quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

ESTRANGEIROS DESCONFIAM DO RITMO DA ECONOMIA BRASILEIRA


Especialistas afirmam que os investidores estrangeiros estão desconfiados com o Brasil. Contudo, eles discordam dos motivos para essa insegurança. Parte deles acredita que essa situação é resultado do ritmo da condução da política econômica brasileira - com medidas intervencionistas -, instabilidade nas perspectivas para a variação do Produto Interno Bruto (PIB) e baixa taxa de retorno em determinados projetos. Outros apontam que não só o País, como também o mundo precisam mostrar sinais melhores de recuperação.

Na semana passada, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse que se sente insegura a respeito das perspectivas para a economia brasileira.

Na opinião do economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank no Brasil (BES Investimentos), Jankiel Santos, é mais um agente internacional que mostra uma preocupação na situação brasileira. "Meus clientes, que são de vários países como Estados Unidos e da Europa, também demonstram essa mesma insegurança", diz.

O economista comenta que tentar atrair investidores apenas mostrando a demanda que o Brasil possui não está sendo suficiente, além de que há várias dúvidas sobre o desempenho econômico neste ano e nos próximos. "Com todas as medidas feitas para acelerar o PIB, por que o País não apresentou uma taxa de expansão mais alta ao longo de 2012? Outra questão é se mesmo o empenho que o governo está mostrando para atrair investimentos, isso irá resultar em garantias."

Jankiel Santos acredita ainda que o Brasil deixou de ser o "queridinho" dos investidores estrangeiros. "O governo precisa melhorar a burocracia, diminuir os impostos e que o retorno do capital seja maior. A discussão sobre esse retorno tem que ser entre governo e empresa, ou o mercado ditar qual seria o patamar ideal", aconselha o economista. O diretor-presidente da Fractal, Celso Grisi, que recentemente teve contato com representantes de fundos de investimentos na Itália e na Espanha, endossa a argumentação de Jankiel Santos. "Essa questão da insegurança não é uma opinião minha. Se conversar com qualquer investidor estrangeiro, ele fará esse discurso, de que as promessas de crescimento econômico e metas fiscais no Brasil frustraram e o número de intervenções do governo mostra uma política econômica mais voltada para o social, do que para o capitalismo", diz.

Ele aponta que as soluções para aumentar a credibilidade do País também envolvem marcos regulatórios mais liberais, que mostrem segurança jurídica, garantias ao capital, "como o empresário vai ficar com a posse de uma propriedade e que o governo não vai libera-la para movimentos como dos sem-terra". "Há um desencantamento dos estrangeiros com o Brasil, e o ingresso de investimentos estrangeiros diretos [IED] deve ficar por volta de US$ 60 bilhões", avalia Grisi.

Por outro lado, Marcio Cardoso, sócio-diretor da Título Corretora, avalia que a desconfiança do investidor estrangeiro não acontece somente por causa da situação brasileira. "Como os níveis de crescimento estão baixos, a tendência sempre é de mais cautela. Existem vários investidores com dinheiro em caixa e esses serão os que mais vão pedir garantias", diz. "O Brasil ainda tem muita liquidez e possui um mercado forte. Mas precisamos, com urgência, melhorar a infraestrutura para atrair ainda mais capital."

E segundo Cardoso essa desconfiança não é só dos estrangeiros. O boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC) mostrou que os analistas revisaram de 3,19% a previsão de expansão do PIB para 2013 conforme registrado na semana passada, para 3,10%.

Investimento menor

De acordo com último balanço do setor externo divulgado pelo BC, em 2012, os ingressos líquidos de IED alcançaram US$ 65,3 bilhões, queda de 2,10% ante o resultado de 2011. Os países que mais investiram no acumulado do ano passado foram Estados Unidos (US$ 12,310 bilhões), Países Baixos (US$ 12,213 bilhões), Luxemburgo (US$ 5,965 bilhões), Suíça (US$ 4,333 bilhões) e Espanha (US$ 2,523 bilhões).

