terça-feira, 9 de maio de 2017

Atlantia deve fazer oferta de aquisição da Abertis em breve


Segundo duas fontes, a Atlantia assegurou um pacote de financiamento avaliado em cerca de 11 bilhões de euros para bancar uma oferta em dinheiro e ações




Londres/Milão/Madri – O grupo italiano de rodovias Atlantia está planejando fazer uma oferta de aquisição da rival espanhola Abertis nos próximos dias, disseram nesta terça-feira duas fontes com conhecimento da situação.

Uma fusão entre Atlantia e Abertis criaria a maior operadora de rodovias da Europa, com um valor de mercado combinado de mais de 36 bilhões de euros.

No Brasil, a Abertis é controladora indireta da Arteris, uma das maiores operadoras rodoviárias do país. Já a Atlantia foi uma das interessadas em 2015 em fazer um aporte na EcoRodovias, rival da Arteris, operação que acabou sendo realizada pelo grupo Gavio, também italiano.

A fusão também poderá acelerar os planos da Atlantia em se diversificar para além de seu mercado local, uma vez que o grupo combinado vai gerar cerca de 60 por cento de seus resultados fora da Itália.

“É uma questão de dias. A oferta deve ocorrer mais para o final da semana ou início da próxima semana”, disse uma das fontes, acrescentando que as duas partes têm interesse em um acordo amigável.

Representantes da Atlantia não puderam comentar o assunto de imediato e a Abertis preferiu não se manifestar.

As fontes afirmaram que a Atlantia assegurou um pacote de financiamento avaliado em cerca de 11 bilhões de euros para bancar uma oferta em dinheiro e ações.

A Atlantia tem uma reunião de conselho de administração marcada para a sexta-feira para discutir resultados trimestrais e poderá tentar formalizar a oferta pela Abertis, disseram as fontes.


CMAA investe até R$ 500 mi em usina de açúcar e etanol

CMAA investe até R$ 500 mi em usina de açúcar e etanol



Aclamado por seus pares ao chegar ao almoço anual que promove para marcar a abertura da safra de cana-de-açúcar em Minas Gerais, José Francisco Santos, 61 – fundador da Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) e da JF Citrus –, exala carisma ao cumprimentar todos os cerca de 300 convidados. No discurso, dispara frases como: “Criei meus filhos para serem gestores, e não herdeiros”, referindo-se a Francisco José, diretor da JF Citrus, uma das quatro maiores produtoras de laranja do país; Carlos Eduardo, presidente da CMAA; e Luiz Gustavo, membro do conselho da JF Citrus e da CMAA.

É com toda essa energia contagiante que José Francisco Santos, presidente do conselho de administração da CMAA e da JF Citrus, fala também do novo investimento do grupo – uma usina de açúcar dentro da unidade Vale do Pontal, em Limeira do Oeste, no Triângulo Mineiro, que será inaugurada no dia 16 de maio. O investimento total – incluindo a compra da usina, a plantação e a área de açúcar – Santos calcula que foi de R$ 450 milhões a R$ 500 milhões. “Serão 2,5 milhões de toneladas de cana. Ela vai produzir álcool, açúcar e energia”, conta Santos. Só para adaptar e criar a fábrica de açúcar foram investidos R$ 80 milhões para a produção de 60 mil toneladas de açúcar. A área plantada é de 20 mil hectares.

A outra usina da CMAA, a Vale do Tijuco, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, já está com a moagem anual de 4 milhões de toneladas de cana numa área plantada de 50 mil hectares. Lá são produzidos 35 mil sacos de açúcar por dia. “Ficamos em terceiro lugar no ano passado. Prefiro estar entre os melhores do que estar entre os maiores”, dispara Santos, diante de um crescimento sustentável do grupo.

Empregos gerados. O presidente da CMAA, Carlos Eduardo Turchetto Santos, conta que as duas usinas geram 2.000 empregos diretos, sendo 1.300 na Vale do Tijuco e 700 na Vale do Pontal. “Com a fábrica de açúcar, houve um incremento de quase cem pessoas já contratadas e em treinamento”. Juntas, as duas usinas vão faturar R$ 1 bilhão neste ano.

Questionado sobre se tem mais alguma unidade sucroenergética no radar, Santos, antes de responder, pensa por instantes, olha para o horizonte e responde: “Pode ter. Mas o mercado melhorou. Usina que tem cana boa para moer e boas terras não está passando dificuldades”, desconversa.

