domingo, 14 de abril de 2024

Brasil retoma autossuficiência e vê produção de alumínio avançar 24% em 2023

 Obtenção do Alumínio - Mundo Educação


São Paulo, 10/04/2024 – O Brasil retomou autossuficiência em alumínio e viu a produção brasileira do metal avançar 24% em 2023, atingindo o patamar de 1,006 milhão de toneladas, apontam dados preliminares da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). O resultado representa a segunda melhora anual consecutiva após o setor mostrar recuperação de 5,1% no indicador em 2022.

A recuperação na oferta acontece, principalmente, devido ao religamento do complexo industrial da Alumar, no Maranhão, que voltou às operações no segundo semestre de 2022 e contribuiu para o incremento da produção em escala do metal no último ano, encerrando o ciclo de paralisação que havia sido iniciado em 2015.

Ao Broadcast, a presidente-executiva da Abal, Janaina Donas, destacou que a perspectiva tanto para a oferta quanto para a demanda dentro do setor são positivas no Brasil, dado que a indústria tem sido favorecida pela redução gradual da taxa básica de juros, aliada à continuidade de tendências estruturais observadas para o crescimento do consumo do metal.

No setor, o alumínio é defendido como estratégico para a transição energética, devido ao seu potencial de reciclabilidade e boa condutividade elétrica, além de características favoráveis relacionadas à resistência mecânica, o que sinaliza para um potencial crescimento do metal em setores como energia e transportes.

A porta-voz da indústria nacional do alumínio também mencionou que o Brasil deve encerrar o ciclo de investimentos de 2022 a 2025 com a execução de R$ 30 bilhões em investimentos, fator que sustenta a visão do setor sobre o potencial crescimento que a demanda pelo metal deve desempenhar nos próximos anos.

“Estamos falando em investimentos anunciados e públicos, mas sabemos que existem projetos em amadurecimento e estudo. Os investimentos acontecem de forma contínua, seja em retomada de produção, expansão de reservas, modernização da matriz elétrica de fornecimento – dado a característica eletrointensiva do segmento – mas também há investimentos relacionados à melhorias de gestão e processos que são vistos como incrementais, mas na verdade eles são significativos”, afirmou Donas.

Na terça-feira, 9, a executiva promoveu a abertura do 9º Congresso Internacional do Alumínio, e na ocasião defendeu que o Brasil reúne uma série de vantagens competitivas para o fortalecimento da indústria de base. Ela destacou ainda o fato da cadeia brasileira do metal ser verticalizada, estando presente desde a mineração da bauxita até as etapas de industrialização, comercialização e reciclagem do alumínio em sua forma final. “Não somos apenas um país exportador de commodities”, encerrou Donas.

Consumo

Para os próximos anos, a perspectiva de um aumento da renda e do padrão de vida da população brasileira deve incrementar o consumo de alumínio no Brasil, disse ao Broadcast o secretário-geral do International Aluminium Institute (IAI),Miles Prosser, que representa a indústria de alumínio no mundo.

Segundo Prosser, o Brasil está bem posicionado para desempenhar um papel significativo no fornecimento global de alumínio com alto valor agregado, principalmente em função de dispor de uma matriz energética limpa e um mercado interno robusto. Com relação ao mercado global, o secretário mencionou que o consumo de alumínio deve crescer impulsionado por um aumento na preocupação com a transição energética.

Hoje, o montante mais relevante de consumo de alumínio no País está presente no mercado de embalagens, mas há perspectivas de crescimento da presença do metal em outros segmentos. No setor elétrico, por exemplo, cabos condutores produzidos com alumínio podem favorecer a expansão da rede elétrica, além da aplicação do metal voltado para a energia solar.

Tensões comerciais

No mundo, há um crescente aumento de pressão por parte da indústria por incentivos para aumentar a competitividade ou medidas de defesa comercial, em um contexto de excesso de produção de bens, principalmente partindo da China, que avançam sobre os domésticos de outros países.

Nos Estados Unidos, o país tem adotado o IRA (Inflation Reduction Act), que se traduz em um pacote de incentivos para a transição energética, além da Seção 232, que estabelece uma barreira comercial mais rígida voltada à proteção estratégica do mercado americano. Na Europa, por sua vez, o continente adotou o CBAM (Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira, em português), que visa sobretaxar produtos importados que sejam intensivos em emissões de CO2.

