terça-feira, 13 de outubro de 2015

Juros do cartão de crédito têm maior taxa desde 1996


Marcos Santos/USP Imagens
Cartões de crédito
Cartões de crédito: os índices de inflação continuam elevados, com aumento dos impostos e dos índices de desemprego
 
Paloma Rodrigues, da Arena do Pavini


São Paulo - As taxas de juros das operações de crédito subiram em setembro deste ano, a 12ª elevação consecutiva, apontou hoje a Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). A principal alta média foi no financiamento de automóveis, de 2,80% no mês, em seguida no cartão de crédito, alta de 1,65%.

Na avaliação do diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômica da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, as elevações dos juros no mês são resultados do cenário econômico que aumenta o risco do crescimento da inadimplência.

Isso porque os índices de inflação continuam elevados, com aumento dos impostos e dos índices de desemprego.
Além disso, ele cita o rebaixamento da nota de crédito do Brasil promovida pela agência Standard and Poor’s (S&P).

A maior variação do juro do crediário aconteceu no Estado de São Paulo, alta de 0,39% no mês. A média nacional foi de 0,38%. Já o setor que apresentou maior alta no financiamento foi o de automóveis, com alta de 2,80% no mês na comparação com agosto.
 

Pessoa Física


As seis linhas de crédito pesquisadas para pessoa física sofreram elevação de suas taxas de juros no mês: juros do comércio, cartão de crédito rotativo, cheque especial, CDC-bancos-financiamento de veículos, empréstimo pessoal-bancos e empréstimo pessoal-financeiras.

A taxa média passou de 7,14% ao mês (128,78% ao ano) em agosto para 7,23% ao mês (131,10% ao ano) em setembro, a maior taxa desde junho de 2009.

A taxa de juros média aumentou 0,09 ponto percentual no mês (2,32 pontos percentuais no ano), o que corresponde a uma alta de 1,26%. Em 12 meses, a alta já acumula 1,80%. 

A principal alta média foi no financiamento de automóveis, de 2,80% no mês, com o juro médio passando de 2,14% ao mês (28,93% ao ano), para 2,20% ao mês (29,84% ao ano).

Em seguida, o maior aumento de juros foi no cartão de crédito, alta de 1,65%. O juro médio do serviço passou de 13,37% ao mês (350,79% ao ano) em agosto, para 13,59% ao mês (361,40% ao ano) em setembro. Este é o juro mais alto do cartão de crédito desde março de 1996.
 

Pessoa Jurídica


As três linhas de crédito pesquisadas tiveram taxas de juros mais altas. A taxa média passou de 4,09% ao mês (61,77% ao ano) em agosto para 4,12% ao mês (62,33% ao ano) em setembro, a maior desde maio de 2009.

A alta foi de 0,03 ponto percentual no mês (0,56 ponto percentual em doze meses) correspondente a uma elevação de 0,73% no mês (0,91% em doze meses).
 
A maior variação foi no capital de giro, cujo juros aumentou 1,67% no mês.
 

Juros x Selic


Entre março de 2013 e setembro deste ano, a taxa básica de juros Selic se elevou 7 pontos percentuais (elevação de 96,55%), de 7,25% ao ano em janeiro de 2013 para 14,25% ao ano em setembro de 2015.

No mesmo período, a taxa média para pessoa física aumentou 43,13 pontos percentuais (elevação de 49,03%) de 87,97% ao ano em março de 2013 para 131,10% ao ano em setembro de 2015.

Já nas operações de crédito para pessoa jurídica, a alta foi de 18,75 pontos percentuais (elevação de 43,02%) de 43,58% ao ano em março de 2013 para 62,33% ao ano em setembro de 2015.
 

Perspectiva 


Para o futuro, a Anefac aponta para o risco do aumento da inadimplência e prevê novas altas das taxas de juros das operações de crédito.

Para Lula, Bolsa Família e Minha Casa justificam pedaladas


Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
Lula
Luiz Inácio Lula da Silva: o ex-presidente fez um paralelo com a crise de 2008, dizendo que ela já consumiu mais de US$ 10 trilhões para salvar o sistema financeiro


São Bernardo do Campo - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, 13, que a presidente Dilma Rousseff fez as pedaladas fiscais para pagar dois dos maiores programas sociais de sua gestão, o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.

Ele argumentou que o governo deveria utilizar esta justificativa para explicar à população a adoção das pedaladas, mesmo que tenha admitido não conhecer bem o assunto.