JF Citrus está entre as 4 maiores

Mineiro de Oliveira, José Francisco Santos é um dos quatro maiores produtores do país com sua JF Citrus. “Neste ano vamos produzir 8 milhões de caixas de laranja, sendo 90% para exportação. Trabalhamos mais com suco concentrado”, diz, animado. Cada caixa de laranja tem 40,8 kg, acrescenta o empresário, que tem 700 empregados e outros 2.000 na safra.

Com uma área plantada de 12 mil hectares para o negócio da laranja, Santos explica que as plantações estão distribuídas entre Minas Gerais e São Paulo, sendo que esse último detém 70% da produção. “Temos laranja em Avaré, Mogi Mirim e Bebedouro (as três em São Paulo) e, em Minas, na cidade do Prata, onde temos mais de 1 milhão de pés irrigados, e em Comendador Gomes”, afirma.

Santos conta que paga US$ 400 para cada tonelada de suco de laranja que exporta, por isso ele é a favor de uma taxa para o Brasil importar etanol 

(O Tempo)

Coach compra varejista de luxo Kate Spade por US$ 2,4 bilhões


No início deste ano, a companhia afirmou que estava buscando alternativas estratégicas para seu negócio, como uma venda

 






São Paulo – De olho na Geração Y, A Coach anunciou ontem, 8, que comprou a Kate Spade por US$ 2,4 bilhões. A varejista de luxo estava à venda desde o início do ano.

O preço, de US$ 18,50 por ação, representa um prêmio de 27,5% em relação ao valor das ações em 27 de dezembro de 2016. Essa data não foi escolhida por acaso. Segundo a Coach, foi o último dia em que o preço das ações não foi afetado por especulações de compra.

Em novembro, o fundo de investimentos Caerus Investors enviou uma carta à A Kate Spade, pressionando que a companhia se colocasse à venda. “Estamos profundamente preocupados com o declínio íngreme do valor das ações da Kate Spade nos últimos dois anos e meio, provocado pela inabilidade da direção de alcançar as próprias metas”, diz a carta.

No início deste ano, a companhia afirmou que estava buscando alternativas estratégicas para seu negócio, como uma venda.

A Coach, fabricante de bolsas e acessórios de luxo baseada em Nova York, afirmou que a aquisição fará dela uma companhia de grandes e reconhecidas marcas de luxo modernas.

Para Victor Luis, CEO da Coach, “a Kate Spade tem uma posição de marca verdadeiramente única e diferenciada com amplo sortimento de produtos de estilo de vida e de forte reconhecimento entre os consumidores, especialmente millienials”.

Essa atração entre a população mais jovem é justamente sua maior força e um dos principais motivos para a compra, dizem analistas.

“A experiência extensa da Coach em abrir e operar lojas especializadas globalmente, além da construção de marcas em mercados internacionais pode desbloquear o potencial de crescimento global da Kate Spade, em grande parte inexplorado”, diz o presidente.

As empresas esperam sinergias, ou cortes de custos advindos da aquisição, de US$ 50 milhões em três anos. Este valor virá de melhorias em eficiência operacional, na escala e gestão de estoque e otimização da rede de fornecedores da Kate Spade.

Tribunal nega adiar depoimento de Lula a Moro


Juiz rejeitou pedido da defesa do ex-presidente para adiar os depoimentos

 






O juiz federal Nivaldo Brunoni, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), manteve o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para esta quarta-feira, 10. O magistrado rejeitou pedido liminar da defesa do petista para suspender a ação penal e o interrogatório do ex-presidente.

“Não há razão para o deferimento de suspensão do interrogatório do paciente e sobrestamento da ação penal”, afirmou o magistrado.

Nivaldo Brunoni pontuou que “não pode passar despercebido que o interrogatório do réu, ato comum a qualquer ação penal, ganhou repercussão que extrapolou a rotina da Justiça Federal de Curitiba/PR e da própria municipalidade”.

“Medidas excepcionais foram tomadas para evitar tumulto e garantir a segurança nas proximidades do fórum federal; prazos foram suspensos, o acesso ao prédio-sede da Subseção Judiciária será restrito a pessoas previamente identificadas e o trânsito nas imediações será afetado, medidas que vem mobilizando vários órgãos da capital paranaense”, observou o magistrado.