Durante a realização do 9º Congresso Internacional do Alumínio, o tema foi colocado em debate, com o presidente da Companhia Brasileira do Alumínio (CBA), Luciano Alves, defendendo que o Brasil discuta sobre modelos semelhantes que estejam vinculados a garantir igualdade de competição contra produtos internacionais a partir das emissões de carbono.

Sobre o assunto, Miles disse considerar legítimo a adoção por parte das nações de sistemas voltados para o ajuste de carbono, avaliando que a preocupação com a transição energética tem sido crescente no comércio global.

“Em alto nível, há justificativas para se apoiar políticas de descarbonização que implementam ações voltadas a garantir que não existam apenas a imposição de custos às indústrias domésticas. A dificuldade reside, em muitos casos, no detalhe destas políticas”, firmou Prosser, mencionando que algumas dessas ações podem servir como pano de fundo para a adoção de barreiras comerciais.

Janaina Donas, da Abal, avalia que a discussão sobre uma futura aplicação de um sistema de ajuste de carbono na fronteira para o Brasil é saudável, mas que é preciso que um eventual modelo sobre o assunto seja discutido para um formato que faça sentido à realidade nacional.

Presente no evento, a Secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Tatiana Prazeres, mencionou preocupação com a proliferação de “CBAMs” ao redor do mundo. Ela disse que o Brasil pretende levar o debate ao G20 com foco em garantir que essas regulações tenham mais transparência e fundamentos voltados para a ciência. Caso contrário, há o risco das regras serem utilizadas como maquiagem para políticas de defesa comercial.

 

Com feminicídios em alta no Rio, pesquisadoras pedem mais investimento

 Feminicidio: fotos stock – 1.267 imagens | Shutterstock


Na semana passada, uma mulher de 39 anos foi morta depois de atacada pelo ex-companheiro e de ter o corpo incendiado em uma plataforma de trem na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Ela fugiu pelos trilhos e chegou a ser levada para um hospital, mas não resistiu. Após o crime, o homem cometeu suicídio jogando-se da Ponte Rio-Niterói.

No dia seguinte, outra mulher sofreu queimaduras durante uma discussão com o companheiro em Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense. O homem jogou álcool no quarto do casal e ateou fogo. A mulher precisou ser hospitalizada após as chamas atingirem cabelo, braços, costas e pernas.

Os dois crimes, praticados com requintes de crueldade, foram registrados em um momento em que as estatísticas oficiais indicam aumento significativo de casos e de tentativas de feminicídio no estado do Rio de Janeiro. Segundo o Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ), nos dois primeiros meses do ano passado, ocorreram 16 feminicídios e 53 tentativas, totalizando 69 casos. No mesmo período deste ano, foram registrados 20 casos e 82 tentativas de feminicídio, somando 102 registros, com alta de 47,8%.

Chamam a atenção os dados de fevereiro de 2024, último mês com estatísticas públicas até o momento. Os registros mostram recorde de tentativas de feminicídio desde 2018, primeiro ano da série histórica divulgada pelo ISP-RJ. Foram 47 casos. Até então, o mês com maior número de ocorrências desse tipo era março de 2019, quando houve 42 anotações.

Em nota, o governo do Rio afirma que o combate à violência contra a mulher é prioridade e destaca que a Polícia Civil conta com 14 delegacias de Atendimento à Mulher em todo o estado. Segundo a nota, nos últimos anos, 100% das investigações de feminicídios ocorridos na região metropolitana do Rio de Janeiro levaram à elucidação do crime.

“A Polícia Civil atua de forma integrada com a Polícia Militar no enfrentamento à violência doméstica, familiar e de gênero. Durante o mês de março, no escopo da Operação Átria, as instituições prenderam 819 pessoas por violência contra mulher, e cerca de 13 mil medidas protetivas de urgência foram solicitadas”, acrescenta a nota.

Punição não é o bastante

Para pesquisadoras ouvidas pela Agência Brasil, o Estado precisa investir mais para alterar essa realidade. Elas consideram importante punir os criminosos, mas ressaltam a necessidade de ir além, ampliando as campanhas preventivas e educativas e garantindo acesso a serviços de acolhimento para mulheres em situação de violência.

“Falta prevenção. Estamos apostando muito na punição. É importante punir, mas não vamos mudar o cenário sem campanhas públicas regulares, sem ações de educação nas escolas”, diz a socióloga Jacqueline Pitanguy, pesquisadora e coordenadora da organização não governamental (ONG) Cepia.