A declaração de Lula foi dada na abertura oficial do 1.º Congresso Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), em São Bernardo do Campo.
"Estou vendo a Dilma ser atacada por conta de umas pedaladas. Eu não conheço o processo, mas uma coisa, Patrus (Ananias, ministro do Desenvolvimento Agrário, que estava no evento), que vocês têm que falar é que talvez a Dilma, em algum momento, tenha deixado de repassar o Orçamento para a Caixa, porque tinha que pagar coisas que não tinha dinheiro. Ela fez as pedaladas para pagar o Bolsa Família, ela fez as pedaladas para pagar o Minha Casa Minha Vida", disse Lula.

O ex-presidente disse que "todo mundo sabe" que o Minha Casa Minha Vida subsidia trabalhadores que ganham até três salários mínimos.

"Tem um forte subsídio do governo, o dado concreto é que custa caro ao governo, é investimento que o governo faz". E continuou: "Se o governo não subsidiar, não acontece."

E fez um paralelo com a crise de 2008, dizendo que ela já consumiu mais de US$ 10 trilhões para salvar o sistema financeiro.

"Imagina se isso fosse colocado nas fábricas para ajudar os trabalhadores e se fosse colocado para combater a fome no mundo?"

Ao ser chamado para compor o palco, ao lado de dirigentes sindicais, representantes de movimentos sociais e de políticos, como o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), e o ex-senador e atual secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy, entre outros, Lula foi recebido em pé sob aplausos e palavras de ordem dos participantes do congresso.

O I Congresso Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) ocorre até o dia 16 e reúne 4 mil camponeses de 20 Estados brasileiros, no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, com o tema "Plano camponês, aliança camponesa e operária por soberania alimentar".
 

Marinho


O prefeito de São Bernardo do Campo disse, em rápida saudação às lideranças camponesas presentes ao evento, que as elites desejam "com a tentativa de golpe" derrubar o governo Dilma e atingir Lula, maior liderança de seu partido.

"Sei o momento político que estamos enfrentando no nosso País e sei das dificuldades do governo da presidente Dilma Rousseff e das críticas que recebemos, mas sei que ninguém deseja um golpe contra a presidente. O que a elite deseja é um golpe contra os trabalhadores e inviabilizar a liderança de Lula", disse Marinho.

O prefeito citou ainda que nos estúdios da Vera Cruz, local em que foram gravados os filmes de Mazzaroppi e onde está sendo realizado o congresso do MPA, ocorreu também o primeiro congresso do PT e a fundação da CUT.

Em breve discurso, o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres, o Paulão, conclamou os presentes a defenderem o legado do ex-presidente Lula, pedindo que todos se levantassem e cerrassem os punhos, com os mesmos braços que plantam nos campos, em defesa do petista.

Patrus Ananias voltou a dizer que o Brasil não está à beira do precipício e que a atual crise está sendo inflada.

"Vemos no nosso País os resultados positivos das políticas do governo (petista, de Lula e de Dilma)", emendou. Mas reconheceu que ainda há muito a fazer. "Temos de fazer os acertos econômicos, mas não vamos perder o rumo", exemplificou.

O presidente da Federação Única dos Petroleiros, José Maria, disse no evento que a luta em defesa da Petrobras não é corporativa.

"Este congresso e o da CUT tem que mandar um recado a quem quer dar um golpe no País. Vamos lutar para que a democracia no País continue em pé, só estamos há 13 anos no poder e tem uma longa estrada pela frente."

O Santander vai às compras – mas quer bons preços


Samantha Villagran/SXC
Barcelona, Espanha
Barcelona: o Santander espera atrair os clientes do HSBC que usam serviços no exterior


  São Paulo — O banco Santander ficou conhecido pela ou­sadia ao fazer aquisições. Depois de uma série delas, a instituição, que era apenas a sexta maior da Espanha na década de 80, tornou-se uma das maiores do mundo, com valor de mercado de cerca de 100 bilhões de dólares.

No Brasil, deixou o mercado atônito ao pagar 7 bilhões de reais pelo Banespa, quase quatro vezes acima do preço mínimo estabelecido no leilão de privatização do banco em 2000. Quem esperava ver algo parecido no processo de venda da filial brasileira do HSBC, porém, se decepcionou. O Santander ofereceu menos do que o Bradesco e perdeu a disputa.

