quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ex-CEO do Citi no Brasil ajuda a fundar assessoria de fusões

Gotas de chuva sobre fachada do Citigroup

A finalidade da nova empresa é lucrar com a duplicação do fechamento de negócios na maior economia da América Latina

Cristiane Lucchesi e Francisco Marcelino, da
Kim Kyung-Hoon/REUTERS
Gotas de chuva sobre fachada do Citigroup
Citigroup: as fusões subiram para US$ 27,4 bilhões

São Paulo - Três ex-executivos do Citigroup Inc., incluindo Gustavo Marin, antigo CEO do banco no Brasil, iniciaram uma empresa de assessoria para fusões para lucrar com a duplicação do fechamento de negócios na maior economia da América Latina.

Marin fundou a MKP Assessoria e Gestão com André Kok, ex-chefe de banco de investimento e de banco corporativo do Citigroup no Brasil, e David Panico, que foi codiretor do negócio de banco de investimento da empresa com sede em Nova York no Brasil, disseram os três executivos em entrevista.

“Nosso capital é composto por nossas relações, pela confiança e pelo acesso que temos a grandes homens de negócios no Brasil”, disse Marin, 56, em entrevista concedida em seu escritório particular, no Itaim, São Paulo, onde a empresa irá operar até abrir sua própria sede.

A MKP se une a empresas americanas butique como Moelis Co. e Greenhill Co. ao abrir escritório no Brasil em meio a um aumento de 120 por cento nas fusões e aquisições neste ano.

As fusões subiram para US$ 27,4 bilhões, contra US$ 12,5 bilhões no mesmo período do ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. Os negócios cresceram 13 por cento, para US$ 75,4 bilhões em 2013.

A ideia é atender empresas que procuram serviços de assessoria para fusões de nível sênior, disse Kok, 48.
“Pode ser um valor de US$ 1 bilhão ou US$ 300 milhões, mas o mercado brasileiro de fusões e aquisições é sempre relevante e suficientemente profundo e há lugar para todo mundo”, disse ele.

A MKP começou a operar em fevereiro e está trabalhando em três negociações, segundo Kok.
Panico, 40, disse que a estratégia da empresa será continuar “pequena e focada”. A empresa está “disposta a ter um pequeno número de projetos e clientes que podem se beneficiar com nossa atenção total”, disse ele.


Negócio internacional


A MKP está trabalhando com um cliente estrangeiro, segundo Marin. 

“Se você é estrangeiro e quer ter acesso ao CEO ou aos donos de uma grande companhia brasileira você precisa trabalhar com alguém com esse tipo de acesso”, disse Marin, que foi substituído no Citigroup por Hélio Magalhães, em junho de 2012, após 32 anos no banco.

Marin, que agora tem cidadania brasileira, começou sua carreira como estagiário na subsidiária do Citigroup no Uruguai, onde ele nasceu. Foi também CEO do Citigroup no Peru e no Paraguai e chefe da América Latina.

Trabalhou no conselho de diretores da Febraban, a Federação Brasileira de Bancos, e fez parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, um conselho de assessoria para políticas, na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Kok conheceu Marin no Citigroup quando começou sua carreira, em 1998. Ele depois trabalhou no UBS AG e foi chefe de banco de investimento do Banco Itaú BBA SA. Marin o contratou de volta para o Citigroup em março de 2011.

Três meses depois, Kok contratou Panico, que na época estava na Merrill Lynch Co., do Bank of America Corp.


Negócios acionários


Os três executivos participaram de 70 ofertas acionárias ao longo de suas carreiras e levantaram cerca de US$ 100 bilhões, disse Panico.

Kok e Panico assessoraram a fabricante de cimento Camargo Corrêa SA na aquisição, por US$ 5,43 bilhões, de ações da Cimpor-Cimentos de Portugal SGPS em 2012. 

A transação deu à Camargo Corrêa, que tem sede em São Paulo, mais de 90 por cento da empresa portuguesa. Eles também trabalharam com a BR Properties SA em sua negociação para adquirir a One Properties em 2012.

A Moelis, fundada pelo ex-executivo do UBS AG Kenneth Moelis, disse em março que estava abrindo um escritório no Brasil, enquanto a Greenhill Co., a assessoria para aquisições com sede em Nova York fundada por Robert F. Greenhill, abriu sua primeira filial sul-americana em São Paulo, em outubro.