Jaqueline lamenta que o governo anterior, liderado por Jair Bolsonaro, tenha descontinuado políticas públicas de abrangência nacional. “O conflito é inevitável nas relações humanas, mas precisamos mostrar para as pessoas que há outras formas de resolvê-los sem que se recorra à violência”.

A coordenadora do Observatório Latino-americano de Justiça em Feminicídio e do Grupo de Pesquisa sobre Violência de Gênero da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cristiane Brandão, manifesta-se na mesma linha. “Temos que atuar em muitas esferas, e não exclusivamente pelo direito penal ou pelo sistema de justiça criminal.”

Segundo Cristiane, é preciso trabalhar com a educação, inclusive no médio e longo prazos. E também promover esses outros espaços que vão além da delegacia. “Promover os centros de referência como um espaço de acolhimento, de escuta sensível, de atendimento humanizado. Que se garanta um atendimento de forma integrada, levando ao fortalecimento dessa mulher”, acrescenta.

Nem todo homicídio que tem uma mulher como vítima se enquadra como feminicídio, crime que foi tipificado no Brasil em 2015. Ele é caracterizado como o assassinato que envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Quando o ato não é consumado, ele é tratado como tentativa de feminicídio.

Campanhas preventivas e educativas devem contribuir para desconstruir a estrutura patriarcal que fundamenta a sociedade brasileira, diz Jaqueline. “Os homens sempre foram colocados em posição de domínio, e as mulheres, de subalternidade em diferentes esferas da vida, inclusive nas relações afetivas. Esta é uma carga histórica e secular de conformação da identidade masculina como dominante.”

De acordo com Cristiane, isso está presente também em formas de violência patrimonial, quando o homem controla o dinheiro ou impede a mulher de trabalhar. “Está presente no controle da vida da mulher, em que ela tem que obedecer,  fazer do jeito que o homem falou, usar a roupa que ele quer. A violência doméstica é uma violência em grande parte de repetição e de correção.”

A socióloga lembra que, no passado, a legislação do país sobre costumes era extremamente conservadora. As mulheres precisavam se casar virgens, e o adultério era crime. Segundo Jacqueline Pitanguy, a ideia de que não há chefe ou hierarquia na sociedade conjugal foi uma conquista na Constituinte de 1988. Esse lugar de dominação não é apenas um dado cultural, estava presente nas nossas leis. E hoje se vê isso ser frequentemente reafirmado, inclusive por meio de algumas interpretações religiosas, acrescenta.

Sem quedas consecutivas

A série histórica divulgada pelo ISP-RJ mostra que, desde 2018, nunca houve queda do número de feminicídios por dois anos consecutivos. Em 2020, houve redução, seguida por um aumento em 2021. Em 2022, um novo crescimento, que gerou o maior pico em um período de cinco anos: foram 111 registros. Embora os casos tenham voltado a cair em 2023, os números já divulgados dos primeiros meses de 2024 indicam que, provavelmente, haverá nova alta.

“Um dado importante a considerar é a pandemia de covid-19, porque houve uma baixa em 2020. Os registros diminuíram nesse período, mas isso não significa que a violência tenha diminuído. Pesquisas mostraram isso claramente. As vítimas tiverem menos acesso a hospitais e delegacias, enfim, às instâncias de segurança, de justiça e de saúde, onde são acolhidas. E, consequentemente, isso afetou os registros”, observa Jacqueline.

Ela destaca também que é alta a subnotificação dos dados envolvendo a violência contra a mulher. O problema ocorre em todas as classes e em famílias de diferentes raças. “E reverbera entre casais negros, brancos, azuis. Mas acontece que algumas mulheres são mais vulneráveis porque têm menos recursos para enfrentar a situação. Na periferia, muitas vezes, não conseguem ter a proteção do Estado. Mulheres brancas de classe média podem, por exemplo, recorrer a advogados particulares e, às vezes, resolvem a situação sem fazer registro formal. Isso acontece.”

Critério

Para Cristiane Brandão, há um problema de critério nas estatísticas oficiais produzidas com base em registros policiais: os casos de feminicídio ou de tentativa de feminicídio quase sempre são atrelados apenas a ocorrências de violência doméstica ou violência no âmbito de relações afetivas, especialmente quando há tentativa de rompimento dessa relação. Dessa forma, assassinatos em que a discriminação à condição de mulher ocorre em outros contextos não são enquadrados, gerando subnotificação.