Na comparação com igual período de 2011, dois países reduziram seus envios de recursos ao Brasil. No caso dos investimentos dos Países Baixos, que em 2011, foi o que apresentou o maior direcionamento, a queda foi de 30,32%. A Espanha também reduziu 70,64%. Já com relação aos EUA, Luxemburgo e Suíça, os envios subiram 38,17%, 219,5% e 263%, respectivamente, de 2011 para o ano passado.

Fonte: Diário do Comércio e Indústria

Autorizações de Trabalho Permanentes em Alta

O número de autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros somou 73,022 mil em 2012, uma alta de 3,5% em relação ao ano anterior. O aumento foi ainda mais significativo na categoria empregos permanentes. Neste caso, foram concedidos 5.835 vistos, um volume 26% acima do contabilizado em 2011.

Na categoria de empregos permanentes, com autorização de dois anos ou mais, o setor de petróleo liderou a lista de atividades mais buscadas, seguido por serviços de engenharia, consultoria empresarial, fabricação de automóveis e construção civil.
Entre as nacionalidades dos estrangeiros que migraram para o Brasil no ano passado, Portugal foi o país que mais enviou trabalhadores (848 vistos de trabalho). Depois dos portugueses, destacaram-se os chineses, os americanos e os espanhóis.

— O número final de mais de 70 mil vistos é um dado bruto, que envolve situações bem distintas: desde a vinda de um técnico para consertar uma máquina até o profissional que vem para o Brasil trabalhar em uma empresa brasileira, traz a família e se enraíza mais no país — explica Paulo Sérgio de Almeida, presidente do Conselho Nacional de Imigração.

De acordo com Almeida, São Paulo foi o estado que mais atraiu trabalhadores, com 2.891 vistos, seguido pelo Rio de Janeiro, com 1.446 autorizações. Minas Gerais veio em terceiro lugar, com 361 imigrantes.

As principais ocupações são em níveis gerenciais, nas áreas de produção e operações, de pesquisa e desenvolvimento, analistas de negócios e analistas de sistemas. Técnicos em mineração e engenheiros também se destacaram. Já o número de diretores de empresas cresceu 22%.

— No caso dos diretores, isso significa que novas empresas de capital estrangeiro que se estabeleceram no Brasil estão trazendo seus executivos para trabalhar aqui — explica Almeida.
Outro dado relevante, destaca ele, diz respeito às pessoas físicas que trazem para o Brasil suas economias para investir no país, em geral abrindo uma firma ou se associando a alguma empresa. 

Neste caso, houve 1.176 autorizações, volume que corresponde a um aumento de 15%. Os investimentos desses estrangeiros somaram, no ano passado, R$ 286,4 milhões.
De acordo com o presidente do Conselho Nacional de Imigração, o governo tem buscado formas de simplificar o ingresso de trabalhadores estrangeiros. Uma das saída é a redução do volume de documentos exigidos e a realização de todo o procedimento pela internet.

— Estamos trabalhando em uma nova política, para trazermos trabalhadores qualificados para o Brasil — enfatiza Almeida.
Eliane Oliveira
(O Globo – 29/01/2013)

Brasil precisa de 10 a 50 vezes mais Imigrantes


A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República elabora uma pesquisa com mais de mil empresas brasileiras e 500 estrangeiras para conhecer as dificuldades encontradas na contratação de trabalhadores estrangeiros no Brasil. O levantamento deve ficar pronto em pouco mais de um mês, segundo o ministro Moreira Franco, e deve orientar parlamentares e funcionários do governo em relação ao projeto de Lei 5.655/2009, conhecido como Estatuto do Estrangeiro, que tramita na Câmara.

“Vamos apresentar algumas sugestões ao projeto para tornar a lei ainda mais adequada e contemporânea, de forma a padronizar e agilizar processos e reduzir prazos, custos e incertezas”, destacou. “No mundo do Twitter, é preciso simplificar processos com o uso da tecnologia.”