A Moelis nomeou Otávio Guazzelli e Jório Salgado-Gama como diretores de banco de investimento para o país. Guazzelli anteriormente dirigiu bancos de investimento do BR Partners e do Citigroup no Brasil. Salgado-Gama foi chefe de fusões e aquisições do BR Partners e também trabalhou no Citigroup.

Daniel Wainstein, ex-sócio e presidente da unidade de banco de investimento do Goldman Sachs Group Inc. no Brasil, se tornou chefe da Greenhill no país em outubro.

Lenovo está interessada em novas aquisições, diz diretor

Computador da Lenovo

A companhia está perto de concluir duas grandes aquisições nos EUA, cujo valor combinado chega a US$ 5,21 bilhões

Getty Images 

Computador da Lenovo
Lenovo: empresa levantou recentemente US$ 1,5 bilhão a partir de uma oferta de títulos
Hong Kong - A fabricante de computadores chinesa Lenovo está aberta a novos negócios e pode financiar outra aquisição bilionária, disse o diretor financeiro da empresa, Wong Wai Ming.

A companhia está perto de concluir duas grandes aquisições nos EUA, cujo valor combinado chega a US$ 5,21 bilhões.

"Se for um negócio de US$ 10 bilhões, está fora do nosso alcance, mas se for um negócio de US$ 1 bilhão, financeiramente podemos fazê-lo", disse Wong Wai Ming nesta quinta-feira. 

"Mantemos nossos olhos abertos, porque Fusões & Aquisições é como um relacionamento. Se a oportunidade correta aparece e você não demonstra interesse, ele ou ela se aproximarão de outra pessoa."

A Lenovo espera concluir a aquisição da operação de celulares do Google, Motorola Mobility, e do negócio de servidores de computador de pequeno porte da International Business Machine. 

Ambos os negócios aguardam a aprovação de autoridades regulatórias dos EUA. A Lenovo prevê que ambos sejam aprovados até o fim do ano.

Em 31 de março, a Lenovo tinha cerca de US$ 3,5 bilhões em reservas de caixa líquidas e US$ 455 milhões em empréstimos bancários. 

A Lenovo também levantou recentemente US$ 1,5 bilhão a partir de uma oferta de títulos.
A emissão de bônus "foi tão bem que, se quiséssemos, poderíamos levantar alguns milhões a mais, ou até mais do que isso", disse ele. 

Wong se recusou a dizer que tipos de empresas a Lenovo pode avaliar em seguida para possíveis aquisições.

Segundo ele, tanto o Google como a IBM queriam vender seus ativos, e a Lenovo não foi o única a falar com eles.

"Você não pode ir ao Google e dizer: 'me dê seis meses'. Se a Lenovo não comprasse a Motorola Mobility, alguém teria comprado, e então a Lenovo teria que lidar com mais um grande concorrente no mercado global de smartphones", disse Wong. 

Fonte: Dow Jones Newswires.

Gisele Bündchen não é modelo para Beleza Natural do Brasil

A marca de cosméticos enfoca as mulheres com cabelos cacheados ou crespos, que correspondem à maioria da população feminina do Brasil

Christiana Sciaudone, da
Divulgação 

Gisele Bündchen em comercial da P%26G
Gisele: o padrão de beleza brasileiro é influenciado pela supermodelo

São Paulo - Uma das mulheres limpava casas. A outra fazia hambúrgueres. Elas se juntaram para fundar uma empresa de cuidados para o cabelo que depois foi financiada por um dos maiores fundos de private-equity da América Latina e agora é uma das redes de salões de beleza mais presentes do Rio de Janeiro.

Heloísa “Zica” Assis e Leila Velez fundaram a Beleza Natural há duas décadas com R$ 10.000 raspados em conjunto de economias e da venda de um Fusca. Hoje a rede de salões caminha para chegar a R$ 1 bilhão (US$ 451 milhões) em vendas até 2018, de acordo com a empresa.

Num país onde o padrão de beleza é influenciado pela supermodelo loira de cabelos ondulados Gisele Bündchen, a Beleza Natural enfoca as mulheres com cabelos cacheados ou crespos, que correspondem à maioria da população feminina do Brasil.

“Era um nicho de mercado que tinha sido esquecido”, disse Assis em entrevista telefônica do Rio de Janeiro, no dia 13 de maio.

