terça-feira, 28 de outubro de 2025

Produtor de café premiado em MG decide não vender lote: ‘Estou tomando agora’

 

Tomar um dos melhores cafés da safra deste ano na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, será um privilégio de uma família só. O produtor Carlos Bonifácio Santana ficou em 1º lugar em uma das categorias do Prêmio Chapada de Minas, porém decidiu não vender a sua produção. A premiação ocorreu na última sexta-feira, 24.

Os cafés especiais leiloados no prêmio bateram recordes de preço. O segundo colocado na categoria de Carlos Bonifácio, focada em produtores com lavouras inferiores a 20 hectares, vendeu a saca de 60 kg por R$ 8,7 mil.

Compradores tentaram comprar o café do agricultor até mesmo depois da premiação, mas ele se recusou a vender.

“Eu não vendi, está aqui em casa. Estou tomando ele agora inclusive”, conta Carlos Bonifácio Santana em entrevista à IstoÉ Dinheiro.

O agricultor conta que no dia da premiação não tinha uma saca do seu café para venda, pois realizou a finalização de uma quantidade suficiente apenas para enviar à competição. Os grãos colhidos restantes permanecem em sua casa, na cidade de Angelândia (MG), e serão destinados para consumo próprio.

“Eu tenho direito de tomar especial também. É muito melhor! Um café de paladar muito melhor, o aroma muito melhor, um café cheiroso, gostoso”, orgulha-se.

O produtor correu risco inclusive de ser desclassificado. A regra do concurso determina o mínimo de uma saca para leilão. Todavia, a ausência do produto para venda só foi descoberta após a entrega dos troféus.

Que café é esse?

Segundo a descrição apresentada na premiação, o café de Carlos Bonifácio apresenta sabor doce de frutas amarelas, como maracujá, com uma acidez cítrica, corpo licoroso e final persistente e doce.

O cafeicultor conta que não realizou a poda adequada para esta safra, o que reduziu consideravelmente a quantidade total de grãos produzidos. Da colheita, uma parte ainda menor passou pela secagem ideal.

“Eu seco no sol mesmo, porque no secador ele perde qualidade. O sol natural é melhor. E esse ano teve muita chuva”, explica.

O Prêmio Chapada de Minas é uma competição de cafés especiais, ou seja, grãos de excelente qualidade, produzidos a partir de técnicas rigorosas que abrangem o plantio, a colheita e o pós-colheita. A secagem adequada integra o processo, assim como a peneiragem no tamanho adequado.

A peneiragem é um processo em que uma máquina seleciona com uma peneira os grãos de café com um tamanho específico. Neste processo, o volume de café selecionado é menor do que o total.

Produção de café especial na região é recente

O trabalho de Carlos Bonifácio com o café especial é recente: iniciou em 2022, após iniciativas implementadas pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) para estimular a produção do café especial na região do Vale do Jequitinhonha, no nordeste mineiro.

Em anos anteriores, o agricultor já tinha recebido outros prêmios: o 2º lugar na Semana Internacional de Café de 2022, o 3º lugar na mesma competição em 2024 e o da 1ª Festa do Café de Angelândia em 2025.

Apesar de ter perdido a oportunidade de bater recorde de preço de venda na região com o seu café, ele afirma que oportunidades não faltarão. “Eu vou trabalhar em cima do café especial ano que vem e, com certeza, eu serei premiado, com a ajuda de Deus.”

Aposentado como produtor rural e com esposa também aposentada, Carlos Bonifácio tem uma filha médica e um filho que ajuda no trabalho de sua pequena propriedade, onde também mantém criação de animais. “Minha sobrevivência também vem das reservas que vou fazendo do café”, diz.

Recordes no 4º Prêmio Chapada de Minas

Em meio à alta da cotação do café internacionalmente, os cafés especiais leiloados no prêmio bateram recordes de preço. Atualmente, a saca de café comum custa em torno de R$ 2 mil.

As sacas dos primeiros lugares das outras duas categorias do 4º Prêmio Chapada de Minas foram vendidas por R$ 7,1 mil e R$ 8,5 mil. Até então, o recorde entre as três categorias, registrado em 2024, era de R$ 4,7 mil em uma saca.

São três vencedores em três categorias. Voltada para pequenos produtores, a categoria Origens, em que concorreu Carlos Bonifácio Santana, oferece uma premiação em dinheiro de R$ 2 mil para o primeiro colocado, R$ 1 mil para o segundo e R$ 1 mil para o terceiro. Nas outras duas, voltadas para duas formas diferentes de finalização dos grãos em propriedades com mais de 20 hectares, o prêmio em dinheiro é apenas o valor das sacas leiloadas.

O Sebrae Minas é o organizador do Prêmio Chapada de Minas.

(*O repórter viajou para acompanhar o 4º Prêmio Chapada de Minas à convite do Sebrae Minas)


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