Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A Petrobras
negocia com a chinesa CNPC uma parceria que prevê a troca de petróleo da
Bacia de Campos por aportes da empresa da China para a conclusão de
obra em refinaria no Rio de Janeiro, que demandaria ao menos cerca de 3
bilhões de dólares para ser finalizada, disseram duas fontes com
conhecimento do assunto.
O investimento chinês em um obra da
Petrobras envolvida anteriormente no maior escândalo de corrupção do
Brasil também poderá ser pago com participações da petroleira brasileira
em blocos da Bacia de Campos, historicamente a mais importante região
produtora de petróleo do país, mas que vem necessitando de investimentos
que elevem o fator de recuperação dos campos maduros.
Um
eventual investimento da CNPC poderia ajudar a estatal brasileira a
finalizar a refinaria do polêmico projeto do Complexo Petroquímico do
Rio de Janeiro (Comperj), alvo do escândalo de corrupção investigado
pela Lava Jato, que levou ao cancelamento da unidade petroquímica
idealizada inicialmente com a Braskem, controlada pela Petrobras e
Odebrecht.
Se mantido o projeto original do trem 1 da refinaria,
para cerca de 165 mil barris/dia, a nova unidade poderia ajudar o país a
reduzir a necessidade de importações de combustíveis, que atingiram
recordes no ano passado. Ao mesmo tempo, a negociação salienta o forte
interesse dos chineses no setor no Brasil, que envolve investimentos em
produção e acordos com a própria Petrobras de financiamentos garantidos
com suprimento de petróleo.
“Vai sair o negócio, mas como o nome
já diz é bem complexo. Mas será uma solução integrada”, disse uma fonte
próxima das tratativas.
Não há definições nas negociações sobre
qual seria a fatia da companhia da China no Comperj, onde a Petrobras
investiu 13,5 bilhões de dólares, segundo declarações anteriores da
empresa, que disse também que não terminaria a refinaria no local sem um
parceiro.
“O que está em pauta é o seguinte: ou a Petrobras
vende fatias de blocos da Bacia de Campos para os chineses ou negocia
com eles o compromisso de fazer os investimentos necessários na Bacia de
Campos, associando isso ao Comperj. O chinês vai pegar o petróleo dele e
refinar no Comperj”, disse a fonte, na condição de anonimato.
A
Petrobras já realizou baixas em valores do Comperj de mais de 6,5
bilhões de reais, desde que se aprofundaram as investigações que
apontaram superfaturamento de contratos, cujos valores eram utilizados
para pagamentos ilegais a políticos e ex-executivos da estatal.
O
presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse no ano passado que a
Petrobras negociava investimentos na refinaria com a CNPC, sócia da
Petrobras e outras companhias como Shell e Total na reserva de Libra, no
pré-sal da Bacia de Santos.
Depois, em fevereiro, Parente evitou confirmar o nome da empresa chinesa ao comentar o assunto.
As
conversas com um grupo chinês se intensificaram recentemente e um
desfecho pode sair nas próximas semanas, disse uma segunda fonte.
“Está
muito bem encaminhado e deve sair em breve”, disse à Reuters uma fonte
do governo do Estado, que tem acompanhado ativamente as negociações.
Questionado
sobre o assunto nesta quinta-feira, o presidente da Petrobras, Pedro
Parente, limitou-se a dizer que as negociações continuam, sem revelar a
estratégia da companhia.
“Não temos um acordo fechado ainda”, disse ele, acrescentando que, por isso, não poderia dar informações complementares.
Em
um evento no Rio de Janeiro para apresentar justamente uma proposta
global de parcerias em refino para a Petrobras, Parente ressaltou que a
refinaria do Comperj não está incluída no modelo proposto, que prevê a
venda de participação de 60 por cento dos ativos no Sul e Nordeste do
Brasil.
Isso porque, frisou o executivo, a unidade do Comperj ainda não produz derivados de petróleo.
“O
problema do Comperj é que houve um grande investimento realizado
naquela obra e ele não produz. E uma das maneiras de fazer valoração de
ativos é pelo fluxo de caixa, e é uma obra que não tem fluxo de caixa.”
ABRIR CAMPOS
De
acordo com a primeira fonte, o Comperj foi desenhado para um óleo mais
pesado como aquele que é produzido na Bacia de Campos, que mais
recentemente despertou interesse da norte-americana Exxon Mobil pela
possibilidade de pré-sal na região —em um leilão em março consórcios
integrados por Petrobras e a companhia dos EUA arremataram áreas em
Campos por 6,78 bilhões de reais.
A idéia é “abrir” a Bacia de
Campos para investimentos chineses, que se comprometeriam a finalizar a
obra do complexo, destacou a fonte.
Segundo a segunda fonte, os
cálculos estão sendo feitos entre brasileiros e chineses para fechar a
conta em torno dessa associação entre a produção do óleo em Campos, o
investimento necessário para concluir a obra e o tempo de uso da unidade
de refino.
A estimativa da fonte próxima às negociações é que
mais de 60 por cento da obra do Comperj já foi realizada e que seriam
necessários mais 3 bilhões de dólares para a conclusão do
empreendimento.
“Não está definido se o sócio põe tudo (para
concluir a obra) ou se a Petrobras entra com uma parte pequena, já que
já investiu muito dinheiro até agora”, disse uma das fontes.
Um
ex-executivo da Petrobras, que também falou na condição de anonimato,
disse à Reuters que o acordo entre brasileiros e chineses faz sentido,
visto que a Petrobras tem interesse em concluir a obra e gastar o mínimo
possível.
Apesar do sobrepreço dos contratos, o Comperj tem
estrutura para ser uma planta eficiente, acrescentou ele. “A questão é
saber como vão fechar a conta, que não é fácil de fazer. O Comperj já
sofreu um enorme investimento, mas em termos de investimento continua
uma planta cara”, disse.
Segundo esse especialista, o custo da
refinaria gira em torno de 70 mil dólares o barril processado, ao passo
que nos EUA a construção de um projeto do gênero sai pela metade.
“Para os chineses, 2 a 3 bilhões de dólares não é muita coisa, mas eles sabem fazer conta e não rasgam dinheiro”, adicionou.
A
finalização das obras do Comperj é considerada também importante para a
retomada da economia do Rio de Janeiro, que mergulhou, após as
Olimpíadas, em um crise financeira, fiscal e de segurança.
“Há
uma articulação política também em Brasília para ajudar o projeto e
consequentemente o Estado”, disse a fonte do governo do Rio de Janeiro.
Paralelamente
às negociações com a CNPC, a Petrobras anunciou ao final de março um
contrato de aproximadamente 1,95 bilhão de reais para a construção da
Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) na área do Comperj, em
Itaboraí (RJ).
O contrato foi assinado com a Sociedade de
Propósito Específico (SPE) formada pela empresa chinesa Shandong Kerui
Petroleum e pela brasileira Método Potencial. As obras começam ainda no
primeiro semestre deste ano, e a UPGN tem previsão de operar a partir do
segundo semestre de 2020.
Por Rodrigo Viga Gaier; com reportagem adicional de Marta Nogueira; edição de Roberto Samora