EXAME.com convidou cinco analistas para traçar previsões para o cenário político em 2017. Veja o que eles disseram:
Não descarte a hipótese de eleição indireta
Quem diz: Marcelo Issa, sócio-diretor da Pulso Público
Certamente, haverá ainda muita turbulência. A permanecerem
as recentes e recorrentes divergências entre as instituições, em
especial entre os poderes Legislativo e Judiciário, pode-se até mesmo
vir a se estabelecer uma efetiva crise institucional. As perspectivas
decorrentes dos conteúdos das delações premiadas que devem emergir em
2017 agravam e reforçam essa possibilidade. Esses conteúdos devem
provocar também a substituição de uma quantidade expressiva de ministros
ainda nos primeiros meses do ano.
Caso a conjuntura da economia não apresente sinais de
recuperação, o setor produtivo pode vir a retirar o apoio às equipe
econômica do governo Temer. Ademais, a proliferação de denúncias de
corrupção contra o presidente e seus ministros devem intensificar a
oposição da opinião pública à permanência do governo e pode fazer
aumentar a frequência de manifestações nas ruas.
Nesse contexto, a fragilização do governo, a piora do
cenário econômico e a insatisfação popular podem atingir tamanha
intensidade que, embora resistente à renúncia, em função da proteção que
o cargo oferece contra o processamento por crimes cometidos antes do
mandato, o presidente pode ver-se constrangido a realizá-la.
Não se pode descartar, portanto, a hipótese de eleição
indireta para presidente no próximo ano nem tampouco, embora mais
improvável, o chamamento de eleição direta pelo Congresso para chefia do
Executivo por meio de emenda constitucional. Por outro lado, entende-se
que a cassação da chapa Dilma-Temer pelo Poder Judiciário em caráter
definitivo é variável verossímil apenas em caso de agravamento
substancial da crise econômica e que, de qualquer modo, não teria
resolução provável em 2017.
Saudade do tempo em que pedalada era “crime de responsabilidade”
Quem diz: Carlos Ranulfo Melo, professor titular do Departamento de Ciência Política da UFMG
A essa altura tornou-se evidente que o afastamento de Dilma
não foi o remédio para nossos males. O episódio contribuiu, é certo,
para recompor as relações entre Executivo e Legislativo, mas seu impacto
foi nulo se considerarmos a crise econômica, o fosso aberto entre a
sociedade e o mundo político, e as tensões provocadas pela Lava Jato.
Na economia, as previsões otimistas foram abandonadas. O
Congresso aprofundou seu desgaste. E o Supremo, ao relevar a afronta de
Renan em nome da “governabilidade”, acabou também pagando o seu preço.
Pior ainda, o presidente da República foi envolvido,
juntamente com seus braços direito e esquerdo, e todo o núcleo dirigente
do PMDB, no caixa 2 e propinoduto da
Odebrecht – pelo seu impacto, a delação vazada deixa saudade do tempo em que pedalada fiscal foi batizada de “crime de responsabilidade”.
Se antes do vazamento a rejeição ao governo havia subido,
pode-se imaginar o que vem por aí. De um lado, a turma de verde e
amarelo vai ficando sem ter para onde correr. De outro, aqueles que mais
dependem do Estado e sua rede de proteção social vão começando a
perceber, ao somar a PEC 55 e a proposta de reforma da Previdência, que a
conta da austeridade lhes será enviada.
Pergunta óbvia: com que legitimidade políticos envolvidos em tenebrosas
transações dirão ao cidadão que ele terá que trabalhar, se houver
emprego, e contribuir muito mais para garantir sua aposentadoria?
A crise não vai passar em 2017. Nem sequer sabemos quanto
irá durar o governo. Isso vai depender da Lava Jato e dos humores da
sociedade, para não falar do TSE. Por isso já se ouve dizer que ruim sem
Temer, pior sem ele. Mas se sobreviver, o governo será fraco. Mais
ainda, será uma farsa.
2017: um ano decisivo para alianças políticas
Quem diz: Antônio Flávio Testa, professor da Universidade de Brasília (UnB)
Tudo indica que 2017 será um ano difícil para o cenário
político do Brasil. Como os indicadores mostram que a economia não está
reagindo e que o nível de recessão é profundo, a insatisfação social e
dos servidores públicos deve aumentar no próximo ano.
