sexta-feira, 26 de abril de 2013

Setor de serviços lidera atração de investimento




Por Rodrigo Pedroso e Arícia Martins | De São Paulo
 
No primeiro trimestre deste ano o Brasil recebeu menos investimento direto estrangeiro do que em igual período do ano passado. E os recursos externos que entraram no país para projetos produtivos nos diferentes setores da economia preferiram o segmento de serviços. De acordo com os dados do Banco Central, o setor recebeu, somadas as duas modalidades - participação no capital e investimento intercompanhias - de ingresso de recursos, 45% do total, enquanto a indústria absorveu 35%, e a agricultura e o setor extrativista, incluindo petróleo, ficaram com o restante. 

No mesmo período do ano passado, a indústria ficou com 46,4% do total, e serviços, 29%. Os dados consideram o ingresso de recursos, sem descontar as saídas.

Além dessa mudança, o início de 2013 foi marcado por uma alternância na forma como o capital externo para investimento entrou no país. No primeiro trimestre de 2012, 68% dos ingressos foram na modalidade de participação no capital, peso que encolheu para 55% neste início de ano, enquanto a modalidade de empréstimos intercompanhias respondeu por 32% do total no primeiro trimestre de 2012 e por 45% agora.
A troca da indústria pelo setor de serviços, na visão de analistas, indica onde o setor externo está vendo maior rentabilidade.

O investimento ligado à participação no capital caiu 31% no primeiro trimestre, ao atingir US$ 8,7 bilhões. Depois de os estrangeiros investirem US$ 6,5 bilhões no país nos três primeiros meses de 2012, o total para a indústria neste ano encolheu para US$ 2,8 bilhões. O resultado se deve ao menor interesse pela área de insumos mais básicos da indústria.

Metalurgia, que havia recebido quase a metade do total no ano passado, registrou 77% a menos de investimento do exterior. Recuos significativos foram observados em produtos alimentícios (40,3%), químicos (67%) e farmacêuticos (93%), sempre considerando participação no capital.

O setor de serviços registrou aumento de peso em investimentos no comércio e nas telecomunicações, conseguindo manter os US$ 4 bilhões do ano passado. Nenhuma das duas áreas estava na lista de desoneração da folha de pagamento para o setor anunciada pelo governo no início do mês.

Para Andrea Bastos Damico, economista do Bradesco, os segmentos de serviços ligados às concessões podem ser promissores para o investimento estrangeiro direto a partir de 2014, mas, neste ano, sua contribuição será incipiente, devido aos atrasos nos processos de leilões.

A agricultura e o setor extrativista mineral receberam um pouco menos de investimento (US$ 1,8 bilhão), mas, em função da queda total, aumentaram sua participação para 20,5%. Petróleo e gás foram responsáveis por 75% do investimento no setor.

Julio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que a redução de investimento na indústria ocorre principalmente em áreas onde a produção enfrenta substancial competição externa e os produtos contêm menor valor agregado. "Aos olhos do capital estrangeiro, a economia brasileira não foi muito atrativa neste primeiro trimestre. O que se perdeu na indústria, se manteve em serviços, o que é muito revelador para onde pode estar indo a economia, já que esse tipo de investimento é de longo prazo e sempre olha a situação futura esperada."

Os resultados do investimento intercompanhias diferem em relação à participação da indústria, mas seguem com aumento de espaço por parte de serviços. Os empréstimos totais de matrizes estrangeiras para filiais no Brasil cresceram 22% no primeiro trimestre e somaram US$ 7,2 bilhões.

Apesar do incremento, as divisas enviadas às filiais ligadas à agricultura e ao setor extrativista mineral caíram pela metade (US$ 1,2 bilhão). As remessas destinadas a empresas que atuam em serviços mais que duplicaram, para US$ 3,3 bilhões. Só no comércio, o montante triplicou, para US$ 901 milhões. Também em telecomunicações, muito em função dos investimentos ligados à tecnologia 4G, o montante saltou de US$ 18 milhões para US$ 703 milhões. Saúde teve progressão similar (de US$ 3 milhões para US$ 648 milhões), sempre considerando o investimento intercompanhias. Esse aumento tem a ver com a compra da Amil pelo grupo United Health.