O ex-presidente vai ser interrogado nesta quarta-feira, 10, pelo juiz federal Sergio Moro. Na ação, ele é acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões em propinas da OAS que, em troca, teria fechado três contratos com a Petrobras, supostamente por ingerência de Lula.

Os advogados de Lula pediram por meio de habeas corpus a imediata (concessão de liminar) suspensão do processo criminal em que ele é réu por corrupção e lavagem de dinheiro no caso triplex – imóvel situado no Guarujá, litoral de São Paulo, que a Lava Jato diz pertencer a Lula, o que é negado por ele. A defesa alegou que não teria tempo suficiente para analisar o conteúdo de uma supermídia com 5,42 gigabytes com documentos que a Petrobras anexou aos autos – estima-se que o arquivo tenha 100 mil páginas.

A defesa de Lula havia solicitado pelo menos 90 dias para examinar os documentos da Petrobras e queriam que o Tribunal determinasse “a renovação dos atos processuais prejudicados pelos atos ilegais impugnados, em especial, o interrogatório marcado para o dia 10 de maio de 2017 e a etapa do artigo 402 do Código de Processo Penal”.

Para Brunoni, “no tocante ao prazo de 90 dias para o exame do material apresentado pela Petrobras, não merece acolhimento o pedido por falta de previsão legal”.

“A documentação juntada em meio digital é inédita para todas os atores processuais (defesa, acusação e juízo). Não se desconsidera que a existência de milhares de páginas para exame demanda longo tempo, mas foge do razoável a defesa pretender o sobrestamento da ação penal até a aferição da integralidade da documentação por ela própria solicitada, quando a inicial acusatória está suficientemente instruída”, anotou Nivaldo Brunoni.


segunda-feira, 8 de maio de 2017

Nordex Acciona quer ampliar papel na energia eólica do Brasil


A empresa está seriamente comprometida em avançar no país mesmo em um ciclo de baixa dos investimentos em novas usinas

 






São Paulo – A fabricante de turbinas para usinas de energia eólica Nordex Acciona quer ampliar sua participação no mercado brasileiro, que passa por um momento de forte competição devido a uma pausa na contratação de novos projetos desencadeada pela crise econômica do país, disse à Reuters o diretor local da companhia.

Fruto de uma fusão da alemã Nordex com a espanhola Acciona, que já tinha fábrica no Brasil, a nova empresa é mais forte e está seriamente comprometida em avançar no país mesmo em um ciclo de baixa dos investimentos em novas usinas.

“Queremos continuar no Brasil porque achamos que o mercado é rentável, e queremos aumentar nosso market share”, afirmou o diretor da Nordex Acciona para o Brasil, Pablo Pulpeiro Mori.

Atualmente, a companhia estima ser a quinta maior entre os fornecedores de equipamentos presentes no país, atrás da norte-americana GE, da espanhola Gamesa, da dinamarquesa Vestas e da alemã Enercon.

“Queremos ser o terceiro ou o quarto player no Brasil”, disse Mori, que vê a companhia ganhar mais musculatura para competir com as líderes após a fusão.

“Agora somos uma empresa muito maior, com balanço mais forte e uma melhor presença geográfica, o que reduz o risco da companhia, porque esse é um mercado cíclico, e o desempenho em um país pode ajudar a compensar o outro”, explicou.

Ele disse também que a busca por crescimento poderá se dar com a retomada dos leilões para contratar novas usinas realizados pelo governo, cuja falta tem pressionado os fornecedores de equipamentos, que temem ficar com as fábricas vazias a partir de 2018.

Ao mesmo tempo em que não há novos projetos, a maior parte das usinas contratadas nos últimos anos já fechou a compra de turbinas ou enfrenta problemas e não deverá sair do papel, o que gera uma enorme disputa pelas poucas oportunidades ainda disponíveis para vender equipamentos, conforme reportado pela Reuters em março.

“Tem muita concorrência, e tem havido muitos descontos. Mas não é só aqui, isso é a nível global”, disse.

Nesse cenário, segundo o executivo, empresas mais frágeis ou com menor presença global podem sentir o baque e não conseguir continuar no mercado de energia eólica do Brasil.

“Infelizmente, o mercado ainda não chegou no número certo de players, tanto em nível local quanto em nível global”, disse.