Politicamente falando, o governo federal tende a enfraquecer
por ter uma base de sustentação frágil, mesmo com maioria no Congresso.
Além disso, é importante frisar que as delações dos executivos da
Odebrecht e o avanço nas investigações da Operação Lava Jato devem
amplificar a turbulência no mundo político e é possível que o governo de
Michel Temer não se sustente. Muita gente ainda será presa e condenada.
O fato é que 2017 será um ano decisivo para se estabelecer alianças
políticas. Nesse contexto, é possível prever a chegada de novos
candidatos no estilo da ex-ministra Marina Silva, pretensos ao estilo
“salvador da pátria”. Ainda assim, a situação estará muito indefinida e
teremos sérias crises pela frente.
A base aliada do governo será posta à prova já em fevereiro
Quem diz: Thiago Vidal, consultor da Prospectiva
Os grandes destaques de 2017 serão as eleições para a
presidência das duas casas do Congresso, que ocorrerão em fevereiro. No
Senado, a disputa parece caminhar para um consenso em torno do senador
Eunício Oliveira (PMDB/CE), líder do partido e braço direito de
(PMDB/AL).
A eleição na Câmara, por sua vez, colocará à prova a
capacidade do governo de manter sua base coesa. Quatro parlamentares
despontam como favoritos: (PTB/GO), um dos principais expoentes do
“centrão” e relator do impeachment de
Dilma Rousseff;
Rogério Rosso (PSD/DF), líder do partido na Câmara; Marcos Montes
(PSD/MG), correligionário de Rosso e presidente da Frente Parlamentar da
Agropecuária (FPA); e Rodrigo Maia (DEM/RJ), atual presidente e nome
preferido do Palácio do Planalto.
Ainda que parte dos nomes abandonem a disputa, a
fragmentação da base governista a dois meses do pleito evidencia as
dificuldades que Michel Temer deve enfrentar. Para evitar uma cisão
ainda maior entre seus aliados, é possível que o presidente aloque
insatisfeitos do “centrão” e dos partidos tradicionais (PMDB, DEM, PSDB,
PPS, PSB) em cargos ministeriais, como já fez ao convidar o deputado
Antonio Imbassahy (PSDB/BA) para a secretaria de Governo, no lugar de
Geddel Vieira Lima (PMDB/BA).
A acomodação de forças não será fácil e caso não consiga
estabilizar sua base aliada, Temer deve atravessar 2017 com turbulências
políticas. O maior impacto, neste caso, tende a ser a votação da
reforma da previdência.
Alguns fatores agravam esse cenário. A delação premiada dos executivos
da Odebrecht, por exemplo, deve envolver onze ministros, além de cem
congressistas, muitos dos quais aliados importantes do Executivo. O
desgaste político de Temer somado a sua baixa popularidade e ao
pessimismo em relação à economia pode levar o TSE [Tribunal Superior
Eleitoral] a cassar o mandato do presidente, provocando eleições
indiretas, o que ainda não ocorreu por causa da acentuação da crise
política que isso geraria.
Prepare-se para fatos que não estão no radar
Quem diz: Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice
Vai ser um ano truculento. A Lava Jato não vai parar.
Podemos esperar a queda de ministros e situações bem constrangedoras
para o governo Temer. Mas, de forma geral, a tendência predominante é de
que Temer termine o mandato.
Temer não irá recuperar sua popularidade no ano que vem, mas
isso não significa que ele irá perder o controle de seu mandato. O
principal risco para a governabilidade continua sendo a Lava Jato e as
ruas.
Eu acredito que vai ser um ano muito tenso politicamente.
Vão existir muitos problemas que não estão no radar de ninguém, como a
questão o Marcelo Calero e do Geddel. Ninguém esperava.
No primeiro semestre, a delação da Odebrecht vai produzir
poucos fatos, mas muitos rumores que deixarão a situação muito
intranquila.
A Reforma da Previdência não vai ser uma vitória tranquila
como foi a PEC do Teto. Ela vai provavelmente sofrer mudanças,
principalmente na Câmara. No Senado, tende a ter uma tramitação mais
tranquila. Já a reforma política não deve trazer grandes mudanças.
Afinal, reforma política é que nem carnaval: tem todo ano.