Beleza Natural, a empresa de capital fechado cujo nome corporativo é Cor Brasil SA, está aproveitando um aumento na demanda entre a crescente classe média do país, o terceiro maior mercado do mundo para produtos de higiene e cuidados pessoais.

Muitas mulheres brasileiras usam tratamentos como o alisamento com base em formaldeído, que foi proibido no Canadá em 2010 e na Itália em 2013 devido a seus químicos tóxicos, para alisar seus cachos.

Beleza Natural, com seu foco sobre os cabelos cacheados ou crespos, está estimulando as mulheres a exibirem sua aparência natural.


Mais filiais


A GP Investments Ltd., fundada pelo bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann, comprou um terço da Beleza Natural por R$ 70 milhões no ano passado. Lemann vendeu sua participação na GP Investments em 2004.

Com o financiamento, a Beleza Natural, com sede no Rio de Janeiro, busca multiplicar por seis a quantidade de filiais, para 120, em quatro anos, disse Assis. A receita vai aumentar em relação aos R$ 148 milhões em 2013, de acordo com um documento regulatório.

A GP, com sede em Hamilton, Bermuda, adquiriu uma participação como uma “oportunidade de entrar em uma companhia com vantagens competitivas claras e de se beneficiar de um mercado extremamente favorável”, conforme um documento regulatório de quando comprou a participação em julho.


Classe média


Beleza Natural exemplifica a crescente classe média do Brasil, disse Renato Meirelles, presidente da empresa de pesquisa Data Popular.

Com mais mulheres trabalhando, e como quatro de cada cinco trabalhos para mulheres exigem contato com o público, há uma preocupação maior com a própria aparência.

“Com o aumento de renda, algo uma vez visto como supérfluo virou uma necessidade, e é um caminho sem retorno porque as mulheres não querem parar de trabalhar”, disse Meirelles.

Nos últimos 11 a 12 anos cerca de 42 milhões de pessoas passaram a fazer parte da classe média no Brasil.
“O meu cabelo de blackpower foi um sucesso, eu ganhava concorrências de cabelo”, disse Assis. “Mas para entrar na casa das pessoas para trabalhar, eu tinha que fazer tudo o que podia para baixar o volume do meu cabelo e não estava acontecendo”.

Os negros no Brasil representam mais da metade da população, embora sejam quase invisíveis na sociedade, das propagandas às novelas e ao governo, disse Luiza Bairros, ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, em entrevista por telefone.

“É preciso que nós possamos romper essa barreira para que as pessoas percebam que o Brasil é uma sociedade diversa e que, mais do que isso, hoje o Brasil é uma sociedade de maioria negra”, disse Bairros.

“Nós somos 51 por cento da população e não é possível mais se comportar como se nós não existíssemos”.
Assis e Velez veem o fortalecimento das mulheres como parte do trabalho que realizam.      
         
“Eu não vendo um produto, a gente vende alta autoestima pura”, disse Assis, que quer um dia levar o conceito da Beleza Natural ao resto do mundo. “A gente sabe que os EUA são também um grande negócio para nós. A gente sonha em estar lá, a gente quer estar lá”.


Wikimedia Commons

São Paulo - As mulheres mudaram, mas muitas vezes as marcas parecem não saber. Não é preciso ir longe, em busca de campanhas antigas e empoeiradas: nos últimos anos  (ou até meses) muitos anunciantes entraram na mira dos consumidores por apresentar uma visão restrita ou depreciativa da mulher.

Confira nas imagens exemplos de anúncios que tropeçaram nos assuntos de gênero (e despertaram a ira do público), e outros que conseguiram acrescentar originalidade ao tema.

Aposta de estrangeiro em ações é a maior para ano eleitoral


Até agora, o saldo desse tipo de investidor na Bovespa está positivo em quase 10 bilhões de reais

Priscila Jordão, da
Marcos Issa/Bloomberg
Operador da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa
Bovespa: dados mostram que houve ingresso líquido de capital externo no mercado acionário doméstico de R$ 9,7 bilhões neste ano

São Paulo - Os estrangeiros estão demonstrando em 2014 apetite inédito pela bolsa brasileira para anos de eleição presidencial no país. Até agora, o saldo desse tipo de investidor na Bovespa está positivo em quase 10 bilhões de reais.