Ele lembrou que o negócio tem passado por uma onda de consolidação, como a recente fusão dos negócios em energia de GE e Alstom e a fusão entre a Siemens e a espanhola Gamesa, sem contar o próprio movimento da Nordex com a Acciona.

“A nível global, esse é um mercado em que você precisa de tamanho, e esse é um dos motivos da fusão… quem não tem presença global vai sofrer, vai ser difícil.”


Onda estrangeira

 

Em um momento de economia ainda em busca de recuperação, a Nordex Acciona tem sentido que uma eventual retomada dos investimentos no setor de energia eólica deverá ser comandada por companhias estrangeiras.

Segundo Mori, havia forte interesse do investidor externo às vésperas de um leilão que contrataria novas usinas eólicas no final do ano passado, que acabou cancelado na última hora devido à falta de demanda por eletricidade.

“No geral, cerca de 80 por cento dos investidores deverão ser estrangeiros”, afirmou.

O executivo disse ainda estar confiante na retomada dos leilões de energia neste ano, devido a uma sinalização recente do governo de que deverá haver ao menos uma licitação até setembro.

Ele também tem expectativa que o cancelamento de projetos problemáticos, que não foram adiante por diversas dificuldades, bem como a retomada da economia devem ajudar a melhorar a demanda por energia e levar à necessidade de mais um leilão em 2018.

“O mercado está em um momento de limpeza… esse mercado ainda tem que virar, e o Brasil voltar a estar de novo entre os 5 ou 6 maiores mercados eólicos do mundo”, disse.

As turbinas já em operação da Nordex Acciona no Brasil somam quase 800 megawatts, um número que deverá alcançar 1,2 gigawatt em meados de 2018, quando algumas máquinas vendidas mais recentemente forem entregues.


O Acordo de Paris e a sustentabilidade na era do antropoceno





A plenária da 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 21) aprovou, em dezembro de 2015, em Paris — com anuência de 195 países, responsáveis por mais de 90% das emissões dos gases de efeito estufa na Terra —, um acordo de extensão global que, nos seus termos, apresenta efeitos legalmente vinculantes pela primeira vez. Ao contrário do Protocolo de Quioto, as nações decidiram de modo unânime pela assinatura de um documento. Os países comprometeram-se em organizar estratégias para limitar o aumento médio da temperatura da Terra bem abaixo dos 2°C, envidando esforços para atingir um aumento de 1,5°C até 2100, trazendo como referência inicial o período pré-industrial[1].

Será alocada a quantia mínima de U$ 100 bilhões por ano, a partir de 2020, para fundos verdes, até o ano de 2025, com a finalidade de custear projetos de adaptação e resiliência necessários para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas em curso pelos países em desenvolvimento. Referidos recursos deverão ser disponibilizados pelos Estados Unidos e pela União Europeia, com o encorajamento das demais nações para fazerem o mesmo. A China declarou, por exemplo, que vai contribuir com o Fundo Climático Verde da ONU com a quantia de U$ 3,1 bilhões.

Multinacionais, governos e investidores que participaram do evento como assistentes mostraram-se mobilizados pelo combate ao aquecimento global. Cerca de 500 investidores, que representam cerca de US$ 3,4 trilhões do PIB mundial, anunciaram que vão retirar suas aplicações e seus investimentos dos projetos calcados nos combustíveis fósseis[2]. Esse procedimento, chamado de divestment, tem sido objeto de grande debate também nas ricas universidades que compõem a Ivy League nos Estados Unidos. Alunos, ativistas e professores têm protestado contra o investimento de recursos por essas instituições de ensino em ações de companhias que produzem e exploram combustíveis fósseis, as quais não raras vezes fazem grandes doações para membros desta mesma Ivy League[3]. Empresas comprometeram-se com investimentos bilionários em desenvolvimento tecnológico para energia limpa e anunciaram metas com o balanço positivo de carbono em 2017 e o fim das emissões líquidas de gases em toda a cadeia de valor na próxima década, com o objetivo de alcançar a neutralidade nas emissões[4].

Pode-se afirmar que os pontos principais do acordo são: a) objetivos de longo prazo; b) descarbonização; c) metas nacionais de corte das emissões; d) financiamento aos países pobres; e) reparação dos danos; f) proteção de florestas e combate ao desmatamento.