Cristiane cita estudos realizados sobre o cenário observado na década de 1990 em Ciudad Juárez, uma cidade mexicana situada na fronteira com os Estados Unidos. Na época, foram registrados diversos casos de morte violenta de mulheres. “Tivemos ali, nesse momento histórico, a implantação de empresas voltadas para a maquiagem e para a confecção, que passaram a usar mulheres como mão de obra. E, quando as mulheres passam a ocupar o espaço público, disputar o mercado de trabalho, surgem conflitos”, explica.

A socióloga destaca ainda que os dados do ISP-RJ mostram uma realidade parcial. “Talvez fosse mais correto dizer que houve aumento de feminicídios íntimos. O olhar do sistema de justiça criminal é muito voltado para o reconhecimento do feminicídio apenas quando se tem uma relação doméstica ou familiar. Esses casos representam de 98% a 99% dos processos sobre feminicídio que tramitam nos tribunais de justiça do Brasil.”

*Colaborou Fabiana Sampaio, repórter da Rádio Nacional do Rio de Janeiro


ONG diz que algodão de roupas da Zara e H&M pode ser fruto de desmatamento no Brasil

 O espremidíssimo novo logo da Zara


Um novo relatório da Organização Não Governamental (ONG) britânica Earthsight mostra ligações entre o algodão usado em roupas das redes Zara e H&M e terras com suspeita de grilagem e desmatamento no cerrado brasileiro. O insumo usado na produção dessas varejistas é certificado pela instituição de governança Better Cotton (BC), grupo de governança multissetorial que promove melhores padrões no cultivo de algodão em 22 países. A ONG considera ‘falhos’ os métodos de fiscalização dessa organização.

Integrantes da Earthsight passaram mais de um ano analisando imagens de satélite, decisões judiciais, registros de exportação e participaram de feiras comerciais globais, de maneira secreta, com o objetivo de rastrear quase um milhão de toneladas de algodão cultivado por alguns dos maiores produtores do Brasil. O insumo rastreado pela ONG foi destinado a fabricantes de roupas na Ásia que são fornecedores das duas maiores varejistas de moda do mundo.

A Earthsight rastreou desde 816 mil toneladas de algodão das fazendas investigadas até oito empresas asiáticas que produziram quase 250 milhões de peças de roupa e artigos para casa para as lojas globais da H&M da Zara e marcas irmãs: Bershka, Pull&Bear, entre outras.

A ONG pontua que todo o algodão rastreado pela Earthsight foi certificado como sustentável pela Better Cotton. A maioria dos produtos da H&M e Zara é feita com esse algodão certificado. E quase metade deste material vem do Brasil, segundo o relatório. No entanto, após as informações trazidas pela Earthsight, que ligam a origem desse insumo a suspeitas de grilagem de terras e desmatamento, uma investigação interna foi instaurada, disse a Better Cotton à ONG.

Em nota que data de 22 de setembro de 2023, a certificadora afirmou que, devido às questões estruturais em torno das reivindicações conflitantes de terras na região, reveladas pela investigação, são necessárias mais pesquisas para determinar se essas fazendas rastreadas pela ONG estão em conformidade com o “Better Cotton Standard”. “Contrataremos um auditor independente para realizar visitas de verificação reforçadas com foco nas áreas de risco destacadas no relatório. Nosso objetivo é concluir essas avaliações de terceiros nas próximas 12 semanas”, afirmou a BC na mesma nota.

Depois disso, as regras da BC foram atualizadas em 1º de março, mas ainda estão repletas de falhas, na visão da Earthsight, com conflitos de interesse e uma aplicação fraca. O algodão proveniente de terras desmatadas ilegalmente antes de 2020, por exemplo, ainda é certificado, mesmo com todos os indícios apontando que foi produzido em terra roubada de comunidades locais, afirma a Earthsight.

Questionada sobre a investigação pelo Broadcast, a Zara afirmou:

“Levamos as acusações contra a Better Cotton extremamente a sério e exigimos que a certificadora compartilhe o resultado de sua investigação o mais rápido possível. Além disso, solicitamos com urgência as providências tomadas pela Better Cotton para garantir a certificação de algodão sustentável nos mais altos padrões”

A resposta da Zara leva em consideração que a Inditex, dona da marca, não adquire algodão de forma direta. Esta matéria prima, usada por fornecedores para o desenvolvimento das peças da marca é regulamentada por organizações independentes que teriam de se certificar das boas práticas usadas em sua produção.

