Regras definidas no edital indicam que concessões de Galeão e de Confins vão render mais de R$ 6 bilhões em março de 2014
Luciana Collet, Wladimir D’Andrade e Antonio Pita - O Estado de S. Paulo
RIO - Com expectativa de forte concorrência e ágio
superior a 350%, o governo federal realiza nesta sexta-feira, 22, o
leilão para concessão dos aeroportos de Galeão, no Rio, e Confins, em
Belo Horizonte. Os lances mínimos estabelecidos pelo edital prometem ao
governo reforçar o caixa em mais de R$ 6 bilhões em março de 2014.
Os consórcios passaram a semana finalizando as estratégias para a
disputa, com a expectativa de muito interesse pelo Aeroporto
Internacional Tom Jobim (Galeão). A disputa acirrada levou o consórcio
formado por EcoRodovias, Fraport - operadora do terminal de Frankfurt,
na Alemanha - e Invepar, que já opera Guarulhos, a concentrar seus
investimentos no aeroporto carioca.
Outros três grupos farão propostas para Galeão e também para o
terminal mineiro. São eles Odebrecht e Changi, responsável pelo terminal
de Cingapura; CCR com as operadoras Flughafen Zurich AG, do aeroporto
de Zurique (Suíça) e Flughafen München GmbH, de Munique (Alemanha), e
Queiroz Galvão, em parceria com a Ferrovial, do terminal Heathrow, em
Londres.
Também participa do leilão o consórcio formado por Carioca
Engenharia, aliada à GP Investimentos e às operadoras ADP (Paris) e
Schipol (Amsterdã).
Joia da coroa. A expectativa de bons resultados no curto prazo fazem
do Galeão a "joia da coroa". Em 2012, o terminal gerou um Ebtida (sigla
em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e
amortização) de R$ 106 milhões, segundo o banco Credit Suisse. Foram
17,5 milhões de passageiros, 25% deles em voos internacionais, o que o
coloca como quarto maior terminal da América Latina e com potencial para
se tornar um ‘hub’, polo de distribuição dos passageiros em conexão
para destinos regionais.
"O ônus e o bônus do Galeão é maior", diz o advogado Álvaro Palma de
Jorge, consultor em infraestrutura e professor da FGV. Segundo ele, o
fluxo previsto para grandes eventos, além das obras exigidas pelo
edital, que vão requerer desapropriações de comunidades inteiras, serão
desafios aos operadores. "Quem ganhar lá tem que ter fôlego redobrado."
Confins, por sua vez, tem seu potencial de retorno questionado pelos
analistas de mercado, sobretudo em relação às exigências para obras de
ampliação.
A maior dúvida é sobre a projeção do governo, de crescimento médio
anual de 4,7% no número de passageiros. Há dois anos Confins enfrenta
queda no movimento.
O especialista em aeroportos Anderson Ribeiro Correia diz que o
interesse por Galeão pode ocultar uma oportunidade de longo prazo em
Confins. Pela posição geográfica, o aeroporto poderá ser usado para
desafogar voos do Rio, São Paulo e Brasília. "Quem apostar em Confins
pode ter um aeroporto com potencial de crescimento com um preço menor
que o Galeão."
Leilão. O leilão está marcado para as 10h na
BM&FBovespa, em São Paulo, e ocorrerá simultaneamente para os dois
terminais. Primeiro, serão abertas as propostas apresentadas na
segunda-feira. As três maiores propostas serão encaminhadas para as
ofertas em viva-voz, quando os consórcios disparam lances em sequência
na disputa decisiva pelos ativos. O leilão deve durar duas horas.
As empresas não poderão arrematar os dois aeroportos, mas um mesmo
grupo poderá participar de ambas disputas. A assinatura do contrato será
realizada em março de 2014.
Mesmo com a expectativa de concorrência forte, alguns analistas fazem
ressalva sobre o ágio esperado pelo governo. O sócio da Pezco
Microanalysis, Cleveland Teixeira, lembra que o momento econômico pode
levar a propostas menos agressivas. "Quem tinha um nível de interesse lá
atrás, agora vai exigir um retorno maior."