A imprensa francesa volta a comentar a crise no Brasil nesta segunda-feira (5). O jornal Libération
dedica duas páginas à degringolada da economia brasileira. A ilustração
da matéria é uma imagem da presidente Dilma Rousseff de cabeça baixa,
sob o título: "No Brasil, a festa acabou".
"Depois da rica era Lula, é hora da ruína", diz o Libération,
ressaltando que, após a posse da presidente Dilma Rousseff, em 2010, o
crescimento emperrou no Brasil. A sétima economia mundial entrou em
recessão, após um ano de estagnação. O círculo virtuoso iniciado pelo
ex-presidente Lula, que conseguiu tirar 40 milhões de brasileiros da
pobreza, acabou e foi substituído por um desemprego explosivo, destaca o
jornal.
De agosto de 2014 a
agosto de 2015, um milhão de brasileiros perderam o emprego, num
processo que começou com a revelação do escândalo de corrupção na
Petrobras. A taxa de desemprego, que era de 6,5%, passou a 8%. Libération
questiona como o Brasil, uma estrela do Brics, o grupo de países
emergentes com taxa de crescimento acelerado, caiu nesse buraco.
Ajuste
A
queda dos preços das matérias-primas, principal fonte das exportações
brasileiras e motor da economia, não é a única razão, segundo o Libération.
Houve muita intervenção direta da presidente Dilma na economia e ela
fez escolhas nem sempre acertadas. O texto cita, por exemplo, incentivos
fiscais exagerados concedidos às empresas. Essa política diminuiu a
arrecadação do Estado e agravou o déficit público. Os cortes no
orçamento, necessários ao reequilíbrio das contas públicas, atingem os
programas sociais do governo, lamenta um dirigente da Central Única dos
Trabalhadores (CUT) ouvido pela reportagem.
O
diário francês entrevistou eleitores e opositores da presidente. Um
aposentado afirma que Dilma mentiu sobre a situação da economia durante a
campanha. Já uma eleitora da presidente, "pega de surpresa pela
violência da crise, e que passou a comprar carne só uma vez por semana",
acredita nas boas intenções de Dilma. "Ela foi surpreendida pela
crise", diz a mulher.
Desconfiança e ressentimentos
Libération
relata todos os problemas que os brasileiros estão enfrentando:
inflação em alta, juros estratosféricos, insolvência, aumento de
impostos, queda da atividade industrial, desemprego em massa.
Um
dirigente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) disse ao jornal
que só a depreciação do real dá um alento aos industriais. Ele também
reclama da falta de apoio da presidente Dilma ao ministro da Fazenda,
Joaquim Levy, uma situação que alimenta o clima de desconfiança dos
investidores. "Foi preciso a agência Standard and Poor's rebaixar a nota
do Brasil para a presidente anunciar um plano de austeridade", escreve o
Libération, questionando se Dilma conseguirá aplicá-lo.
Os
cortes nas despesas do governo dependem de aprovação do Congresso.
Dilma tenta reconstruir a aliança com o PMDB para aprovar as medidas.
Mas, como diz um advogado entrevistado no calçadão da avenida Paulista,
"o Congresso está cheio de bandidos, o que ela pode fazer?". A realidade
é que a presidente só tem 8% de aprovação e é a chefe de Estado mais
impopular do Brasil em 25 anos, conclui o Libération.
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