afetar a recuperação, e mais amanhã, para enfrentar aumentos de despesas que ocorrerão no longo prazo. "No meio desse desafio fiscal, a atual incerteza política sobre o Orçamento e o teto da dívida não ajuda", afirmou Lagarde. Ela disse ver sinais de esperança nas economias avançadas, embora o panorama global continue contido. Além dos sinais de retomada nos EUA, a zona do euro deixou para trás seis trimestres seguidos de recessão e as políticas de estímulo à economia no Japão parecem estar funcionando, ressaltou. Segundo Lagarde, porém, a zona do euro e o Japão precisam persistir em reformas estruturais, para melhorar as perspectivas de crescimento.

Futuros de açúcar voltam a atrair grandes tradings

 
 
Por Leslie Josephs | The Wall Street Journal, de Nova York

Preocupações em torno da confiabilidade do fornecimento de açúcar no mercado global têm levado grandes tradings de commodities a se voltarem novamente para o mercado futuro da commodity.

Uma unidade da Louis Dreyfus Commodities BV sediada na Holanda recebeu cerca de 1,49 milhão de toneladas do produto na terça-feira, maior volume para entrega ligada a um contrato futuro de açúcar em pelo menos 24 anos, segundo a bolsa americana ICE Futures. A empresa não quis comentar a compra.

Foi a segunda grande entrega deste ano. Em maio, 1,43 milhão de toneladas de açúcar foram entregues na liquidação de contratos daquele mês para a americana Cargill e outras tradings.

Esses movimentos são incomuns porque, historicamente, a ICE Futures, em Nova York, é usada por produtores, consumidores e tradings de commodities basicamente como um instrumento de proteção contra oscilações de preços. Poucos contratos futuros são liquidados por intermédio da troca por commodities físicas.


Mas, neste ano, há traders que temem que problemas logísticos e o maior volume de cana usada para produzir etanol nas usinas do Brasil, o maior produtor de açúcar do mundo, prejudiquem o fornecimento da commodity.

A vantagem de receber o açúcar de uma bolsa de futuros recai nas regras estritas do processo de entrega, que é supervisionado pela própria bolsa, dizem analistas e operadores. A bolsa exige que o açúcar seja entregue em um prazo de dois meses e meio a partir do início do mês de contrato e que o açúcar fornecido tenha sido produzido nos últimos 12 meses. Além disso, estabelece multas para eventuais atrasos ou cancelamentos das entregas.

"Não há inadimplência" no mercado futuro, disse Michael McDougall, vice-presidente sênior da corretora Newedge.

Neste ano, os gargalos em portos no Brasil atrasaram o embarque de muitas commodities. Além disso, os baixos preços do açúcar, que beiram o nível mais baixo dos últimos três anos, levaram muitas usinas brasileiras a destinar mais cana para a produção de etanol. Assim, embora as usinas estejam processando mais cana do que no ano passado, o crescimento da produção de açúcar foi menor.

"Obviamente, se houver um problema com o Brasil nos próximos meses, [a Louis Dreyfus] terá em suas mãos uma grande quantidade de açúcar do país", disse James Liddiard, vice-presidente sênior da consultoria nova-iorquina Agrilion Commodity Advisers.

A unidade da Louis Dreyfus está recebendo 29.344 lotes no valor de cerca de US$ 574,5 milhões ao preço de terça-feira, de US$ 0,1748 a libra (454 gramas), segundo dados da bolsa. Mais de dois terços do açúcar entregue veio do Brasil, segundo a bolsa. Um dos fornecedores foi a Copersucar, de acordo com fontes a par do assunto.

As notícias sobre a entrega ajudaram a empurrar os futuros de açúcar para os maiores preços de fechamento desde 20 de março na terça-feira e ontem houve novos ganhos em Nova York. Os papéis para entrega em maio fecharam a 18,38 centavos de dólar.

