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Barcelona: o Santander espera atrair os clientes do HSBC que usam serviços no exterior
São Paulo — O banco Santander ficou conhecido pela ousadia ao fazer aquisições. Depois de uma série delas, a instituição, que era apenas a sexta maior da Espanha na década de 80, tornou-se uma das maiores do mundo, com valor de mercado de cerca de 100 bilhões de dólares.
No Brasil, deixou o mercado atônito ao pagar 7 bilhões de reais pelo
Banespa, quase quatro vezes acima do preço mínimo estabelecido no leilão
de privatização do banco em 2000. Quem esperava ver algo parecido no
processo de venda da filial brasileira do HSBC, porém, se decepcionou. O
Santander ofereceu menos do que o Bradesco e perdeu a disputa.
Os espanhóis ficaram conservadores? “Não, não”, diz Jesús Zabalza,
presidente do Santander no Brasil. A EXAME Zabalza afirmou que o banco
não vai “deixar passar boas oportunidades que acelerem a expansão no
país” — desde que o preço da aquisição faça sentido.
Exame - Ficou mais difícil competir num mercado que é dominado por quatro bancos bem maiores do que o Santander?
Zabalza - Temos um tamanho que nos permite competir.
Nos últimos três anos, depois da integração do banco Real (comprado em
2007), fizemos uma transformação interna: reduzimos despesas, aumentamos
a eficiência, melhoramos o custo do crédito, baixamos a inadimplência e
nos tornamos mais competitivos comercialmente.
Agora temos a plataforma ideal para capturar clientes da concorrência.
Somos o único banco internacional de grande porte com presença no
Brasil. Não somos uma instituição de nicho. É uma posição importante
para aproveitar agora.
Exame - A estratégia é explorar essa presença internacional para
tentar atrair clientes do HSBC, já que o Bradesco é um banco local?
Zabalza - Sim. Somos procurados por empresas que querem
exportar ou ampliar seus negócios no exterior e por companhias que
querem vender para o Brasil ou se instalar aqui. Também oferecemos
serviços para correntistas de alta renda, que podem, por exemplo, sacar
dinheiro em caixas eletrônicos de diversos países sem custo adicional.
Vamos usar esse tipo de diferencial para acelerar o crescimento
orgânico. A política do Santander no Brasil não é ser o maior banco.
Queremos ter uma participação relevante no mercado — o que já temos — e
ser o melhor banco.
Exame - Quando isso mudou? No passado, o Santander queria, sim, ser o maior.
Zabalza - Hoje, é difícil ser o maior. Mas queremos
aumentar nossa base de clientes e fazer com que eles concentrem sua
movimentação financeira conosco. Para isso, precisamos atender melhor.
Estamos trabalhando para ter uma oferta de produtos e serviços de boa
qualidade, a preços razoáveis. Também estamos investindo em treinamento.
Exame - O Santander está mais conservador ao fazer aquisições?
Zabalza - Não, não. A prioridade é o crescimento
orgânico acelerado, mas não vamos deixar passar boas oportunidades que
complementem nossos negócios e acelerem nossa expansão no país. Mas o
valor da aquisição precisa cumprir nossas exigências de retorno. Não
ficamos conservadores. Podemos comprar quando o preço fizer sentido.
Exame - O Bradesco pagou caro para comprar o HSBC?
Zabalza - Obviamente, pagou mais do que considerávamos bom para nossos parâmetros financeiros. Por isso, levou.
Exame - Comenta-se que o Santander não foi tão agressivo na
oferta pelo HSBC porque temia ter dificuldades na integração, como
aconteceu com o Real. Essa era uma preocupação?
Zabalza - No caso do Real, compramos um banco que era
quase do tamanho do Santander. O objetivo era aproveitar o melhor de
cada instituição e criar um grupo que fosse a soma dos dois. Era uma
meta agressiva, e acho que conseguimos cumpri-la, mas a consequência
foi que demoramos entre um e dois anos além do previsto para completar a
integração.
O HSBC é um banco menor. Além disso, o Santander já tem uma cultura
absolutamente definida no Brasil, então não teríamos a discussão de qual
cultura iria prevalecer. Seria, portanto, uma integração bem mais
simples.
Exame - A rentabilidade do Santander é bastante inferior à de Bradesco e Itaú. Dá para melhorá-la?
Zabalza - Uma explicação para isso é o fato de sermos
altamente capitalizados (como o patrimônio é elevado, a rentabilidade em
relação ao patrimônio é menor). Mas vamos melhorar esse indicador.
Além da transformação que fizemos nos últimos anos, montamos uma
instituição em conjunto com o banco Bonsucesso para ganhar terreno em
empréstimos consignados; investimos 1,1 bilhão de reais num novo centro
de operações em Campinas, que permite ampliar a escala de nossas
operações; e assumimos o controle da GetNet, que processa operações com
cartões. São investimentos que começam a dar frutos.
No segundo trimestre de 2015, tivemos o melhor resultado de nossa
história no Brasil. Esse resultado inclui ganho extraordinário com um
processo tributário. Mas, mesmo sem isso, o desempenho tem melhorado.
Exame - Por que é tão difícil para um banco estrangeiro crescer no Brasil?
Zabalza - Para competir aqui, é preciso ter escala, processos bem estruturados, tecnologia
e os melhores profissionais. Combinar tudo isso não é fácil. Além
disso, os bancos locais têm um longo histórico de atuação e conhecem a
fundo a dinâmica da economia doméstica. Mas a premissa de sua pergunta
não se aplica ao Santander.
Chegamos comercialmente ao Brasil somente no final da década de 90 e
conseguimos nos tornar o terceiro maior banco privado do país. Em
relação ao restante do mercado, não são apenas os estrangeiros que penam
para competir no Brasil. Os bancos médios também enfrentam
dificuldades.
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