Os espanhóis ficaram conservadores? “Não, não”, diz Jesús Zabalza, presidente do Santander no Brasil. A EXAME Zabalza afirmou que o banco não vai “deixar passar boas oportunidades que acelerem a expansão no país” — desde que o preço da aquisição faça sentido.
Exame - Ficou mais difícil competir num mercado que é dominado por quatro bancos bem maiores do que o Santander?
Zabalza - Temos um tamanho que nos permite competir. Nos últimos três anos, depois da integração do banco Real (comprado em 2007), fizemos uma transformação interna: reduzimos despesas, aumentamos a eficiência, melhoramos o custo do crédito, baixamos a inadimplência e nos tornamos mais competitivos comercialmente.
Agora temos a plataforma ideal para capturar clientes da concorrência. Somos o único banco internacional de grande porte com presença no Brasil. Não somos uma instituição de nicho. É uma posição importante para aproveitar agora.
 
Exame - A estratégia é explorar essa presença internacional para tentar atrair clientes do HSBC, já que o Bradesco é um banco local?
Zabalza - Sim. Somos procurados por empresas que querem exportar ou ampliar seus negócios no exterior e por companhias que querem vender para o Brasil ou se instalar aqui. Também oferecemos serviços para correntistas de alta renda, que podem, por exemplo, sacar dinheiro em caixas eletrônicos de diversos países sem custo adicional.
Vamos usar esse tipo de diferencial para acelerar o crescimento orgânico. A política do Santander no Brasil não é ser o maior banco. Queremos ter uma participação relevante no mercado — o que já temos — e ser o melhor banco.
 
Exame - Quando isso mudou? No passado, o Santander queria, sim, ser o maior.
Zabalza - Hoje, é difícil ser o maior. Mas queremos aumentar nossa base de clientes e fazer com que eles concentrem sua movimentação financeira conosco. Para isso, precisamos atender melhor. Estamos trabalhando para ter uma oferta de produtos e serviços de boa qualidade, a preços razoáveis. Também estamos investindo em treinamento.
 
Exame - O Santander está mais conservador ao fazer aquisições?
Zabalza - Não, não. A prioridade é o crescimento orgânico acelerado, mas não vamos deixar passar boas oportunidades que complementem nossos negócios e acelerem nossa expansão no país. Mas o valor da aquisição precisa cumprir nossas exigências de retorno. Não ficamos conservadores. Podemos comprar quando o preço fizer sentido.
 
Exame - O Bradesco pagou caro para comprar o HSBC?
Zabalza - Obviamente, pagou mais do que considerávamos bom para nossos parâmetros financeiros. Por isso, levou.
 
Exame - Comenta-se que o Santander não foi tão agressivo na oferta pelo HSBC porque temia ter dificuldades na integração, como aconteceu com o Real. Essa era uma preocupação?
Zabalza - No caso do Real, compramos um banco que era quase do tamanho do Santander. O objetivo era aproveitar o melhor de cada instituição e criar um grupo que fosse a soma dos dois. Era uma meta agressiva, e acho que conseguimos cumpri-la, mas a conse­quência foi que demoramos entre um e dois anos além do previsto para completar a integração.
O HSBC é um banco menor. Além disso, o Santander já tem uma cultura absolutamente definida no Brasil, então não teríamos a discussão de qual cultura iria prevalecer. Seria, portanto, uma integração bem mais simples.
 
Exame - A rentabilidade do Santander é bastante inferior à de Bradesco e Itaú. Dá para melhorá-la?
Zabalza - Uma explicação para isso é o fato de sermos altamente capitalizados (como o patrimônio é elevado, a rentabilidade em relação ao patrimônio é menor). Mas vamos melhorar esse indicador.
Além da transformação que fizemos nos últimos anos, montamos uma instituição em conjunto com o banco Bonsucesso para ganhar terreno em empréstimos consignados; investimos 1,1 bilhão de reais num novo centro de operações em Campinas, que permite ampliar a escala de nossas operações; e assumimos o controle da GetNet, que processa operações com cartões. São investimentos que começam a dar frutos.
No segundo trimestre de 2015, tivemos o melhor resultado de nossa história no Brasil. Esse resultado inclui ganho extraordinário com um processo tributário. Mas, mesmo sem isso, o desempenho tem melhorado.
 