A Organização Internacional do Açúcar informou que os estoques mundiais provavelmente superaram a demanda num volume recorde de 10 milhões de toneladas na safra que terminou segunda-feira. Esse excedente tende a cair expressivamente no novo ciclo.

'Retrato' do Brasil piorou, mas ainda é positivo

Dado Galdieri/Bloomberg

Por Flavia Lima e Tainara Machado | De São Paulo
 
O retrato do Brasil piorou. Em 2008, ano em que o país alcançou o almejado grau de investimento conferido em abril pela Standard & Poor's, o crescimento econômico do país alcançou expressivos 5,2%, ante projeções que não passam de 2,5% tanto para este quanto para o próximo ano.

Uma olhada em outros indicadores de 2008 - como a dívida bruta próxima do nível atual, de 59% do PIB, ou a taxa Selic de 13,75% ao ano àquela época - mostram que, mais do que o retrato, foram as expectativas com relação ao Brasil que se deterioraram consistentemente, o que levou outra agência de classificação de risco, dessa vez a Moody's, a revisar a perspectiva do rating soberano na quarta-feira à noite. Ontem a agência voltou à carga, revisando a perspectiva de bancos brasileiros e rebaixando a nota de crédito da Petrobras.



O Brasil também não vai bem na comparação internacional. Dados compilados no World Factbook da CIA, de 2012, mostram que o endividamento bruto é significativamente mais alto do que o de países com nota de crédito soberano menor que a brasileira, como Índia e Colômbia. A taxa de investimento do país, que alcançou 20,5% do PIB em 2010, caiu para 18,1% no ano passado, enquanto o México investiu 20,7% do seu PIB no ano passado, a Colômbia 23,9% e o Peru 26,6%.

O significado e a importância da decisão dividem analistas e economistas, que divergem, inclusive, sobre o futuro do país. "De fato, o país não é mais igual ao Brasil de anos atrás, que contava com expectativas de expansão do crédito, da renda e de forte crescimento", reconhece Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora. Ao mesmo tempo, diz ele, o "novo Brasil" ainda contaria com pontos a favor da manutenção do grau de investimento, como um grande volume de reservas e uma trajetória ainda declinante da dívida líquida sobre o PIB. "Tomamos um puxão de orelha, mas ainda estamos relativamente bem posicionados."

Do lado negativo, Gala avalia que um dos pontos mais importantes é perceber que a melhora das contas públicas nos últimos anos se deveu fundamentalmente à expansão do PIB e, sem esse gatilho, é possível que a fragilidade do país aumente. Ele também avalia que, olhando para trás, hoje está claro que a política de desonerações atrapalhou a arrecadação e a dinâmica da dívida pública e, mais importante, não estimulou de forma relevante os investimentos.

Diferentemente de 2008, quando o primeiro grau de investimento obtido pelo país pegou todo mundo de surpresa, a mudança feita pela Moody's já era esperada por analistas e investidores e não deve ter consequências diretas sobre a economia este ano, avalia o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira. No entanto, diz ele, o mercado deve ficar ainda mais cauteloso em relação aos fatores que levaram à decisão da agência, o que exigirá uma resposta do governo, principalmente na questão fiscal.

Para Oliveira, o governo precisa não só definir uma meta de superávit primário para 2014, mas também esclarecer como será atingida. "Existe grande incerteza em relação ao cumprimento da meta, e também em relação a qual número precisamos olhar", disse o economista, lembrando que, em 2012, o Tesouro fez uso de "contabilidade criativa" para chegar ao superávit de 3,1% do PIB.

A Moody's reconhece que em seu balanço dos riscos que afetam a nota de crédito do Brasil, as preocupações com o crescimento hoje ganharam relevância em relação aos indicadores fiscais. Embora a piora da relação entre dívida bruta e PIB seja destaque entre as razões da agência, o foco mudou levemente para o crescimento. "Sempre estivemos preocupados com os indicadores fiscais, porque são os que mais destoam dos outros países com o mesmo rating. Para ser honesto, no presente, as preocupações com o crescimento são tão importantes, se não mais, quanto as com a parte fiscal", diz Mauro Leos, vice-presidente-sênior para crédito da Moody's.

