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Impeachment: o poder de Cunha de aceitar ou rejeitar pedidos continuaria intacto. Então por que ele não toma uma decisão?
Josué Leonel, da Bloomberg
Nas palavras do próprio Eduardo Cunha, seu papel na definição da abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff não mudou. As liminares do STF ontem apenas teriam vetado recurso da oposição em caso de pedidos serem arquivados.
O poder de Cunha de aceitar ou rejeitar pedidos continuaria intacto. Então por que ele não toma uma decisão?
Após as liminares do STF, só restou a Cunha o poder de tomar uma
decisão, isoladamente, de rejeitar ou aceitar os pedidos de impeachment.
É um poder considerável que a lei concede ao presidente da Câmara. O
problema é que esta é uma arma que só pode ser usada uma vez.
Se Cunha aceita o pedido, o processo passa a correr na Câmara e seu
poder de definir o rumo dos acontecimentos diminui. Neste caso, sua
moeda de troca em busca de proteção contra as tentativas de o apearem do
posto também perderia valor.
Antes das decisões do STF, havia grande expectativa de que Cunha
iniciasse esta semana o processo de impeachment. Para isso, ele usaria
do expediente de arquivar o pedido, deixando para a oposição o trabalho
de levá-lo à votação em plenário, o que só exigiria 50% +1 dos votos.
O processo começaria mais forte, aprovado pelo plenário e não pela
decisão de um presidente da Câmara que enfrenta denúncias da Lava Jato,
diz o analista político Ricardo Ribeiro, da consultoria MCM.
Até agora, Cunha tem rejeitado todos os pedidos de impeachment, por
serem tidos como inconsistentes. O único que conta, porém, é o pedido
elaborado por Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior.
Este pedido está sendo refeito para incluir as ”pedaladas” de 2015,
diante do entendimento de alguns juristas de que a presidente não pode
ser afastada por problemas do mandato anterior - o primeiro pedido
apresentado pelos mesmos juristas refere-se a atos de 2014.
Mesmo com manobra do plenário vetada, ainda resta o poder de decisão
pessoal de Cunha de dizer sim ou não aos pedidos. Ainda que seja uma
arma para ser usada uma vez só, a expectativa é de que tanto o governo
quanto a oposição tentem negociar com o presidente da Câmara: o governo
para tentar proteger Dilma, a oposição para derrubá-la. A questão é o
que poderão oferecer em troca.
No caso das denúncias da Lava Jato, nem mesmo o governo tem muito a
oferecer, dado que as investigações são comandadas pelo juiz Sérgio
Moro.
Para Ribeiro, outra possibilidade, na qual tanto governo quanto a
oposição teriam algo a oferecer, seria assegurar votos na Câmara para
defender Cunha das ações que tentam derrubá-lo do cargo ou mesmo de
futuras tentativas de cassar seu mandato de deputado.
Caso perca a imunidade parlamentar, a situação do presidente da Câmara
pioraria muito diante do teor das acusações que já sofreu.
Considerando-se o modus operandi da operação Lava Jato, tem sido elevado
o risco de prisão preventiva para quem é envolvido na corrupção da
Petrobras e não conta com a proteção típica dos políticos com mandato.
O grosso dos presos em Curitiba é formado por executivos de empresas.
Políticos lá estão apenas os sem mandato, como José Dirceu. Cunha deve
fazer o possível para evitar fazer parte deste grupo.
O sentimento de que o governo ganhou um fôlego especial com a decisão do
STF não foi bem recebido pelo mercado ontem, quando o dólar disparou
3,5% e o Ibovespa despencou 4%.
Antes, o mercado vinha em rali com a expectativa de impeachment se
somando à redução nas expectativas de alta dos juros nos EUA. O alívio
no exterior prossegue, mas o sonho de uma transição de governo
relativamente rápida evaporou.
Resta ao mercado esperar que o governo se recomponha o suficiente não
apenas para salvar o mandato de Dilma, mas também para aprovar o ajuste
fiscal e desviar o Brasil de nova rodada de deterioração econômica.
Enquanto o impeachment seguir como uma ameaça, ainda que reduzida,
contudo, é pouco provável que esta recomposição ocorra.
O governo pode ter força para votações menos difíceis, como a manutenção
de vetos, mas não para aprovar emendas constitucionais, como a da CPMF,
diz Ribeiro.
Enquanto o cenário político segue paralisado, a crise na economia segue
seu curso. As vendas no varejo de agosto, divulgadas hoje, vieram piores
do que o previsto. E o número de julho foi revisado para pior.
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