Para um dos investigadores da Earthsight, Rafael Pieroni, porém, é importante que, enquanto a Better Cotton não se mostra apta a garantir a procedência do algodão por ela certificado, as redes varejistas assuma a responsabilidade de rastrear sua cadeia produtiva. “Se a investigação foi conduzida por nós, com poucas pessoas, as grandes redes de varejo têm condições de rastrear suas cadeias”, disse ao Broadcast.

A H&M não respondeu ao contato da reportagem, mas à ONG, disse por meio de nota que “acolhe” o compromisso da Earthsight nestas questões e leva estas alegações extremamente a sério. “Estamos em contato próximo com o proprietário da certificação Better Cotton – que iniciou uma investigação completa sobre as alegações específicas”, diz a nota.

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) disse que iria se manifestar sobre as acusações. Em setembro, a Abrapa disse que não aprovava, nem emitia certificados e que também não descredenciava fazendas do programa ABR/Better Cotton, além de manifestar apoio a uma nova auditoria.

Abrapa e SLC Agrícola respondem às acusações da ONG britânica Earthsight

A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) respondeu às acusações da Organização Não Governamental (ONG) britânica Earthsight que, nesta semana, publicou um relatório que afirma haver ligações entre o algodão usado em roupas das redes Zara e H&M e terras com suspeita de grilagem e desmatamento no Cerrado brasileiro. Na resposta, a Abrapa diz que leva as alegações a sério e que está comprometida em “tratá-las com a máxima urgência, transparência e integridade”. “A Abrapa condena inequivocamente quaisquer práticas que prejudiquem a conservação ambiental, violem os direitos humanos ou prejudiquem as comunidades locais”, afirma o documento.

Segundo a entidade, a investigação da Earthsight é de conhecimento da associação desde setembro de 2023, quando a ONG procurou os representantes da cadeia produtiva no Brasil para falar sobre as alegações. “Sem demora, a Abrapa, em colaboração com os produtores mencionados, forneceu à Earthsight as evidências legais e técnicas para abordar e contrapor as afirmações”, diz. “Infelizmente, estas foram largamente ignoradas no relatório publicado hoje”, continua o documento. As respostas fornecidas pela Abrapa e pelas fazendas acusadas na ocasião estão disponíveis no site da Earthsight.

A Abrapa diz que há 25 anos “atua na promoção de melhorias trabalhistas e ambientais nas fazendas, inclusive por meio do programa Algodão Responsável (ABR), iniciado em 2012, e de parcerias internacionais como a Better Cotton”. O grupo de governança multissetorial promove melhores padrões no cultivo de algodão em 22 países. A investigação da Earthsight considera “falhos” os métodos de fiscalização da organização.

Segundo a Abrapa, a produção responsável de algodão é um dos pilares da organização, que trabalha com “um forte foco em garantir o pleno cumprimento da legislação ambiental brasileira, reduzir acidentes de trabalho, promover o desenvolvimento humano das comunidades rurais e melhorar a saúde do solo”.

A associação ainda afirma que não emite certificados de sustentabilidade nem verifica o atendimento aos critérios do ABR. “A associação não aprova ou reprova fazendas que participam dos programas Algodão Brasileiro Responsável (ABR) ou Better Cotton”, afirma o relatório. “Todas as auditorias e certificações, nesses programas, são realizadas por meio de inspeções anuais no local por empresas de auditoria terceirizadas independentes que têm total liberdade para negar a certificação a fazendas que não atendem aos requisitos internacionais.”

Por fim, a Abrapa saúda a inspeção e a verificação de terceiros que estão sendo conduzidas por uma consultoria independente contratada pela Better Cotton para investigar minuciosamente as alegações feitas pela Earthsight e examinar as evidências e respostas fornecidas pelos agricultores e pelos organismos de certificação ABR independentes. “Queremos assegurar aos nossos stakeholders, incluindo consumidores, varejistas e parceiros internacionais, que a Abrapa permanece firme em nosso compromisso com práticas éticas e sustentáveis na indústria algodoeira brasileira.”