Segundo Leos, a expansão da economia brasileira deve se manter ao redor de 2,5% neste e no próximo ano, o que significaria um período total de quatro anos de crescimento relativamente baixo pelos padrões locais. Leos diz, no entanto, que embora o fato não tenha sido mencionado no relatório, a expectativa é que em 2015 a economia volte a se expandir em ritmo mais próximo do visto em anos anteriores, o que significaria taxa superior a 3%, estimulada pelo programa de concessões em infraestrutura do governo.

Para Leos, se o Brasil não crescer a taxas significativamente mais altas do que 3%, será difícil preservar a perspectiva estável, e mais difícil voltar à perspectiva positiva para a nota de crédito do país. Tudo, porém, vai depender do programa de concessões. "Se o programa não tiver tanto sucesso quanto o governo espera, há uma boa chance de a economia continuar registrando baixo crescimento, mesmo após 2015. "E se isso acontecer, poderá colocar pressões sobre o governo e sobre o rating do Brasil."

Carlos Kawall, economista-chefe do banco J.Safra, ressalta que o contexto de crescimento econômico mais baixo prejudica os indicadores de solvência, pois afeta as receitas do setor público. Além disso, independentemente de oscilações de um ano para o outro, a taxa de investimento muito baixa afeta o crescimento potencial da economia. Para o ex-secretário do Tesouro Nacional, o produto potencial, está atualmente entre 2,5% e 3%. "E com a taxa de investimento caindo, ele pode continuar a cair."

Mansueto Almeida, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirma que o Brasil corre o risco de ficar preso em um equilíbrio ruim, em que ainda é necessário realizar um superávit primário razoavelmente elevado, em torno de 2% do PIB, para manter a dívida estável, sem deixar muito espaço para aumentar o investimento público. Ele avalia que o Brasil, em relação a outros emergentes, tem pouco grau de liberdade para manobrar a política econômica. "Não há espaço para elevar o endividamento e nem a carga tributária no Brasil, o que ainda pode ser feito no México", afirma.

Segundo ele, com os sinais corretos, como maior empenho em realizar a agenda de investimentos em infraestrutura, o governo ainda pode reverter a mudança de percepção em relação ao Brasil. Os atuais indicadores, afirma, não justificam a perda de grau de investimento do país.

Na mesma linha, o economista e ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, Delfim Netto, acredita que não há nenhum risco de perda de controle. "O que as agências estão dizendo já faz algum tempo é que a dívida bruta no Brasil é muito alta quando comparada a de outros emergentes", diz. Para Delfim, o sistema previdenciário é um dos principais fatores de risco para as contas públicas no futuro.

Para Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a dívida bruta do governo apresentou efetivamente uma leve piora, mas que não seria suficiente para alterar a percepção do país. "Além do mais, para ser sincero, não levo essas agências a sério. Quem leva?", questiona.  

(Colaboraram Arícia Martins e Francine De Lorenzo)

Revista americana diz que Eike Batista virou motivo de piada no Brasil

Bloomberg diz que empresário protagoniza 'um dos maiores colapsos financeiros da história"

Por Redação

A revista americana "Bloomberg Businessweek"  traz na capa de sua nova edição uma ironia com o empresário Eike Batista e afirma que ele está sendo motivo de piada no Brasil.
Em matéria especial, a publicação destaca que o empresário já chegou a ser um dos mais ricos do mundo , mas agora protagoniza “um dos maiores colapsos pessoais e financeiros da história, talvez o maior, e pode estar se aproximando da falência".
 
A matéria ainda lembra que Eike tinha uma fortuna estimada em US$ 34,5 bilhões em abril de 2012 e era, naquela época, a perfeita tradução da expansão econômica do Brasil.
 