Exame - Por que é tão difícil para um banco estrangeiro crescer no Brasil?
Zabalza - Para competir aqui, é preciso ter escala, processos bem estruturados, tecnologia e os melhores profissionais. Combinar tudo isso não é fácil. Além disso, os bancos locais têm um longo histórico de atuação e conhecem a fundo a dinâmica da economia doméstica. Mas a premissa de sua pergunta não se aplica ao Santander.
Chegamos comercialmente ao Brasil somente no final da década de 90 e conseguimos nos tornar o terceiro maior banco ­privado do país. Em relação ao restante do mercado, não são apenas os estrangeiros que penam para competir no Brasil. Os bancos médios também enfrentam dificuldades.

STF suspende andamento de impeachment!

 STF suspende andamento de impeachment

 

 

 Publicado por Jáder Ribeiro

O Ministro Teori Zavascki acaba de conceder liminar em mandado de segurança impetrado pelo deputado federal petista Wadih Damous (PT-RJ) contra o pedido de impeachment da Presidente Dilma Rousseff.

Segundo o Ministro, há ilegalidade no procedimento adotado pelo Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que teria criado um rito diferente da Lei n.º 1.079/50, já que a mesma não prevê recurso ao Plenário em caso de rejeição monocrática exarada por ele.

Assim, a questão, segundo o Ministro, é procedimental, não tocando no mérito do pedido intentado.
A decisão, provavelmente, será levada ao Plenário para ser analisada pelo Colegiado.

Questão interessante é que, mesmo com o decisum do STF, Eduardo Cunha poderá, monocraticamente, aceitar o processo de impeachment e deflagrar sua instauração. Vejamos o que acontecerá nas próximas horas.

 http://jaderpaixao.jusbrasil.com.br/artigos/242024786/stf-suspende-andamento-de-impeachment?utm_campaign=newsletter-daily_20151013_2100&utm_medium=email&utm_source=newsletter

STF suspende decisões de Cunha sobre impeachment


Ueslei Marcelino/Reuters
Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
Eduardo Cunha: ele deve decidir nesta semana se aceita ou rejeita vários pedidos de impeachment contra Dilma 



São Paulo – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki concedeu uma liminar que suspende o andamento dos processos de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A decisão envolve os processos que eram conduzidos pelo rito de impeachment definido pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB).

Na prática, o pedido protocolado pelo deputado federal Wadih Damous (PT) é um mandado de segurança e coloca em cheque a estratégia da oposição para isentar Cunha de envolvimento no processo de impeachment. Em resposta à questão de Mendonça Filho (DEM), o presidente da Câmara determinou um roteiro em que, em caso de arquivamento, a bancada da oposição poderia pedir recurso da decisão.

Por lei, é o presidente da Câmara o responsável por aceitar ou não um pedido de impeachment, mas, pelo rito de Cunha, bastaria votação da maioria simples do plenário para que a matéria seguisse para que uma comissão especial analisasse o pedido sem que o presidente da casa se envolvesse. Essa comissão teria um prazo para dar um parecer, recomendando ou não o afastamento de Dilma.
A decisão do STF rejeitou essa possibilidade de recurso. Pela decisão de Zavascki, o presidente da Câmara deve acolher o pedido e dar encaminhamento ao processo ou arquivá-lo de vez.

O pedido de Damous foi justamente uma resposta aos questionamentos da oposição sobre o roteiro de um pedido de impeachment. Para a base governista, o rito de Cunha deveria ter ouvido também os governistas e teve caráter monocrático.

Em seu despacho, Zavascki diz que o deputado petista questiona o processo com respaldo em "respeitáveis fundamentos"  e que o modo como foi disciplinado o rito de Cunha tem por característica a "decisão individual do Presidente da Câmara". Cunha respondeu dizendo que a liminar não tira sua autoridade sobre o processo.

Cunha ainda tem em suas mãos mais oito pedidos de impeachment da presidente, incluindo o assinado pelos juristas Helio Bicudo e Miguel Reale Jr., amplamente apoiado pela oposição.
 

15 números para entender a compra da SABMiller pela AB InBev

Aquisição histórica

São Paulo - Depois de quase um mês de negociações, a Anheuser-Busch InBev conseguiu fechar acordo para comprar a rival SABMiller. A proposta precisou ser melhorada quatro vezes antes de ser aceita.

Calculada em torno de 68 bilhões de libras esterlinas, a aquisição está entre as maiores já feitas na história e vai originar uma gigante do setor de bebidas.

A AB InBev é dona de marcas de cerveja como Budweiser, Stella Artois e Corona e controla também a brasileira Ambev, fabricante de rótulos como Skol e Brahma.