Os objetivos de longo prazo eleitos no documento significam também viabilizar uma descontinuação no uso dos combustíveis fósseis até 2050. A descarbonização consiste em se atingir um pico de emissões tão logo quanto possível, para mais tarde os Estados implementarem as emissões negativas e a despoluição da atmosfera. Metas nacionais de emissões serão objeto de balanço e revisão em 2023. No ano de 2018, haverá um diálogo facilitador para sua avaliação. Não haverá intromissão nem punição internacional em caso de descumprimento das metas; os países ricos terão a obrigação de cumpri-las primeiramente.

O financiamento para medidas de adaptação, resiliência e produção de energia limpa a ser endereçado aos países em desenvolvimento será baseado no referido piso de US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020, a ser custeado prioritariamente pelos países desenvolvidos, que terão de reportar aos demais países o cumprimento desse compromisso. Esse piso anual será rediscutido a partir de 2025.

De acordo com o artigo 4º, parágrafo 1º, do documento, para que seja alcançado o objetivo do limite de temperatura no longo prazo, as partes devem utilizar a melhor ciência disponível. Deve haver, na segunda metade do século, um rápido equilíbrio entre as emissões antropogênicas de gases de efeito estufa pelas fontes e a sua captura. Ou seja, cada tonelada de gás de efeito estufa emitida deve ser removida da atmosfera.

Importante que a COP 22, ocorrida em Marraquexe, seja um facilitador na concretização dos objetivos da COP 21, em especial no cumprimento de um roteiro para o financiamento climático dos países em desenvolvimento pelos países desenvolvidos e por investidores privados, absolutamente necessário para adoção de medidas de adaptação e resiliência, a fortiori porque houve queda no financiamento climático entre os anos de 2014 e 2015[5].

Segundo o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas de 2014 (Fifth Assesment Report), o uso de combustíveis fósseis gera 32 gigatons de dióxido de carbono por ano. Outras fontes, como o vazamento de metano, as fábricas de cimento e outros processos industriais, são responsáveis por 5 a 7 gigatons de dióxido de carbono anuais. O desmatamento e a agricultura, especialmente a monocultura, adicionam 10 a 12 gigatons ao ano de dióxido de carbono na atmosfera. A soma dessas atividades humanas emite na atmosfera 49 gigatons de carbono. Os sumidouros de carbono, por sua vez, removem apenas 18 gigatons por ano, 8,8 vão para os oceanos e 9,2 para a terra. Para se alcançar o equilíbrio entre as emissões e a capacidade de absorção dos sumidouros de carbono, seria necessário acabar completamente com as emissões[6]. Como esse é um objetivo difícil e o acordo demonstrou-se abstrato, já que o objetivo de redução das emissões e o consequente limite de temperatura a ser atingido podem ocorrer em um período de tempo indeterminado — de 2050 até 2099 —, novas medidas precisam ser adotadas.

Em consonância com o World Resources Institute, para se atingir o objetivo previsto no artigo 2º do Acordo de Paris[7], é preciso trazer as emissões de dióxido de carbono referentes à produção de eletricidade para valores aproximados a zero e, também, elevar para cerca de 25% o número de veículos movidos por energia elétrica[8].

E o Brasil, como fica nesse cenário? De acordo com o próprio governo, o desmatamento na Amazônia aumentou 16% entre agosto de 2014 e julho de 2015[9]. Segundo fonte independente, o mês de fevereiro de 2015 teve um aumento de 282% no desmatamento na Amazônia se comparado ao mês de fevereiro de 2014[10]. O país possui uma economia calcada nos combustíveis fósseis e poucos investimentos orçamentários e científicos em energias renováveis. A participação da energia eólica[11] e solar é, em matéria de produção, muito pequena quando comparada aos países desenvolvidos, especialmente os países nórdicos. Cabe ao Estado brasileiro virar esse jogo e optar pela sustentabilidade. Será preciso governança e transparência na gestão dos recursos que serão alocados pelos fundos verdes ao Brasil, que necessita, por sua vez, superar a cultura da corrupção, do patrimonialismo e da má gestão dos recursos públicos por políticos e burocratas. O Estado e todos os setores da sociedade têm uma grande responsabilidade a assumir. A Amazônia é, em parte, brasileira, mas vital para toda a humanidade; é o pulmão do mundo.