O anúncio foi feito ontem (29/01/2013) durante um seminário sobre política migratória, na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), centro da capital fluminense. O estudo é feito em conjunto com os ministérios da Justiça, do Trabalho e Emprego e das Relações Exteriores.

A pesquisa identificou também a necessidade de desenvolvimento da capacidade de avaliação permanente da demanda e oferta de mão de obra qualificada. “O responsável pela política migratória precisa ter um acompanhamento permanente sobre o mercado de trabalho, para saber o movimento da oferta e da demanda no geral e no específico. Sem isso não existe política migratória”, disse Moreira Franco, que negou que a entrada de estrangeiros possa gerar desemprego no futuro de trabalhadores brasileiros.

Com o aquecimento da economia, impulsionada sobretudo pelo setor de petróleo e gás, muitas empresas queixam-se da falta de mão de obra qualificada. Ao mesmo tempo, estrangeiros que trabalham no Brasil reclamam da burocracia e desinformação para conseguir trabalhar no país.

Hoje, a concessão de vistos de trabalho para estrangeiros exige a comprovação de escolaridade e experiência na área de atuação. Apenas os sul-americanos estão livres da obrigação. Se quiserem ocupar cargos que não exijam nível superior, os migrantes devem ter escolaridade mínima de nove anos e experiência de dois. Quando a vaga for de nível superior, o candidato precisa ter cumprido um ano de experiência na área depois do fim da graduação.

O ministro insistiu sobre a necessidade de facilitar a vinda de estrangeiros gabaritados para o país, no afã de compensar a escassez de profissionais qualificados, especialmente nas áreas técnicas.
“Esse é um problema grave. Precisamos de uma sociedade aberta, amigável, para criar um ambiente de negócios favorável à meritocracia, ao empreendedorismo e à inovação visando ganhos de produtividade e inovação”, disse Moreira Franco ao ponderar que falta uma política migratória mais atraente para o estrangeiro qualificado.
“Mas também precisamos ter uma sociedade mentalmente aberta e o debate sobre política migratória deve passar pelo plano político”, destacou ele.

O ministro lembrou que, nos últimos 100 anos, o Brasil retrocedeu e parou no tempo ao dificultar a entrada de mão de obra estrangeira. Segundo ele, apenas 0,3% da população brasileira é composta por imigrantes e um terço desse total tem mais de 65 anos.
Em 1900 o País chegou a ter 7,3% da população composta por imigrantes. “No passado, muito da nossa inovação tecnológica e da agricultura deveu-se a esse fluxo migratório.”

Ainda segundo o ministro, o Brasil precisaria ter cinco vezes mais imigrantes para alcançar a média latino-americana, dez vezes mais para alcançar a média mundial e 50 vezes mais, para chegar aos números da América do Norte e Oceania.

Além de mecanismos para diminuir a burocracia, Franco propôs também a modernização do processo de concessão de vistos e criação de tratamento diferenciado para os imigrantes interessados em trabalhar em alguns setores mais carentes de profissionais qualificados.

“Sem ampliar a mão de obra qualificada, teremos grandes dificuldades de conseguir aumentar a produção e estimular a inovação”, defendeu, ao lembrar que o País não está formando profissionais na mesma velocidade em que cresce a demanda por mão de obra em determinados setores.

O cônsul-geral de Portugal no Rio, Nuno Bello, salientou a necessidade de se acabar com a burocracia nas universidades e entidades de classe, responsáveis pelos processos de validação de diplomas e registros profissionais. “Tenho conversado com empresário aqui e lá em Portugal e tenho visto uma falta de diálogo dessas instituições com as estrangeiras.”

Para o presidente em exercício da Firjan, Carlos Mariani Bittencourt, o novo fenômeno da imigração de mão de obra apresenta desafios cruciais que o País precisa ultrapassar. “Nos últimos dois anos, houve 64% de aumento de profissionais expatriados no Brasil, sobretudo no setor de petróleo e gás devido à descoberta do pré-sal. A entrada de estrangeiros para suprir necessidades eventuais é bem-vinda”, declarou Bittencourt, que disse ainda que o estado do Rio está sofrendo muito com a burocracia para a concessão de vistos de trabalho para estrangeiros.

