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Andrade Gutierrez: O valor de mercado da CCR é avaliado em R$ 23 bilhões. Há um ano, valia R$ 30 bilhões
Renée Pereira e Mônica Scaramuzzo, do Estadão Conteúdo
São Paulo - O grupo Andrade Gutierrez, uma das 23 empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato,
que investiga corrupção em contratos da Petrobras, começou a ofertar
parte de seus ativos para grupos e fundos de investimentos estrangeiros.
O jornal O Estado de S. Paulo apurou que o conglomerado já ofereceu sua
participação de 17% na concessionária CCR para pelos menos três grupos -
os fundos Temasek e GIC, ambos de Cingapura, e a canadense Brookfield.
Fontes afirmam, no entanto, que ainda não há negociações firmes. A
empresa detém 17% das ações da CCR, mesma fatia da Camargo Corrêa. Outro
sócio é o grupo Soares Penido, com 17,22%.
Pelo acordo de acionistas da concessionária, no caso de venda de
participação, os demais investidores da companhia devem ser consultados
primeiro e têm preferência na compra das ações.
Ainda segundo fontes, a Andrade Gutierrez só venderia esse ativo, que é
considerado atrativo no mercado e tem vários interessados, se o
comprador pagar um grande prêmio pelo negócio.
O valor de mercado da CCR é avaliado em R$ 23 bilhões. Há um ano, valia
R$ 30 bilhões. Além de concessões rodoviárias, como o sistema
Anhanguera-Bandeirantes, a empresa administra o Aeroporto de Belo
Horizonte. Em nota, a Andrade Gutierrez negou veementemente que esteja
vendendo sua participação na CCR.
A reportagem apurou que Brookfield e Temasek, que já têm investimentos
no País em infraestrutura, estão de olho em outros ativos de companhias
envolvidas na Lava Jato. Segundo o presidente da assessoria financeira
BF Capital, Renato Sucupira, em função do câmbio, empresas brasileiras
têm despertado a atenção do investidor estrangeiro.
Com a desvalorização do real, os ativos ficaram, em média, 50% mais
baratos em dólar. A CCR, por exemplo, custaria na moeda americana US$
5,6 bilhões, na cotação de Sexta-feira.
"Já entre os brasileiros, a situação é mais complicada. Dos oito grandes
grupos nacionais que teriam condições de entrar numa empreitada desse
tamanho, dois são acionistas da empresa e os demais também estão
vendendo ativos."
Segundo o executivo, hoje há muita oferta, vários investidores
interessados e um ambiente adverso para fechar negócios. "Mesmo com o
Brasil barato, há incertezas. Hoje, não vale a pena pagar por esse
risco, mesmo que o negócio seja atrativo", disse uma fonte de um grande
fundo.
Além da fatia da Andrade Gutierrez na CCR, outros grupos estão colocando à venda participações que têm em empresas.
A Camargo Corrêa, por exemplo, tenta se desfazer de sua fatia na
Alpargatas, InterCement e CPFL, conforme já informou o Estado. A OAS,
por sua vez, também colocou à venda sua participação na Invepar,
controladora da concessionária do Aeroporto de Guarulhos.
Dificuldades
Segundo fontes, além da CCR, a Andrade Gutierrez já sinalizou interesse
em se desfazer de outros ativos caso a situação piore. Com o
envolvimento na Lava Jato e a prisão do presidente da holding, Otávio
Azevedo, a empresa foi impedida de participar de novas licitações da
Petrobras e viu suas receitas em óleo e gás caírem.
Em recente relatório, divulgado na semana passada, a agência de
classificação de risco Fitch demonstra preocupação com os efeitos da
Lava Jato na construtora, como a maior dificuldade para obter
financiamentos futuros.
Segundo o documento, outro ponto fraco do grupo é a forte concentração
da carteira de projetos no setor público. Dos R$ 28,8 bilhões da
carteira de projetos em 30 de junho deste ano, 82% estavam atrelados a
empreendimentos públicos.
Um problema que pode afetar o caixa da empresa é a dificuldade dos
governos - federal e estaduais - de manter os pagamentos em dia.
Levantamento da ONG Contas Abertas mostra que os desembolsos do governo
federal para as empreiteiras envolvidas na Lava Jato caíram 60% neste
ano.
Junta-se a isso o fato de a companhia possivelmente ser punida pelo
envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras, que deve retirar
alguns milhões do caixa da companhia. O grupo também é acionista da
encrencada Oi, altamente endividada e que virou uma empresa de capital
pulverizado.
Procuradas, CCR, Brookfield e Temasek não comentaram o assunto.O GIC não retornou os pedidos de entrevista.
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