Existe, com muitas omissões e imperfeições técnicas, a Lei 12.187/09, que cria a Política Nacional da Mudança do Clima. É preciso implementá-la onde for possível, suprindo suas evidentes omissões, complementando-a. Os instrumentos reconhecidamente mais eficazes para o combate às mudanças climáticas estão longe de ser implementados, mas precisam ser regulamentados, como a tributação, a precificação do carbono e o cap and trade (este último por uma legislação que possa lhe dar concretude)[12].

Soma-se a isso o fato de que os anos de 2014, 2015 e 2016, segundo a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), foram os que registraram as temperaturas mais altas, em ordem ascendente, desde o início das medições, em 1880, e, o mais grave, as temperaturas dos três primeiros meses do ano de 2017 foram mais altas do que as temperaturas registradas no primeiro trimestre de 2016, de acordo com recentíssimo artigo publicado pelo respeitável Yale Climate Connections[13], demonstrando o grande perigo pelo qual passam os seres humanos e não humanos que habitam a Terra em um cenário de desenvolvimento insustentável.

Oportunamente, o Instituto O Direito por um Planeta Verde promoverá a 22ª edição do Congresso Brasileiro de Direito Ambiental, que terá como tema “Direito e Sustentabilidade na era do Antropoceno: Retrocesso Ambiental, Balanço e Perspectivas”. Trata-se do congresso de Direito Ambiental mais importante da América Latina e será realizado em São Paulo, na Fundação Mokiti Okada, de 3 a 7 de junho. Terei, mais uma vez, a honra de participar do evento como palestrante no painel que terá como tema "Mudanças climáticas e as perspectivas do Acordo de Paris". Por esses motivos e fatos alarmantes, pode-se dizer que o 22º Congresso Brasileiro de Direito Ambiental é o evento mais aguardado do Direito Ambiental brasileiro para este ano.



[1] UNITED NATIONS. Disponível em: <http://unfccc.int/meetings/paris_dec_2015/session/9057.php>. Acesso em: 20.dez.2016.
[2] NICOLLETTI, Mariana; HISAMOTO, Bruno Toledo. Regras para um jogo colaborativo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 17.dez.2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/12/1720987-cop21-trara-avancos-no-combate-ao-aquecimento-global-sim.shtml>. Acesso em: 20.dez.2016.
[3] Ver: HARVARD UNIVERSITY. Fossiel fuel divestment statement. Cambridge, 2013. Disponível em: <http://www.harvard.edu/president/news/2013/fossil-fuel-divestment-statement>. Acesso em: 20.dez.2016 e, também, COLUMBIA UNIVERSITY. Statement on divestment. New York, 2015. Disponível em: <http://www.columbia.edu/content/statement-divestment.html>. Acesso em: 20.dez.2016.
[4] NICOLLETTI, Mariana; HISAMOTO, Bruno Toledo. Regras para um jogo colaborativo. Folha de S.Paulo, São Paulo, 17.dez.2015. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/12/1720987-cop21-trara-avancos-no-combate-ao-aquecimento-global-sim.shtml>. Acesso em: 20.dez.2016.
[5] UNITED NATIONS CLIMATE CHANGE CONFERENCE 2016. COP22 Marrakech 2016. Disponível em: http://www.cop22-morocco.com. Acesso em: 2.mai.2017.
[6] INTERGORNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Fifth assesment report. Geneva, 2015. Disponível em: <https://www.ipcc.ch/report/ar5/>. Acesso em: 20.dez.2016.
[7] Emissões bem abaixo de 2°C e tentativa de limitá-las a 1,5°C.
[8] WORLD RESOURCES INSTITUTE. COP 21. Washington, 2015. Disponível em: <http://www.wri.org/our-work/project/cop-21>. Acesso em: 20.dez.2016.
[9] O desmatamento atingiu 5.831 Km2 segundo o próprio governo, com um aumento de 16% medido de agosto de 2014 a julho de 2015. GIRARDI, Giovana. Desmatamento na Amazônia aumenta 16% em um ano. Estadão, São Paulo, 26.nov. 2016. Disponível em: <http://sustentabilidade.estadao. com.br/noticias/geral,desmatamento-na-amazonia-sobe-16-em-um-ano-e-atinge-5831-km,1802729>. Acesso em: 20.dez.2015.
[10] DESMATAMENTO da Amazônia aumentou 282% em um ano. O Globo, Rio de Janeiro, 20 mar. 2015. Disponível em: <http://oglobo.globo. com/sociedade/sustentabilidade/desmatamento-da-amazonia-aumentou-282-em-um-ano-15653073#ixzz3v6bfxBZ3>. Acesso em: 20.dez.2016.
[11] Sobre as vantagens da energia eólica e a sua regulação nos Estados Unidos, ver: FIRESTONE, Jeremy; KEHNE, Jeffrey. Wind. In: GERRARD, Michael. The law of clean energy: efficiency and renewables. New York: American Bar Association, 2011. p. 361-368.
[12] WEDY, Gabriel. Brasil e governança pós-COP21. Zero Hora, Porto Alegre, 15 dez. 2015. Editoria de Opinião, p. 18.
[13] HAUSFATHER, Zeke. Worrisome first quarter of 2017 climate trends. Yale Climate Connections. Disponível em: www.yaleclimateconnections.org. Acesso em: 1.mai.2017.