(Agências – 30/01/2012)

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Holandeses procuram investir no Brasil


29/01/2013
Holandeses procuram investir no Brasil

Brasília (29 de janeiro) – Em visita hoje ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o presidente do Comitê Consultivo de Investimentos da Organização das Indústrias Holandesas, Winand Leo Emile Quaedvlieg, disse que o Brasil apresenta atualmente interessantes oportunidades de investimentos para os europeus e holandeses. Acompanhado pelo embaixador da Holanda no Brasil, Kees Rade, o representante foi recebido pela secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Lacerda Prazeres. 

A Holanda, em 2012, investiu no Brasil US$ 9 bilhões, totalizando um estoque de investimentos de US$ 53 bilhões. Esses aportes foram mais significativos no setor químico e no comércio varejista, destacando-se ainda recursos na área de serviços financeiros.

Recentemente, o governo holandês abriu uma unidade da Agência Neerlandesa de Investimentos Estrangeiros (NIAE), em São Paulo-SP, definindo como áreas prioritárias para a alocação de recursos a agroindústria, a indústria alimentícia, o setor de transportes e logísticas, o setor energético e petroquímico, e ainda projetos ambientais, educacionais e culturais.

Durante o encontro, a delegação holandesa também comentou sobre a retomada das negociações para o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, anunciada neste fim-de-semana, em reunião dos dirigentes dos dois blocos econômicos, em Santiago, no Chile, e compartilhou a expectativa positiva para o avanço das tratativas.

Intercâmbio Comercial

O Brasil exportou para a Holanda, em 2012, US$ 15 bilhões, verificando crescimento de 10,3% em relação ao valor do mesmo período no ano anterior (US$ 13,6 bilhões). As importações brasileiras somaram, no ano passado, US$ 3,1 bilhões, com aumento de 37% sobre as compras registradas em 2011 (US$ 2,2 bilhões). Com esses resultados, houve superávit para o lado brasileiro de US$ 11,9 bilhões, em 2012.

Os principais produtos brasileiros vendidos ao mercado holandês, no ano passado, foram farelo de soja (US$ 1,9 bilhão, representando 13,1% do total exportado); óleos combustíveis (US$ 1,7 bilhão, 11,4%); minérios de ferro (US$ 1,3 bilhão, 9%); celulose (US$ 982 milhões, 6,5%); e óleos brutos de petróleo (US$ 796 milhões, 5,3%).
As mercadorias holandesas que foram mais adquiridas pelo Brasil, no ano que se encerrou, foram gasolina (US$ 1,5 bilhão, significando 49,3% das importações totais), hormônios naturais (US$ 63 milhões, 2,1%), sulfato de amônio (US$ 54 milhões, 1,8%); medicamentos (US$ 52 milhões, 1,7%); e bombas e compressores (US$ 50 milhões, 1,6%).


Assessoria de Comunicação Social do MDIC

Moreira Franco: Brasil precisa de mão de obra estrangeira qualificada

Rio de Janeiro - O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Moreira Franco, afirmou hoje (30) que, para compensar a escassez de profissionais qualificados, especialmente nas áreas técnicas, é necessário facilitar a vinda de estrangeiros gabaritados para o país.

“Esse é um problema grave. Precisamos de uma sociedade aberta, amigável, para criar um ambiente de negócios favorável à meritocracia, ao empreendedorismo e à inovação visando ganhos de produtividade e inovação”, disse Moreira Franco ao ponderar que falta uma política migratória mais atraente para o estrangeiro qualificado. “Mas também precisamos ter uma sociedade mentalmente aberta e o debate sobre política migratória deve passar pelo plano político”, destacou o ministro durante o seminário "Política Migratória Produção e Desenvolvimento", promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Ele destacou que, nos últimos 100 anos, o Brasil retrocedeu e parou no tempo ao dificultar a entrada de mão de obra estrangeira. Segundo ele, apenas 0,3% da população brasileira é composta por imigrantes e um terço desse total tem mais de 65 anos. Em 1900 o país chegou a ter 7,3% da população composta por imigrantes. “No passado, muito da nossa inovação tecnológica e da agricultura deveu-se a esse fluxo migratório.”