Ainda na quarta-feira, 10, antes mesmo da publicação do relatório da Earthsight, a SLC Agrícola, um dos grupos citados no mesmo relatório, tendo conhecimento da publicação do documento, disse que prestou informações sobre a fazenda de Correntina (BA) em agosto passado. O grupo afirmou que “o imóvel da área de Capão do Modesto, citado no relatório, é de propriedade da Agrícola Xingu e a SLC Agrícola não opera nessa área”.

Além disso, a SLC afirma que “os incêndios florestais detectados na área de Cerrado não possuem qualquer tipo de vinculação a processos de desmatamentos ou conversões de áreas naturais” e que não foram originados por nenhuma atividade desenvolvida pela empresa.

Certificadora de algodão diz que fez auditoria independente em produtores brasileiros

A Better Cotton (BC) – iniciativa que credencia produtores de algodão – disse que conduziu uma auditoria independente a respeito das “questões altamente preocupantes” levantadas por um relatório da Earthsight sobre a ligação do algodão certificado pela BC com grilagem de terras e desmatamento no Cerrado brasileiro.

Segundo a Better Cotton, a investigação envolve três fazendas licenciadas pela organização no Estado da Bahia. “Estamos empenhados em fazer um resumo das conclusões da auditoria disponível para a Earthsight e todos os nossos membros”, diz a nota enviada ao Broadcast.

“De acordo com nossos procedimentos operacionais, caso haja evidências de que as fazendas não cumprem requisitos do Padrão Better Cotton, suas licenças serão suspensas ou revogadas. Vamos trabalhar em estreita colaboração com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA), nosso parceiro no Brasil e detentora do Protocolo Brasileiro do Algodão Responsável, programa nacional reconhecido como equivalente ao Padrão Better Cotton, ao longo deste processo”, complementa a instituição.

O posicionamento argumenta ainda que “o relatório inclui assuntos em tribunais e processos em andamento, incêndios que ocorreram em fazendas que não são relacionadas ao Better Cotton e multas que foram anuladas”. “Estas questões estão fora do nosso alcance”, diz a BC.

Integrantes da Earthsight passaram mais de um ano analisando imagens de satélite, decisões judiciais, registros de exportação e participaram de feiras comerciais globais, de maneira secreta, com o objetivo de rastrear quase um milhão de toneladas de algodão cultivado por alguns dos maiores produtores do Brasil. O insumo rastreado pela ONG foi destinado a fabricantes de roupas na Ásia que são fornecedores das duas maiores varejistas de moda do mundo: H&M e Zara.


sábado, 13 de abril de 2024

Regulação da IA precisa proteger direitos fundamentais, diz Barroso

 Barroso vota a favor da constitucionalidade da reforma da ...


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, defendeu, nesta sexta-feira (12), a regulamentação da Inteligência Artificial (IA) baseada na proteção de direitos fundamentais. A declaração foi durante a Aula Magna da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj).

Barroso disse que a regulação da Inteligência Artificial precisa estar voltada para direitos constitucionais como privacidade, liberdade cognitiva e liberdade de expressão. “Precisa proteger a democracia, combatendo a desinformação, o discurso do ódio e o esforço a subalternizar os grupos mais vulneráveis, e os ataques à democracia, tornando as informações minimamente transparentes e inteligíveis às pessoas”, destacou.

O presidente do STF disse que a Inteligência Artificial vai trazer benefícios para a humanidade.“A Inteligência Artificial surge com a promessa de muitos benefícios para tornar nossa vida melhor. Terá capacidade de tomar decisões com mais eficiência que os seres humanos, pois tem a capacidade de armazenar mais dados que o cérebro humano. Também vai permitir a automação de muitas atividades, incluindo as atividades de risco. E ainda vai revolucionar a medicina, na descoberta de cura para doenças; o Direito, na celeridade da prestação jurisdicional, a educação, enfim, todas as áreas”.

Apesar disso, o ministro apontou que um dos riscos nessa questão é em relação ao mercado de trabalho. “Muitos empregos vão desaparecer. Embora outros venham a surgir, não acontecerão na mesma velocidade. Há, também, um medo imenso do uso bélico da Inteligência Artificial. Existem armas letais autônomas que são capazes de tomar decisões próprias de ataque, o que geram problemas éticos imensos. Outro perigo que estamos enfrentando é a massificação da desinformação”, avaliou. 