Os dados mais recentes da BM&FBovespa mostram que houve ingresso líquido de capital externo no mercado acionário doméstico de 9,7 bilhões de reais neste ano até 20 de maio.
Em 2010, ano da última eleição presidencial, o estoque era negativo em 2,8 bilhões de reais nos cinco primeiros meses do ano.
Em 2006 e 2002, houve ingresso de recursos, mas em montante bem mais tímido, de 1,7 bilhão e de 622 milhões de reais, respectivamente, até maio dos respectivos anos.
Nas eleições diretas anteriores (1989, 1994 e 1998), o mercado acionário brasileiro era bem menos desenvolvido, com reduzido volume de negócios.
O aporte líquido de estrangeiros na Bovespa também já se aproxima do visto em todo o ano passado, quando os ingressos foram de 11,7 bilhões de reais, e tem surpreendido até mesmo especialistas.
Uma das justificativas atribuídas ao movimento são expectativas sobre mudanças na condução da política econômica, em um momento de ceticismo de agentes do mercado com o governo Dilma Rousseff e enquanto a presidente perdia terreno nas pesquisas sobre a corrida eleitoral.

Mas a entrada de capital é resultado, principalmente, da reavaliação dos ativos brasileiros, o que indica que os recursos podem permanecer no Brasil por algum tempo, independentemente do rumo das pesquisas eleitorais.

"Tivemos uma realocação de capital no mercado mundial gerada pela necessidade de buscar rendimento. E a crise da Rússia fez países emergentes descontados até o momento ficarem mais atrativos", disse à Reuters o chefe da mesa de ações da corretora do banco suíço Credit Suisse no Brasil, Mauro Oliveira. "Todo mundo subestimou essa necessidade de realocação".

De fato, a grande incursão dos estrangeiros ocorreu a partir de 14 de março, quando o Ibovespa atingiu seu menor nível de fechamento em quase cinco anos. 

Naquela data, o saldo de capital externo em ações brasileiras estava positivo em pouco mais de 500 milhões de reais. Desde então, na esteira do fluxo de dinheiro para cá, o Ibovespa subiu 16,1 por cento até o fechamento do pregão de 21 de maio.

Foi também em março que militantes pró-Rússia invadiram a península da Crimeia, na Ucrânia, aumentando as tensões e a instabilidade política na região após o ex-presidente foragido Viktor Yanukovich ter sido acusado de "assassinato em massa" no fim de fevereiro.

Segundo Oliveira, em meados de março a relação de preço da ação sobre lucro da bolsa brasileira (P/L), usada como medida de retorno de investimentos, era de 8,5 vezes, contra média de 10,2 vezes nos últimos cinco anos. 

A defasagem provocou fluxo para o Brasil, assim como a percepção positiva sobre ações com bons fundamentos que eram consideradas baratas, como de bancos e do setor de serviços.

Com a relação P/L agora em cerca de 10 vezes, a defasagem já foi corrigida, e é provável que pesquisas eleitorais deixem de ter influência tão grande sobre a bolsa, avalia Oliveira.

De todo modo, o capital externo deve continuar por algum tempo aqui, principalmente depois dos balanços corporativos do primeiro trimestre. 

"Os resultados do primeiro trimestre não foram uma maravilha, mas o Brasil sofreu menos revisões do que outros países como México, Colômbia e Chile", resumiu.

Em relatório recente assinado pelos analistas Andre Carvalho e Marina Valle, o HSBC disse esperar que o momento positivo do mercado de ações brasileiro se prolongue um pouco mais.

Entretanto, eles mostraram cautela diante da possível piora dos resultados de empresas após as eleições, já que eventuais ajustes na política econômica podem fragilizar ainda mais a atividade doméstica, o que neutralizaria parte da alta da bolsa.

O Citi, por sua vez, tem preço-alvo para o Ibovespa no fim de 2014 de 55 mil pontos, pouco acima do nível atual. 

"Por enquanto, qualquer expectativa de um novo rali é muito menos sustentável do que a recuperação que levou o mercado de 45 mil a 54 mil pontos", escreveram em relatório os analistas Stephen H.