As indústrias estrangeiras já instaladas em território brasileiro aumentaram em 5,2 pontos percentuais a participação no total de investimentos, que somaram US$ 2,7 bilhões. Químicos, veículos e celulose e papel mais que duplicaram o recebimento de investimentos. Segundo Andrea, do Bradesco, o maior ingresso via empréstimos intercompanhias no setor automotivo pode ser um primeiro indício de que o novo regime do governo, o Inovar-Auto, está de fato surtindo efeito.

Ela nota que a participação de veículos nessa modalidade de investimento foi de 1,6% na média dos últimos três anos e, neste primeiro trimestre, saltou para 6,9%. "É preciso que essa participação elevada se mantenha para confirmarmos essa hipótese", disse.

O investimento intercompanhias é mais volátil, pois tem um prazo menor de maturação e pode ser retirado com maior facilidade pelo investidor, de acordo com Luís Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).

Para ele, o fato de esse tipo de investimento crescer e o de participação no capital cair "não é um bom sinal". O aumento de espaço de serviços com diminuição da indústria revela "que o país está deixando cada vez mais de ter uma percepção positiva como plataforma de exportação, para ser mais visto como um mercado de consumo de bens e serviços", diz Lima.

BC 'corrige' ata e dá sinais de maior aperto monetário

Por Cristiano Romero e José de Castro | De São Paulo
 
 
Sandra Baker/Getty Images 
 
BC 'corrige' ata e dá sinais de maior aperto monetário
 
Poucas horas após divulgar a ata da reunião do Comitê de Política Monetária indicando "cautela" no novo ciclo de alta dos juros, o Banco Central sinalizou que pode intensificar o aperto monetário iniciado na semana passada, quando elevou a taxa básica de juros (Selic) de 7,25% para 7,5% ao ano. Em evento em São Paulo, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton de Araújo, subiu o tom da preocupação com a alta dos preços. "Cresce em mim a convicção de que o Copom poderá ser instado a refletir sobre a possibilidade de intensificar o uso do instrumento de política monetária [a taxa Selic]", disse, em conferência promovida pelo Itaú BBA.

O discurso surpreendeu o mercado porque a ata do Copom trouxe um tom moderado. Após sua divulgação, as taxas de juros no mercado futuro chegaram a cair. Depois do discurso de Hamilton, fecharam em alta.

Fontes graduadas do governo informaram ao Valor PRO, serviço de notícias em tempo real do Valor, que Hamilton falou em nome de toda a diretoria do Banco Central. A apresentação feita na conferência de ontem foi preparada a quatro mãos com o presidente da instituição, Alexandre Tombini.

Tombini teria opinado também na confecção das apresentações feitas em Washington pelo diretor de Assuntos Internacionais do BC, Luiz Awazu Pereira, durante eventos paralelos à reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional. Nos casos dos dois diretores, os recados foram claros: o Brasil vive um problema de pressão de demanda, que está tornando a inflação difusa e persistentemente elevada, e o remédio para controlá-la é o aumento da taxa Selic.

Hamilton disse que o crescimento potencial do país está bem próximo da projeção que o BC fez para este ano - expansão de 3,1%. Pela primeira vez surge uma reestimativa oficial do PIB potencial, que ficou bem menor. Caso a demanda cresça "sistematicamente muito acima" de 3,1% ao ano, disse ele, haverá pressões inflacionárias.

O mercado retomou o cenário de um possível aumento de 0,5 ponto percentual na taxa Selic na próxima reunião do Copom, nos dias 28 e 29 de maio. Agora, ressurgem apostas, ainda minoritárias, não só de maior elevação na taxa de juros, mas também de um ciclo mais intenso de aperto monetário.

Dura 7 horas reunião de Dilma e Cristina sobre agenda econômica bilateral


 
 
As presidentes discutiram todos os assuntos da agenda bilateral econômica, que  agora deverão ser aprofundados, em reunião técnica em Montevidéu, no Uruguai.

Dilma disse que a Vale, que anunciou a retirada de investimento bilionário em potássio na Argentina, "vai encontrar, com o diálogo, o melhor caminho possível com as autoridades" locais.

A retirada da Vale de megainvestimento de US$ 6 bilhões, na província de Mendoza, foi um dos temas que geraram mais expectativa com relação à reunião.

O encontro contou com a participação dos ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Antonio Patriota (Relações Exteriores) e de seus pares argentinos, além da secretaria de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, e da presidente da Petrobras, Graça Foster.

