A piora da economia brasileira, com mercado interno mais fraco, redução dos investimentos e desvalorização do real, vem sendo citada em dezenas de balanços corporativos e teleconferências de resultados
O Brasil vem sendo o vilão para muitas grandes empresas multinacionais
dos Estados Unidos na atual temporada de divulgação de resultados
trimestrais. A recessão e a desvalorização do real estão afetando os
números de empresas tão diferentes como a montadora General Motors, a
fabricante de eletrodomésticos Whirlpool, a companhia aérea American
Airlines, a Coca-Cola, a 3M e a fabricante de equipamentos Caterpillar.
Apesar de muitas das grandes multinacionais dos EUA não divulgarem
números específicos de países onde operam, preferindo dados consolidados
por região, a piora da economia brasileira, com mercado interno mais
fraco, redução dos investimentos e desvalorização do real, vem sendo
citada em dezenas de balanços corporativos e teleconferências de
resultados como uma das responsáveis pela queda do faturamento destas
companhias.
'Situação desafiadora'
Na teleconferência de resultados da GM, a presidente executiva (CEO) da
montadora, Mary Barra, destacou que o mercado brasileiro encolheu 27%
no terceiro trimestre em comparação a igual período do ano passado. "A
situação na América do Sul é desafiadora", disse ela. A empresa teve um
prejuízo na região de US$ 217 milhões no terceiro trimestre, acima da
perda de US$ 32 milhões do mesmo período do ano anterior.
A American Airlines também ressaltou a contribuição negativa do Brasil
para seus números, sobretudo por causa da forte desvalorização do real
em relação ao dólar. A receita unitária consolidada por passageiro
(Prasm, na sigla em inglês) teve queda de 25% no trimestre, número só
menor na América Latina do que o da Venezuela, com retração de 46%. "Não
há sinais de melhora para as receitas na América do Sul. Não esperamos,
de forma realista, que os dados da região melhorem até que a economia
do Brasil mude", disse na teleconferência de resultados o presidente da
AA, J. Scott Kirby, destacando que a companhia cortou 30% da capacidade
no Brasil.
Apesar de a situação dos países emergentes estar complicada de forma
geral, com piora da perspectiva de crescimento em vários mercados e
desaceleração da China, a 3M anunciou crescimento de 13% no México e de
1,5% na Europa, Oriente Médio e Ásia. No Brasil, porém, reportou queda
de 2%.
"O Brasil passa por um momento duro", disse na teleconferência de resultados o presidente executivo da 3M, Inge G. Thulin.
Máquinas
"O Brasil está em recessão, com um ambiente econômico difícil. E as
nossas vendas certamente refletem essa dificuldade", disse, na
teleconferência para comentar o balanço da Caterpillar o vice-presidente
da empresa, Michael Lynn DeWalt, mencionando a piora na América Latina
no faturamento com equipamentos para o setor de construção. A
desvalorização do real também teve impacto no balanço. "Tivemos perdas
no trimestre de US$ 135 milhões (com moedas). E muito dessa perda veio
do Brasil e da China, onde as divisas se enfraqueceram."
Influenciado pelo desempenho fraco de grandes mercados fora dos Estados
Unidos, como Brasil e China, a queda do preço do petróleo e a
valorização do dólar, os analistas projetam uma queda de 5,1% nos ganhos
das companhias abertas dos EUA no terceiro trimestre, segundo
estimativa calculada pela FactSet.
Das 173 companhias que fazem parte do índice S&P 500 que divulgaram
números até a última sexta-feira, 77% tiveram lucro acima do esperado,
mas não porque conseguiram números muito bons. Os analistas do FactSet
lembram que várias companhias vinham alertando para ganhos mais fracos, o
que fez Wall Street reduzir as estimativas, ficando mais fácil bater as
projeções.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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