Até agora, o saldo desse tipo de investidor na Bovespa está positivo em quase 10 bilhões de reais
São Paulo - Os estrangeiros estão demonstrando em 2014 apetite inédito pela bolsa brasileira para anos de eleição presidencial no país. Até agora, o saldo desse tipo de investidor na Bovespa está positivo em quase 10 bilhões de reais.
Os dados mais recentes da BM&FBovespa mostram que houve ingresso
líquido de capital externo no mercado acionário doméstico de 9,7 bilhões
de reais neste ano até 20 de maio.
Em 2010, ano da última eleição presidencial, o estoque era negativo em 2,8 bilhões de reais nos cinco primeiros meses do ano.
Em 2006 e 2002, houve ingresso de recursos, mas em montante bem mais
tímido, de 1,7 bilhão e de 622 milhões de reais, respectivamente, até
maio dos respectivos anos.
Nas eleições diretas anteriores (1989, 1994 e 1998), o mercado
acionário brasileiro era bem menos desenvolvido, com reduzido volume de
negócios.
O aporte líquido de estrangeiros na Bovespa também já se aproxima do
visto em todo o ano passado, quando os ingressos foram de 11,7 bilhões
de reais, e tem surpreendido até mesmo especialistas.
Uma das justificativas atribuídas ao movimento são expectativas sobre
mudanças na condução da política econômica, em um momento de ceticismo
de agentes do mercado com o governo Dilma Rousseff e enquanto a
presidente perdia terreno nas pesquisas sobre a corrida eleitoral.
Mas a entrada de capital é resultado, principalmente, da reavaliação
dos ativos brasileiros, o que indica que os recursos podem permanecer no
Brasil por algum tempo, independentemente do rumo das pesquisas
eleitorais.
"Tivemos uma realocação de capital no mercado mundial gerada pela
necessidade de buscar rendimento. E a crise da Rússia fez países
emergentes descontados até o momento ficarem mais atrativos", disse à
Reuters o chefe da mesa de ações da corretora do banco suíço Credit
Suisse no Brasil, Mauro Oliveira. "Todo mundo subestimou essa
necessidade de realocação".
De fato, a grande incursão dos estrangeiros ocorreu a partir de 14 de
março, quando o Ibovespa atingiu seu menor nível de fechamento em quase
cinco anos.
Naquela data, o saldo de capital externo em ações brasileiras estava
positivo em pouco mais de 500 milhões de reais. Desde então, na esteira
do fluxo de dinheiro para cá, o Ibovespa subiu 16,1 por cento até o
fechamento do pregão de 21 de maio.
Foi também em março que militantes pró-Rússia invadiram a península da
Crimeia, na Ucrânia, aumentando as tensões e a instabilidade política na
região após o ex-presidente foragido Viktor Yanukovich ter sido acusado
de "assassinato em massa" no fim de fevereiro.
Segundo Oliveira, em meados de março a relação de preço da ação sobre
lucro da bolsa brasileira (P/L), usada como medida de retorno de
investimentos, era de 8,5 vezes, contra média de 10,2 vezes nos últimos
cinco anos.
A defasagem provocou fluxo para o Brasil, assim como a percepção
positiva sobre ações com bons fundamentos que eram consideradas baratas,
como de bancos e do setor de serviços.
Com a relação P/L agora em cerca de 10 vezes, a defasagem já foi
corrigida, e é provável que pesquisas eleitorais deixem de ter
influência tão grande sobre a bolsa, avalia Oliveira.
De todo modo, o capital externo deve continuar por algum tempo aqui,
principalmente depois dos balanços corporativos do primeiro trimestre.
"Os resultados do primeiro trimestre não foram uma maravilha, mas o
Brasil sofreu menos revisões do que outros países como México, Colômbia e
Chile", resumiu.
Em relatório recente assinado pelos analistas Andre Carvalho e Marina
Valle, o HSBC disse esperar que o momento positivo do mercado de ações
brasileiro se prolongue um pouco mais.
Entretanto, eles mostraram cautela diante da possível piora dos
resultados de empresas após as eleições, já que eventuais ajustes na
política econômica podem fragilizar ainda mais a atividade doméstica, o
que neutralizaria parte da alta da bolsa.
O Citi, por sua vez, tem preço-alvo para o Ibovespa no fim de 2014 de 55 mil pontos, pouco acima do nível atual.
"Por enquanto, qualquer expectativa de um novo rali é muito menos
sustentável do que a recuperação que levou o mercado de 45 mil a 54 mil
pontos", escreveram em relatório os analistas Stephen H.
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