http://www.conjur.com.br/2017-mai-06/ambiente-juridico-acordo-paris-sustentabilidade-antropoceno

O que trouxe investidores de volta aos leilões de infraestrutura


Em oito meses, o governo Temer deslanchou quase metade de um programa de concessões em infraestrutura à iniciativa privada - duas vezes superior ao de Dilma

 






São Paulo – A julgar pelo barulho causado pelas paralisações nas principais cidades brasileiras no dia 28 de abril, as grandes reformas do governo Michel Temer, como a trabalhista e a da Previdência, ainda vão enfrentar resistência para sair do papel. Enquanto isso, uma agenda reformista de menor porte, mas com histórico enroscado, dá sinais de que finalmente andou: as concessões em infraestrutura.

Em oito meses de Programa Crescer, um pacote federal para atrair investidores aos projetos do setor, o governo já garantiu 20 bilhões de reais em investimentos privados. É quase metade dos 45 bilhões de reais previstos hoje no programa — e uma execução inédita para o padrão dos pacotes de concessões em infraestrutura lançados nesta década. As iniciativas anteriores, do governo Dilma Rousseff, foram marcadas por planos ambiciosos e pouca entrega de resultados.

Na primeira tentativa, o Programa de Investimentos em Logística, de 2012, num montante de 213 bilhões de reais em investimentos apresentados ao mercado, apenas um terço saiu do papel após quatro anos. Além disso, boa parte desses negócios foi fechada com empreiteiras hoje atoladas na Operação Lava-Jato e sem crédito para honrar os contratos. Lançado em 2015 numa tentativa de recuperar uma economia em queda livre, o Programa de Investimentos em Logística 2 foi ainda pior: fomentou somente 3% dos 198 bilhões de reais em investimentos previstos em 200 ativos — houve avanço apenas na licitação de 14 terminais portuários.

Diante das incertezas atuais sobre a economia brasileira, o que explica o bom desempenho do Programa Crescer em relação às tentativas anteriores? Em grande medida, pesa a favor o fato de o governo Michel Temer dar condições mais atraentes ao investidor. Um exemplo são os leilões de energia elétrica. Na época de Dilma, que impunha controles rígidos sobre a lucratividade do parceiro privado, os leilões não raro terminavam às moscas ou só tinham lances da estatal Eletrobras.

Nos novos certames, o governo reajustou em 15% a taxa de retorno. O resultado: no leilão mais recente, no fim de abril, houve uma média de sete interessados por lote, uma concorrência motivada pela entrada de estreantes e pela presença de investidores que haviam sumido com o intervencionismo de Dilma, como a colombiana ISA Cteep, uma das principais concessionárias de energia no país. Após um hiato de cinco anos em leilões, a companhia voltou a investir no fim de 2016, já no governo Temer, e arrematou cinco lotes na disputa de abril. “O governo está oferecendo mais garantia de que vai deixar o mercado encontrar o equilíbrio de preços”, diz Reynaldo Passanezi Filho, presidente da ISA Cteep.

O risco de colocar dinheiro no Brasil caiu também por inovações do Crescer, como a adotada no leilão dos aeroportos, em março, em que o governo permitiu aos participantes usar parte do valor da outorga na contratação de um seguro contra variações cambiais. A consequência é um número maior de estrangeiros de olho nos ativos brasileiros. Trata-se de um bom sinal para uma economia que precisa urgentemente de um novo motor para o crescimento. De acordo com a consultoria GO Associados, a fatia de projetos adquiridos por empresas com capital externo subiu de 10% nos pacotes de Dilma para 38% no Crescer.

