terça-feira, 6 de outubro de 2015

O que você tem que saber do maior acordo comercial já feito


REUTERS/USTR Press Office
Os 12 ministros de comércio dos países contemplados pelo TPP posam para foto oficial em Atlanta, nos Estados Unidos
Os 12 ministros de comércio dos países contemplados pelo TPP posam para foto oficial em Atlanta, nos Estados Unidos
 
 
 
 
São Paulo - Foi anunciada hoje a conclusão da Parceria Trans-Pacífica (TPP, na sigla em inglês), maior acordo regional de comércio da história.

Se aprovado internamente por seus 12 membros, o TPP vai diminuir tarifas e abrir mercados, além de estabelecer regras comuns ambientais, trabalhistas, de investimento e propriedade intelectual.

O acordo inclui a primeira e a terceira maiores economias do mundo (Estados Unidos e Japão) e tem o potencial de estimular o crescimento e o comércio globais.
Ele estava sendo negociado há muitos anos e teve como embrião um acordo que entrou em vigor há uma década entre Brunei, Chile, Nova Zelândia e Singapura.

Agora, juntam-se ao quarteto inicial Austrália, Canadá, Japão, Malásia, México, Peru, Estados Unidos e Vietnã. Juntos, eles somam 800 milhões de pessoas e respondem por 40% do PIB global. 


Veja no mapa:
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Controvérsias


O texto final com 30 capítulos deve ficar disponível em um mês. O sigilo das negociações sempre foi uma das principais críticas de seus opositores, que reclamam do acesso privilegiado de indústrias interessadas (o WikiLeaks chegou a vazar trechos).

Enquanto setores como os de tecnologia e cultura celebram regras de informação compartilhada e combate à pirataria, a Electronic Frontier Foundation diz que o acordo é "uma das maiores ameaças globais à internet".

Uma grande polêmica é a do artigo que permite a corporações processarem governos em painéis de arbitragem internacional para reverter decisões que as prejudiquem.

É o que a Phillip Morris já fez quando a Austrália a obrigou de introduzir embalagens genéricas para cigarros. O TPP acabou saindo com exceções para tabaco e saúde pública, o que não elimina o risco de uso em outros campos, como proteção ambiental.

Mas a maior briga de saúde é sobre o tempo garantido para as patentes de medicamentos. As farmacêuticas queriam o prazo americana de 12 anos, mas organizações de saúde pública reclamaram que isso aumenta preços e restringe o acesso.

A regra acabou ficando entre 5 e 8 anos, dependendo das condições. Um comunicado do Médico sem Fronteiras diz que "o TPP vai entrar para a história como o pior acordo comercial para acesso a medicamentos em países em desenvolvimento".

O acordo também tem uma parte trabalhista que exige cumprimento de padrões da Organização Internacional do Trabalho e permite punição sobre países com histórico ruim nesta área, como Malásia e Vietnã.

Isso não impede que grandes sindicatos americanos se oponham frontalmente ao acordo. Os padrões ambientais também dividem ativistas.

O texto final deixou de fora o tema da manipulação de moedas como forma de competição desleal, mas há relatos de que isso será abordado em um texto paralelo.
 

Política


O TPP é um marco da atenção crescente dos Estados Unidos para a Ásia-Pacífico e representa um esforço para moldar as regras do comércio da região (e do mundo) à sua maneira.

A ideia é se contrapor a uma influência crescente da China, que não está no acordo, apesar da entrada de novos países não estar descartada a princípio. 

O TPP também é um trunfo para o presidente Barack Obama, que sempre o defendeu e diz que o acordo “coloca os trabalhadores americanos em primeiro lugar e vai ajudar as famílias de classe média a avançar".

Um estudo do Peterson Institute estima um impacto anual de US$ 77 bilhões sobre a renda real do país em 2025. Tradicionalmente, o setor exportador gera empregos mais bem pagos.

Obama conta com o apoio da Câmara de Comércio, que nem sempre fica do seu lado:

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Em junho, Obama conseguiu do Congresso a autoridade fast track, que permite passar acordos pelo Legislativo com um simples voto 'sim' ou 'não', sem possibilidade de emendas ou bloqueios.
Isso não significa que a aprovação do TPP está garantida. Donald Trump, até agora o líder nas primárias do Partido Republicano, diz que é "um mau acordo", assim como vários congressistas dos dois partidos.

Hillary Clinton, ainda favorita para a indicação democrata, participou das negociações quando era secretária de Estado mas tem marcado uma posição mais cuidadosa nos últimos meses. O tema deve ser explorado na campanha.

O socialista Bernie Sanders, outro candidato nas primárias, disse que o acordo era uma vitória para "Wall Street e as grandes corporações" e precisava ser barrado:

 
Wall Street and big corporations just won a big victory. Now it's on us to stop the from becoming law.
 
 

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