Já a SABMiller produz marcas como Castle, 2M, Aguila e Alpha e abrirá mercado para AB InBev no continente africano, onde foi fundada há 120 anos.

Nos slides, veja 15 números que ajudam a entender a transação bilionária entre as duas empresas.


http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/15-numeros-para-entender-a-compra-da-sabmiller-pela-ab-inbev#10




O castelo pega fogo, mas tout va très bien com Madame Petrobras!



Como o nome da coluna é Senso Incomum, hoje o assunto é não-jurídico, embora metaforicamente tudo se encaixe. Então, vamos lá. Trata-se do simbólico. Isso que vou contar simboliza o mal estar da civilização pindoramense.

Então, mãos à obra. Li no ano passado o livro de Alan Riding, Paris, a Festa Continuou, que trata da vida cultural de Paris durante a ocupação nazista. Há uma bela passagem, que fala de uma canção popular do ano de 1936, interpretada por Ray Ventura, chamada Tout va très bien, Madame La Marquise (“tudo vai bem, Madame La Marquise”).

A canção denunciava o que a França fingia não ver: o cataclismo que se aproximava. Na canção, os empregados de uma aristocrata continuavam a assegurar-lhe de que tudo estava bem, embora um incêndio tenha tomado conta de seu castelo, destruindo os estábulos e matando a sua égua favorita. 

Além disso, o marido de Madame cometera suicídio, mas, ainda assim, não havia com que se preocupar, porque, afinal, “tout va très bien, Madame La Marquise”.

Já havia feito esta paródia para criticar o mundo jurídico. Agora o faço com a maior empresa de Pindorama, a Petrobras. Além do livro Paris, A Festa Continuou, há também o filme italiano Stanno tutti bene (1990), com Marcelo Mastroianni (os filhos estavam todos “bem”: por exemplo, o que era maestro, na verdade apenas tocava um tambor!).

O que quero dizer? Simples. Penso que é possível fazer uma alegoria da canção e da situação nela apresentada com a situação da “Madame Petrobras”. Tout va très bien, Madame Petrobras. O governo vai mal, a economia vai mal, o ensino jurídico vai mal, Elvis morreu, Deus morreu... (eu mesmo não estou me sentindo muito bem) e o novo ministro da ciência e tecnologia foi acusado por um doleiro de ser um pau mandado de Eduardo Cunha... Vamos ganhar um Nobel de Ciência e Tecnologia.

Sigo. Madame La Marquise Petrobras compra uma usina que representou o segundo pior negócio já feito no mundo. O primeiro tinha sido feito na pré-história, quando houve a troca de um barril de óleo de mamute por um cacho de banana nanica. Mas Madame Pê (vejam a minha intimidade) continua afirmando que tudo vai bem, que vai passar... Bom, o cavalo já morreu. E o castelo está em chamas. Mas Madame Pê não toma providências. Parte dos cavalariços e nobres do Castelo estão presos.

Quer dizer... Madame Pê toma, sim, providência. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, em 2009 a Petrobras já tinha 650 advogados próprios. Pelo edital do último concurso (28/5/2015), um advogado júnior entra ganhando R$ 8,8 mil nessa empresa. Há edital para concurso de mais de 150 novos causídicos. Considerando vantagens e tudo, vai pra quanto? Fazendo uma média salarial por baixo, bem por baixo, a folha anual, sem encargos, passa de R$ 120 milhões. Mas tem mais: Para se ter uma ideia, no RESP 735.698 o STJ reduziu os honorários dos advogados de Madame de R$ 300 milhões para R$ 1 milhão, o que quer dizer — sem entrar no mérito da decisão — que os advogados de Madame Pê recebem (também) honorários. Bom para eles. Gosto que todo mundo se dê bem na vida. Entretanto, mesmo com tudo isso — com um quadro de causídicos excelência e bem pago — Madame gastou mais R$ 180 milhões entre 1998 e 2009 na contratação de escritórios de advocacia ad hoc. E sem licitação. E gastou lá seus R$ 3,5 milhões patrocinando eventos de advogados, juízes e promotores... Mais R$ 1 milhão em festas juninas na Bahia em apenas uma ano...

