sexta-feira, 4 de outubro de 2013

FMI e Tesouro dos EUA alertam contra calote "catastrófico"


Por Sergio Lamucci | De Washington
 
Andrew Harrer/Bloomberg / Andrew Harrer/BloombergChristine Lagarde, diretora-gerente do FMI: a economia global está passando por uma transição "em escala épica"
 
 
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Tesouro americano alertaram ontem para os graves riscos que os EUA e o mundo terão de encarar se o Congresso não aumentar o teto da dívida americana. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que a interrupção parcial das atividades do governo "já é ruim o suficiente", mas que um fracasso em elevar o nível do endividamento "seria muito pior", podendo afetar seriamente não apenas a economia dos EUA, mas toda a economia global. Evitar esse desfecho, segundo ela, é uma missão urgente. Em estudo divulgado ontem, o Tesouro diz que um eventual calote dos EUA pode provocar uma crise financeira que "ecoaria" os eventos de 2008, quando o Lehman Brothers quebrou, ou até algo pior.

Num tom dramático, o documento do governo dos EUA lembra que o país nunca deu um calote em suas obrigações, e que o dólar e os títulos do Tesouro estão no centro do sistema financeiro internacional. "Um calote seria inédito e tem o potencial para ser catastrófico: os mercados de crédito poderiam ficar congelados, o valor do dólar poderia mergulhar, os juros poderiam disparar e impactos negativos poderiam reverberar pelo mundo", afirma o relatório, que coloca mais pressão sobre a oposição republicana na Câmara dos Deputados, cuja intransigência levou à suspensão parcial de alguns serviços públicos a partir da terça-feira, o chamado "shutdown".

O Tesouro americano diz que a mera discussão política que crie a perspectiva de um calote pode ser perturbadora para os mercados financeiros e as famílias e empresas americanas. Como exemplo, cita o impasse em torno da dívida ocorrido em 2011, "quando a confiança de consumidores e empresários caiu com força, os mercados financeiros tiveram momentos de estresse e o crescimento do emprego se desacelerou". Naquele momento, a dívida americana foi rebaixada pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P), o mercado de ações despencou, medidas de volatilidade deram um salto e spreads de risco de crédito tiveram grande aumento. "Esses efeitos nos mercados financeiros continuaram por meses", afirma o Tesouro, destacando que as dúvidas sobre se os EUA pagariam ou não as suas obrigações afetaram o crescimento da economia.

Uma questão adicional a ser considerada no atual cenário, segundo o Tesouro, é que algumas atividades do governo estão paradas. Se o "shutdown" se prolongar, a economia pode se enfraquecer, tornando a situação ainda mais adversa aos efeitos do impasse sobre o teto da dívida do que antes da suspensão de alguns serviços públicos, diz o relatório.

Em discurso na Universidade George Washington, Lagarde disse que os EUA são a economia avançada em que há sinais mais claros de recuperação. "Famílias estão em melhor forma, o setor imobiliário parece melhor e o motor do setor privado está ganhando força outra vez", afirmou Lagarde, notando, contudo, que o crescimento neste ano ainda vai ser "muito baixo", inferior a 2%, justamente devido ao ajuste fiscal exagerado. Para ela, "isso deve ser aliviado em 2014, quando o crescimento deve ser 1 ponto percentual maior." Na semana que vem, o FMI atualizará as suas estimativas para a economia global. Em julho, o FMI projetava expansão para os EUA de 1,7% neste ano e de 2,7% no ano que vem.

Lagarde disse que, na questão fiscal, os Estados Unidos precisam ao mesmo tempo "desacelerar e se apressar", o que significa menos ajuste fiscal hoje, para não afetar a recuperação, e mais amanhã, para enfrentar aumentos de despesas que ocorrerão no longo prazo. "No meio desse desafio fiscal, a atual incerteza política sobre o Orçamento e o teto da dívida não ajuda", afirmou Lagarde. Ela disse ver sinais de esperança nas economias avançadas, embora o panorama global continue contido. Além dos sinais de retomada nos EUA, a zona do euro deixou para trás seis trimestres seguidos de recessão e as políticas de estímulo à economia no Japão parecem estar funcionando, ressaltou. Segundo Lagarde, porém, a zona do euro e o Japão precisam persistir em reformas estruturais, para melhorar as perspectivas de crescimento.

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