Por João Luiz Mauad, publicado pelo Instituto Liberal
Em sua coluna desta
semana na Folha de São Paulo, o senhor Benjamin Steinbruch – dono da
CSN, vice-presidente da FIESP e chorão oficial do empresariado
tupiniquim – direciona suas lamúrias contra os juros praticados pelo
mercado brasileiro.
Acertadamente, ele diz que, apesar da
queda da taxa Selic, hoje no patamar de 6,5%, os juros reais continuam
muito altos no país, principalmente na área de varejo. No entanto,
Steinbruch, pelo menos aparentemente, mostra não ter ideia do porquê de
os juros serem tão altos em Pindorama. Prova disso é que aplaude
iniciativas como a do BNDES (sempre ele!), que está oferecendo taxa fixa
de juros para empréstimos de capital de giro, “uma iniciativa limitada,
mas na direção certa”, segundo ele. Mostra-se otimista também com a
promessa dos bancos de promover uma “autorregulamentação para tentar
cortar os juros do cheque especial”.
A verdade é que Steinbruch gasta um
artigo inteiro, no maior jornal do país, para reclamar de algo cuja
causa ele parece ignorar, achando infantilmente que mais intervenções
diretas do governo ou promessas vagas dos banqueiros teriam o condão de
resolver o problema. Em nenhum momento ele aponta o dedo para as reais
causas. Vamos a elas, então.
1. O Governo fica com boa parte da poupança disponível
A primeira – e talvez mais importante –
causa está no aumento desmesurado dos gastos públicos, cujos crescentes
déficits fiscais são financiados por emissões de títulos do Tesouro.
Como tudo mais na economia, os recursos disponíveis para investimentos
(poupança) são escassos. No Brasil, onde a taxa de poupança em relação
ao PIB está abaixo da média mundial, eles são ainda mais escassos. O
problema então se complica muito quando o governo (um tomador
considerado de baixo risco pelo mercado, pois controla a emissão da
moeda) absorve uma enorme parcela dos escassos recursos disponíveis,
deixando para o resto do mercado tomador apenas a parte residual. Ora, o
preço do dinheiro, como o de qualquer outro produto, é regido pela lei
da oferta e da demanda. Se esta é muito maior que aquela, o preço (no
caso, os juros) será mais alto.
2. A existência de créditos subsidiados
Outra razão de os juros serem muito
altos para boa parte das empresas do setor privado está na existência
dos famigerados juros subsidiados, praticados pelos bancos públicos
(BNDES, Caixa e BB). Além de consumirem recursos públicos, aumentando o
déficit fiscal (1), os recursos subsidiados são demandados com
voracidade pelas empresas – e a concorrência geralmente é vencida por
aquelas que dispõem de melhores cadastros e, principalmente, vínculos
com políticos e burocratas. Assim, grandes empresas e conglomerados
terão muito mais chance de obter empréstimos camaradas, por exemplo,
junto ao BNDES do que as demais. Com os grandes tomadores fora do
mercado regular, porque abastecidos pela camaradagem estatal, a taxa
média de risco será mais alta – e o risco, como é sabido, está entre os
principais fatores de encarecimento da taxa de juros.
3. Depósitos compulsórios elevados
Segundo o próprio Banco Central, “Os
recolhimentos compulsórios constituem-se em um instrumento à disposição
do Banco Central para influenciar a quantidade de moeda na economia.
Eles representam uma parcela dos depósitos captados pelos bancos que
devem ser mantidos compulsoriamente “esterilizados” no Banco Central. A
alíquota dos recolhimentos compulsórios é um dos determinantes do
multiplicador monetário, ou seja, do quociente da oferta de moeda em
relação à base monetária.” Historicamente, a alíquota do compulsório no Brasil costuma ser muito mais alta que nos países desenvolvidos. Atualmente,
as taxas são de 25% para depósitos a vista, 20% para depósitos em
poupança e 34% para os encaixes a prazo. Novamente, a menor
disponibilidade de recursos oferecidos aos tomadores fará subir o custo
do dinheiro.
4. Crescente concentração do mercado bancário
Temos hoje apenas cinco bancos de varejo
operando por aqui, sendo três deles privados e dois públicos. Isso se
dá pelo complexo emaranhado regulatório determinado pelo Banco Central
para a operação de bancos comerciais no Brasil. Essa super
regulamentação, combinada com taxas de compulsório elevadas, se por um
lado garantem um sistema menos arriscado para correntistas e
investidores, por outro reduzem sobremaneira a oferta de serviços e de
dinheiro, prejudicando justamente aqueles que mais precisam de crédito.
5. Insegurança jurídica e dificuldade de recuperação de créditos
Finalmente, porém não menos importantes,
estão a absurda insegurança jurídica e a enorme dificuldade de
recuperação de dívidas no país. Um judiciário lento e cada vez mais
disposto a beneficiar a parte menos poderosa (hipossuficiente, no jargão
jurídico) em processos judiciais, torna qualquer execução de dívida um
processo longo e cercado de incertezas. A conseqüência disso,
novamente, reflete-se nas taxas praticadas pelos bancos.
As causas dos altos juros praticados em
Pindorama evidentemente não se esgotam aqui, mas creio que as apontadas
acima são um bom resumo das mais importantes. Portanto, se o senhor
Steinbruch está realmente interessado em ver baixarem as taxas de juros
por aqui, deve começar pedindo menos intervenção do estado – não mais.
E, principalmente, deve se juntar aos liberais no sentido de tentar
reduzir os gastos públicos, a fim de que o governo não precise financiar
seus crescentes déficits tomando empréstimos e tirando recursos que, de
outro modo, seriam direcionados ao mercado. Fica a dica.
http://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/cinco-razoes-pelas-quais-os-juros-sao-tao-altos-no-brasil/?utm_medium=feed&utm_source=feedpress.me&utm_campaign=Feed%3A+rconstantino
Nenhum comentário:
Postar um comentário