Ainda segundo o ministro, o Brasil precisaria ter cinco vezes mais imigrantes para alcançar a média latino-americana, dez vezes mais para alcançar a média mundial e 50 vezes mais, para chegar aos números da América do Norte e Oceania.

Além de mecanismos para diminuir a burocracia, Franco propôs também a modernização do processo de concessão de vistos e criação de tratamento diferenciado para os imigrantes interessados em trabalhar em alguns setores mais carentes de profissionais qualificados.

“Sem ampliar a mão de obra qualificada, teremos grandes dificuldades de conseguir aumentar a produção e estimular a inovação”, defendeu, ao lembrar que o país não está formando profissionais na mesma velocidade em que cresce a demanda por mão de obra em determinados setores.

O cônsul-geral de Portugal no Rio, Nuno Bello, salientou a necessidade de se acabar com a burocracia nas universidades e entidades de classe, responsáveis pelos processos de validação de diplomas e registros profissionais. “Tenho conversado com empresário aqui e lá em Portugal e tenho visto uma falta de diálogo dessas instituições com as estrangeiras.”

Para o presidente em exercício da Firjan, Carlos Mariani Bittencourt, o novo fenômeno da imigração de mão de obra apresenta desafios cruciais que o país precisa ultrapassar.

“Nos últimos dois anos, houve 64% de aumento de profissionais expatriados no Brasil, sobretudo no setor de petróleo e gás devido à descoberta do pré-sal. A entrada de estrangeiros para suprir necessidades eventuais é bem-vinda”, declarou Bittencourt, que disse ainda que o estado do Rio está sofrendo muito com a burocracia para a concessão de vistos de trabalho para estrangeiros.

Jornal do Brasil - 29/01/2013

ORGANISMO INTERNACIONAL - É VÁLIDA ARBITRAGEM PARA RESOLVER LITÍGIO, DIZ TST


Como o organismo internacional tem imunidade de jurisdição — o que impede a apreciação do caso pelo Poder Judiciário —,  a existência de cláusula contratual prevendo a sujeição do litígio à arbitragem garante um modo de resolver a controvérsia entre funcionário e órgão. A decisão é da 4ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho ao negar um recurso de revista de uma trabalhadora contratada em março de 2000 pela Organização das Nações Unidas/Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (ONU/PNUD).
 
A funcionária foi contratada para exercer cargo técnico junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Em junho de 2004, foi demitida sem a anotação na carteira de trabalho e a quitação das verbas rescisórias. Na Justiça do Trabalho, ela pediu o reconhecimento do vínculo empregatício com o organismo e a condenação subsidiária do Ibama, por ter sido beneficiário dos serviços prestados.
 
O juízo de origem considerou válida a cláusula do contrato que convencionara a submissão da demanda a um juízo arbitral e pôs fim ao processo. Ao examinar o recurso da empregada, o Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região (DF/TO) seguiu na mesma linha. Para o TRT, as cláusulas fixaram as regras da contratação (direitos e obrigações das partes), e, portanto, não seria razoável cogitar que a cláusula compromissória que elege o procedimento arbitral estivesse dissociada do objeto do contrato.
 
De acordo com o TRT-10, a alegação da empregada de que a utilização da arbitragem seria facultativa e que o Judiciário teria o dever constitucional de examinar todos os casos que lhe são submetidos, conforme artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal) também não procedia. Isso porque a cláusula previu, expressamente, a utilização da arbitragem na hipótese da impossibilidade de acordo amigável, e foi aceita espontaneamente pelas partes, o que torna sua observância obrigatória.
 