O ministro da Agricultura, Norberto Yahuar, disse que houve muitos avanços nos acordos fitossanitários e que novos limites de exportações seriam anunciados.

Dilma reforçou que a resposta às consequências da crise dos países desenvolvidos era a integração.
Estavam em discussão questões econômicas e impasses comerciais, como a possibilidade de venda da unidade da Petrobras no país e investimentos paralisados da Vale. 

Foi o primeiro encontro de Dilma e Cristina após a eleição do presidente do Paraguai, Horacio Cartes. O Paraguai está suspenso do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) há dez meses.
As reuniões das presidentes estavam marcadas para o começo de março, mas foram adiadas devido à morte do presidente da Venezuela, Hugo Chávez (em 5 de março). Dilma e Cristina discutiram as exportações de produtos brasileiros, prejudicados por novas medidas cambiais argentinas. 

As novas regras atingem vários setores, especialmente o agrícola, com a suspensão de licenças automáticas e a criação de cotas de importação, e o automotivo.
“Nós teremos uma pauta bastante ampla com a Argentina. Nós temos que discutir todas as relações: comerciais, os investimentos, toda a interação entre a economia brasileira e a economia argentina. Nós iremos discutir todos os assuntos”, comentou Dilma. 
 
Fonte: Agência Brasil
 

Vale acompanha, nos EUA, investigação de corrupção supostamente praticada por sócio







 


Executivos da brasileira Vale disseram nesta quinta-feira (25/4) estarem confiantes de que nada de ilegal foi praticado pela empresa.

O conselheiro legal da Vale, Clóvis Torres, afirmou que a companhia foi surpreendida pela investigação, iniciada em terras americanas porque envolve residentes no país que podem ter levado para os EUA recursos adquiridos de forma ilegal no exterior.

Segundo Torres, o governo da Guiné provocou o assunto e houve mandados de prisão emitidos nos EUA.

Ele disse que a Vale foi intimada pela Justiça 
americana e está reunindo documentos pedidos para enviar ao Departamento de Justiça daquele país, que atua no caso juntamente com o FBI. 

“Estamos à disposição para colaborar”.
Documentos submetidos a um tribunal federal dos EUA em Nova York relatam que Frederic Cilins, ligado a empresa BSG Resources, parceira da Vale na Guiné, ofereceu subornos para garantir os direitos de mineração para a concessão de Simandou, totalmente detida pela Rio Tinto até 2008.

A BSG Resources e a Vale detêm a concessão de lavra para a metade de Simandou, uma das maiores descobertas do mundo de minério de ferro, mas o trabalho foi suspenso no ano passado depois que o governo começou a rever a licença do projeto.

A BSG, controlada pelo bilionário Beny Steinmetz, tem repetidamente negado as acusações do governo da Guiné, de que pagou subornos para obter os seus direitos de mineração e disse que Cilins não era um empregado.

A Vale procurou se distanciar de seu parceiro, dizendo que não tinha conhecimento das ações Cilins e não teve nenhuma participação em quaisquer ações tomadas pelo Grupo BSG em conexão com a atribuição da concessão Simandou.

A empresa vendeu à Vale uma participação de 51% da concessão em 2010 por US$ 2,5 bilhões, mas apenas US$ 500 milhões foram pagos. 

A Vale se negou a pagar o restante recentemente, argumentando que as metas de desenvolvimento do projeto não foram cumpridas.

Fonte: redação, com agências

Advogada aconselha importadoras entrarem com ação sobre ICMS




   
No dia 20 de março, o Plenário do Supremo Tribunal Federal afastou a possibilidade de incidência de ICMS na base de cálculo da PIS e Cofins em operações de importação. 

A regra está contida no artigo 7º, segunda parte do inciso I, da Lei 10.865/2004.

A advogada Priscila Dalcomuni, do Martinelli Advocacia Empresarial, explica que com esta decisão o contribuinte passará a recolher o PIS e a Cofins  na importação com a base de cálculo reduzida, ou seja, apenas o valor aduaneiro, sem a soma expressiva que representava os tributos. 

Para que as empresas consigam se beneficiar com o resultado do julgamento, a advogada recomenda que entrem com ação na Justiça.

“Como já era de se esperar, a Fazenda Nacional pleiteou a modulação dos efeitos desse julgamento tendo em vista os valores envolvidos na causa que,  segundo ela, giram em torno de R$ 34 bilhões.

