sexta-feira, 13 de abril de 2018

A esquerda esquecida.


Por João-francisco Rogowski.*



Ainda muito, muito jovem, o destino me colocou como procurador no Caso DAS MÃOS AMARRADAS.** como ficou conhecido o episódio do sequestro, tortura e assassinato do Sargento Manoel Raimundo Soares por agentes do DOPS em Porto Alegre - RS na década de 60.

Das milhares de páginas do processo que li ao longo de décadas e das conversas que mantive com militares das Forças Armadas que passaram para a clandestinidade após 1964, ficou claro às enormes e irreconciliáveis diferenças que há entre as miríades de correntes do pensamente de esquerda no Brasil.
O Sgtº Soares e o grupo de militares do qual participava integravam  uma corrente política de esquerda – não marxista – nacionalista, anti-imperialista, ligada  ao trabalhismo e ao  Partido Trabalhista Brasileiro da época anterior a 1964.
Aqueles militares, repito, nacionalistas, nunca hesitaram em expor  suas vidas ao risco e ao sacrifício pela pátria,  jamais pretenderam substituir uma ditadura por outra, queriam o restabelecimento da democracia com a volta do presidente  deposto, João Goulart, ao poder.
Uma esquerda que defendia valores tradicionais como a família, a instituição do casamento heterossexual, educação sem infiltração de doutrinas alienígenas, educação de boa qualidade como o legado deixado por Leonel Brizola quando governou o Estado do Rio Grande do Sul.
Eram militares legalistas e queriam o restabelecimento da ordem constitucional rompida, queriam uma sociedade democrática, justa, pautada nos valores do trabalhismo pelo qual  nenhum ganho é justo se não corresponder a uma atividade socialmente útil. Que nem sempre  um ganho legal se constitui num ganho eticamente justo, assim como, todo ganho deve estar sempre em função do valor social do trabalho de cada um.
Essa é a esquerda esquecida, a esquerda humanista, cuja dignidade o eloquente texto de Emanuel Medeiros Vieira tão bem resgata quando do alto de sua autoridade moral e intelectual afirmou:

"É PRECISO FICAR BEM CLARO QUE A ÊNFASE NO COMBATE Á IMPUNIDADE NÃO REFLETE UMA PERSEGUIÇÃO AOS QUE LUTAM CONTRA A DESIGUALDADE.
O combate à corrupção, não é assunto “pequeno-burguês” ou “udenismo tardio”, como muitos acham.
E nos combatem, porque leem pouco ou nada, e acreditam que “MUDAMOS DE LADO”.
SE ELES MUDARAM DE LADO, NÃO PODEM NOS OBRIGAR A FAZER O MESMO.
Não fomos nós que nos aliamos ao rebotalho da classe política brasileira - Jucá, Lobão, Sarney, Collor, Renan e tantos outros.
O sonho desta geração de que faço parte era a vitória de uma justiça plena, fim da desigualdade e não a pirataria, o saque aos cofres do Estado, enquanto tantos morriam à míngua.
Nunca defendemos a impunidade...".
VIEIRA, Emanuel Medeiros. LULOPETISMO É RESPONSÁVEL PELA TRAGÉDIA E O COLAPSO DA ESQUERDA HUMANISTA BRASILEIRA. In "Grupo Advocacia & Justiça". Abril de 2018. Disponível em.***

Vemos hoje no mundo e especialmente na América do Sul o fantasma do imperialismo soviético ainda assombrando e sufocando as nações, especialmente as mais vulneráveis como a Bolívia por exemplo.
Como é difícil para um povo se libertar da dominação externa, ao que parece, uma vez dominado, sempre dominado!
Emblemática foi a entrevista à Piedad Córdoba.**** de Roberto Ivan Aguilar Gómez, Ministro da Educação da Bolívia, que falou sobre a Lei Avelino Siñani-Elizardo Pérez, promulgada pelo Estado Plurinacional da Bolívia,  inspirada nos preceitos da Escola Indígena de Warisata, baseada nos primados da educação sócio-comunitária produtiva.
Desabafou o Ministro afirmando que,  quando aqui chegaram os espanhóis disseram que os bolivianos não tinham alma, agora chegaram os trotskistas dizendo que os bolivianos não tem inteligência”, por isso, fazem oposição à atual política educacional na Bolívia, o seja, querem tutelar a educação naquele país como querem aqui no Brasil e em outros lugares. (Entrevista exibida no programa Causa Justa: Suma Qamanã, da Telesur,  em 11 de março de 2014 | 21:00 horas).
Conclusão.
Numa sociedade saudável composta por pessoas fraternas, as diferentes concorrentes de pensamento coexistem de forma equilibrada, sem radicalismos, sem fanatismo, sobretudo, com o elevado respeito à dignidade da pessoa humana.
Mas no Brasil o lulopetismo e o marxismo cultural  conseguiram que “esquerda” se tornasse palavrão, sinônimo de tudo que é ruim, que não presta.
O lulopetismo não deixou o legado de nenhuma reforma social significativa, não fez a reforma do sistema financeiro, ao contrário, foi nos governos de Lula/Dilma que os banqueiros tiveram os lucros mais astronômicos nunca antes obtidos neste país a custa do extremo sacrifício do povo trabalhador.
O único legado robusto e consistente do lulopetismo foi o de ter sido o start para o florescimento de uma extrema-direita popular no Brasil até então inexistente.
Nunca antes se ouviu falar em pobre de extrema-direita no Brasil como agora. 
É crescente o número de donas de casa, mães de família, estudantes, clérigos, trabalhadores, policiais de escalões inferiores, enfim, pessoas simples, humildes, hipossuficientes, que vêm se assumindo como de direita, e, sobretudo, ultra direita xenófoba que, mais adiante, tende a trazer graves consequências para a paz social, como o recrudescimento de um Estado policialesco cuja silhueta já está  desenhada no horizonte, com a volta da censura, controle ideológico e repressão política. 
É hora de chamar todos do descanso ao trabalho de pacificar a nação!


.* Jurista, Teólogo e Escritor | Twitter.com/dr_rogowski




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