Por João-francisco Rogowski.*
Ainda muito, muito jovem, o destino me colocou como
procurador no Caso DAS MÃOS AMARRADAS.** como ficou conhecido o episódio do sequestro, tortura e assassinato do Sargento Manoel Raimundo Soares por agentes do DOPS em Porto Alegre - RS na década de 60.
Das milhares de páginas do
processo que li ao longo de décadas e das conversas que mantive com militares
das Forças Armadas que passaram para a clandestinidade após 1964, ficou claro
às enormes e irreconciliáveis diferenças que há entre as miríades de correntes
do pensamente de esquerda no Brasil.
O Sgtº Soares e o grupo de
militares do qual participava integravam uma corrente política de esquerda – não marxista – nacionalista, anti-imperialista,
ligada ao trabalhismo e ao Partido Trabalhista Brasileiro da época
anterior a 1964.
Aqueles militares, repito,
nacionalistas, nunca hesitaram em expor suas vidas ao risco e ao sacrifício pela pátria, jamais pretenderam substituir uma ditadura
por outra, queriam o restabelecimento da democracia com a volta do
presidente deposto, João Goulart, ao
poder.
Uma esquerda que defendia valores
tradicionais como a família, a instituição do casamento heterossexual, educação
sem infiltração de doutrinas alienígenas, educação de boa qualidade como o
legado deixado por Leonel Brizola quando governou o Estado do Rio Grande do Sul.
Eram militares legalistas e queriam o restabelecimento da ordem constitucional rompida, queriam
uma sociedade democrática, justa, pautada nos valores do trabalhismo pelo qual nenhum ganho é justo se não corresponder a uma
atividade socialmente útil. Que nem sempre um ganho legal se constitui
num ganho eticamente justo, assim como, todo ganho deve estar sempre em função
do valor social do trabalho de cada um.
Essa é a esquerda
esquecida, a esquerda humanista, cuja dignidade o eloquente texto de Emanuel
Medeiros Vieira tão bem resgata
quando do alto de sua autoridade moral e intelectual afirmou:
"É PRECISO FICAR BEM CLARO QUE A ÊNFASE NO
COMBATE Á IMPUNIDADE NÃO REFLETE UMA PERSEGUIÇÃO AOS QUE LUTAM CONTRA A
DESIGUALDADE.
O combate à corrupção, não é assunto
“pequeno-burguês” ou “udenismo tardio”, como muitos acham.
E nos combatem, porque leem pouco ou nada, e
acreditam que “MUDAMOS DE LADO”.
SE ELES MUDARAM DE LADO, NÃO PODEM NOS OBRIGAR A
FAZER O MESMO.
Não fomos nós que nos aliamos ao rebotalho da
classe política brasileira - Jucá, Lobão, Sarney, Collor, Renan e tantos
outros.
O sonho desta geração de que faço parte era a
vitória de uma justiça plena, fim da desigualdade e não a pirataria, o saque
aos cofres do Estado, enquanto tantos morriam à míngua.
Nunca
defendemos a impunidade...".
VIEIRA, Emanuel Medeiros.
LULOPETISMO É RESPONSÁVEL PELA TRAGÉDIA E O COLAPSO DA ESQUERDA HUMANISTA
BRASILEIRA. In "Grupo Advocacia & Justiça". Abril de 2018.
Disponível em.***
Vemos hoje no mundo e
especialmente na América do Sul o fantasma do imperialismo soviético ainda assombrando
e sufocando as nações, especialmente as mais vulneráveis como a Bolívia por
exemplo.
Como é difícil para um povo
se libertar da dominação externa, ao que parece, uma vez dominado, sempre
dominado!
Emblemática
foi a entrevista à Piedad Córdoba.**** de Roberto Ivan Aguilar Gómez, Ministro da Educação da Bolívia, que falou sobre
a Lei Avelino Siñani-Elizardo Pérez, promulgada pelo Estado Plurinacional da
Bolívia, inspirada nos preceitos da
Escola Indígena de Warisata, baseada nos primados da educação sócio-comunitária
produtiva.
Desabafou o Ministro afirmando
que, “quando aqui chegaram os espanhóis disseram que os bolivianos não tinham alma, agora
chegaram os trotskistas dizendo que os bolivianos não tem inteligência”, por isso, fazem
oposição à atual política educacional na Bolívia, o seja, querem tutelar a
educação naquele país como querem aqui no Brasil e em outros lugares. (Entrevista
exibida no programa Causa Justa: Suma Qamanã, da Telesur, em 11 de março de 2014 | 21:00 horas).
Conclusão.
Numa sociedade saudável composta
por pessoas fraternas, as diferentes concorrentes de pensamento coexistem de
forma equilibrada, sem radicalismos, sem fanatismo, sobretudo, com o elevado
respeito à dignidade da pessoa humana.
Mas no Brasil o lulopetismo
e o marxismo cultural conseguiram que “esquerda”
se tornasse palavrão, sinônimo de tudo que é ruim, que não presta.
O lulopetismo não deixou o legado de nenhuma reforma social significativa, não fez a reforma do sistema
financeiro, ao contrário, foi nos governos de Lula/Dilma que os banqueiros
tiveram os lucros mais astronômicos nunca antes obtidos neste país a custa do extremo sacrifício do povo trabalhador.
O único legado robusto e
consistente do lulopetismo foi o de ter sido o start para o florescimento de uma extrema-direita popular no Brasil
até então inexistente.
Nunca antes se ouviu falar
em pobre de extrema-direita no Brasil como agora.
É
crescente o número de donas de
casa, mães de família, estudantes, clérigos, trabalhadores, policiais de
escalões inferiores, enfim, pessoas simples, humildes,
hipossuficientes, que vêm se assumindo como de
direita, e, sobretudo, ultra direita xenófoba que, mais adiante, tende a
trazer
graves consequências para a paz social, como o recrudescimento de um
Estado policialesco cuja silhueta já está desenhada no horizonte, com a
volta da censura, controle ideológico e repressão política.
É hora de chamar todos do descanso ao trabalho de pacificar a nação!