Porém, foi decidido que eventual modulação só poderá ocorrer na ocasião da análise de eventuais embargos de declaração, certamente serão protocolados pela Fazenda Nacional nos próximos dias. Portanto, o contribuinte que ainda não questionou a famigerada base de cálculo do PIS e da Cofins na importação tem mais alguns dias para ajuizar a medida judicial, sob pena de, em não o fazendo, perder a oportunidade de se beneficiar do atual julgado.”

Ela salienta ainda que os contribuintes que são tributados sobre o lucro real, o valor de Pis/Cofins recolhido na importação gera crédito e, portanto, a  redução da base de cálculo representa benefício financeiro, pois o desembolso no momento do pagamento das exações será menor.

De acordo  com  Priscila,   para   os   contribuintes    tributados   sobre    lucro presumido, o Pis/Cofins  na  operação  de  importação  não pode ser compensado, de forma que uma  eventual redução representa um grande benefício.

Revista Consultor Jurídico, 23 de abril de 2013

TÍMIDO AVANÇO NA DESBUROCRATIZAÇÃO DO VISTO DE TRABALHO

Emissão de visto temporário de curta duração fica mais simples para trabalhadores estrangeiros. Interessados em vir ao Brasil para prestar serviço de assistência técnica ou transferência de tecnologia podem solicitar a documentação.

O trabalhador estrangeiro que pretende vir ao Brasil para transferir tecnologia ou prestar serviço de assistência técnica e que não tenha vínculo empregatício com qualquer empresa brasileira poderá ter o visto temporário concedido desde que sua estada no País não ultrapasse 90 dias.

A Resolução Normativa nº 100 do Conselho Nacional de Imigração (CNIg), publicada nesta quarta-feira (24/04/2013) no Diário Oficial da União, passa a valer em 9 de maio e simplifica a emissão de visto temporário para este tipo de profissional.

Agora, o estrangeiro que vier ao Brasil para transferência de tecnologia ou prestar serviço de assistência técnica por até três meses passa a ser enquadrado no inciso V do artigo 13 (que define a quem pode ser concedido o documento) da Lei nº 6.815.

“Na verdade estamos fazendo uma grande reavaliação dos procedimentos de vistos de trabalho. O CNIg criou uma comissão especial que está avaliando a atual política de imigração, normas e regras para emissão de vistos no trabalho no Brasil. A ideia dessa comissão é verificar pontos para que a atual legislação possa ser simplificada, para que os tramites sejam simples, rápidos e com baixa burocracia”, explica o presidente do Conselho Nacional de Imigração, Paulo Sérgio de Almeida.

Apesar de não exigir o vínculo empregatício com empresa nacional, o documento só é concedido para os casos em que exista um contrato, acordo de cooperação ou convênio firmado entre a pessoa jurídica brasileira e a pessoa jurídica estrangeira.

A prorrogação deste visto temporário e a sua transformação em permanente é vedada pela legislação. Além disso, a documentação será cedida uma única vez a cada período de 180 dias para o mesmo cidadão estrangeiro.

Os pedidos de vistos devem ser realizados nos consulados brasileiros no exterior sem a necessidade de tramitação do Ministério do Trabalho e Emprego. A expectativa é a de que o processo de emissão do visto fique de 10 a 15 dias mais rápido sem a necessidade do trâmite pelo ministério.

A solicitação do documento é feita pela empresa brasileira que irá contratar os serviços do trabalhador estrangeiro ligado a uma empresa fora do Brasil. Para isso, ela deve apresentar carta-convite atestando o vínculo entre o estrangeiro e o serviço a ser prestado no Brasil e a sua inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

Caso existam indícios de substituição de mão-de-obra nacional, o Ministério do Trabalho e Emprego pode solicitar ao Ministério da Justiça o cancelamento do visto. O mesmo pode ocorrer caso venha a existir uma relação de emprego formal entre trabalhador estrangeiro e a empresa brasileira.

“O profissional (estrangeiro) tem um outro conhecimento e ele pode trazer informações importantes. Ainda que não haja obrigatoriedade de apresentar um treinamento, é comum que exista uma absorção de conhecimento por parte dos brasileiros. Esta nova regra viabiliza investimentos por parte das empresas, como aquisição de máquinas e equipamentos do exterior e ao mesmo tempo aumenta o intercâmbio de experiências”, avalia Almeida.