Vitória do Brasil na Copa representa risco para ações


Derrota seria um golpe para reeleição de Dilma, o que reforçaria as possibilidades de um novo governo mais amigável com os investidores

Julia Leite, da
Getty Images
Jogadores da seleção brasileira
Jogadores da seleção brasileira: torcida dos investidores não é pelo hexa, mas sim pela derrota do time brasileiro
Nova York - O gerente de hedge-fund Luiz Carvalho não consegue se convencer a torcer contra o Brasil, seu país natal, na próxima Copa do Mundo.

No entanto, isso seria extremamente tentador.

Uma derrota da seleção pentacampeã de futebol no campeonato seria um golpe para a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, disse Carvalho, o que reforçaria as possibilidades de um novo governo que fosse mais amigável com os investidores depois do pior desempenho econômico de todas as administrações desde 1992.

Quando as pesquisas começaram a mostrar que Dilma está perdendo popularidade antes das eleições de outubro, as ações brasileiras registraram os melhores retornos do mundo em termos de dólares desde meados de março, rebotando do fundo de um mercado baixista.

“Se tivermos um desempenho ruim na Copa do mundo, haverá maiores chances de ter um novo presidente”, disse Carvalho, sócio-gerente da Tree Capital LLC, como sede em Nova York, em entrevista ontem.
“Tudo o que é ruim para a Dilma é bom para o mercado”.

O fato de Carvalho, um torcedor que se lembra de como se sentiu quando tinha 8 anos e o Brasil venceu a Copa de 1970, estar disposto a considerar os benefícios de uma derrota no campeonato mostra o desespero dos investidores por uma nova liderança.

O apoio a Dilma está caindo depois de 44 meses de uma inflação acima da meta, além dos protestos realizados no ano passado por brasileiros contrariados pelo fato de o governo estar gastando US$ 11 bilhões para sediar o campeonato de futebol em um país onde 7,2 milhões de pessoas ainda vivem com US$ 1,25 ou menos por dia.


Empresas estatais


A queda de Dilma nas pesquisas alimentou ganhos de até 40 por cento em empresas estatais como a Centrais Elétricas Brasileiras, com base na perspectiva de que uma nova administração seja menos intervencionista, de acordo com Luis Gustavo Pereira, 26, estrategista da corretora Guide Investimentos.

“A Copa do Mundo e as eleições são dois eventos que estão movimentando o mercado”, disse ele por telefone de São Paulo. 

“Se o Brasil perder, isso pode provocar um impacto positivo nas ações. Mas torcer contra a seleção é pedir demais”.

A assessoria de imprensa presidencial não respondeu imediatamente a um pedido por comentários enviado por e-mail. Neste ano Dilma disse que cumprirá a promessa que fez em sua campanha de 2010 de erradicar a pobreza extrema. 

Cerca de 22 milhões de pessoas saíram dessas condições durante seus três anos no cargo, de acordo com números do governo.

‘Tragédia nacional’

“Quando o Brasil perdeu aquele jogo para o Uruguai, foi uma espécie de tragédia nacional”, disse Jeffrey Lesser, historiador especializado no Brasil da Universidade Emory, em Atlanta, por telefone.

“Até pessoas de vinte e poucos anos comentam aquela derrota de 1950 como se tivessem estado lá. É muito presente”.

Se a história recente servir de guia, mesmo que o Brasil perca a tristeza pode não provocar um impacto duradouro. 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato da oposição que ganhou a eleição de 2002 depois que o Brasil venceu a Alemanha e conquistou o pentacampeonato, foi reeleito em 2006 depois de uma derrota para a França. 

Dilma, sua sucessora, venceu em 2010 mesmo depois de a seleção ter sido eliminada pela Holanda na Copa da África do Sul.

“Se o Brasil ganhar, acho que ninguém vai esquecer que existem problemas”, disse Lesser.
“Uma derrota talvez ofereça um discurso político muito apropriado para que os manifestantes digam ‘além de ter gastado todo esse dinheiro e de não termos saúde, educação ou transporte, nós perdemos’”.


Protestos no Brasil


Uma greve policial no nordeste do Brasil e os protestos que ocorreram no Rio de Janeiro e em São Paulo no dia 15 de maio marcaram o início de manifestações em todo o país planejadas antes do campeonato. 

Os motoristas de ônibus entraram em greve em São Paulo no dia 20 de maio e os trabalhadores da rede ferroviária da cidade disseram que podem entrar em greve na próxima semana, caso as negociações sobre o pagamento não avancem.

Os protestos do ano passado durante a Copa das Confederações levaram a popularidade de Dilma à maior baixa de todos os tempos. 

