Esta nova maneira de encarar os negócios presentes em áreas como moda e cinema promete revolucionar o mercado de startups.
Startups são geralmente associadas ao mercado digital. Mas você sabia
que também é possível criar um negócio em um contexto totalmente
diferente? Moda, artes e cinema, por exemplo, são áreas que guardam
inúmeras oportunidades. Tradicionalmente presentes no nosso dia-a-dia,
elas agora fazem parte do universo das startups, através da economia criativa.
Estabelecido
sobre oito pilares – arquitetura, design, artes, moda, cinema,
audiovisual, literatura e artes cênicas –, segundo o conceito original
do inglês John Howkins, este nicho pode ser definido como uma forma de transformar criatividade em resultado
e, mais que isso, de pensar as relações em comunidade. É um novo olhar
sobre o empreendedorismo, que pede multidisciplinaridade por parte do
empreendedor, atenção a novas profissões e tem a economia colaborativa como seu carro-chefe.
“Com informação e novas tecnologias, tudo se abriu para que as pessoas trabalhassem com essa visão no Brasil”, afirma Luciana Guilherme, diretora de Empreendedorismo, Gestão e Inovação da Secretaria de Economia Criativa do MinC,
criada no início de 2011. Recentemente, a situação melhorou muito com o
desenvolvimento econômico do país. “Poucos têm a riqueza que temos para
empreender”, ressalta.
Com o surgimento de novas oportunidades, torna-se
latente a necessidade de conceber ideias fora do lugar-comum. O
empreendedor passa então a pensar em modelos inovadores, com novos
processos e novas tecnologias, valorizando o setor criativo em que atua,
muitas vezes menosprezado por não encerrar uma formação voltada para a
gestão de negócios. Esse é o caminho da economia criativa, que procura revelar modelos de negócios inovadores em outras áreas.
Além do olhar amplo para inovações, é importante atentar à inovação aberta, que faz girar a economia colaborativa, modus operandi da economia criativa, destaca o empreendedor Tomás de Lara,
co-fundador da incubadora Engage. Isto significa abrir o
desenvolvimento da empresa para o público, permitindo que as pessoas
opinem e trabalhem junto dela em um sistema de troca de valor. “Assim,
se estabelece a relação interdependente, em que, ao concordar com o seu
valor, um sujeito ajuda o outro a desenvolver o produto”, explica Tomás.
Tudo isso é facilitado hoje em dia, em um ambiente no qual o
empreendedor, por meio de sua rede e da tecnologia, pode chegar a um
pequeno grupo interessado em um assunto específico e propor um negócio
baseado nesse tipo de colaboração. “A economia criativa tem a cultura da
economia colaborativa”, define o empreendedor.
Atualmente, este é o setor que emprega mais jovens, com os mais altos salários, diz Isabella Prata, fundadora da Escola São Paulo,
que concentra seus cursos neste nicho. E o próprio mercado cria a
necessidade de capacitação para quem quer mergulhar nele. “No setor
criativo, se você não tiver três ferramentas de gestão – de pessoas,
financeira e de marcas – seu negócio não vai durar muito tempo”, alerta.
Além disso, quando se trata de economia criativa, o trabalho deve ser
encarado de forma totalmente diferente do que acontece nas empresas
tradicionais. “Um dos segredos é acreditar que sua ideia pode ser
interessante para outras pessoas. É pular da cama todos os dias, no
primeiro momento em que você abre os olhos, com a faca nos dentes,
brilho nos olhos, e botar pra fazer. O objetivo não é mais quantas horas
estamos trabalhando, mas o quanto estamos produzindo nas horas que
trabalhamos”, completa Isabella.
Breve histórico
O empreendedorismo passou por transformações nas últimas décadas. Há vinte anos, era comum empreender por necessidade: com menos ofertas de emprego, montava-se o próprio negócio para subsistência. Hoje, as oportunidades são
cada vez maiores e a economia criativa representa 7% do PIB global. De
acordo com um estudo do GEM (Global Entrepreneurship Monitor) em 2010,
para cada empreendedor por necessidade existem 2,1 empreendedores por
oportunidade.
O assunto surgiu na Austrália, nos anos 1990, foi para a Inglaterra. Com o livro The Creative Economy: How People Make Money from Ideas
(A economia criativa: como as pessoas podem ganhar dinheiro com ideias,
em tradução livre), o britânico John Howkins definiu pela primeira vez
os seus pilares de atuação. Recentemente, a economia criativa passou a
ser oficialmente discutida no Brasil com a formação da Secretaria da
Economia Criativa (integrante do MinC), inaugurada no início de 2011.
A partir de então, entraram em cena representantes do mercado
financeiro interessados em contribuir com a evolução do conceito,
formando diversos grupos de estudo e abrindo espaço para essas
atividades. A tendência é que esse setor seja cada vez mais explorado e
difundido no país.
Por Vinícius Victorino, da equipe de Cultura Empreendedora - Endeavor Brasil, com a colaboração de Carolina Pezzoni.