Logo da Natura em loja de shopping
Por Paula Arend Laier
SÃO
PAULO (Reuters) – As ações da Natura&Co aceleraram as perdas nesta
terça-feira, chegando a cair mais de 13% no pior momento, com agentes
financeiros avaliando os potenciais reflexos do pedido de recuperação
judicial nos Estados Unidos pela Avon Products (API), subsidiária não
operacional da companhia,
O anúncio sobre o início do processo
legal nos EUA, conhecido como “Chapter 11”, da API foi informado pela
Natura&Co na segunda-feira, em paralelo à divulgação do balanço do
segundo trimestre, no qual apurou um aumento no prejuízo ano a ano, para
859 milhões de reais, afetado pela decisão da subsidiária.
De
acordo com a empresa, a “reestruturação voluntária da API, que torna
improvável continuar a reconhecer os ganhos obtidos com a otimização da
estrutura corporativa da Avon, originalmente contabilizados no segundo
trimestre de 2021”, teve um impacto negativo de 725 milhões de reais no
resultado.
A Natura&Co disse que pretende apoiar as atividades
da Avon ao longo do processo de reestruturação, comprometendo-se a
fornecer um financiamento de 43 milhões de dólares na modalidade DIP
(debtor-in-possession) e fazer uma oferta de 125 milhões de dólares para
adquirir as operações da Avon fora dos EUA.
Analistas
do BTG Pactual liderados por Luiz Guanais observaram que a empresa não
divulgou a posição de dívida da API, mas que de acordo com os últimos
dados informados pela API ela tinha 2 bilhões de dólares em empréstimos
entre empresas no primeiro trimestre de 2023.
Eles ressaltaram que
a API tem dívidas e responsabilidades legais relacionadas a problemas
de saúde causados pelo uso de talco, que são anteriores à aquisição pela
Natura, citando que nos últimos anos houve uma onda de ações alegando
que o talco estava contaminado com amianto e causava câncer
No
segundo trimestre de 2024, segundo a equipe do BTG, havia 429 ações
judiciais ativas contra a API — 79 novos casos foram iniciados e 22
foram indeferidos, encerrados ou resolvidos de outra forma nos seis
meses encerrados em junho de 2024.
Com o pedido de abertura do
Chapter 11, os estudos estratégicos da Natura&Co anunciados em
fevereiro para uma possível cisão entre Avon e Natura foram suspensos
até que o processo seja concluído.
Para os analistas do BTG
Pactual, embora o pedido de abertura do Chapter 11 acrescente
complexidade à tese da Natura, ele deverá, no final, simplificar sua
estrutura e permitir que a Natura resolva as ações judiciais relativas
ao talco nos EUA, conforme relatório a clientes nesta terça-feira.
Na
teleconferência sobre os resultados do segundo trimestre, de acordo com
os analistas João Pedro Soares e Felipe Reboredo, do Citi, a
administração da Natura&Co pareceu confiante sobre o sucesso do
processo de Chapter 11 e indicou que é “menos complexo” do que casos
comparáveis nos EUA.
“A administração, porém, ainda está
hesitante em fornecer qualquer visibilidade sobre o cronograma do
Chapter 11. Nós entendemos que o objetivo final do processo é liquidar
potenciais responsabilidades nos EUA… e, finalmente, facilitar a cisão
da Avon”, acrescentaram em relatório a clientes.
Às 14:38, os
papéis da fabricante de cosméticos afundavam 11,66%, a 14,47 reais na
B3, pior desempenho com folga do Ibovespa, que subia 0,94%. Se continuar
nesse ritmo, irá fechar com a maior queda percentual desde março de
2023. Na mínima até o momento, as ações chegaram a 14,23 reais
(-13,13%).
Para analistas do JPMorgan liderados por Joseph
Giordano, o anúncio envolvendo a API é um movimento relevante em direção
a uma solução para a drenagem de caixa por processos nos EUA.
“Ainda
assim, embora acreditemos que seja possível resolver o problema do
talco limitando uma saída de caixa de 43 milhões de dólares adicionais,
achamos que um resultado final pode não ser tão simples assim e
acreditamos que há muita água para correr debaixo da ponte”,
acrescentaram.
Os analistas Pedro Pinto e João Andrade, do
Bradesco BBI, endossaram o coro afirmando que, se aceito, o Chapter 11
pode limitar as responsabilidades legais da Avon Internacional.
Do
ponto de vista operacional, a avaliação dos analistas foi positiva. O
resultado operacional medido pelo Ebitda ajustado cresceu 14,2%, para
803,5 milhões de reais, enquanto a margem nessa métrica passou de 10,1%
para 10,9%. A receita líquida aumentou 5,4%, para 7,35 bilhões de reais.
O
Bradesco BBI também avaliou que a Natura&Co teve um desempenho
decente da receita bruta, impulsionado principalmente pelo bom e
saudável crescimento na Natura Brasil, enquanto a Avon foi fraca, mas
não muito longe das expectativas.
Mas acrescentou que “os
resultados permanecem poluídos, sendo altamente ajustados, o que pode
minar até certo ponto a confiança dos investidores nas tendências
subjacentes.”
A equipe do Citi endossou a visão positiva sobre o
desempenho da companhia no segundo trimestre, afirmando que o resultado
mostrou a Avon Brasil e América Latina já à beira de uma inflexão.