A última pesquisa nacional, uma sondagem da Datafolha publicada no dia 9 de maio, mostrou que 37 por cento dos brasileiros votariam nela, frente a 44 por cento em fevereiro. 

Foi a primeira contagem a sugerir que ela não venceria no primeiro turno, o que requer que seu apoio seja maior do que o de todos os outros oponentes juntos.

“Um cenário sem Dilma é muito melhor para o mercado”, disse Carvalho da Tree Capital. “Mas é impossível torcer contra a seleção”.

COMPETINDO POR COMPETÊNCIAS

Brasil acompanha a tendência mundial de atração de mão de obra qualificada e importa mais profissionais.

A rede social LinkedIn avaliou a mobilidade dos trabalhadores em 20 países, de novembro de 2012 a novembro de 2013, e concluiu que o Brasil importou mais trabalhadores do que exportou, o que revela uma expansão de 0,2% na força de trabalho. De um lado, as consultorias de Recursos Humanos atribuem os dados à falta de mão de obra qualificada. Do outro, pesquisadores são menos categóricos e destacam que o movimento é uma tendência mundial.

“A mão-de-obra técnica falta muito, desde engenharia até Tecnologia da Informação e, principalmente, Ph.D. Quanto mais alta a qualificação, menor é a oferta de profissionais capacitados”, relata Naira Ferreira, responsável pelo setor de recrutamento e seleção da Clave. “Muitas vezes só trazendo de fora mesmo, porque o país não atende a esta demanda. Fizemos recentemente uma procura por um especialista químico, Ph.D., para um laboratório de bens de consumo e, em nível Brasil, foram só cinco candidatos. Acaba tendo que trazer de fora, e como muitas vezes a empresa é transnacional, acaba preferindo mesmo importar profissionais”, explica.

Naira também aponta a necessidade de conhecer outros idiomas como uma barreira. “Às vezes até tem o técnico, mas falta o idioma. Outra posição que estávamos fazendo uma seleção era de engenheiro técnico de vendas, que precisava falar japonês, ou seja, foi mais fácil importar. Quando precisamos do técnico com idioma fica mais complicado ainda, então temos a necessidade de trazer de fora”, finaliza.

De acordo com dados do Ministério do Trabalho e Emprego, 20.108 especialistas, assistentes técnicos e atuantes na transferência de tecnologia começaram a trabalhar no país em 2013. Foi o maior grupo de estrangeiros que recebeu um visto de trabalho no último ano, atingindo 32% do total. Por sua vez, 59% de todos os imigrantes possuem nível superior e 40% têm nível médio ou técnico. A maior parte têm origem nos Estados Unidos, Filipinas, Reino Unido, Índia, Alemanha e Portugal. Os dados são claros ao demonstrar que o Brasil vem importando mão-de-obra qualificada em grande escala.

Patricia Villen, pesquisadora do Doutorado de Sociologia do Trabalho da Unicamp, por outro lado, defende não ser tão simples afirmar que falta mão de obra qualificada no Brasil. “Há um discurso muito atuante por parte das empresas privadas e unidades de recrutamento que dizem haver uma falta de profissionais com perfil qualificado. Essa não é uma posição unânime, inclusive já existem estudos publicados que defendem que não há falta de engenheiros, por exemplo. Esse é um assunto muito polêmico”, pondera.

“O fluxo é heterogêneo, desde imigrantes em empresas com transferência de tecnologia ou associações de petróleo. Os números mais altos são desses fluxos, mas também há imigração de médicos e de outros engenheiros. Há uma diversidade: petróleo, gás, energia, tecnologias da informação, construção civil, infraestrutura… É um fluxo também muito ligado à internacionalização da malha produtiva, ao fluxo de capitais e a investimentos estrangeiros”, aponta Patricia.

Ela lembra, ainda, que o sistema de imigração é mundial. “É utilizado no mundo todo e ganhou espaço no Brasil principalmente após a crise de 2008. Há funcionalidades produtivas pela imigração e os imigrantes muitas vezes são temporários, o que diminui os custos, como de aposentadoria”, explica.

Por fim, a pesquisadora também destaca que a demanda não é só por profissionais qualificados. “Existe a demanda pelo perfil qualificado, que corresponde aos dados institucionais, e a demanda por um perfil mais precarizado que não ganha visibilidade. Essa última demanda começou a ganhar mais espaço nos últimos anos com a entrada dos haitianos”, conclui.