O ministro Luís Roberto Barroso falou também da importância da preservação dos valores éticos que servem de base para os princípios da humanidade. “Apesar de todas as modernidades que já vimos e que ainda vamos ver, ainda são os antigos valores éticos que devem pautar a vida na terra: o bem, a justiça e a dignidade humana”.

Quem são a 3R e a Enauta, petroleiras emergentes que negociam fusão

 

ME CONTA - Nova logomarca e Identidade Visual 3R... | Facebook

As petroleiras brasileiras 3R Petroleum e Enauta encaminharam um acordo de fusão nesta semana. A proposta prevê a incorporação da totalidade das ações da Enauta, com os acionistas da Enauta recebendo ações da 3R em troca. Acionistas da 3R ficarão com 53% da nova empresa, enquanto os acionistas da Enauta ficarão com 47%, segundo fato relevante encaminhado à CVM. O acordo inclui a participação da sueca Maha Energy Offshore.

Caso o plano seja concretizado, a nova empresa teria potencial de capacidade de produção imediata de 100 mil barris por dia, chegando a 120 mil barris por dia em 2025, além de somar uma reserva de 770 milhões de barris. Em março deste ano, a Enauta teve produção diária de 24,8 mil barris de óleo equivalente, enquanto a 3R produziu uma média diária de 50,4 mil barris.

São números muito pequenos quando comparados aos das grandes petroleiras globais. Como comparação, a produção da Petrobras superou os 3,8 milhões de barris de óleo equivalente por dia em fevereiro, segundo as últimas informações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Combustíveis (ANP).

3R

A 3R é uma companhia brasileira de capital aberto produtora de petróleo e gás natural com sede no Rio de Janeiro. Fundada em 2014, a empresa possui ativos onshore (em terra) e off-shore (no mar) no Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Segundo a 3R, o foco da empresa está no redesenvolvimento de campos maduros e em produção. No ano passado, a companhia registrou lucro líquido de R$ 425,2 milhões, um crescimento de 233%. Segundo a empresa, a produção foi recorde em 2023.

A 3R opera os Polos Macau, Areia Branca, Potiguar, Fazenda Belém, Rio Ventura e Recôncavo. Já os ativos near shore e offshore são os Polos Pescada Arabaiana (participação de 35%, operado por Petrobras), Peroá e Papa-Terra.

Enauta

A Enauta, que atua no País há mais de 20 anos, também é uma companhia brasileira independente de exploração e produção de petróleo e gás natural. No ano de 2023, a Enauta produziu mais de 4,5 milhões de barris de óleo equivalente. A empresa anunciou ainda que triplicou a sua produção diária no quarto trimestre em comparação com mesmo período no ano passado. No entanto, a empresa registrou prejuízo líquido de R$ 45,5 milhões no ano passado, ante lucro líquido de R$ 383,4 milhões em 2022.

A Enauta está em processo de aquisição das áreas de Uruguá-Tambaú (Bacia de Santos) e Parque das Conchas, (Bacia de Campos). A empresa produz no Campo de Atlanta (Bacia de Santos) e no Campo de Manati, na Bahia (participação de 45%, operado por Petrobras).

Suspensão de negociação com a Petrorecôncavo
Após receber a proposta de combinação de negócios da Enauta, o conselho de administração da 3R Petroleum deliberou, no início deste mês, que os esforços internos para possível combinação de negócios entre a companhia e uma outra petroleira, a Petrorecôncavo, fossem momentaneamente suspensos.

O direito de exclusividade acertado no acordo entre Enauta e 3R para análise da potencial da operação tem prazo de 30 dias, prorrogável de forma automática por período adicional de 30 dias. As partes terão o direito de realizar diligência confirmatória com prazo estimado de conclusão de até 21 dias. (Colaboraram Beth Moreira, Gabriel Vasconcelos e Denise Luna)

Maior do alumínio no País, Hydro prevê reduzir emissões em 30% após investir R$ 1,6 bi

 Hydro.com


A multinacional norueguesa Hydro, controladora das maiores operações de alumina e alumínio primário no Brasil, projeta reduzir cerca de um terço da intensidade de emissão de dióxido de carbono (CO2) nas operações brasileiras partir de 2025. A previsão é que a meta seja alcançada após a conclusão, neste ano, de dois investimentos que totalizaram R$ 1,6 bilhão e são direcionados, basicamente, à substituição do óleo combustível por gás natural como insumo utilizado na refinaria Alunorte – maior do mundo fora da China. Outra parte importante, de R$ 300 milhões, foi para a instalação de três caldeiras elétricas na mesma planta industrial, as quais terão a energia fornecida pela usina solar de Mendubim, administrada pela subsidiária Hydro Rein.

