SÃO PAULO - (Atualizada às 12h27)
A economia mundial está na fase final de recuperação da crise econômica
iniciada em 2008, com a bolha financeira nos Estados Unidos. O
diagnóstico foi dado nesta sexta-feira pelo Ministro da Fazenda, Guido
Mantega, durante aula magna sobre economia brasileira a alunos da
Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo.
O ministro vê a economia mundial “no limiar de um novo ciclo de
expansão para os próximos anos”. O crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) global deste ano deverá ser maior do que o ano passado que, por
sua vez, foi maior do que 2012.
A crise, segundo Mantega, foi fruto do fim de um ciclo de alto
crescimento da economia mundial puxado pelos emergentes entre 2000 e
2007. “Houve uma expansão dos emergentes, de 2,5% ao ano, acima do
resultado das economias desenvolvidas. Foram os emergentes que puxaram o
ciclo até vir 2008 e derrubar todo mundo”, disse.
O início de um novo ciclo de expansão da economia global, contudo,
acontecerá de forma gradual. O prognóstico de Mantega é que o
crescimento ocorra de forma mais lenta, mas consistente, nos próximos
anos. “Existem problemas de graduação na recuperação, mas existe luz no
fim do túnel.”
Para o ministro, a crise de 2008 foi tão forte quanto a crise de
1929, mas durou menos tempo que aquela e foi menos “virulenta” porque
houve uma estratégia econômica diferente para combatê-la. “O Fed
dirigido por [Ben] Bernanke, que também era um professor, começou a
combater a crise com muita expansão monetária. Foi a maior intervenção
monetária que já assisti”, disse.
Segundo ele, a crise de 1929 foi combatida com uma abordagem mais
conservadora, quando o banco central americano elevou as taxas de juros e
o governo subiu impostos para sanear as contas públicas. Essa política,
disse Mantega, durou de 1929 a 1933, quando o PIB americano recuou 26% e
o desemprego dos EUA alcançou a taxa recorde de 25%. Essa situação,
segundo o ministro, durou até a chegada do presidente Franklin Roosevelt
ao poder, que colocou em prática o New Deal, que é uma política de
cunho keynesiano. “Roosevelt conseguiu atenuar um pouco a situação, mas a
economia dos EUA só iria ganhar vigor na Segunda Guerra Mundial, quando
o país se tornou o maior produtor mundial de bens de capital”, afirmou.
Já a crise de 2008, de acordo com Mantega, foi combatida com muita
expansão monetária, o que salvou uma série de bancos da falência. “O
Lehman [Brothers] quebrou, mas se não fosse a intervenção do Estado
colocando dinheiro, grandes bancos não resistiriam à crise. Na história
do capitalismo não houve intervenção monetária tão grande”, afirmou .
Além disso, lembrou o ministro, houve uma cooperação internacional para
combater os efeitos da crise, por meio do G-20.
Na avaliação do ministro, a crise de 2008 foi a em que o Brasil
se saiu melhor do que qualquer outra. Entre 2008 e 2013 – ano no qual,
na sua opinião, se encerrou o período de recuperação pós-crise – o
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 3,1% na média anual. “Não
foi mal. Isso, no período de crise, é bastante razoável. Mas claro que,
daqui para frente, precisamos expandir esse crescimento.”
Mantega notou que, para combater os impactos da crise sobre a
economia brasileira, o governo adotou políticas anticíclicas, com
expansão monetária, incentivo às concessões de crédito pelos bancos
públicos e estímulos ao consumo que, neste ano, já estão sendo
retirados. “Fizemos uma política monetária moderadamente expansionista,
comparando com o Fed”, afirmou.
Neste momento, disse, todos os países emergentes estão se adaptando
ao período pós-crise, que será marcado por uma menor liquidez mundial,
já que o Fed está reduzindo sua “ração” mensal de injeções na economia
americana. “Estamos atravessando um período de acomodação da economia
mundial à nova realidade de juros e câmbio, que vai estabelecer novos
padrões mundiais.”