O trâmite, porém, não muda para o profissional estrangeiro que irá passar mais de 90 dias em território brasileiro. A empresa brasileira precisa enviar a documentação básica para o Ministério do Trabalho e Emprego, como a comprovação de contrato de prestação de serviço, da experiência profissional mínima de 3 anos do profissional e plano de treinamento para que o estrangeiro transfira conhecimento para seus pares brasileiros.

Menos burocracia

Desde 2009, tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 5.655 que pretende atualizar a legislação vigente sobre imigração. Até a sua votação, o CNIg tem feito estudos para implantar medidas de simplificação do processo de concessão de vistos, como o envio de documentação pela internet (espera-se que o sistema seja implementado até o fim do primeiro semestre de 2013) e a desoneração do envio de documentação obrigatória.

“Queremos que todos os pedidos de vistos que entrem no Ministério do Trabalho e Emprego sejam feitos diretamente pela internet, sem a necessidade de envio de documento físico. Estamos avaliando também se os documentos que são pedidos são realmente necessários. Existe hoje a regra de que todo o documento tem de passar por tradução juramentada e ser legalizado pela embaixada. Vamos tentar simplificar um pouco mais para baixar a carga documental”, explica o presidente do CNIg.

(Portal Brasil – 24/04/2013)

ESTRANGEIRO TIPO IMPORTAÇÃO

 

 

A revista Info – exame publicou cinco perfis de  empreendedores estrangeiros que montaram startups no Brasil. Confira:

Onda Local (Canadá e Eslováquia) – Uma namorada brasileira foi a responsável por convencer Simon Croisetiere a se mudar para São Paulo, em 2009. Mas o canadense de 33 anos já estava de olho em outras características da cultura nacional. “Sabia que havia muitas oportunidades para empreendedores na área de internet”, diz.

Há dois anos, Croisetiere conheceu Peter Propper, 29 anos, um eslovaco que buscava novos negócios. Juntos fundaram a OndaLocal, startup especializada em marketing digital para pequenas e médias empresas.
“Nosso objetivo é aumentar o número de clientes dessas empresas, ao melhorar seu posicionamento no Google, ajudar a comprar anúncios no Facebook e em classificados online”, diz Croisetiere. A OndaLocal também desenvolve ferramentas, como serviços de métrica para monitorar e-mails e ligações.

Lançada em novembro de 2012, a empresa recebeu investimentos do fundo Mountain do Brasil e planeja fechar o ano com 1,5 mil clientes. Fora do escritório, as coisas também parecem dar certo. “Adoro os brasileiros. Na Eslováquia, as pessoas são mais frias”, diz Propper. “Só achei difícil acostumar com a falta de pontualidade. Nada no Brasil começa na hora marcada.”

Itaro (Alemanha) – O alemão Jan Riehle, 34 anos, desembarcou no Brasil em 2011, contratado para intermediar as negociações entre investidores europeus e as operações brasileiras dos sites de e-commerce clickOn e Brandsclub.

Quando as empresas foram vendidas, ele decidiu ficar e investir. Escolheu um nicho, o de automóveis, e desde novembro Riehle comanda a Itaro, um serviço de comércio eletrônico de acessórios e peças para carros. O modelo é inspirado em uma fórmula consagrada na Europa, mas a empresa começou a testar alguns novos serviços em São Paulo.

“Ao comprar um pneu, por exemplo, o cliente escolhe para qual das 300 oficinas cadastradas ele deve ser enviado e já agenda um horário”, diz Riehle. Seu ambicioso plano de fundar uma empresa bilionária começou bem. A Itaro espera faturar 10 milhões de reais no primeiro ano.

“O Brasil valoriza muito os gringos”, afirma Riehle em bom português, mas ainda com forte sotaque. “A penetração da internet está crescendo e o país, mesmo sendo muito grande, possui uma única língua.”

Isso é um diferencial importante, segundo Riehle, em relação às centenas de idiomas falados em outros mercados também em expansão, como os de Índia e China. “Vários amigos me perguntam se devem vir para o Brasil. Digo que sim, porque eu, por enquanto, não tenho planos de ir embora.”

Sophie & Juliete (Liechtenstein) – Fluente em inglês, espanhol, alemão, francês e português, Ronald Beigl não tem problemas quando precisa explicar, em qualquer idioma, porque deixou uma grande empresa internacional de consultoria para trabalhar com joias no Brasil. “Sempre quis empreender e sempre gostei de moda”, diz Beigl.