O movimento da companhia não é isolado. Indústrias como as do aço, cimento e petroquímico, entre outros, estão entre os maiores emissores de gases de efeito estufa, e ainda não encontraram formas de reduzir as emissões durante o processo fabril, daí a opção, na maioria dos casos, por mexer na geração de energia.

Com esses investimentos, a Hydro projeta uma redução de 33% na intensidade das emissões de dióxido de carbono, a partir do ano que vem. A companhia quer sair do patamar atual de 0,65 tonelada de CO2 emitidas por tonelada produzida de alumina, para 0,4 tonelada de CO2 por tonelada produzida. A meta é chegar a 2030 com 0,2 tonelada de CO2 por tonelada de alumina fabricada.

“É uma clara definição de investimentos e também demonstra que queremos diferenciar a nossa alumina do mercado”, disse o vice-presidente de operações da Hydro, Carlos Neves, em entrevista exclusiva ao Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).

Comércio internacional

Além da questão ambiental, outro objetivo da Hydro com a descarbonização é preparar as operações da empresa no Brasil para manter a competitividade da alumina exportada para a Europa, relevante destino dos embarques nacionais do insumo. O movimento acontece em função do CBAM (Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira, em português), regulação que está em vigor de forma transitória desde agosto do último ano e deve exigir dos importadores europeus a apresentação de dados sobre emissões de produtos fabricados fora do continente. Em linhas gerais, quanto maior a pegada de carbono, mais caro ficará a importação.

Nas operações brasileiras, parte da alumina produzida pela Hydro é direcionada para a Albras, subsidiária da multinacional norueguesa (com 51% de participação) e maior produtora de alumínio primário no Brasil. Já o outro restante é exportado. Os principais consumidores do insumo são fundições não totalmente integradas, que precisam comprar a matéria-prima para produzir o alumínio metálico.

Sobre o avanço do ambiente regulatório no Brasil, o vice-presidente sênior de relações externas da Hydro, Anderson Baranov, disse que ainda é prematuro para se posicionar com relação a uma possível implementação de um mecanismo semelhante ao CBAM no Brasil, mas ressalvou que é importante que esses mecanismos sejam bem implementados e levem em consideração as características de cada país e mercado. “Estamos investindo em tudo que podemos para alcançar um alumínio mais verde e logicamente através das associações e entidades de representação poderemos nos posicionar”, acrescentou Baranov, que também é presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), avaliou.

Projeto do governo Lula com meta fiscal de 2025 será anunciado na segunda-feira

 


A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet,e o ministro da Economia, Fernando Haddad

A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet,e o ministro da Economia, Fernando Haddad (Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil)

A equipe econômica anunciou nesta sexta-feira, 12, que vai divulgar na próxima segunda-feira, 15, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025. O evento será conduzido pelo secretário executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), Gustavo Guimarães; pelo secretário de Orçamento, Paulo Bijos; pelo secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron; e o da Receita, Robinson Barreirinhas.

Como o Estadão antecipou, a expectativa é para a mudança da meta fiscal a ser seguida no próximo ano. Com incertezas sobre a evolução da arrecadação, o governo estuda alterar a meta para as contas públicas em 2025 prevista no novo arcabouço fiscal – que é de um superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Discussões apontam até agora para um número entre resultado primário zero e superávit de até 0,25% do PIB – repetindo a meta estipulada para este ano.

Questionado no início desta semana sobre o assunto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, respondeu que a equipe econômica está fazendo as contas para fixar uma meta fiscal “factível” para 2025. Haddad não cravou qualquer número, mas considerou que, apesar de “boas coisas” terem acontecido no último ano, a Fazenda também enfrentou percalços que mudaram o cenário e que precisam ser considerados na definição.

Integrantes da equipe econômica têm afirmado que insistir no patamar inicialmente projetado para 2025 poderia até jogar contra a credibilidade do governo, que vem num processo de convencimento da entrega de uma estabilidade fiscal. Daí, a ideia de apresentar um número que seria considerado mais crível.

No mercado, existe a avaliação de que o governo também terá de mudar a meta fiscal para este ano . Se isso acontecer de fato, uma mudança na direção para 2025 seria inevitável.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.