A incrível geração de gestores sem educação
“- Fulano, te liguei ontem às 21:30 para solicitar um relatório urgente e você não me atendeu.
– Sinto muito, chefe.
Quando saí daqui às 20:30 daquela nossa reunião, não tirei o celular do
silencioso. Cheguei em casa e fui dar atenção aos meus filhos que
estavam quase dormindo e não vi o celular tocar.
– Da próxima vez enfie o celular na sua cavidade (…) que pelo menos você vai sentir. Nunca deixe de me atender.”
Sim! Este diálogo
existiu! Absurdo pensar que após todas as ações que bancos e industria
de bebidas sofreram por assédio moral, ainda tenhamos gestores deste
naipe. Porém, para ser bem sincera, a impressão que eu tenho é que eles
voltaram com força total. Escuto relatos como esse todos os dias, cada
vez mais, me fazendo acreditar que estamos no meio de uma epidemia do
mau humor corporativo.
Percebo diretores e
presidentes cada vez mais se achando Deuses supremos, impassíveis de
erros, que nunca se enganam, senhores da verdade única absoluta e
universal. Seres cada vez menos preparados para as funções que assumem,
que dependem de seu corpo técnico para avaliação de dados e tomada de
decisão, que muitas vezes têm o péssimo hábito de empregar amigos
e, às vezes, parentes para cargos de confiança, em detrimento de
profissionais qualificados para as funções. Seres que não confiam em
sua equipe técnica e que creem que funcionários são iguais a biscoitos,
vai um, vem dezoito. Pessoas cuja educação fora há muito tempo
esquecida e abolida de seus manuais de convivência e bons costumes.
Nas rodas de amigos é
comum hoje em dia histórias como esta. Talvez por conta da crise que
assola nosso país, os funcionários estejam se submetendo a esse tipo de
humilhação, pois não podem se dar ao luxo de perder seus empregos, visto
que buscar outro está cada vez mais difícil. Em uma pesquisa informal
realizada pelo membros do LinkedIn a resposta que mais aparece sobre o
motivo que leva alguém a pedir demissão de uma empresa é por conta da
Gestão.
Como consequência à
crise, as empresas com situação financeira complicada, também deixam os
gestores com os nervos a flor da pele, o que obviamente não justifica
este tipo de atitude, mas intensifica os casos. A falta de habilidade
na condução e administração de crises faz com que os ambientes
corporativos tornem-se salas de tortura ou câmaras de gases…
Funcionários chegam em casa exauridos emocionalmente, arrasados em sua
auto-estima e desestimulados profissionalmente. Falta Inteligência
Emocional!
Gestores estão perdendo a
mão na condução de seus negócios e equipes. Estão requerendo dedicação
exclusiva e disponibilidade 24hs por dia, ignorando que seus
funcionários têm casa, família e suas atividades pessoais, que têm vida
após trabalho. Que necessitam de uma pausa para se recomporem física e
emocionalmente. Funcionários no limite são sinônimo para afastamento
por doença.
Num outro caso que tomei
conhecimento recentemente, às 17:50h do dia 12 de junho, dia dos
namorados, o presidente de uma empresa convocou todo o corpo diretor e
vários membros da gerência para uma reunião às 18:30h a fim de discutir
itens de uma apresentação que ele faria 2 semanas mais tarde e que já
estava em suas mãos há mais de uma semana. É claro que esta reunião foi
até muito tarde (precisamente até 22:45h) e o fato deixou os
participantes numa situação no mínimo complicada com seus respectivos
maridos e namorados.
Além disso, me relatam
cada vez mais casos de gritos, ofensas, grosserias e xingamentos por
parte dos gestores. Gestores que humilham na frente de todos, enganam,
demitem sem justificativa, ofendem e, principalmente, querem que seus
funcionários trabalhem como super heróis e vivam como monges. Histórias
onde gestores agem com grosseria, sarcasmo e humilham funcionários,
principalmente para aparecer mediante superiores ou restante da equipe.
Acham que para serem gestores precisam ser temidos. Desculpem o
vocabulário, mas esses caras são uns babacas!
Hoje mesmo recebi um email de uma pessoa que leu meu artigo sobre demissão (Demitir, a pior tarefa de um gestor),
onde ela se identificou e relata dificuldades em receber feedback,
falta de adequação de funções, coaching inexistente e, acima de tudo, o
não posicionamento definitivo dos mesmos mediante a problemas futuros.
Depois que o problema acontece, mesmo já tendo sido avisado, quem paga é
o funcionário. Não há uma cultura de prevenção. Depois que acontece,
um tem que ser punido, normalmente o lado mais fraco.
Recentemente presenciei
uma briga entre dois diretores e um presidente, onde se ouvia os mais
variados tipos de palavrões, alguns que eu nem conhecia. Como uma
empresa minimamente séria consegue respeito de seus funcionários se seus
diretores não se respeitam? A atitute entre seus gestores já reflete a
falta de preparo dos que deveriam motivar e inspirar suas equipes.
Numa pesquisa rápida
entre meus amigos, observei que a maior parte de gestores que agem desta
forma então entre 30 e 45 anos. Claramente me traduz uma falta de
preparo e experiência dos mesmos em gestão e condução de times
multidisciplinares. Os caras não sabem sequer como demitir! Acham que
gerir é no grito, não sabem a diferença de autoritarismo para
autoridade, poder para o respeito, liderar e gerir. O mundo evoluiu e
eles continuam no século XIX, agindo como senhores com seus escravos.
Desconhecem palavras e conceitos como coaching, feedback, gestão
participativa, espírito de equipe…
A falta de preparo está
em desconhecer que muito mais producente será um time em que o respeito,
a cumplicidade e o senso de equipe serão matrizes da motivação em
conjunto. Todos remando numa mesma direção, com a mesma gana de vencer,
sem raiva ou rancor, sem humilhação, grosserias, ou se sentindo coagido
a qualquer coisa, se obtém resultados muito mais expressivos. A
atmosfera da empresa, mesmo em clima de crise, se torna mais amena e
cooperativa. As vitórias passam a ser comemoradas por todos enquanto as
derrotas passam a doer em todo o time, que faz com que todos se
movimentam para tentar mudar essa realidade.
“Quando um chefe está
num cargo além de sua competência, se sente inseguro e contrata idiotas
como ele. Isso gera um conglomerado de idiotas unidos para manter o
poder.”
John Hoover, Como Trabalhar para um Chefe Idiota
John Hoover, Como Trabalhar para um Chefe Idiota
“Trabalhar mais não é sinônimo de eficiência”
Thomas Silveri, consultor
Thomas Silveri, consultor
“A maior recompensa e
motivação, é atingir os objetivos e metas com satisfação e alegria,
principalmente com a união e bem estar de todos, deixando de lado
rancores, maldades, orgulho, competição e etc. Tornar tudo mais fácil e
prazeroso, tornar o lugar onde você está, ou seja, em casa, na rua, na
escola ou no trabalho o melhor ambiente possível, incentivando todos a
caminharem na mesma direção e com o mesmo objetivo, satisfazendo todas
as necessidades legítimas.” Hunter, James C., O Monge e o Executivo.
Por Luciana Telles para LinkedIn Pulse e
Blog pessoal da Luciana Telles.
(reproduzido no "Expansão Consultoria e Assessoria Empresarial com permissão da autora)
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