Na visão de José Rizzo, CEO da Pollux, essa
revolução não pode ser ignorada
Por José Rizzo Hahn Filho*
Os
visitantes da Feira de Hannover na edição de 2011 foram os primeiros a ter
contato com o termo. A Indústria 4.0, fortemente patrocinada e incentivada pelo
governo alemão em associação com empresas de tecnologia, universidades e
centros de pesquisa do país, propõe uma importante mudança de paradigma em relação
à maneira como as fábricas operam atualmente. Nesta visão de futuro, ocorre uma
completa descentralização do controle dos processos produtivos e uma
proliferação de dispositivos inteligentes interconectados ao longo de toda a
cadeia de produção e logística. O impacto esperado na produtividade da
indústria é comparável ao que foi proporcionado pela internet em diversos
outros segmentos, tais como no comércio eletrônico, nas comunicações pessoais e
nas transações bancárias.
A
Indústria 4.0 demanda a adoção gradual de um conjunto de novas tecnologias de
TI e automação industrial e também de padrões técnicos para formação de um
sistema de produção físico-cibernético, com forte digitalização das informações
críticas e comunicação direta entre sistemas, máquinas e produtos – a chamada
Internet das Coisas (IoT). Esse processo promete gerar ambientes de manufatura
altamente flexíveis à demanda crescente por produtos cada vez mais
customizados. Para o sucesso do projeto, a padronização dos protocolos de
comunicação é peça muito importante. Com isso, a troca de informações entre
todos os tipos de sistemas e dispositivos é garantida, eliminando-se problemas
relacionados aos padrões proprietários vigentes.
Não cabe
a esse artigo explicar em detalhes todas as tecnologias envolvidas. Excelentes
estudos podem ser facilmente encontrados em uma busca na web utilizando-se o
termo “Industrie 4.0”. É importante frisar que essas novas tecnologias já estão
disponíveis, mas que a transição para a Indústria 4.0 não ocorrerá de forma
repentina, mas gradualmente. A velocidade de implantação dependerá de fatores
econômicos e da capacitação tecnológica da indústria presente em cada país.
E a
indústria brasileira? Estamos preparados e motivados para iniciar a migração
para a Indústria 4.0?
O consenso entre os especialistas é de que a indústria
nacional ainda se encontra em grande parte na transição do que seria a
Indústria 2.0 [caracterizada pela utilização de linhas de montagem e energia
elétrica] para a Indústria 3.0 [que aplica automação através da
eletrônica, robótica e programação]. Para termos uma ideia da defasagem
brasileira, precisaríamos instalar cerca de 165 mil robôs industriais para nos
aproximarmos da densidade robótica atual da Alemanha. No ritmo de hoje, cerca
de 1,5 mil robôs instalados por ano no país, levaremos mais de 100 anos para
chegar lá.
A boa
notícia é que não precisaremos passar por todo o processo de modernização
fabril ocorrido nos países desenvolvidos nas últimas décadas para só então
poder abraçar as tecnologias da Indústria 4.0. Podemos e devemos queimar
etapas. O que não podemos é ignorar essa revolução, se quisermos preservar a
indústria presente no Brasil e prepará-la para este novo panorama competitivo.
Um cenário no qual as tecnologias de informação e de automação, e não a mão de
obra de baixo custo, é que gerarão as vantagens competitivas para as nações com
setor de manufatura relevante.
A
conjuntura atual, marcada por uma severa crise econômica e política, torna esse
desafio ainda mais difícil. Precisaremos mais do que nunca de lideranças fortes
e articuladores na indústria, no governo e nas instituições acadêmicas e de
pesquisa. Precisaremos também de níveis de investimento relevantes e da
capacitação intensiva de gestores, engenheiros, analistas de sistemas e
técnicos nessas novas tecnologias, além de parcerias e alianças estratégicas
com entidades de outros países. Cada um precisará fazer a sua parte: (a) o
governo com políticas estratégicas inteligentes, incentivos e fomento; (b) os
empresários e gestores da indústria com visão, arrojo e postura proativa e (c)
as instituições acadêmicas e de pesquisa com formação de profissionais e com
desenvolvimento tecnológico, preferencialmente em grande proximidade com a
indústria.
Se vamos
ou não seguir à risca os novos preceitos que vêm da Alemanha ou de qualquer
outro país de vanguarda não é o ponto mais importante. O fundamental é
entendermos que a defasagem tecnológica do parque industrial brasileiro nos
tornou muito pouco competitivos e improdutivos. Nossa indústria sucumbirá se
não agirmos com grande senso de urgência. O Brasil não está preparado para
abrir mão do seu setor industrial por sua relevância na economia e também por
ser formado por profissionais que detém boa parte do nosso ativo tecnológico e
de engenharia, importante elemento na nova ordem de competição entre as nações.
A
Indústria 4.0, na forma como está desembarcando no Brasil, traz um conjunto de
boas ideias e tecnologias que podemos absorver aos poucos e aplicar em nossa
manufatura de forma firme e progressiva. A robótica é outra área que precisamos
explorar com mais vigor, em especial a nova geração de robôs colaborativos, que
podem ser facilmente introduzidos em ambientes não originalmente pensados para
robôs industriais.
Independentemente
das dificuldades que enfrentamos atualmente no Brasil, a manufatura global
avança e se automatiza em uma velocidade sem precedentes. Não podemos esperar
por dias melhores para começar a agir e colocar o nosso melhor time em campo.
Não vamos esperar até a Alemanha criar a Indústria 7.0. Já basta o
futebol...
*Presidente da Pollux Automation, de Joinville.