Na avaliação do ministro Eizo Ono do TST, além do descumprimento pela empregada da cláusula contratual de submissão do conflito ao juízo arbitral, o organismo internacional (ONU/PNUD) tem imunidade de jurisdição disciplinada em acordos e tratados internacionais ratificados pelo Brasil, o que significa que não há jurisdição do Estado brasileiro sobre esses organismos. Como a trabalhadora não apresentou exemplos de decisões conflitantes para caracterizar divergência de jurisprudência, o relator rejeitou o recurso de revista. A decisão foi unânime.
RR-87985-12.2005.5.10.0007
 
Com informações da Assessoria de Imprensa do TST.
Fonte Consultor Jurídico

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Incêndio em Santa Maria expõe falhas nas ambições do Brasil

Em meio a tragédias como a ocorrida no Rio Grande do Sul, o amadurecimento do Brasil parece irreal e duvidoso

REUTERS/Ricardo Moraes
Policiais em frente à entrada da boate Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde um incêndio matou 231 pessoas 

Policiais em frente à entrada da boate Kiss em Santa Maria, Rio Grande do Sul, onde um incêndio matou 231 pessoas: causa das mortes "não guarda nenhuma complexidade", afirmou especialista
Rio de Janeiro/Brasília - Um incêndio que matou 231 pessoas na madrugada de domingo em uma boate de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, está levando muitos brasileiros a questionar se a cultura de impunidade e falta de fiscalização poderão impedir o país de alcançar suas ambições de primeiro mundo.

Há uma década, o país é visto por economistas e investidores como um dos mais promissores mercados emergentes do mundo, o que contribuiu para que o Brasil elevasse sua presença comercial e diplomática e conseguisse sediar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, dois eventos para os quais a ordem e a segurança são cruciais.

A presidente Dilma Rousseff, que chorou no necrotério improvisado que foi montado perto da boate incendiada, está preocupada em reafirmar a marcha do Brasil rumo ao mundo desenvolvido.
"Nosso país hoje tem não só reconhecimento internacional", disse ela em discurso no ano passado, mas também "a confiança e a crescente autoestima de que nós, brasileiros, podemos transformá-lo em uma nação desenvolvida".

Mas, para muitas pessoas que convivem com um cotidiano de cidades caóticas, estradas arruinadas e um interior sem-lei, esse amadurecimento do país parece irreal.

Enquanto digeriam os detalhes sobre o bloqueio na única saída da boate Kiss e outras irregularidades na segurança, muitos brasileiros começaram a apontar o dedo para parlamentares, órgãos reguladores e para o que críticos dizem ser uma cultura geral de adesão mínima às regras, sejam as leis de trânsito ou os códigos de construção civil.

"A causa dessas mortes não guarda nenhuma complexidade", disse o especialista em situações de risco e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Moacyr Duarte."Foram elementos simples. Falhas de controles administrativos, falhas de fiscalização, falha de inspeção final, falha de planejamento do evento. Este conjunto levou à tragédia." Brasileiros comuns ecoam esse sentimento.

"Existe aqui uma tolerância com o descumprimento das regras", disse a advogada Flavia Rodrigues, de 34 anos, moradora de Brasília. "Essa tragédia poderia ter sido evitada se pelo menos houvesse cuidado suficiente." É claro que acidentes não são um monopólio do Brasil. Há uma década, uma tragédia semelhante matou 100 pessoas numa boate dos Estados Unidos, e ela se repetiu no ano seguinte na Argentina, deixando 194 vítimas fatais.

Mas as mortes do domingo, atingindo principalmente estudantes universitários, contribuem para as sombrias estatísticas que fazem do Brasil um país particularmente perigoso, mesmo quando comparado a outras nações latino-americanas.

Durante a recente década de crescimento econômico, que levou a um "boom" da construção civil, sindicatos e ativistas de direitos humanos criticaram o governo e as construtoras por uma disparada nas mortes e acidentes em canteiros de obras com pouca regulamentação. Quase 40 mil pessoas morreram em construções em 2011, segundo dados do governo. Em 2009, foram 35 mil.