Com ironia, a revista diz que ele não pertence mais a lista de bilionários. "Dizem que o papa Francisco planeja voltar ao Brasil em breve, novamente para visitar os pobres - incluindo Batista", diz o texto.

Mercado de suplementos alimentares ganha corpo no Brasil


Com crescimento médio de 15% ao ano, setor pretende alcançar receita de R$ 700 milhões ainda em 2013

Por André JANKAVSKI

Capas de revistas, notícias na internet e programas de televisão bombardeiam a audiência com corpos esculturais e as diversas maneiras de conquistá-los, de formas milagrosas ou com disciplina. A importância que o brasileiro dá ao corpo reflete na quantidade de academias instaladas no País: mais de 22 mil, segundo a Associação Brasileira de Academias, número que dá a vice-liderança mundial ao Brasil, atrás apenas dos Estados Unidos. Essa preocupação do brasileiro com a aparência também ajuda outro mercado a disparar: o de suplementos alimentares, que quadruplicou em quatro anos. Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Suplementos (Brasnutri), dos R$ 150 milhões movimentados em 2008, saltou para R$ 600 milhões em 2012. A previsão é acrescentar mais R$ 100 milhões na conta ainda nesse ano. “O tema entrou na pauta dos consumidores comuns, principais responsáveis por esse crescimento”, diz Synésio Batista, presidente da Brasnutri.

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Brasil tem a segunda maior cadeia de academias no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos

A alcunha “comum”, nesse caso, se deve ao fato desse novo grupo se diferenciar do antigo (e praticamente único em tempos passados) público-alvo do setor: os atletas de alta performance, especialmente os de fisiculturismo. “Os fisiculturistas continuam sendo os nossos maiores clientes”, afirma Marcelo Noll, presidente da Probiótica, uma das principais empresas do setor. “Não dá para comparar a quantidade de consumo deles para outro que utiliza esporadicamente”, diz.

O que não significa falta de atenção aos novos compradores. A Probiótica, comprada em 2012 pela farmacêutica americana Valeant por R$ 150 milhões, aumentou a sua oferta de produtos para conquistar os não habituados aos tipos e sabores de suplementos. “Temos até panquecas, cupcakes e mousses de proteína para expandir a nossa área de atuação”, diz Noll.

A Integral Médica, a marca brasileira no segmento, sabe que mudar o hábito do consumidor pouco adaptado rende bons resultados. “Queremos que a pessoa troque aquele chocolate de todas as tardes pela barra de proteína”, diz Filipe Bragança, CEO da empresa que pretende crescer 40% apenas em 2013. Para alcançar tais números, a Integral virou a patrocinadora oficial do Ultimate Fighting Championship (UFC), principal organização de lutas do planeta, e planeja pegar parte desse mercado de lutadores, que também cresce com a popularização das artes marciais mistas (MMA).  “Apesar de consumirem menos quantidade que os fisiculturistas, a quantidade de lutadores é bem maior do que a de bodybuilders”, diz Bragança.

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Empresas de suplementos param de focar apenas em fisiculturistas e querem entrar na rotina de novos clientes

Algo que não vem dando certo no setor, no entanto, é a quantidade de denúncias sobre a adulteração de produtos. Frequentemente testes são estampados em noticiários evidenciando informações nutricionais não correspondentes com aa anunciadaa. “É algo que afeta o setor inteiro, não só a marca denunciada”, afirma Bragança, da Integral. “Precisamos ter um órgão fiscalizador mais firme para que o mercado continue crescendo”, completa Batista, da Brasnutri.

Para que o setor continue crescendo e, quem sabe um dia, consiga atingir o mesmo patamar dos Estados Unidos, onde praticamente metade da população é consumidora dos produtos, as empresas apostam na educação do consumidor. "A imagem de suplemento como anabolizante já ficou para trás”, afirma Bragança, da Integral Médica. “Temos que fazer produtos ainda mais explicativos e treinar melhor lojistas para apresentar os benefícios de forma mais contundente”, diz Noll, da Probiótica.