A estatal respondeu por 75 por cento da produção de petróleo do Brasil em fevereiro, contra 93 por cento em 2010.
Quando o assunto é produção de petróleo, Petrobras e Brasil sempre foram uma coisa só. Mas isso agora está mudando.
A estatal respondeu por 75 por cento da produção do Brasil em
fevereiro, contra 93 por cento em 2010, no fim do governo Luiz Inácio
Lula da Silva. A presença começou a cair com a produção do pré-sal, no
governo Dilma Rousseff. E se acelerou desde que Michel Temer assumiu o
governo em 2016 e abriu o setor para estrangeiras. Em dois anos, a
Petrobras reduziu em 7 pontos percentuais sua participação de mercado,
mesma fatia que a empresa levou 13 anos para perder desde o fim do
monopólio, há 20 anos.
O domínio da estatal tende a se reduzir ainda mais à medida que as
gigantes do petróleo, entre elas Exxon Mobil, Total e Statoil, correm
para garantir participações no pré-sal, uma das zonas petrolíferas mais
promissoras já descobertas no mundo, grande demais para uma só empresa.
De setembro para cá, o Brasil realizou três leilões de blocos de
petróleo e há outro programado para junho. As mudanças são ao mesmo
tempo uma bênção e uma maldição para a Petrobras: a empresa perde o
controle absoluto da produção de petróleo do país, mas ganha caixa e
tecnologia por meio de parcerias com grandes petroleiras estrangeiras.
Nos últimos três anos, o volume de petróleo produzido pela estatal se
manteve praticamente estável em 2,1 milhões de barris/dia, com leves
altas. Um crescimento maior é esperado para 2019, com a entrada de um
número recorde de plataformas.
“Não é que seja bom (a Petrobras perder participação de mercado), mas
é importante a chegada de outras empresas”, disse o diretor de
Estratégia da Petrobras, Nelson Silva. “E não dá para fazer uma coisa
sem a outra.”
A redução relativa da Petrobras vem, em parte, da decisão do governo
em 2003 de atrofiar o caixa da companhia com investimentos em refino e
desviar o foco da produção de petróleo, disse Samuel Pessoa, economista
da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Muitos desses projetos viraram alvos
da Operação Lava Jato e geraram baixas contábeis de dezenas de bilhões
de dólares em meio à queda dos preços internacionais do petróleo.
“A redução do papel da Petrobras não é ruim, é boa”, disse Pessoa, em
entrevista. “O ruim é o Brasil não estar produzindo os 4 milhões de
barris por dia como planejava.”
Mas isso pode mudar em breve, considerando que as empresas
estrangeiras estão expandindo os esforços no país. A Exxon, por exemplo,
investiu mais de US$ 2 bilhões com parceiras na aquisição de 22
licenças offshore apenas nos últimos seis meses.
“Chegou um momento em que a oportunidade, junto com as mudanças
geradas pelas reformas deles, aumentou a atratividade para nós”, disse o
vice-presidente de relações com investidores da Exxon, Jeffrey J.
Woodbury, em 2 de fevereiro, em conferência com analistas.
O Brasil superou o México e a Venezuela e se tornou o maior produtor
da América Latina, além de ser uma das principais fontes de crescimento
da produção de fora da Opep dos últimos anos. O Brasil não divulga
estimativas de reservas do petróleo do pré-sal, mas a Agência Nacional
do Petróleo (ANP) considera a região a maior descoberta do planeta nos
últimos 50 anos.
Outros ganhos de estrangeiras decorrem de uma combinação de projetos
de exploração que estão chegando à fase de produção, como os campos
offshore de Sapinhoá, nos quais a Petrobras tem como parceiras a Royal
Dutch Shell e a Galp Energia SGPS, e a venda de campos que já estão na
fase de produção. A Total e a Statoil compraram participações em campos
offshore operados pela Petrobras nos últimos dois anos.
“A Petrobras está aumentando a produção dela como um todo. A perda
relativa é um sinal de que o Brasil está diversificando, o que é bom,”
disse Jorge Camargo, especialista em petróleo do Cebri e ex-presidente
do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), em entrevista.
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