E agora a grande notícia: Madame Pê vai gastar mais de R$ 200 milhões em contratação de escritórios de advocacia, para, segundo o mesmo jornal (ler aqui), investigar e cuidar para que a Madame não cometa novos erros e não mais permita novas falcatruas como as que estão escancaradas na operação "lava jato". Bingo. A contratação foi sem licitação. Em um país com um milhão de advogados, de fato não é necessário licitação.... (o estagiário levanta a placa, dizendo “ironia”!) Afinal, Madame La Marquise Pê é uma empresa privada (outra placa levantada pelo estagiário que sonha em ser contratado por Madame!). Pelo menos foi tratada até hoje como se fosse, nesses últimos anos, de algumas pessoas. Ah, como Sérgio Buarque de Hollanda tinha razão, quando disse que no Brasil fizemos a opção errada, ao ficarmos do lado de Antígona e desprezarmos Creonte (ler aqui). 

Bom, parece que tudo vai bem com Bardahl (lembram da propaganda?)

O futuro de Madame Pê ou quando a ré não se ajuda
O que me intriga? Com mais de um meio milhar de causídicos, como isso tudo acontece(u)? E como esses causídicos se comportam em relação a essa exogenia advocatícia? Eles concordam? A sociedade quer saber. Quer dizer, pelo menos eu quero saber. Esta coluna Senso Incomum quer saber. E acho que Marcos Pintar, Sergio Niemeyer e tantos outros comentaristas aqui da ConJur, sempre fiéis escudeiros, também estão curiosos. Aliás, falo sem procuração dos advogados-leitores-comentaristas, mas como já me afeiçoei a eles na coluna das quintas-feiras, permito-me falar por eles e dizer que eles, eu e tantos outros advogados gostaríamos de colaborar com Madame, pois não?

Pindorama é um país curioso. No meio da maior crise de Madame (diretores que afundaram os dois pés na jaca, dinheiro a rodo na Suíça, eteceterá), ela resolve gastar uma fortuna exatamente naquilo que seus quadros jurídicos deveriam ter evitado. Bom, alguém dirá: porta arrombada, tranca de ferro... A moda agora é uma coisa chamada compliance. OK. Não vou discutir a necessidade disso. 

Afinal, compliance é uma coisa complexa, certo? Quem não tem ou não faz compliance está out, certo? Pra que discutir com a Madame (lembrando João Gilberto - ouvir aqui)? Talvez essa seja a explicação para a cara contratação de escritórios famosos. Bom para eles. De todo modo, um milhão de advogados de Pindorama nem sabe o que significa esse ervanário. Num país em que a renda média de um causídico oscila entre R$ 3 mil e R$ 10 mil, esses valores são de filme. Mas para Madame Pê, o que são R$ 200 milhões? Para termos uma ideia do volume com que Madame Pê lida, R$ 100 milhões só um diretor devolveu fruto de corrupção, portanto, um pingo d’água no meio do oceano de Madame. Enfim, que bobagem a minha. Não devemos nos preocupar: Tout va trés bien, Madame La Marquise. 

A outra Madame, a presidente de la Republique, já disse uma frase célebre: Même les vaches viennent à la maison (nem que a vaca tussa). É: tudo vai bem... afinal, quem quer morrer por Danzig?, perguntava o jornalista Marcel Déat, no artigo intitulado To die for Danzig (Morrer por Danzig), publicado em L’Oeuvre em maio de 1939. Bobagem minha falar da Petrobras. Como no tal artigo de 1939 — retratado no livro Paris a festa continua, objeto desta paródia epistêmica —, em que se dizia “começar uma guerra na Europa por causa de Danzig seria um certo exagero” e que “não morreremos por Danzig”, alguém me censurará e dirá: quem quer se preocupar com esse tipo de assunto? Quem quer morrer por Madame? Começar uma guerra por causa de Madame

Esqueçam(os). Foi apenas uma coluna de quem não tem mais o que dizer acerca do que acontece no castelo de Madame (ou nos castelos das duas Madames, se me entendem).
Afinal, tudo vai  trés bien.

Post scriptum 1. Mas que o novo ministro da Ciência e Tecnologia me lembra o cara do tambor do filme Stanno tutti bene, ah, isso lembra. Isso não me sai da cabeça.

Post scriptum 2: Não é por mim. Mas os leitores da coluna e da ConJur não acham que o Poder Judiciário e o Ministério Público do Rio de Janeiro estão devendo uma explicação acerca do episódio da busca do Habeas Corpus falado aqui na semana passada? Será que também tout vas très bien? Ou as atitudes das doutoras juíza e promotora são consideradas normais?