segunda-feira, 9 de abril de 2018

Agro: Lideranças fazem plano inédito para apresentar a candidatos


Agro: Lideranças fazem plano inédito para apresentar a candidatos
Por Roberto Rodrigues



Apesar do desânimo de boa parte da população brasileira com o frustrante cenário da política, os diferentes setores econômicos e sociais do País se movimentam com a aproximação das eleições, tendo em vista as políticas públicas a serem implementadas pelo novo governo a partir de janeiro. E o agronegócio não fica fora dessa discussão.

Mas com uma diferença fundamental em relação às eleições anteriores, quando as instituições ligadas ao agro sempre entregaram aos principais candidatos a cargos majoritários suas propostas para melhorar a competitividade do campo. Disso ficou uma lição amarga: todos os demais setores fizeram a mesma coisa, de modo que os governos eleitos não tinham condições de atender a tudo o que era reivindicado, e os planos caíam no esquecimento com as imposições do imediatismo.

Desta vez é diferente. Há o convencimento de que o sucesso do agronegócio não se deve exclusivamente à febril atividade agropecuária que produz recordes a cada ano, salvando o PIB nacional, gerando excedentes exportáveis que garantem o saldo comercial externo e criando empregos mais qualificados: o consenso é que esse êxito não existiria sem o trabalho urbano. De fato, os insumos todos (máquinas e equipamentos, fertilizantes, defensivos, veículos) são produzidos em fábricas urbanas, bem como os serviços (crédito, seguro, assistência técnica) e os recursos humanos formados nas escolas que também criam tecnologias. Tudo urbano. Como são urbanas as construtoras de estradas, ferrovias, portos e armazéns, ou as indústrias de transformação, as de embalagens, as empresas de transporte, as tradings e as agências de propaganda e marketing. Ora, esses segmentos interagem para sustentar o sucesso do agro. 

Portanto, nada mais óbvio do que montar um programa que considere o conjunto desses fatores, e não apenas para um governo, mas para um período mais longo de, no mínimo, dez anos. E é isso o que está sendo organizado, com o apoio da academia, envolvendo instituições de ensino, de pesquisa e de extensão, e o trabalho de duas dezenas de técnicos e especialistas da mais alta qualidade. Este não será apenas um Plano de Governo, mas de Estado, visto demandar ações do Executivo, do Legislativo, da sociedade civil organizada e do Judiciário.

As lideranças do agro decidiram montar um projeto de caráter liberal, no qual serão apontadas as condições macroeconômicas a buscar, aí incluídas as reformas necessárias para colocar o País na direção do desenvolvimento sustentado.

E o foco é a contribuição brasileira para enfrentar um tema central para a Humanidade: garantir segurança alimentar global sem destruir recursos naturais, que é um dos maiores desafios do século 21. 

E mais ainda: sabe-se que não haverá paz enquanto houver fome, e também que o Brasil é um dos poucos países capazes de atender à crescente demanda interna e externa por alimentos, energia e fibras. O Plano busca então transformar nosso País no campeão mundial da segurança alimentar e, por conseguinte, da paz. Esse desafio estará colocado a todos os cidadãos, urbanos e rurais, pois a todos envolve.

A partir da identificação do que cabe ao Brasil produzir nessa missão, serão definidos todos os temas que vão compor a estratégia. E aí entrarão: inovação tecnológica, política comercial, política industrial, política de renda, gestão do agronegócio (inclusive formação de gente em todos os níveis), infraestrutura e logística, defesa sanitária, inclusão social, agroenergia, associativismo, comunicação e, sobretudo, sustentabilidade, sem o que não haverá competitividade. Haverá ampla discussão sobre todo este temário, convergindo para a produção de documento que será debatido com os candidatos e suas equipes de planejamento estratégico até a exaustão, em busca da compreensão de cada um quanto ao alcance da proposta. 

Desta vez, portanto, o agronegócio não fará nenhum projeto de seu interesse. Fará um programa de interesse do Brasil que dirá respeito a todos os cidadãos, e isso é inédito (Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas; 


O Estado de S.Paulo, 8/4/18)

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