
Modelo em 3D do futuro AeroCITI (Crédito: Divulgação)
O Rio Grande do Sul receberá uma nova fábrica de aviões: um grande complexo industrial construído pela brasileira Aeromot, com previsão de produzir 50 aeronaves por ano até 2032. Batizado como AeroCITI (Aerocentro Integrado de Tecnologia e Inovação), o local prevê ainda abrigar um museu, hangares, um centro de pesquisa e até a fabricação do primeiro modelo de transporte de passageiros movido a etanol no mundo.
O primeiro avião a ser fabricado será o Diamond DA62, bimotor apelidado de “SUV dos ares” pelo luxo oferecido em um modelo compacto, capaz de carregar até sete passageiros. O modelo é desenvolvido pela Diamond Aircraft, empresa de origem austríaco-canadense, atualmente sob controle do grupo chinês Wanfeng Auto Holding Group.
Representante exclusiva da Diamond Aircraft no Brasil desde 2016, a Aeromot já importou mais de 100 aeronaves Diamond DA62 que agora pretende produzir dentro do país. Com o novo passo, o prazo para aquisição de um DA62 pode cair de uma média atual de 27 meses para cerca de nove quando a fábrica estiver em funcionamento.
Em entrevista à IstoÉ Dinheiro, o CEO da Aeromot, Guilherme Cunha, explica que a nova fábrica irá abastecer demandas do Brasil e de países do Mercosul.
“Hoje, a Diamond tem uma capacidade produtiva limitada”, explica. “A gente trabalhou em uma estratégia de transferência de tecnologia para uma base aqui na América do Sul suportar todos esses países.”
A metrópole do avião
Com investimento total estimado em R$ 3 bilhões – cerca de R$ 1 bilhão virão da AeroCITI e o restante de empresas parceiras -, o espaço de 540 hectares no município de Guaíba, região metropolitana de Porto Alegre, irá abrigar hangares para diferentes empresas, alguns construídos com recursos das próprias companhias. Estará ainda apto a receber pousos comerciais em casos de problemas com o Aeroporto Salgado Filho.
O projeto recebeu grande apoio ainda do poder público: uma lei estadual para doação de parte do terreno à empresa, e duas com incentivos fiscais municipais.
Na fábrica, a Diamond Aircraft não está sozinha. A Aeromot afirma que já tem parceria para fabricar aviões de outra grande empresa, a ser oficialmente anunciada durante a inauguração da pedra fundamental do AeroCITI na quinta-feira (23).
A fabricação do DA62 deve iniciar em janeiro de 2027, ainda em um modelo de montagem de componentes importados e com a conclusão de três aeronaves no ano. A empresa pretende a partir daí instalar a tecnologia para ter toda a linha de produção instalada até 2032.

Sobre os possíveis compradores, o CEO da Aeromot espera que, com a produção nacional, amplie-se o interesse em até financiamentos e assim cresça a demanda. Ele adiciona que mais de 80% da utilização desse modelo é para viagens de trabalho, seja como veículo privado ou de empresas, e que o Brasil, apesar de ocupar o posto de segundo maior mercado de aviação executiva no mundo, conta com uma frota relativamente velha, com média de 40 anos.
“Hoje, 90% das vendas que a gente faz são à vista. Não tem nenhum tipo de incentivo. A ideia de trazer [a fabricação para cá], inclusive, é fomentar e transformar isso no produto brasileiro com financiamento local”, afirma Guilherme Cunha.
O primeiro avião de transporte movido à etanol
Em outra frente, a Aeromot investe em pesquisa. Há mais de um ano a empresa desenvolve em parceria com a em parceria com a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, empresa pública ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) uma aeronave bimotora para ser a primeira de transporte movida a etanol no mundo. Atualmente, o uso mais frequente do combustível ocorre em aeronaves agrícolas. O objetivo é iniciar sua produção em cerca de cinco anos.
“A gente entende que é um pilar importantíssimo para as próximas gerações. Sabemos que a aviação vai passar por uma transformação muito grande nos próximos 30 anos com a necessidade da descarbonização, e obviamente a gente tem que se preparar para isso”, afirma Cunha.

Na frente de pesquisa, a Aeromot também mantém parcerias com diversas universidades que poderão fazer uso do espaço, como a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o Instituto BI0S (Brazilian Institute of Data Science) da Unicamp (Universidade de Campinas), a Ulbra (Universidade Luterana do Brasil), a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), o Parque Tecnológico de São José dos Campos e a PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).
O espaço do AeroCITI contará ainda com um Museu do Avião a céu aberto, com área de 24 mil m², área de playground para crianças, pista de caminhada e atividades recreativas.
Aeromot já fabricou aviões antes
Com 58 anos desde sua fundação, o foco da Aeromot virou-se na última década para as operações de distribuição e de modificações de aeronaves. Nesta segunda frente, a empresa acumula projetos como a instalação de sistemas médicos, blindagem e monitoramento de vigilância em modelos para polícias militares de diferentes estados e Policia Federal. Durante a Copa do Mundo de 2014, a empresa colaborou com o sistema de segurança e logística aérea.
Entre a década de 1980 e começo dos anos 2000, no entanto, a empresa fabricou os modelos Guri e Ximango. Com algumas variações, eram modelos para até duas pessoas, comercializados sobretudo para forças aéreas de diferentes países. Cada um contabiliza mais de 100 aeronaves vendidas.
Os números, no entanto, são modestos perto de outras brasileiras no setor, como a Flyer Indústria Aeronáutica, que divulga mais de 2,3 mil aeronaves vendidas em 40 anos, e a líder Embraer, mais focada em aviões comerciais, com produção de algumas centenas no ano.

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