O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa apresentou aos
investigadores da operação Lava Jato os nomes de empreiteiras que,
segundo a apuração, podem ter se constituído em um cartel para obtenção
de contratos milionários junto a Petrobras.
A delação premiada de Costa deverá contar com outros pormenores
perseguidos há meses pelos investigadores, os detalhes sobre a suposta
participação das empreiteiras Mendes Júnior, UTC/Constran, Engevix,
Iesa, Hope RH e Toyo Setal em esquema investigado pela Lava Jato.
A acusação do Ministério Público Federal (MPF) afirma que as seis
empreiteiras mantêm contratos ativos com a Petrobras, "ou ao menos
tiveram avenças com a estatal nos últimos anos e doaram, juntas, R$ 35,3
milhões a partidos da base parlamentar de apoio ao governo federal na
campanha de 2010", afirma o MPF em uma das acusações formais a Costa.
Segundo levantamento da Receita Federal referente ao ano de 2011,
constante da denúncia, as empresas Sanko Sider e Sanko Serviços, que de
acordo com a acusação pertencem aos réus Marcio Bonilho e Murilo
Barrios, receberam R$ 69.800.000,00 do Consórcio Nacional Camargo Corrêa
(CNCC), o qual, segundo o MPF, havia recebido R$ 591.000.000,00 da
Petrobras pela obra da Refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. A peça
acusatória da força-tarefa diz que "na Sanko os recursos ilícitos foram
separados e remetidos para a MO Consultoria, mediante contratos
simulados, sendo que esta empresa recebia recursos de diversas outras
sociedades integrantes da trama criminosa", afirma. "A partir da MO
Consultoria, o dinheiro desviado foi pulverizado entre diversas empresas
e pessoas ligadas a Youssef, incluindo a Labogen Química, Indústria
Labogen e Piroquímica. Uma quantia sacada em espécie", acusa a denúncia.
O rastreamento das atividades de empresas de fachada que praticaram
importações fraudulentas, de acordo com a acusação da operação Lava
Jato, foi complementado com novos dados trazidos por Costa à
investigação. O fato é considerado "prova cabal" de atividades ilícitas
atribuídas à organização criminosa que, segundo Polícia Federal (PF) e
MPF, foram desenvolvidas e ramificadas em vários Estados brasileiros e
no exterior. O grupo é acusado de se apoderar da área de Abastecimento e
Refino da Petrobras entre 2009 e 2014. Costa a dirigiu de 2004 a 2012,
durante as gestões Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O ex-executivo também relacionou nomes de funcionários que alega
terem sido indicados por partidos da base de sustentação do governo para
cargos na Petrobras. Segundo seu relato, tais nomeados por critérios
predominantemente políticos compactuavam com o esquema e colaboraram
para a sua manutenção. O MPF já teve acesso aos nomes, postos e período
em que tais funcionários trabalharam na petrolífera. Os dados foram
criptografados para evitar vazamentos.
O cruzamento de informações fornecidas por Costa com análises de
interceptações telefônicas, quebras de sigilo bancário e fiscal, dados
fornecidos pelo Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex) e pelo
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da
Fazenda, foi determinante para que a força-tarefa de procuradores da
República responsável pela operação Lava Jato avaliasse como relevante e
sinalizasse afirmativamente para o pedido de delação premiada
solicitado pela defesa do réu.
As revelações de Costa, que serão formalizadas como uma delação
premiada encaminhada à Procuradoria-Geral da República (PGR), conferem
com o que a investigação já apurou, e ampliam o espectro e a
profundidade do procedimento, na avaliação de envolvidos no caso.
Costa também já teria explicado aos investigadores o significado de
anotações manuscritas apreendidas pela PF com grifos "já teve conversas
com o candidato" e "está disposto a colaborar". O MPF está convencido de
que Costa "atuava na intermediação dessas contribuições junto a
empresas que tinham contratos com a Petrobras".
O Consórcio Nacional Camargo Corrêa afirma não ter nenhum
envolvimento em qualquer irregularidade contratual envolvendo a
Petrobras e que jamais fez repasses a outras empresas, apenas pagamentos
a Sanko Sider, que foi escolhida pela Petrobras entre empresas
certificadas para o Serviço. O CNCC também afirma que a defesa da Sanko
Sider solicitou perícia técnica à PF sobre os contratos, que estão sendo
confrontados pela investigação.
A UTC informou ter feito doações lícitas a partidos políticos,
declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Afirmou também que
todos os contratos com seus clientes seguiram e seguem rigorosamente os
trâmites legais e ressaltou que tem 40 anos de história e mais de 130
clientes.
O Valor procurou a Mendes Júnior, mas não conseguiu
uma reposta da assessoria de comunicação até o fechamento desta edição.
Procuradas, Iesa e Engevix não responderam à solicitação até o
fechamento da edição. Representantes das empresas Constran, Hope RH e
Toyo Setal não foram localizados. A Sanko Sider não respondeu ao pedido
da reportagem.
Ontem, a Controladoria Geral da União pediu acesso integral ao
depoimento de Costa à Procuradoria-Geral da República. A previsão era
que o material tivesse sido remetido de Curitiba a Brasília até o fim da
tarde.