Ana Luiza Albuquerque
(JB – 21/05/2014)

Vivemos um autoengano coletivo no caso da Copa


A Copa não tem o poder de transformar o Brasil. No dia 12 de junho, continuaremos a ser o mesmo país. E é aí que está o mal: em algum momento acreditamos poder fingir ser o que não somos

Alexandre Battibugli/ Exame
Maracanã antes da reforma, em 2009
Preço alto: pior que pagar o custo exorbitante de estádios é a sensação de sermos uma sociedade incapaz de fiscalizar

São Paulo - Um mês — um único mês — de alegria não poderia nos custar tão caro. Não estou falando apenas da montanha de dinheiro investido em 12 estádios de futebol que certamente não prestarão um grande serviço à sociedade após o apito final do Mundial de futebol do Brasil.

Na paisagem de Brasília, o Mané Garrincha surge quase como um deboche, com sua cobertura de tecido importado de 174 milhões de reais. Não estou falando apenas das parcas obras de infraestrutura e mobilidade urbana, feitas às pressas, à base de jeitinhos e de aditivos ­contratuais. Tudo isso é inconcebível. Mas também é fato. Nada disso seria um mal necessário — mas permitimos que fosse.

O preço maior, até agora, é o desalento, o mal-estar geral, a sensação de que somos, comprovadamente, uma sociedade mixuruca, de segunda categoria, que não consegue planejar, que não consegue realizar, que é incapaz de fiscalizar, que é impotente para impedir — não a realização da Copa, mas os descalabros expostos via satélite em ocasiões como essa.

Estamos com medo de passar vergonha diante do mundo. Estamos angustiados com o que vão dizer lá fora sobre nossos aeroportos, rodovias, hospitais.

 O que acontecerá se um bueiro explodir no Rio de Janeiro? E se ocorrerem arrastões no Recife? O que vão falar dos brasileiros se um turista for assaltado e morto? E se fotos com meninas prostitutas em Fortaleza estamparem os jornais estrangeiros? O que americanos, ingleses e espanhóis vão pensar da paisagem de Itaquera, um dos bairros mais pobres de São Paulo, palco da abertura do Mundial?

A Copa não tem o poder de transformar o Brasil. No dia 12 de junho, continuaremos a ser o mesmíssimo país. E é aí que está todo o mal: em algum momento, acreditamos que pudéssemos fingir ser algo que não somos. Nações são como famílias. Não queremos que nossa raiva, amargura, desavença e miséria sejam expostas.

É sempre mais confortável jogar tudo para debaixo do tapete das intimidades. Talvez isso pudesse ser feito se o mundo não tivesse mudado desde 1950 e se tudo se resumisse à paixão nacional, ao futebol. Não é, evidentemente, o caso.

Ao optar por sediar a Copa de 2014, aceitamos correr o risco de escancarar o que temos de melhor e de pior — e é a evidência de nossas incapacidades que nos dá raiva e nos faz desejar, no fim das contas, que nada disso estivesse acontecendo.

A exposição deste Brasil que não queremos ver é o que dá um inesperado gosto amargo a um evento que deveria ser nossa grande festa. Bom seria se tudo não passasse, como afirmou dias atrás o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de pura intriga de “setores que parecem desejar o fracasso da Copa”.

E que querer ir de metrô ao estádio fosse uma “babaquice” da classe média mimada. Infelizmente, pelo menos para Lula, o brasileiro não parece feliz com as opções de mobilidade urbana sugeridas por ele: ir a pé, descalço, de bicicleta, de jumento, de qualquer coisa.

 Pode ser — e é melhor que seja assim — que tudo mude quando a bola começar a rolar no gramado, o brasileiro ouvir o hino e eventuais vitórias passarem a inflar nossa autoestima e nosso orgulho nacional. Seria ótimo, no fim das contas, que a amargura e a revolta dessem lugar à festa.  

Nesta altura do campeonato, é bom torcer para que o melhor do brasileiro — nossa verdadeira face boa — possa aflorar. Vai ter Copa — a Copa possível no Brasil das realidades, e não das ilusões. Também somos filhos de Deus, e um mês de alegria será uma pequena compensação pelo preço que, num momento de autoengano coletivo, decidimos pagar.