quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Pessoas trans recebem 32% menos que a população geral e apenas um quarto tem trabalho formal

 

Apenas uma em cada quatro pessoas trans tem trabalho formal no Brasil. O dado faz parte de um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que mostra que a taxa de participação de pessoas trans no trabalho formal é de 25%, 6,8 pontos percentuais inferior ao observado na população total do país, de 31,8% para uma faixa etária entre 14 a 64 anos.

O estudo ainda mostra que os homens trans possuem uma maior participação (31,1%), que é relativamente próxima, embora ainda inferior, à taxa de participação para população masculina em geral (35,1%). No entanto, a situação é mais grave para mulheres trans, cuja taxa de participação é de apenas 20,7%, valor bastante inferior ao observado para a população feminina total (28,4%).

“Mesmo para aqueles que conseguem participar, a desigualdade também se materializa na remuneração média inferior da população trans em relação à população total. Uma pessoa trans inserida no assalariamento formal recebe, em média, R$ 2.707, 32% a menos que a média dos assalariados formais identificada na Rais (Relação Anual de Informações Sociais) 2023, que é de R$ 3.987”, diz o estudo, conduzido pela Diretoria de Estudos e Políticas Sociais (Disoc/Ipea).

Em um primeiro momento, as diferenças de rendimento entre as pessoas trans e da população geral poderia ser explicada pelo nível de escolaridade. Segundo o estudo, 13,5% das pessoas trans empregadas possuem ensino superior completo, enquanto esse percentual é de 20,4% para a população total empregada.

Embora ajude a explicar parte do menor rendimento, as diferenças salariais permanecem mesmo quando comparada em uma mesma categoria de escolaridade. Uma pessoa trans com ensino superior ganha, em média, 27,6% a menos que uma pessoa com ensino superior na população total, enquanto uma pessoa trans sem ensino superior ganha 23,1% a menos que aqueles com mesma qualificação na população total.

Pessoas trans Ipea

População trans no Brasil

O Ipea usou como base os dados das pessoas com CPF, que fazem parte do Cadastro Compartilhado (b-Cadastros) da Receita Federal, e registra informações básicas de todas as pessoas, incluindo nome, nome social, data de nascimento, data de óbito, sexo/gênero, Estado de domicílio, entre outras informações. A entidade usou dados extraídos em 2023 com um novo levantamento feito em 2025.

Ao comparar dois estados da base foi possível identificar pessoas que realizaram alteração de nome e/ou sexo/gênero no período, ou que possuem nome social no período final. Diante disso, foi criado um método para identificar as pessoas trans a partir dessa base da
Receita Federal.

Foram identificadas 38.758 pessoas trans, em um universo de 157,4 milhões de pessoas. A proporção de homens trans foi inferior à proporção de homens da população geral (37,9% contra 49,6%). Já a proporção de mulheres trans foi maior em relação às mulheres na população total (51,3% contra 50,4%). Das pessoas trans do Brasil, 2,7% foram classificadas como não binárias.

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