A situação é dramática também nas movimentadas e mal conservadas estradas brasileiras. O país tem uma média superior a 18 mortes anuais em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes, contra apenas cerca de 10 em países de alta renda, segundo um relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Na Argentina, na Colômbia e no Chile a média gira em torno de 13 mortes por 100 mil habitantes.

Mais perturbadores ainda são as taxas de homicídio. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil registrou em 21,7 crimes desse tipo a cada 100 mil habitantes em 2009.

Embora isso esteja abaixo do índice verificado em alguns países latino-americanos com graves conflitos sociais, a cifra é várias vezes superior às de Rússia (11,2), Índia (3,4) e China (1,0), outras economias emergentes às quais o Brasil costuma ser comparado.

Após uma recente onda de violência em São Paulo, resultado de uma guerra entre quadrilhas e a polícia na maior cidade brasileira, 91 por cento dos entrevistados em uma recente pesquisa do Ibope dizem se sentir inseguros. 

CULTURA DA IMPUNIDADE 

Para piorar as coisas, os homicídios, como muitos outros crimes num país onde o Judiciário é notoriamente lento, costumam ficar impunes.

Um relatório de 2012 do Ministério Público Federal mostrou que apenas 8 por cento dos homicídios no Brasil são solucionados, enquanto essa cifra chega a 65 por cento nos Estados Unidos e a 90 por cento na Grã-Bretanha.

Esse dado ampara a ampla sensação de que é possível escapar da Justiça mesmo em casos que resultam em mortes.

"Há uma cultura geral de impunidade", disse o sociólogo Julio Jacobo Waiselfiz, autor de um "Mapa da Violência" que compila anualmente estatísticas da criminalidade no país.

"Isso significa que os homicidas se livram, que as estradas não são consertadas, e que as regras e a fiscalização ainda não acompanham a promessa de crescimento econômico." Nesta segunda-feira, esse debate assumiu papel central nas discussões da imprensa brasileira, de governos locais e até de autoridades estrangeiras.

"Em São Paulo, prefeitura não tem estrutura para fiscalizar eventos", dizia um título do jornal Folha de S.Paulo nesta segunda-feira, citando o relatório de uma CPI da Câmara Municipal. O governo paulista divulgou nota destacando o treinamento dos bombeiros locais para operações de busca e resgate. 

NA COPA 

Em visita a Brasília nesta segunda-feira, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, rejeitou rumores de que a tragédia de Santa Maria tenha ampliado as preocupações com a segurança nos estádios da Copa. O incêndio, disse ele a jornalistas, "não teve nada a ver com o futebol, nada a ver com os estádios".

Ele acrescentou que as regras de segurança rotineiras para as Copas permitem que "possamos esvaziar os estádios em menos de alguns minutos." A população certamente espera que sim.

Muitos se lembram do desabamento parcial do estádio da Fonte Nova (Salvador), um dos futuros palcos da Copa, ocorrido em 2007 por causa dos saltos dos torcedores. Sete pessoas morreram e várias ficaram feridas. Também está vivo na memória o desabamento de três prédios altos no centro do Rio, no ano passado, que causou cinco mortes.

Em carta ao jornal O Globo, um engenheiro geotécnico recentemente alertou que os temporais de verão podem causar uma repetição das enchentes e deslizamentos que mataram mais de 900 pessoas na serra fluminense em 2011.

Embora os governos estadual e federal tenham investido em tecnologias para avisar os moradores sobre a chegada de chuvas fortes, esse engenheiro observou que poucas providências foram tomadas para evitar que as pessoas continuassem morando em áreas de risco, ou mesmo que construíssem novas casas nesses locais de encostas.

"Não há nada de natural nesses desastres", escreveu o engenheiro Alberto Sayão. "O país não pode mais arcar com a impunidade causada pela leniência, a omissão e a incompetência das autoridades." 

(Reportagem adicional de Eduardo Simões, em São Paulo)