A mudança acontece em conjunto com uma melhora geral do humor sobre o país lá fora, motivada pela retomada da agenda de reformas. “A percepção é que o Brasil entrou num ciclo positivo, diferentemente de outros mercados emergentes, como África do Sul, México e Turquia”, diz Luiz Sorge, presidente da gestora de investimentos do banco BNP Paribas no Brasil, que deverá lançar no primeiro semestre um fundo de até 1 bilhão de reais para participar de projetos de infraestrutura por aqui nos próximos 15 anos.

Até o fim do ano que vem, o planejamento do Crescer é levar ao mercado os 49 projetos que restam dos 90 anunciados em março, na segunda reunião do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), força-tarefa de dez ministérios e bancos públicos para destravar os negócios no setor. Mas esse número poderá aumentar com a inclusão de propostas hoje em consulta por técnicos do governo ou pelo Tribunal de Contas da União, que na época de Dilma não raro questionou os termos de projetos já vendidos. “Só colocamos na lista os projetos que já passaram dessa fase”, diz Adalberto Vasconcelos, secretário do PPI.

Um dos setores que mais devem se beneficiar daqui para a frente é o de óleo e gás, que vem sofrendo com a falta de novas áreas para exploração. No ano passado, só sete poços foram perfurados, o menor número desde 1969, segundo a Agência Nacional do Petróleo. Na origem do problema está a falta de um cronograma de licitações no setor — a última rodada de áreas nas reservas do pré-sal, as maiores e mais rentáveis do país, ocorreu em 2013.

A promessa é realizar dez rodadas de licitações até o fim de 2019 — quatro serão neste ano e já estão na lista do Crescer. A expectativa é grande por causa da decisão do Congresso de reduzir à metade o patamar de componentes brasileiros no maquinário para a exploração de óleo e gás, hoje em 25% do total, e devido ao fim da obrigação de a Petrobras ser a operadora única dos campos. Se as rodadas forem bem-sucedidas, a previsão é de até 17 novos poços abertos no ano que vem e de 45 em 2020, retomando o patamar de 2013, quando o setor estava em plena expansão. “Será o suficiente para investimentos de até 620 bilhões de dólares na cadeia de óleo e gás em 15 anos”, diz Matheus Nogueira, diretor executivo da consultoria Accenture Strategy.


Riscos ambientais


Embora o Crescer tenha um bom retrospecto até agora, há uma série de riscos à frente. A começar pela qualidade dos ativos esperando leilão, em especial o conjunto de ferrovias formado por Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará; Norte-Sul, entre Tocantins e São Paulo; e Integração Leste-Oeste, na Bahia. Desse conjunto, a expectativa é de investimentos em torno de 15 bilhões de reais. “Entre essas ferrovias, só a Ferrogrão tem uma clara viabilidade econômica”, diz o economista Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B, consultoria em infraestrutura. “As demais carecem de demanda.”

O risco de faltar cargas pode diminuir com a aprovação da Medida Provisória no 752, que obriga as concessionárias a transportar cargas de concorrentes. Até o fechamento desta edição, no dia 1o de maio, a votação estava na pauta da Câmara. Há ainda o risco de o licenciamento ambiental dos projetos, seja os já leiloados, seja os que aguardam na lista, se arrastar durante anos. No lançamento do Crescer, havia a expectativa de os ativos irem a leilão já com essa etapa resolvida, o que não ocorreu porque os projetos de agora são herdados da gestão Dilma e já tinham um pedido de licença ambiental em andamento. “Não podíamos parar o programa inteiro para ficar à espera de novos licenciamentos”, diz Vasconcelos, do PPI. “A ideia é que os projetos que ainda serão incorporados ao Crescer já saiam para leilão com essa etapa resolvida.”

Outra medida é estipular nos novos contratos as etapas e as condições de demanda para cada obra acontecer. O intuito é evitar intervenções desnecessárias, tornando o licenciamento ambiental imediato mais leve e, em tese, mais rápido. Em oito meses, o programa de concessões do governo federal conseguiu destravar investimentos parados há cinco anos nas mãos do governo anterior. A torcida é para que o ritmo não desacelere daqui em diante.