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http://www.amanha.com.br/posts/view/897#sthash.5Q51ulMb.dpuf
A Indústria 4.0 desembarca no Brasil
Na visão de José Rizzo, CEO da Pollux, essa revolução não pode ser ignorada
Por José Rizzo Hahn Filho*
Os visitantes da Feira de Hannover na edição de 2011 foram os
primeiros a ter contato com o termo. A Indústria 4.0, fortemente
patrocinada e incentivada pelo governo alemão em associação com empresas
de tecnologia, universidades e centros de pesquisa do país, propõe uma
importante mudança de paradigma em relação à maneira como as fábricas
operam atualmente. Nesta visão de futuro, ocorre uma completa
descentralização do controle dos processos produtivos e uma proliferação
de dispositivos inteligentes interconectados ao longo de toda a cadeia
de produção e logística. O impacto esperado na produtividade da
indústria é comparável ao que foi proporcionado pela internet em
diversos outros segmentos, tais como no comércio eletrônico, nas
comunicações pessoais e nas transações bancárias.
A Indústria 4.0 demanda a adoção gradual de um conjunto de novas
tecnologias de TI e automação industrial e também de padrões técnicos
para formação de um sistema de produção físico-cibernético, com forte
digitalização das informações críticas e comunicação direta entre
sistemas, máquinas e produtos – a chamada Internet das Coisas (IoT).
Esse processo promete gerar ambientes de manufatura altamente flexíveis à
demanda crescente por produtos cada vez mais customizados. Para o
sucesso do projeto, a padronização dos protocolos de comunicação é peça
muito importante. Com isso, a troca de informações entre todos os tipos
de sistemas e dispositivos é garantida, eliminando-se problemas
relacionados aos padrões proprietários vigentes.
Não cabe a esse artigo explicar em detalhes todas as tecnologias
envolvidas. Excelentes estudos podem ser facilmente encontrados em uma
busca na web utilizando-se o termo “Industrie 4.0”. É importante frisar
que essas novas tecnologias já estão disponíveis, mas que a transição
para a Indústria 4.0 não ocorrerá de forma repentina, mas gradualmente. A
velocidade de implantação dependerá de fatores econômicos e da
capacitação tecnológica da indústria presente em cada país.
E a indústria brasileira? Estamos preparados e motivados para iniciar
a migração para a Indústria 4.0? O consenso entre os especialistas é de
que a indústria nacional ainda se encontra em grande parte na transição
do que seria a Indústria 2.0 [caracterizada pela utilização de linhas de montagem e energia elétrica] para a Indústria 3.0 [que aplica automação através da eletrônica, robótica e programação].
Para termos uma ideia da defasagem brasileira, precisaríamos instalar
cerca de 165 mil robôs industriais para nos aproximarmos da densidade
robótica atual da Alemanha. No ritmo de hoje, cerca de 1,5 mil robôs
instalados por ano no país, levaremos mais de 100 anos para chegar lá.
A boa notícia é que não precisaremos passar por todo o processo de
modernização fabril ocorrido nos países desenvolvidos nas últimas
décadas para só então poder abraçar as tecnologias da Indústria 4.0.
Podemos e devemos queimar etapas. O que não podemos é ignorar essa
revolução, se quisermos preservar a indústria presente no Brasil e
prepará-la para este novo panorama competitivo. Um cenário no qual as
tecnologias de informação e de automação, e não a mão de obra de baixo
custo, é que gerarão as vantagens competitivas para as nações com setor
de manufatura relevante.
A conjuntura atual, marcada por uma severa crise econômica e
política, torna esse desafio ainda mais difícil. Precisaremos mais do
que nunca de lideranças fortes e articuladores na indústria, no governo e
nas instituições acadêmicas e de pesquisa. Precisaremos também de
níveis de investimento relevantes e da capacitação intensiva de
gestores, engenheiros, analistas de sistemas e técnicos nessas novas
tecnologias, além de parcerias e alianças estratégicas com entidades de
outros países. Cada um precisará fazer a sua parte: (a) o governo com
políticas estratégicas inteligentes, incentivos e fomento; (b) os
empresários e gestores da indústria com visão, arrojo e postura proativa
e (c) as instituições acadêmicas e de pesquisa com formação de
profissionais e com desenvolvimento tecnológico, preferencialmente em
grande proximidade com a indústria.
Se vamos ou não seguir à risca os novos preceitos que vêm da Alemanha
ou de qualquer outro país de vanguarda não é o ponto mais importante. O
fundamental é entendermos que a defasagem tecnológica do parque
industrial brasileiro nos tornou muito pouco competitivos e
improdutivos. Nossa indústria sucumbirá se não agirmos com grande senso
de urgência. O Brasil não está preparado para abrir mão do seu setor
industrial por sua relevância na economia e também por ser formado por
profissionais que detém boa parte do nosso ativo tecnológico e de
engenharia, importante elemento na nova ordem de competição entre as
nações.
A Indústria 4.0, na forma como está desembarcando no Brasil, traz um
conjunto de boas ideias e tecnologias que podemos absorver aos poucos e
aplicar em nossa manufatura de forma firme e progressiva. A robótica é
outra área que precisamos explorar com mais vigor, em especial a nova
geração de robôs colaborativos, que podem ser facilmente introduzidos em
ambientes não originalmente pensados para robôs industriais.
Independentemente das dificuldades que enfrentamos atualmente no
Brasil, a manufatura global avança e se automatiza em uma velocidade sem
precedentes. Não podemos esperar por dias melhores para começar a agir e
colocar o nosso melhor time em campo. Não vamos esperar até a Alemanha
criar a Indústria 7.0. Já basta o futebol...
*Presidente da Pollux Automation, de Joinville.
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