Ao lado da sócia brasileira, Camila Souza, ele comanda, desde 2012, a Sophie & Juliete, uma empresa de venda direta de colares, pulseiras e anéis voltada para mulheres das classes A e B. O conceito é um upgrade do tradicional modelo de catálogos de empresas como Avon e Natura. As revendedoras, chamadas estilistas, organizam reuniões com amigas para apresentar as peças da coleção, mas usam a internet para finalizar a venda e solicitar a entrega das peças na casa das clientes. “Todas as vendedoras possuem uma página no nosso site e ganham uma comissão pelas vendas online”, diz Beigl.

Nascido em Liechtenstein, pequeno país de 36 mil habitantes vizinho da Áustria, Beigl veio ao Brasil pela primeira vez em 2004, para um intercâmbio da faculdade. Cinco anos depois, já trabalhando na Suíça, foi enviado temporariamente a São Paulo e não voltou mais.

O nome Sophie & Juliete foi escolhido após muita pesquisa. “As grandes marcas de moda têm nomes duplos. Escolhemos Sofia, que significa sabedoria, e Julieta, da história com Romeu”, diz Beigl. Até agora, a combinação deu certo. A empresa atraiu 7 milhões de reais em investimentos e já tem mais de 500 revendedoras em todos os estados do Brasil.

Emprego Ligado (Estados Unidos) – O jeitão de surfista californiano esconde a verdadeira identidade de Nathan Dee. Aos 32 anos, ele tem no currículo várias passagens por escritórios de advocacia em Nova York, onde cabelo comprido e tênis eram vetados.

Hoje, em um clima bem mais descontraído, Dee e seus sócios tocam a Emprego Ligado, startup fundada em 2012 para recrutamento de vagas por SMS. “O foco é mão de obra em larga escala, para supermercados e empresas de telemarketing, por exemplo”, diz Dee. O service é gratuito para o candidato, que se cadastral e recebe, por mensagem de texto, notificações de vagas próximas à sua residência.

“Viemos para o Brasil porque o momento econômico do país é favorável”, diz Derek Fears que, ao lado de Jacob Rosenbloom, completa o trio de fundadores da startup. Para morar no país, os amigos, que se conheceram na Universidade Stanford, rasparam as economias e colocaram dinheiro suficiente para conseguir um visto de investidor.

Em 2012, foram concedidos 8 340 vistos desse tipo pelo governo brasileiro, um aumento de 40% em relação a 2011, com 286 milhões de reais injetados por estrangeiros em empresas no Brasil. Sobre a burocracia para abrir uma startup no país, reclamação de todo empreendedor, Fears diz: “É chato, mas serve como filtro para mostrar quem está realmente interessado no país”.

Pitzi (Estados Unidos) – Em 2010, o americano Daniel Hatkof desembarcou em SãoPaulo. Veio com a missão de entender o mercado e a cultura locais, a pedido de um fundo de investimentos.

Não foi preciso muito tempo para que Hatkof, 29 anos, tivesse um insight curioso sobre o mercado brasileiro de telefonia móvel. “Como os celulares são caríssimos, as pessoas parecem ter medo de usá- los”, diz. Pensando nisso, fundou o Pitzi, um serviço de assistência técnica para celulares.

Lançado no ano passado em São Paulo, o serviço já chegou a Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Com mensalidades que variam de 5 a 30 reais, a empresa promete consertar qualquer problema de software ou hardware em até três dias. Os aparelhos vão e voltam das oficinas credenciadas levados por motoboys ou Sedex.

O único problema não coberto é tela quebrada. “Mas como trabalhamos com os fabricantes, conseguimos cobrar no máximo 75 reais pela troca da tela”, diz Hatkoff. A Pitzi funciona em um casarão reformado perto da Avenida Faria Lima, na Zona Oeste de São Paulo. O local é espaço de trabalho de uma dezena de startups, como a Emprego Ligado. “O clima é ótimo.

Decidimos muita coisa jogando pinguepongue”, diz Hatkof. Em breve, a área de lazer deve ganhar TV, videogames e, quem sabe, instrumentos musicais. Antes de se formar em economia, Hatkoff estudou música e, acredite se quiser, tornou-se especialista em oboé.

Paula Rothman
(InfoExame – 25/04/2013)